Quando os sonhos acontecem Ep 05 & EP 06

Um conto erótico de Bielzin <3
Categoria: Homossexual
Contém 5574 palavras
Data: 09/06/2017 21:37:27

Mark engoliu as lágrimas e obrigou-se a manter a calma. Havia passado a manhã toda percorrendo a vizinhança. Estava cansado e assustado. Os sinos da porta soaram e ele ergueu os olhos, animado com a chegada da funcionária.

- Graças a Deus você veio, Lucy! - exclamou, aliviado.

Porém, em vez de Lucy, deparou-se com um rapaz alto e esbelto, de cabelos castanhos, o mesmo que vira no parque. Mark levou alguns segundos para perceber que era o mesmo homem que havia causado problemas na noite anterior.

- Oh, é você? - murmurou, sem esconder o desapontamento.

Ele pareceu vagamente surpreso. Olhou por sobre o ombro, como se esperasse ver alguém atrás dele.

- Ah... eu... queria me desculpar sobre ontem à noite. Eu estava...

- Sim, eu sei. Não é preciso explicar - Mark o interrompeu. - E agora, se me der licença, preciso ficar sozinho. Estou no meio de uma crise.

Ele ficou parado diante dela, com expressão abobalhada. Mark notou que os olhos eram da cor das folhas de outono, castanho-claros, com rajadas verdes. Ele virou o rosto.

Definitivamente, não se importava com a cor dos olhos dele.

Então, viu que segurava um cartaz enrolado.

- Eu estava pensando se você poderia colocar isto na sua vitrine. - Ele estendeu o cartaz. - É um... Ele se interrompeu quando os sinos badalaram e Lucy entrou na loja.

- Lucy! - Mark respirou aliviado e voltou a olhar para o rapaz.

- Acho que não posso ajudá-lo, senhor...

- Mersey. Dylan Mersey.

- Certo. Sr. Mersey, como eu disse, estou em meio a uma crise. Ele lançou um olhar desesperado para Lucy, parada à porta.

- Sinto muito. - Dylan recolheu o cartaz.

- Há algo que...

- Por favor, não tenho tempo para você agora. Já me causou muitos problemas. Esta crise, na verdade, foi causada por você. Desculpe, mas tenho de falar com minha funcionária.

Em algum lugar no fundo da mente de Mark, ele sabia que estava sendo injusto. Porém, entre agonizar enquanto esperava pela resposta de Glenn e perder o filhote, ele não tinha energia para ser polida.

- Minha culpa?! - As sobrancelhas espessas se curvaram num arco perfeito. - Eu acabei de me mudar para esta cidade e conheço você há três segundos. Como a culpa pode ser minha? Mas não se preocupe, não vou levá-lo a sério. Posso ver que você está fora de controle.

- Fora de controle? - Indignado, Mark lançou-lhe um olhar mortal. - Como ousa dizer tal coisa?

- Qualquer um pode ver que você está seriamente perturbado. Ninguém que seja pelo menos um pouco equilibrado chamaria a polícia para um cidadão que estava exercendo seu direito de ir e vir livremente. Portanto, vou deixá-lo em paz com sua crise.

- Se estiver se referindo a ontem à noite, saiba que qualquer um teria chamado a polícia se visse um bêbado tentando invadir uma loja de madrugada.

- Madrugada? Ainda não era nem meia-noite! - Dylan passou a mão pelos cabelos.

- Bem, num ponto você tem razão. Eu estava alcoolizado. É por isso que vim me desculpar. Bati à sua porta porque queria usar o telefone. Quem chamaria a polícia por causa disso? - Ele riu e ergueu os ombros.

- Está tudo bem. Você estava assustado. Mas não precisava ter chamado a polícia. Bastava ter pedido que eu fosse embora.

- Foi o que acabei de fazer, e não funcionou - ele lembrou, encarando-o com expressão de triunfo.

- É verdade. - Dylan riu. - É melhor ir embora, antes que você chame a polícia outra vez.

- Obrigado. Mark observou enquanto seu novo vizinho enrolava o cartaz e o enfiava no bolso de trás da calça. Então ele saiu, não sem antes avaliar Lucy dos pés à cabeça. Quando atravessou a rua, ele ficou desconcertado ao ver sua funcionária adolescente seguindo-o com expressão fascinada.

- Fique longe dele - advertiu. - Esse homem foi detido pela polícia na noite passada.

- É mesmo? Por quê? - Embriaguez e vandalismo. Que petulância! Aposto que queria colocar um cartaz de propaganda da loja dele! - resmungou, estendendo os cartazes para Lucy.

