1 de janeiro de 2017, às 06h30. Lá estava você, sob o nascer do sol, à beira-mar, esbanjando charme, sem nem mesmo saber da minha efêmera existência e de que meus olhos estavam sobre as suas expressões corporais, seu sorriso, seus olhos negros, suas mãos escondidas nos bolsos de sua bermuda, que, em alguns momentos, teimavam em sair, procurando afago em sua camisa branca longa. Enquanto os meus olhos se ocupavam, apreciando cada gesto teu, o meu coração pulsava forte, a minha respiração se tornava incontrolada e a minha mente se perdia no campo das emoções. Naquela situação, eu, com precisão, podia detalhar cada cena, cada gesto, cada olhar.
Sentado na areia, defronte ao mar, e arrodeado de amigos, passei a te observar. Você estava sentado na areia, a uns 5 metros, arrodeado por dois amigos, acompanhados de suas possíveis namoradas. Você também estava com uma menina, de cabelo loiro, branca e com olhos de cor verde. Ela estava sobre suas pernas e você estava abraçado com ela, acariciando o seu cabelo e o seu pescoço.
Ainda assim, fiquei lá, envolvido naquele momento e perdido num mundo imaginativo, utópico, supondo mil coisas. Assim como tu, eu também estava acompanhado. Cá estava eu, abraçado, similar a ti, com uma menina morena, olhos com traços japonês e com cabelos negros. Mesmo assim, fiquei enfeitiçado por ti e mesmo que estivesse ali, imergido nos abraços da índia, no seu carinho e no toque de seus lábios, os meus olhos estavam condenados a te olhar e a minha mente estava em outro lugar, em você.
À noite tinha sido cansativa, em razão de uma sucessão de eventos, que homenageavam e bradavam a chegada de um novo ano e, talvez, de uma nova história. Suponho eu que, naquele momento, tu também estavas cansado, pedindo descanso e cama. 7h. Ainda que o horário estivesse, lentamente, se avançado e, concomitantemente, forçando o meu corpo ao cansaço, resisti, fiquei lá, a te olhar, e rejeitei a possibilidade de ter que ir para casa. Fiquei contra todos, que já não aguentavam mais ficar ali, controlando os seus olhos e o seu corpo, que já não mais respondiam a qualquer ordem.
7h30m. Não consegui conter os demais e, indo em direção ao carro, tive que me despedir de você, ainda que apenas no campo da imaginação. A cada passo que eu dava, senti que estava deixando uma grande história para trás e isso me amargurava por dentro. Enquanto caminhava, o silêncio tinha tomado conta de mim. O silêncio era a pior da resposta que eu podia dar a mim naquele momento, pois, naquela situação, o silêncio era a representação exata de um coração cinza, opaco.
Não sei se foi o acaso. Mas, enquanto eu, a índia e os meus amigos caminhavam, tu vieste em nossa direção. Uma luz surgiu em meu interior e eu fiquei gélido, sem ação, tomado por uma paralisia e uma vergonha a ponto de não conseguir expressar qualquer coisa. Mal sabia eu, que entre nós, tu conhecias alguém. Apenas 1 metro de distância de ti foi o suficiente para me causar inquietação, daquelas que você não saber o que bem dizer. Tu, educadamente, estirou a tua mão em direção a minha e, olhando-me nos olhos, me cumprimentou. Eu, em resposta, estendi a minha e também te cumprimentei. Enquanto tu falavas com um de nossos amigos, pude te ver de perto e sentir o toque de tuas mãos, ainda que em segundos.
A conversa não durou muito tempo, cerca de 3 minutos, e, logo, tu fostes embora. Ainda que o nosso contato não tenha passado de uma simples cumprimentação, eu te guardei em meu peito e te levei comigo, durante todo o trajeto para a casa. Passei segundos, minutos, horas, divagando em cima da cama, pensando em você. Respirei fundo, como se esse ato pudesse me libertar daquilo. Inquieto, peguei o celular e passei a te procurar na rede de contatos do meu amigo em seu Facebook. Achei você e fiquei lá, olhando as tuas fotos, como uma espécie de espião. Enquanto eu te contemplava, meus olhos já vencidos pelo cansaço, não conseguiam mais me obedecer, assim, vagarosamente, dormi.
Acordei. Dormi cerca de 8h. Acordei já no final da tarde. Logo, você me veio à mente. Eu poderia ter dito algo, ter puxado assunto contigo ontem, no momento em que você ficou conversando com o meu amigo, mas eu não sabia o que falar. Eu poderia ter também te adicionado no Facebook, mas também achei que seria algo sem sentido. Assim, preferi o silêncio, pelos motivos apresentados e por outras razões. Ao acordar, fui tomar banho e esqueci completamente do celular. Após o banho, resolvi assistir um filme. Enquanto eu assistia o filme, eu sabia que tinha responsabilidades para tomar conta, assim, após o filme, fui estudar. Por volta das 22h, já exausto mentalmente dos estudos, peguei o celular e fui olhar o Facebook. Você tinha me adicionado.
Naquele momento, várias emoções tinham tomado espaço dentro de mim. Um misto de alegria, ansiedade, desespero e medo. Aceitei você. Ainda assim, fiquei em silêncio, por falta de coragem em falar com você ou falar alguma coisa sem sentido ou talvez falar e deixar evidente certas pretensões. Após uns 30 minutos, você fala comigo. [continua?]
[Apenas para contribuir para que vocês consigam me visualizar na narrativa fatídica: Sou branco, 1.78 de altura, corpo de quem malha 5 dias da semana, tenho 23 anos, sou advogado e me chamo Caio (nome fictício). Não sou afeminado e, dentre os rótulos criados pela sociedade para representar o gênero de alguém, possuo maior identificação com o bissexualismo]