CAPÍTULO – 04
Um ano havia se passado desde que Beto fora mandado ao armário e havia ficado entre a vida e a morte, desde aquele acontecimento Rômulo passou a ser castigado com frequência e algo que há muito tempo não acontecia foi cogitado por Cristóvão e Fred. A missão era mais perigosa que o normal, poucas vezes lhes foi pedido para desempenhar este tipo de trabalhos, pois as habilidades dos soldados eram melhor aproveitadas no submundo, em tarefas sujas e perigosas, mas dessa vez eles teriam que viajar à Colômbia para tentar resgatar um prisioneiro que estava em poder de guerrilheiros, o rapaz fora sequestrado por ser filho de um importante diplomata brasileiro e estava sendo usado como moeda de troca por um dos líderes do movimento que estava sendo mantido restrito como “Hannibal Lecter” dentro do território brasileiro.
Depois de uma negociação desastrosa feita pelo governo que acabou resultando na mãe do garoto recebendo a mão direita do filho dentro de uma caixa o diplomata resolveu procurar meios menos ortodoxos de salvar o seu filho.
- E então, o senhor acha que consegue me trazer meu filho de volta? – O diplomata Giovane Strauss perguntou olhando diretamente para a figura decrépita de Cristóvão, que insistia em usar ternos caros, mesmo dentro de casa.
- Tenho certeza que sim – Falou confiante – O meu soldado foi treinado lá, conhece o território e está preparado para dar a vida para cumprir uma ordem dada, então sim, trago o seu filho de volta, mas isso não vai ser barato... – Ele acariciou o queixo e viu que a menção ao dinheiro não assustou o homem.
- Dinheiro não será um problema, mas eu quero que me prometa que verei o meu filho novamente...
- Se ele continuar vivo, verá sim! – Cristóvão vaticinou. O homem deixou aquela casa e antes de entrar no carro viu na saída Rômulo se exercitando do lado de fora da propriedade.
- É aquele ali? – Ele perguntou antes de entrar no carro onde um motorista lhe aguardava.
- Sim, é aquele ali – Fred, que estivera acompanhando a conversa de longe, respondeu.
- Pode ser que dê certo... – Giovane suspirou. O carro andou e Fred gritou:
- Verme! – Rômulo o olhou, correu suado ao encontro de Fred, quando chegou ao seu lado levou um soco que o fez cair no chão, a risada idiotizada de Fred se fez ecoar. - Tá ficando fraquinho, hein? – Falou de forma insolente – Um murro e eu te derrubo – Provocou. Rômulo limpou o lábio que sangrou, se pôs em posição de sentido e aguardou a ordem. – Cristóvão que te ver, entra burro!
- Sim. – Rômulo respondeu de pronto.
- É senhor pra ti! – Fred desafiou.
- Só tem um senhor dentro dessa casa e nós dois sabemos quem é! – Rômulo respondeu assumindo uma postura agressiva, Fred sendo o covarde que era se afastou, aquilo lhe lembrou que pouco antes de Betão se libertar, uma situação semelhante a esta se apresentou, ele se arrepiou de medo, lembrou da dor dos socos que recebeu e resolveu se calar por enquanto. Rômulo, no entanto, entrou em casa se sentindo vitorioso, poucas vezes a sensação de vitória foi tão forte. Limpou os pés num capacho antes de entrar no escritório, bateu à porta e de lá ouviu a ordem.
- Entra animal! – O soldado entrou. – Tá fedendo seu imundo! – Cristóvão fez uma careta exagerada se referindo ao cheiro que exalava de Rômulo.
- Desculpe, senhor, Fred disse que era urgente! – Ele baixou a cabeça em sinal de submissão.
- E é, tenho uma missão pra ti, dessa vez é fora do país, vai ter que resgatar um pirralho que tá nas mãos de uma milícia na Colômbia! – Cristóvão procurava a foto do garoto para entregar ao rapaz.
- Na-na Colômbia senhor? – Rômulo teve um flash back horroroso de seu treinamento lá, dos homens carrascos que havia conhecido, das torturas, das surras e das humilhações, todas protegidas sob o manto do treinamento.
- Tá ficando surdo também? – Cristóvão respondeu de mau humor.
- Não senhor, desculpe. – Ele respirou fundo.