- Quero que você coloque um em cada poste da avenida, e entregue para as pessoas que encontrar na rua.

- Está bem. - Lucy leu o texto com a descrição do filhote. - Você não tem nenhuma fotografia dele?

Mark se sentou na cadeira atrás da escrivaninha, sentindo-se mortalmente culpado. Nem mesmo a hostilidade de Dylan Mersey pôde distraí-lo do remorso. - Ele está comigo há poucos dias. Não tive tempo de tirar fotografias. Mas, veja... Fiz uma descrição detalhada.

- É claro. Eu sinto muito. Só pensei que...

- Vou tirar dezenas de fotografias no momento em que o tiver de volta - Mark jurou. - Logo depois de comprar uma gaiola de transporte e uma placa com identificação e registro na prefeitura. Acho que vou colocar um micro-chip nele, para o caso de se perder de novo. Já falei com Megan sobre isso.

- Tenho certeza de que não será necessário - a funcionária tentou tranquilizá-lo.

Mark respirou fundo e forçou um sorriso.

- Desculpe, Lucy. Estou irritado. Não dormi bem esta noite. É melhor você ir. - Ela observou a funcionária sair e chamou-a quando chegou à porta.

- Lucy? Não coloque cartazes na loja do outro lado da rua. Tenho certeza de que Dylan Mersey não vai me ajudar.

Quinze minutos depois que Lucy saiu com os cartazes, os sinos tilintaram e um homem pequeno e magro, de cabelos pretos e rosto afilado, entrou na loja. Usava camisa azul desbotada, apertada demais no peito, e calças que pareciam ter sido compradas no departamento infantil de uma loja popular. - Sr. Mark? - Os dedos finos estenderam um dos cartazes, apontando para o nome dele. Ele se moveu, esperançoso.

- Sou eu. O senhor viu meu cachorro?

- Tenho uma informação que pode ser útil.

- O senhor está... - Ele apertou as mãos com nervosismo.

- Está pedindo dinheiro para devolvê-lo? O homenzinho ergueu os ombros com expressão inescrutável.

- Eu não colocaria dessa forma. Sou detetive particular, e posso encontrar seu cachorro para você. Meu nome é Pond. - Ele estendeu a mão.

- James Pond.

Mark não conteve uma risada.

- Está brincando, não é? Ele o encarou com expressão séria.

- Sobre o quê? Quando ele percebeu que aquele realmente era o nome do homem, apertou os lábios para não rir.

- Está falando a sério sobre encontrar meu cachorro?

- É claro.

- Sabe de alguma coisa, ou está apenas se oferecendo para começar a procurá-lo?

- Talvez eu saiba de algo que possa ser útil. Vi alguém perto do seu carro ontem à noite. O coração de Mark acelerou.

- Eu sabia! Alguém abriu a porta do carro, não foi?

Ele balançou a cabeça de um lado para outro, numa admissão indireta.

- Sim, creio que foi deliberado.

- Quem foi? - Apesar de a loja estar vazia, ele baixou a voz. - O senhor o reconheceu? Era alguém da cidade? Aliás, você conhece bem os moradores da cidade?

- Sim, conheço muitas pessoas por aqui. - O detetive olhou ao redor, avaliando a loja.

- E então, quer a minha ajuda? Quinhentos dólares, e prometo que entrego seu cachorro hoje à noite.

Mark franziu a testa.

- Você já sabe onde ele está, e quer dinheiro para me dizer... Isso não é trabalho de detetive. É extorsão!

- Eu não disse que sei onde ele está. Tenho apenas uma suspeita, e vou investigar se for contratado. - Ele deu um passo à frente. - Farei um desconto para você. Vou cobrar somente a metade do preço. Mark encarou o homenzinho com firmeza, e viu quando o rosto dele ficou corado.

- Está bem. Cem dólares, e não se fala mais nisso.

Se ele trouxesse o cãozinho, ele provavelmente lhe daria uma quantia ainda maior, por gratidão.

No entanto, a atitude dele a irritara. Não se tratava de um bom samaritano que merecesse recompensa. Aquele trapaceiro não passava de um oportunista. Na certa, sabia onde estava o cachorro. Sendo assim, sabia que o Filhote estava bem.

O alívio deu forças a Mark.

- Cinquenta dólares - ele contrapropôs com firmeza.

- Setenta e cinco. É o mínimo que posso fazer.

Mark hesitou. Tudo o que queria era seu cãozinho de volta, mas não podia concordar com a prática descarada de estelionato.

- Cinquenta - determinou, resoluta. - E se insistir em pedir mais, vou chamar a polícia.