- Tu vai levar o Fred contigo dessa vez...
- Senhor, com todo o respeito, mas não acho que o Fred dê conta! – Ele falou de imediato.
- Tu anda muito linguarudo seu estrupício, eu te pedi opinião? – O velho vociferou.
- Senhor, me perdoe, eu não quis ser desaforado. Mas vai ser difícil até pra mim que fui treinado lá, prefiro ir só do que ter que cuidar de dois... – Ele tinha esperança de ir sozinho, havia contas a acertar naquele lugar também.
- Olha aí Fred, o animalzinho acha que tu num da conta da missão! – Bateu na mesa e começou a rir alto quando Fred entrou no escritório.
- Tu tá falando o que aí animal? – Fred o acertou na costela.
- Não avaria o bicho antes da missão, a gente num pode perder essa bocada... – O velho ralhou com o empregado.
- Tu me paga quando chegar! – Foi então que Rômulo começou a gostar da ideia de levar Fred à Colômbia, se ele morresse ali não haveria a menor possibilidade de descobrirem que ele estaria envolvido.
- Pago! – Rômulo falou sorrindo. – Senhor e quando nós dois partimos? – O soldado sorriu ao imaginar Fred naquela mata fechada, suando, enfraquecido, o homem tinha um corpo forte, mas fora construído no conforto de uma academia, nada que se comparasse ter passado os horrores que ele ou Betão passaram naquelas matas.
- Pra onde é que a gente vai? – Fred perguntou inocente ao que se passava na cabeça de Rômulo.
- Pra Colômbia! – Rômulo respondeu – Resgatar um garoto que está em poder de uma milícia! – O sorriso presunçoso de prazer foi impossível de segurar.
- Certo. – Fred parecia não entender os perigos que lhe rondavam e isso deixou Rômulo ainda mais empolgado.
O soldado foi dispensado e sua vontade era de descer ao calabouço e contar tudo ao Beto, perguntar se ele queria que fizesse algo contra o capataz e dessa forma se vingar mesmo que minimamente do algoz. Rômulo subiu ao seu quarto, tomou um banho demorado, vestiu uma roupa confortável e foi ao notebook, entrou num site sigiloso e então espiou um pouco o perfil de Sarah, acompanhou algumas fotos da garota e salvou a mais recente onde ela estava deitada na cama com o cabelo ainda desarrumado, sem nenhuma maquiagem. “Boneca” ele pensou e sorriu, secretamente ele pensava que quando ele e Beto conseguissem se libertar, ele iria procurar pela garota, explicar toda a situação e finalmente teria alguns momentos de felicidade na vida. Deitou-se na cama e se permitiu pensar nisso.
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- Mas eu corro perigo real em ir naquele lugar com o Rômulo sozinho – Enquanto isso Fred tentava demover Cristóvão da ideia de manda-lo junto com o soldado para aquela missão, entendia a complexidade do evento e sabia que o rapaz precisaria de toda a ajuda que conseguisse, mas ir no território inimigo, acompanhado de um soldado que ele sabia, começava a se rebelar, era suicídio.
- Escuta aqui Fred, eu te pago muito bem pra seguir minhas ordens e não pra questioná-las! – Cristóvão enraivecido olhava com nojo pra Fred.
- Cristóvão, estou te dizendo o moleque me desafiou, uma vez eu me quebrei inteiro por confiar nesse teu controle, não estou disposto a morrer só pra provar que sou “fodão”. – Fred levantou da cadeira. – Manda a Lessie! – Ele soltou – Se morrer lá é menos um, mas sozinho com o Rômulo não dá! – Ele estava tremendo por dentro.
- Tu sabe que aquele bicho só serve como capacho, só mantenho ele vivo porque é bom ouvir ele implorando, tem quase seis anos que nem esticar as pernas ele estica! – Cristóvão deu a ré na cadeira.
- Cara, “vou não ó” – Fred falou de supetão.
- Filho da puta, tu tá se negando mesmo? – De vez em quando era possível ver que o velho quase levantava daquela cadeira de rodas, mas não conseguia.
- Cristóvão, tu sabe que eu sou pau pra toda obra, mas essa daí... O verme vai querer me matar e depois tu vai ficar sozinho com os dois aqui, é isso que tu quer? – Fred jogou.