- Está bem. - O suposto detetive retirou um lenço amassado do bolso e enxugou a testa.

- Quero vinte e cinco dólares adiantados e o restante quando lhe entregar o cachorro.

- Cinco dólares, e só pagarei o restante se o trouxer até as seis horas.

- Oito horas - ele prometeu. - Você estará aqui?

Ele assentiu e foi para a caixa registradora, de onde retirou uma cédula. - Estarei esperando.

Até que o homem saísse, Mark não se deu conta do óbvio... Como ele sabia qual era o seu carro?

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Narrativa de Dylan.

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Dylan escolheu um par de tênis exposto na prateleira da loja e balançou-o na mão.

Como era possível que se fabricasse um par de sapatos tão leves?

No entanto, ao ver a etiqueta com o preço, ele o recolocou no lugar ao constatar que o valor era inversamente proporcional ao peso.

Passou para a sessão de modelos populares, refletindo que entrar em forma era mais dispendioso do que imaginara.

No entanto, tinha de escolher tênis apropriados para corrida.

Ele se inscrevera na maratona anual de inverno, e não podia praticar com o velho par que o acompanhava havia dez anos.

Escolheu um modelo com preço razoável, mesmo sem saber se seria adequado para praticar.

Não pretendia gastar tempo nem energia com dúvidas inúteis.

Já tinha problemas demais para se ocupar, como o filhote que surgira misteriosamente dentro da loja.

Ainda não havia decidido o que fazer com ele.

Deixara-o trancado no banheiro, e tinha de tirá-lo antes que fizesse as necessidades nos seus sapatos, como acontecera na noite anterior.

Ou, pior, antes que se afeiçoasse ao bichinho e decidisse ficar com ele.

Não estava em seus planos cuidar de um cãozinho travesso, quando mal tinha tempo de cuidar de si mesmo.

Outro homem se aproximou do balcão e parou ao lado dele.

Dylan espiou com o canto dos olhos. Ele escolhera um dos modelos mais caros. O olhar subiu para o rosto, e o reconheceu.

Havia cruzado com ele quando corria no parque naquela manhã.

Os dois haviam se juntado ao grupo de esportistas que se reuniram para discutir sobre a maratona de inverno.

- Olá - Dylan cumprimentou com um sorriso.

- Saberia me dizer se estes tênis são apropriados para corrida?

O rapaz sorriu.

- Não faço a menor ideia. Escolhi o meu porque achei bonito.

- E eu escolhi o meu por ser barato - Dylan explicou.

O homem assentiu com um sorriso divertido e o estudou por um momento.

- Você estava no grupo da maratona, não é?

- Sim. Acabei de me mudar e achei que seria uma forma de fazer amizades, além de ficar em forma. E você?

- Quero participar por causa do meu ex-esposo. Tenho a impressão de que ele quer reatar, e decidi entrar em forma. Minha aparência era melhor quando estávamos casados. O problema é que não me sinto muito estimulado a correr depois de um dia cansativo de trabalho.

- Entendo. Eu sinto o mesmo. - Dylan o estudou por um segundo.

- O que acha de treinarmos juntos? Pode ser uma boa tática para nos motivarmos.

- Claro. Será ótimo.

- O homem estendeu a mão. - Meu nome é Glenn.

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Narrativa de Mark.

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Mark não saiu da loja durante o dia todo, com esperança de que alguém encontrasse o filhote.

James Pond era sua última esperança, e valeria todo o dinheiro se o trouxesse de volta. Duvidava que ele tivesse visto alguém mexer em seu carro na noite anterior. Talvez nem mesmo soubesse onde o cãozinho estava.

Mas, ao menos, estava investigando. Era o que bastava para deixá-lo otimista. Muitas pessoas passaram pela loja para lhe oferecer apoio.

A avenida concentrava a maior parte do comércio local, e vários amigos e conhecidos viram os cartazes.

No entanto, ninguém sabia do cãozinho. E pior, ninguém conhecia a raça.

A descrição não era suficientemente detalhada para que o identificassem, sem uma foto.

Mark passou a tarde atrás do balcão, tentando se interessar pelo livro que Lily lhe dera. Percebeu que repetia o mesmo trecho inúmeras vezes e começou a ler em voz alta, esperando se concentrar melhor.

Por fim, a história despertou seu interesse, e ele conseguiu se distrair por algumas horas, entre a leitura e a entrada de algum cliente.

Finalmente, às seis da tarde, afastou o livro e trancou a porta da frente.

Fizera poucas vendas naquele dia e tinha de fechar o balancete diário.