- Medroso... – Cristóvão também imaginou ficar sozinho, a verdade é que junto de Fred ele tinha mais poder, ele era o cérebro e o capataz o corpo. – Tu acha que a Lessie ainda consegue?
- Manda ele lá pra ver, se não voltar... Bom, ninguém vai sentir falta mesmo... – Fred voltou a sentar na cadeira de frente para o velho. Cristóvão considerou um pouco, fingiu estar ainda contrariado.
- Traz o bicho aqui em cima! – Fred sorriu, levantou de um pulo – Amarrado! – Falou rangendo os dentes.
O capataz saiu da sala, andou até o porão aliviado, abriu a porta e desceu calmamente ao encontro do cativo, ligou a luz amarela, aspirou o ar viciado que havia lá embaixo, mistura de sangue, suor, urina e fezes.
- Ei Lessie... – Fred levantou o rosto de Betão com uma mão, lhe deu um soco forte – Vai ganhar uma viagem! – Falou rindo. Beto permaneceu calado, mas achou que a surra seria grande e a viagem se referia ao médico. Fred se pôs a destrancar lentamente as amarras que deixavam Beto em pé grudado à parede. Quando o fez, percebeu que o rapaz se pôs de pé com certa dificuldade. – Verme ridículo, te ajeita animal! – Outro murro, prendeu as mãos e os pés do rapaz com uma algema. – Anda, teu vô quer te ver. – Saiu puxando a coleira com força, por duas vezes Beto que estava com dificuldades de se equilibrar caiu na escada e teve que levantar rápido para acompanhar Fred.
Andaram pela casa lado a lado, entraram no escritório e novamente Cristóvão ralhou:
- Puta que pariu, só tenho animal fedorento! – Tapou o nariz imediatamente. – Vai lavar esse porco e depois eu converso com ele. – Fred riu e por mais que Beto quisesse frear o sentimento de humilhação, sempre encontravam novas maneiras de atingi-lo. Fred o levou à um quarto térreo, encontrou uma bermuda folgada e rasgada e lhe entregou.
- Toma banho, veste isso e rápido! – Jogou Beto com toda a força dentro do banheiro, trancou a porta pelo lado de fora e ficou esperando.
Dentro do banheiro algo acontecia, Beto rasgou a cueca que lhe deram, já que foi impossível retirá-la por causa das algemas nos pés, andou devagar até a pequena pia de plástico encardido e olhou-se no espelho enferrujado, parecia um homem de quarenta anos, seu rosto antes limpo estava tomado de pequenas cicatrizes, a barba mal cuidada e fedida o cabelo na mesma situação, pela primeira vez teve a oportunidade de olhar as costas e assombrou-se com a imagem, parecia uma pintura expressionista abstrata de mau gosto, as cicatrizes se entrelaçavam de uma forma assustadora, dolorida e maléfica. Ele pensou em Ricardo, será que ele ainda o quereria daquela forma?
- Porque tu tá demorando tanto aí ô desgraça? – Fred gritou do outro lado da porta, Beto nem sequer respondeu, foi bom ser arrancado bruscamente daqueles pensamentos.
Pegou o pequeno pedaço de sabão de coco colocado ali, arrastou-se ao chuveiro e quando a água bateu em seu corpo, gelada e refrescante ele suspirou de alívio, há quanto tempo aquele simples prazer lhe era negado. Brincou com a água na boca e depois se pôs a esfregar o corpo minunciosamente, mesmo o sabão não sendo cheiroso era melhor que aquela inhaca que sabia exalar. Limpou-se com prazer, calmamente, depois fez mais espuma e passou nos cabelos a fim de acabar com aquela textura oleosa. Enfim, limpou-se e quando saiu do banho, pode-se dizer que algo havia se renovado nele.
- Fred... – Ele entreabriu a porta chamando o homem.
- Que é Lessie? – O homem respondeu impaciente.
- Com as algemas eu não consigo vestir a bermuda. – Admitiu, o capataz liberou Betão à contragosto, aguardou um pouco e Beto saiu com o aspecto bem melhor, apesar de maltratado a beleza do rapaz ainda era evidente. Foi novamente algemado e os dois seguiram juntos ao escritório.
- Tive que mandar limpar depois que esse animal pisou aqui – Cristóvão falou enraivecido.
- Desculpe, senhor – Beto falou com a cabeça baixa.
- Tu sempre foi um nada, um burro, um animal. Tu sabe o porquê tu tá sendo castigado, não é? – Cristóvão falou se aproximando, Betão balançou a cabeça afirmativamente – Ajoelha verme! – O rapaz nem pensou e apenas obedeceu.- Tu sabe que o teu viadinho ainda está nas minhas mãos, não é? – Betão concordou novamente – Até onde tu iria pra que ele continuasse vivo? – Segurou o queixo do neto fazendo com que ele levantasse a cabeça. – Não mente...
- Até o inferno! – Betão falou finalmente.
- Então tu vai lá! –O velho chicoteou o rosto do rapaz, o vergão subiu de imediato – Tu vai na Colômbia com o Rômulo na sexta, hoje é terça e até lá vou te dar uns dias de alforria, ainda dorme lá embaixo, mas pelo menos pode dormir deitado que nem gente... – Cristóvão riu e passou a explicar os pormenores da missão. – Agora sobe e vai falar com o soldado, combinem estratégias, não vou tolerar erros, qualquer coisa quem paga é o frango.
Betão ainda estava em dúvidas sobre o que queria dizer aquela fala de Rômulo “Não matei o frango, eu o libertei...” depois perguntaria. Subiu com as mãos e pés livres pela escada, pela primeira vez via a casa em que morava há seis anos, pela primeira vez nesses seis anos ele sentia a luz do sol sem que estivesse quebrado demais para aguentar, abiu o primeiro quarto e viu a decoração do lugar tudo extremamente impessoal, abriu o segundo e viu praticamente a mesma decoração, a casa parecia uma pensão, era confortável sem dúvidas, mas tudo impessoal, no terceiro quarto viu Rômulo deitado na cama, a diferença desse para os outro quartos eram apenas algumas fotos grudadas em cima da escrivaninha que tinha um notebook ligado, se aproximou e passou a mão pelas fotos...
SEI ANOS ANTES
- Ricardo! – Betão gritou ao entrar no apartamento que recentemente havia comprado para viver junto de seu franguinho. – Onde eu coloco essas caixas?
- Vixe amor, não escrevi nada nessas, deixa aí que eu vejo já! – Ricardo chegou ao lado dele com o rosto avermelhado e suado do esforço de ajeitar e organizar as coisas no quarto.
- Só tem mais umas coisas ali embaixo, subo já e te ajudo! – Beto estava com um boné branco virado pra trás, uma bermuda mais folgada, sem camisa e usava uma chinela daquelas de rosto quadrado de borracha.
- Pera aí grandão! – Ricardo o puxou para um abraço, inalou o cheiro de seu homem, mesmo suado ele cheirava bem – Obrigado por tudo isso. – Falou em seu ouvido, Beto teve vontade de chorar, mas não costumava mostrar isso com frequência e então colou os seus lábios nos de Ricardo e o beijou castamente.
- Eu que te agradeço, tu me mostrou o que é viver! – Abraçou novamente o franguinho, ele soube que pelo suspiro ele estava exagerando na força do abraço, mas foi impossível se conter.
- Vai me matar! – Ricardo falou com a voz espremida. Betão riu.
- Vou nada, meu franguinho. – Beijou o pescoço de seu menino.
- Ei grandão, guarda energia pra mais tarde... – Ricardo falou com uma cara travessa, Betão já havia entendido, mas como gostava de ver aquele lado safado de Ricardo se mostrando.
- Pra que? – Se fez de desentendido.
- Ora, temos que batizar esse apartamento todo ainda! – Sorriu e lhe deu um selinho.
Betão desceu as escadas do prédio, seu peito estava quente de alegria, seu rosto estava rasgado num sorriso enorme e a felicidade lhe tomava, chegou ao caminhão e pegou as outras caixas que faltavam e dispensou os homens que o ajudaram a fazer a mudança, colocou as duas caixas uma em cima da outra, viu então um senhor entrando de cadeira de rodas no condomínio, o homem provavelmente acostumado ao preconceito alheio por ser cadeirante lhe olhou de mau jeito.