Ao menos, teria com que se ocupar até que o detetive voltasse.

Às seis e meia, suas esperanças estavam se esgotando quando alguém bateu à porta. Ele ergueu o rosto, em expectativa, e ficou frustrado ao ver Dylan Mersey.

Ele tentara falar com ela mais cedo, mas Mark praticamente o expulsara.

Envergonhado pela atitude descortês, pensou em se desculpar, mas não conseguia pensar em nada a não ser em seu cachorro.

Apesar de todos os esforços para permanecer otimista, não conseguia afastar da mente a imagem da pequenina bola fofa agonizando debaixo das rodas de um carro.

Mark fez um esforço supremo para se recompor e caminhar para a porta.

Somente quando chegou perto, seus olhos registraram o movimento ao redor das pernas de Dylan.

Ele soltou uma exclamação abafada quando reconheceu seu cãozinho.

Quando abriu a porta, seu olhar subiu do filhote para o rosto de Dylan, e o brilho divertido o irritou.

Logo que saiu para a calçada, o cãozinho correu na direção dele. Mark tomou-o nos braços e ele se pôs a lamber seu rosto e pescoço como uma alegria esfuziante.

- Você o encontrou! Graças a Deus! Onde ele estava?

Embora o sorriso fosse discreto,

Dylan não escondeu a satisfação.

- Acredite ou não, foi ele que me encontrou - esclareceu, entrando atrás dele.

- Estava na minha loja ontem à noite. Não sei como entrou. É um mistério, já que não estava lá quando saí.

- Oh... - Mark abraçou o cãozinho com força.

- Você não imagina como eu estava preocupado! Na verdade, foi por isso que fui tão rude com você hoje cedo.

- Não foi nada. Eu entendo como devia estar se sentindo.

A proximidade fez Mark perceber que os olhos dele, na verdade, não eram castanhos. Havia rajadas verdes que o faziam parecer mais profundos.

- Costumo ser muito educado, e me orgulho por isso. Mas hoje eu só conseguia pensar neste rapazinho. - Ele beijou o bichinho e o apertou de encontro ao peito.

- Você não merecia. Eu tenho de aprender a não descarregar minha frustração em quem não tem nada com isso. Pode me desculpar?

Dylan balançou a cabeça com um gesto de desprezo e enfiou as mãos nos bolsos.

- Não há nada para desculpar. Sou eu quem tem de pedir desculpas por não saber que ele era seu. Podia tê-lo poupado de muita preocupação.

No entanto, só fiquei sabendo há pouco, quando vi um cartaz anunciando o desaparecimento do filhote.

- Você não tinha como saber - ele o tranquilizou. Seria apenas gratidão, ou Mark passara a vê-lo com outros olhos?

De repente, percebeu como Dylan era bonito e charmoso.

- Como será que ele entrou na sua loja? - Ele se obrigou a desviar a atenção dos pensamentos incômodos e franziu a testa, rememorando seus passos na noite anterior.

- Eu o deixei no carro, voltei para trancar as portas, e... oh, não! - Mark bateu a mão na testa, lembrando-se de algo.

- Deixei o vidro da porta do motorista aberto! Como sou tonto! Ele escapou pela janela.

- Bem, pode acontecer com qualquer um. - Dylan sorriu com simpatia. - Mas isso não explica como ele entrou na minha loja, já que as portas estavam trancadas.

- É verdade - ele refletiu.

- Eu deixei a porta dos fundos aberta, mas se ele entrou aqui, não teria como sair. Os dois trocaram um olhar de incerteza, e Mark se viu capturado pelo brilho hipnótico daquelas íris esverdeadas.

O cãozinho se inquietou e ela percebeu que o apertava demais.

- Na verdade, quando vim falar com você mais cedo, eu queria colocar um cartaz anunciando que havia encontrado o cachorro - Dylan esclareceu com um sorriso complacente.

Mark sentiu o rosto queimar.

- Oh... eu sinto muito!

- Estava tentando lhe dizer, mas...

- Meu Deus! Eu tenho mesmo de aprender a me controlar! - Ele colocou o filhote no chão e abriu a caixa registradora.

- Vou pegar sua recompensa.

- Não!

- Por favor, eu insisto. Mark retirou cinquenta dólares e fechou a gaveta.

- Não quero o seu dinheiro. Dylan deu-lhe as costas e caminhou para a porta.

Na verdade, parecia embaraçado pela oferta.

- Ouça, um suposto detetive passou por aqui mais cedo e se ofereceu para me trazer o cachorro por muito mais que isso. Eu disse que só daria cinquenta dólares, e estou feliz que tenha sido você quem encontrou meu bichinho, e não aquele vigarista. Quero ter a satisfação de dizer a ele que já paguei.

Os cantos da boca de Dylan se curvaram num sorriso divertido. Os cabelos rebeldes precisavam de um bom corte, e a camisa estava amassada. Não que ele fizesse o seu tipo, mas tinha de admitir que era um belo homem.

- Então diga a ele que pagou, mas não vou ficar com o dinheiro. Seu segredo está bem guardado.

Mark sentiu um estranho arrepio ante a ideia de ter um segredo com Dylan Mersey.

- A propósito, qual é o seu nome? -

Mark Poter . Esta é a mar Perfect, minha loja - apresentou com orgulho, fazendo um gesto amplo com a mão.

- E você é Dylan. É um prazer conhecê-lo.

Os lábios dele se curvaram novamente ao ver a mão estendida para ele.

- Vou apertar sua mão, mas não ficarei com o dinheiro. As mãos grandes e firmes envolveram as dele num aperto caloroso que durou mais do que o necessário.

- Tenho de ir. - Dylan puxou as mãos como se tivesse de se esforçar para interromper o contato. - Fique de olho nesse rapazinho.

- Por favor, aceite a recompensa. Use o dinheiro para tomar uma cerveja.

- Não. É você quem deve tomar uma cerveja para comemorar a volta do seu cãozinho. - Ele o estudou por alguns segundos, e um sorriso lento curvou os lábios sensuais.

- Ou melhor, tome um vinho. Combina mais com você.

Mark sorriu com prazer. O comentário soou adorável.

Ele empurrou a porta e atravessou a rua, e Mark acompanhou a silhueta longa até perdê-la de vista. Os cabelos reluziam ao sol do entardecer. Ele suspirou e afagou o pelo macio do cãozinho. Aquele homem salvara sua vida!

CAPÍTULO 06

- Mark...

Ele ergueu os olhos do livro que estava lendo e sorriu ao ver o policial que entrou na loja. Poderia parecer ameaçador para qualquer outra pessoa, mas o homenzarrão carrancudo desenvolvera atitude paternal para com ele. Conhecia Carson Sellars desde que se mudara para a cidade. Apesar de extremamente gentil, ele exalava força e poder por todos os poros, e sabia como intimidar.

Além disso, não tinha o menor senso de humor.

- Olá, Carson. - Ele fechou o livro e enviou um sorriso ao policial. - Como está?

- Passei por aqui para me certificar de que está tudo bem, depois do distúrbio de ontem. - A mão enorme pousou sobre o coldre num gesto casual.

- Não é necessário. Está tudo bem agora. Foi apenas um mal-entendido.

Ele esperava que Carson não ficasse muito tempo. Às vezes se perguntava o que será que os policiais faziam o dia todo, já que ele costumava visitar a loja diariamente e conversar durante horas sobre ocorrências policiais que ela não tinha o menor interesse em ouvir.

- Eu queria ter certeza. - Ele olhou ao redor. - Consegui algumas informações sobre o rapaz que a perturbou ontem à noite. Dylan Mersey. Ele não é tão inocente quanto parece. Mantenha-se afastado dele. Pelo que sabemos, é um homem perigoso. Tem passagem pela polícia.

- Oh! Que tipo de delito ele cometeu? - Mark perguntou, exasperado, mesmo sabendo que Carson era superprotetor.

- Roubo. Provavelmente, estava armado. Há suspeita de que esteve envolvido com tráfico de drogas. - O peito do oficial pareceu se expandir, enquanto ele falava.

- Roubo à mão armada? Ele estava com um revólver? Mark arregalou os olhos, horrorizado.

Tentou imaginar Dylan empunhando uma arma. Definitivamente, não combinava com ele.

- Não conheço os detalhes, mas ele cumpriu pena em Maryland. - Carson fez uma pausa para dar mais dramaticidade à informação.

- Dois anos. É um homem perigoso, Mark. Não estou brincando. Quero que você tenha cuidado. Vou colocar uma viatura para patrulhar a rua quando escurecer, mas fique longe dele.

Na certa, estava fazendo uma pequena investigação particular ontem à noite, espionando pelas vitrines para estudar o movimento.

- Ele disse que só queria usar o telefone...

- Foi uma desculpa. Poderia ter dito qualquer coisa. Lembre-se de que é um criminoso, e pode trazer outros maus elementos para a cidade. Estamos vigiando de perto.

- Você acha que ele pode traficar drogas na cidade?

- Não sei o que ele está planejando, mas vou descobrir mais informações sobre o veículo que você viu sair em alta velocidade antes do incidente de ontem. - Carson balançou a cabeça de um lado para outro.

- Isso é típico de ex-presidiários. Eles vivem fugindo.

O estômago de Mark se contraiu.

Ex-presidiário! Havia flertado com um criminoso!

- Você está sendo muito dramático, Carson. - Ele tentou amenizar a tensão. - Talvez ele tenha deixado de pagar a pensão para os filhos, ou outro problema desse tipo. Jovens cometem erros...

- Sim, claro! As prisões estão cheias de jovens que cometem erros - Carson comentou com ironia. Aquela era a primeira vez que Mark ouvia o policial dizer alguma coisa remotamente sarcástica.

- Ele veio se desculpar pelo comportamento de ontem - ele insistiu, recusando-se a acreditar que um criminoso pudesse ser tão bonito.

- Pareceu-me ser um bom rapaz. Ele encontrou meu cachorrinho que estava desaparecido.

Carson riu com sarcasmo.

- O maior serial killer do país também é educado e tem boa aparência. Não se deixe enganar. - Ele inclinou a cabeça em despedida e disse por sobre o ombro:

- Tome cuidado com esse sujeito, ouviu bem?

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Narrativa de Dylan.

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Dylan reduziu o passo quando entrou na rua dos fundos da loja, esperando que ninguém estivesse observando sua falta de condicionamento físico.

Acompanhara Glenn do parque à casa dele sem reduzir o ritmo da corrida, e embora estivesse à beira da exaustão, determinou-se a parar somente quando entrasse em casa.

E o pior era que Glenn não parava de conversar enquanto corriam, falando principalmente sobre o futuro encontro com a ex-esposo.

Tudo o que ele fora capaz de fazer fora expressar murmúrios de solidariedade, nas breves pausas em que seu interlocutor parava para respirar.

Correram cinco quilômetros em menos de uma hora, o que pareceu um passeio no parque para Glenn.

Dylan, no entanto, mal conseguiu atravessar o beco que levava aos fundos da loja.

Porém, ele não desanimou.

Uma vida saudável fazia parte de seu recomeço.

Para isso, mantinha uma alimentação balanceada, com frutas e verduras em lugar de frituras e salgadinhos, evitava bebidas alcoólicas, não fumava, e estava quase pronto para abrir seu negócio.

Dylan se apoiou no batente da porta e respirou pausadamente para recuperar o fôlego.

Sim, tudo daria certo, pensou com otimismo. Havia trabalhado sem parar e conseguido montar a estrutura da loja em uma semana.

Prateleiras, vitrine,iluminação, caixa registradora, tudo estava impecável.

Não havia uma só caixa de papelão fora de lugar.

E o melhor, o ateliê nos fundos da loja já estava equipado com o torno e forno para cerâmica, tintas, pincéis e outros itens de pintura cuidadosamente organizados nas prateleiras.

Ao menos, os dois anos de detenção tiveram alguma utilidade.

Ele se inscrevera no programa de reabilitação da penitenciária e frequentara o curso de artesanato em cerâmica, com o qual tinha familiaridade.

Sua mãe o criara com os lucros da venda de peças que ela confeccionava e pintava.

Aproveitando a oportunidade e o tempo livre, ele experimentara diversas técnicas e aperfeiçoara sua habilidade em cerâmica artesanal.

Estudara a fundo todo o processo, desde a confecção da peça no torno manual até a elaborada pintura, e estabelecera seu estilo, inspirado na cultura asteca.

Quando Dylan conseguiu recuperar o fôlego, tirou a chave do bolso e abriu a loja. O cheiro de argila fresca e tinta o recepcionou como uma saudação de boas-vindas.

Ele sorriu. Começava a se sentir em casa.

Jogou a chave sobre o balcão e abriu o frigobar que ele arrematara num leilão de eletrodomésticos usados.

Quando retirou a garrafa de água, seus olhos flagraram o movimento sob a mesa. Ele deu dois passos para trás, receando que fosse um rato, até reconhecer o perfil inconfundível do filhote que pertencia a Mark.

- Droga! Tenho de descobrir como você consegue entrar aqui, rapazinho.

Abaixou-se para pegar o cãozinho com gentileza, e o filhote grunhiu de satisfação, esfregando o focinho gelado em seu rosto.

- Você é como um pequeno bonsai - Dylan murmurou, erguendo-o no ar para fitá-lo nos olhos.

- Mas é um gigante para trazer problemas! Ao colocá-lo no chão, notou que a espátula de madeira que ele usava para moldar a cerâmica estava embaixo da mesa. As marcas de dentes afiados denunciavam o autor da travessura.

Dylan riu, sem se importar.

Ele tinha dezenas como aquela. O filhote pareceu ter entendido que estava autorizado a ficar com a espátula e abocanhou-a, abanando o rabo com satisfação.

Alguém bateu na vitrine e Dylan soube quem era antes de pegar o filhote e seguir para a porta da frente. Confirmando sua teoria, avistou Mark parado na calçada, espiando com preocupação através do vidro.

Como de costume, ele usava uma calca jens preta elegante e discreto que moldava as curvas benfeitas e que pernas longas, esculturais.

Os cabelos caíam sobre os olhos, e o rosto ovalado, de pele acetinada, não mostrava o menor vestígio de maquiagem.

Apesar de educado e gentil, ele parecia se manter protegido por uma barreira invisível. Seria o olhar?

Os olhos castanho-escuros, com longos cílios negros, emprestavam-lhe certo ar de mistério. Ou então era a altivez, que o envolvia numa aura majestosa. Apesar disso, era fácil para Dylan imaginar como ele seria na cama.

Quando avistou seu cãozinho nos braços dele, os ombros de Mark relaxaram.

Dylan sentiu-se derreter com o sorriso que iluminou o rosto bonito. Interessar-se por um Homem, ainda mais como aquele, era a última coisa que precisava.

Forçou-se a afastar as fantasias que preenchiam sua mente e notou a expressão nos olhos dele quando desviou o olhar do filhote para ele. Vislumbrou o brilho do interesse escondido atrás de um relance de interesse.

Na certa, ele própria se surpreendia por estar interessada num homem como ele. Era improvável que ele fizesse seu tipo habitual.

Não tinha dinheiro, nem educação, nem classe.

No entanto, ele parecia surpreso por considerá-lo como homem, apesar do preconceito.

Dylan percebeu de imediato que Mark não gostava dele, e ficou desapontado.

- Você não vai chamar a polícia desta vez, não é? - perguntou com um sorriso amigável.

O sorriso de gratidão se desmanchou, e Mark o encarou com expressão fria. Estendeu o braço para apanhar o filhote, mas Dylan o apertou com mais força nos braços.

- Há algo que eu possa fazer por você?

Mark cruzou os braços, e ele teve a nítida impressão de que foi apenas para refrear o impulso de pegar o cachorrinho.

- Acredito que você esteja com algo que me pertence.

- É mesmo? Parece que ele pensa que é meu, uma vez que não para de aparecer aqui toda hora.

Dylan continuou a acariciar as orelhas macias, e o filhote ergueu o focinho para esfregá-lo no queixo angular.

Ele riu, enquanto o semblante de Mark se anuviava. Por um segundo, achou que ele fosse começar a chorar.

- Muito engraçado. - Ele empinou o queixo e olhou ao redor. - Não há dúvida de que ele gosta daqui, um lugar espaçoso onde pode correr e fazer a bagunça que quiser. Eu não deixo que ele tire nada do lugar na minha loja.

Mark tentou tirar a espátula de madeira, mas o filhote rosnou e desviou o focinho. Com cuidado, Dylan puxou-a e conseguiu soltá-la.

- Oh! - Mark gemeu, mais magoado do que frustrado.

- Você sabe o que um simples objeto como esse representa para um filhote? - indagou, voltando o olhar para Dylan.

- Horas de indescritível prazer? - Dylan arriscou um sorriso de provocação.

- As farpas da madeira podem perfurar o intestino e causar hemorragia interna, ou ele pode engolir um pedaço muito grande e engasgar.

- E pense em todo aquele colesterol... - Dylan acrescentou com o mesmo tom provocante. - Ele pode morrer de um ataque cardíaco em trinta anos.

Mark ergueu as mãos, num gesto de rendição.

- Desculpe por meu cãozinho entrar na sua loja. Não vou deixar que aconteça de novo.

- Como ele consegue fazer isso? - Dylan o entregou finalmente.

- Não sei. Eu montei um cantinho bem aconchegante para ele no porão, e o deixei dormindo lá. Deve ter saído da minha loja atrás de um cliente e atravessou a rua, mas não tenho certeza.

- Depois do último incidente, imaginei que você o prenderia numa gaiola.

Por que ele sentia a súbita necessidade de antagonizar com aquele Homem? Vê-lo irritado o excitava.

Porém, era óbvio que Mark Porter jamais se interessaria por um homem como ele, mesmo que tivesse demonstrado um interesse passageiro.

Aquela Homem pertencia a outro círculo social. Era do tipo que organizava bazares de caridade no clube e esperava que o marido lhe desse diamantes no aniversário.

- Eu estava vigiando! - ele afirmou, aflita, e o comentário tirou Dylan do estado de fascinação.

- Desviei os olhos por um segundo, e ele desapareceu. Mas pode ter certeza de que ficará preso na casinha de agora em diante.

- Eu estava brincando. Não o deixe preso. Aliás, não me importo que ele venha aqui. Eu gosto da companhia desse traquinas.

- Bem, eu me importo. Mark deu-lhe as costas e seguiu para a porta.

Sem pensar, Dylan tocou-o no ombro.

- Espere... - disse com gentileza. - Ouça, eu agi como um idiota. Você não está fazendo nada de errado. Seu cãozinho é que é muito esperto.

Mark virou a cabeça e fulminou a mão pousada em seu ombro com um simples olhar. Dylan retirou-a como se a pele queimasse...

E ficou estarrecido quando viu aqueles lindos olhos marejados de lágrimas.

- A culpa não é sua - ele balbuciou, reprimindo as lágrimas.

- Acho que o filhote gosta mais de você. A frase terminou com uma nota incerta, e Dylan teve vontade de abraçá-lo.

- É claro que não! Acredite, ninguém gostaria mais de mim do que de você, muito menos esse cãozinho.

Mark o encarou por um longo tempo. Dylan achou que deveria dizer alguma coisa para quebrar a tensão do momento, mas não conseguiu pensar em nada.

- Você é um homem curioso, Dylan Mersey - ele declarou por fim.

- Não há dúvida de que você está exagerando em sua imaginação. - Enquanto falava, Dylan girava a espátula de um lado para outro distraidamente.

- Não sou tão interessante quanto pareço. De repente, o filhote se agitou e tentou pular para os braços dele.

- Está vendo? - Mark gemeu, frustrado. - Ele gosta mais de você!

- Ele gosta mais disso do que de nós dois - Dylan esclareceu, atirando a espátula no chão.

No instante seguinte, o filhote voou dos braços de Mark e saiu em disparada para alcançar o objeto.

Dylan ergueu as sobrancelhas com expressão de triunfo, e ele riu.

Depois de um momento de hesitação, avançou um passo e pousou a mão no braço dele.

- Obrigado.

- Por quê?

- Por ser tão gentil. Num impulso, ele ergueu-se na ponta dos pés e o beijou no rosto. Foi uma suave pressão dos lábios, um momento que durou mais do que ele pretendia.

Talvez tivesse sido por isso que Dylan deslizou as mãos pelos braços delgados e puxou-a para mais perto. Fez uma pausa de um segundo, como se quisesse ter certeza de que ele não o repeliria, e os olhares se encontraram antes que ele tomasse os lábios entreabertos num beijo selvagem.

Ele teria pedido por isso? Dylan estava certo de que sim, pois a boca macia se abriu de imediato para receber sua língua.

Ele mergulhou na correnteza do desejo, consciente de que poderia se afogar se não escapasse a tempo.

Mesmo assim, aprofundou o beijo, correndo os dedos pelos cabelos sedosos, e o beijo se transformou num convite irresistível.

Obrigado por ser tão gentil... A frase ecoou na mente de Dylan. Porém, ele não estava sendo gentil. Simplesmente o desejava. Queria aquele homem em sua cama, sua príncipe de pele macia, ardente de paixão.

Queria que ele também o desejasse, que compreendesse sua alma conturbada e o fizesse esquecer o passado sombrio.

Queria que ele fosse alguém que jamais poderia ser.

Dylan se afastou e observou enquanto os olhos aveludados ganhavam foco.

- Parece que não sou tão gentil quando você pensa. - O tom de voz soou mais rude do que ele pretendia.

As maçãs salientes do rosto bonito enrubesceram, e Mark arregalou os olhos, surpresa.

- É melhor você ir embora, Mark.

Ele apanhou o filhote e o fitou uma última vez. O olhar traduzia certo brilho indefinido, como se ele pedisse desculpas em silêncio.

Hesitou por um momento, antes de sair para a calçada e atravessar a rua.

Dylan observou-o afastar-se.

Aquela Homem não fazia seu tipo, disse para si mesmo.

Mesmo assim, ainda sentia o toque da pele suave na palma das mãos, o contato sedoso dos fios de cabelo em seus dedos.

Dylan ainda podia sentir o coração bater mais rápido no peito, e bastava fechar os olhos para sentir o gosto suave da boca macia...

Continua...

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