- Perdeu alguma coisa aqui? – O senhor falou com raiva, Beto pensou no avô, sentiu um medo irracional de que ele retornasse, um medo enorme de que tudo o que havia construído se transformasse em nada se o velho retornasse. Balançou a cabeça em negativa, sorriu e pensou: “O velho tá acabado, não tem perigo”, subiu ao apartamento, colocou as duas caixas na cozinha como dizia as instruções escritas em piloto na tampa da caixa. Andou até o quarto e viu Ricardo colocando a colcha na cama dos dois.
- É agora que a ente começa o batismo da casa? – Betão perguntou animado, Ricardo sorriu e veio em sua direção, os dois se beijaram e...
- Betão? – A voz de Rômulo o arrancou bruscamente de suas lembranças. – Que tu tá fazendo aqui? – O rosto de Rômulo demonstrava medo e empolgação em doses iguais.
- Meu vô quer que eu te acompanhe na missão da Colômbia! – Beto falou resignado.
- Senta aqui cara! – Falou apontando para a cama. Betão sentou e quicou rapidinho sentindo a maciez da cama.
- Aqui que tu dorme? – Perguntou olhando em volta do quarto.
- Quando tu tá no porão, sim. – Rômulo respondeu puxando uma cadeira para se aproximar do rapaz.
- Tendi... E aí, vamos logo combinar o que fazer por lá. – Beto se apressou em dizer.
- Tu já foi lá? – Rômulo quis saber.
- Treinei lá – Beto se esticou na cama, o corpo doía, a barba lhe incomodava, uma sensação ruim passou pelo seu corpo.
- Então tu sabe que é capaz de a gente não voltar vivo, né? – Rômulo falou nervoso.
- Sei. Sei sim, mas o velho ameaçou o Ricardo e... – Rômulo estranhou.
- Mas eu tirei os caras da cola dele. – Falou rápido.
- Tu apagou os caras? – Beto quis saber.
- Todos! – Rômulo falou.
- Mesmo assim ainda é perigoso, eu preciso dar um jeito de tirar o Ricardo do mapa antes de tentar qualquer coisa. – Ele pareceu pensar em algo.
- Eu te ajudo, mas vamos tentar logo ajeitar um plano, logo o velho vai querer saber das coisas.
- Certo. – Os dois passaram então a planejar as formas para chegar ao local, visualizaram por ferramentas da internet a localização exata da guerrilha, traçaram rotas, planos e tudo mais. Demoraram em média duas horas construindo um plano sem falhas, rapidamente desceram ao escritório onde Cristóvão falava no telefone.
- Sua idiota, manda esse dinheiro que eu estou precisando! – O velho ralhava com alguém. – Não me interessa se tu tem que vender um rim, manda esse caralho, estou te avisando que é melhor pra ti e pros teus! – Ele sorriu ao ver Beto entrar – Eu desconto nele cada dia que tu demorar! – Falou entredentes, em seguida desligou o telefone. – E então o verme e o soldado chegaram à algum plano? – Perguntou olhando para os dois e sorriu quando em perfeita sincronia os dois baixaram a cabeça e responderam “Sim” em uníssono. – Vamos lá, me contem!
Os dois soldados começaram a contar a tática, lembraram dos horários em que a vigilância do local diminuía sensivelmente e seria aí o melhor momento de agir, um daria cobertura ao outro, Beto pegaria o garoto e sairia sob a cobertura que Rômulo daria, o retorno seria mais complicado, pois não sabiam em que estado o garoto estava, andar por aquela floresta carregando um peso era ainda mais perigoso.
- Se virem, voltem os dois com esse menino!
- Sim, senhor – Os dois responderam.
- Quando voltar se conseguirem trazer a mercadoria em boa condição, entreguem imediatamente no Alcântara para ele fazer uma vistoria completa e depois voltem aqui, vou precisar de mais dinheiro e o pai do menino está disposto a pagar o que for pedido. – Cristóvão sorria ao falar aquilo.
- Sim, senhor. – Responderam então levantando.
- Vão treinar, depois tu leva a Lessie pra o porão, pode dar uma esteira pra esse bicho dormir em cima, mas algema as mãos dele, entendeu animal? – Cristóvão falou pra Rômulo, depois de confirmar tudo os dois deixaram a sala e foram para a área externa, no campo aberto em frente a casa começaram a treinar, Beto apanhou um pouco até pegar a manha, até que a memória muscular reavivasse em seu corpo os movimentos que lhe eram conhecidos.
No dia seguinte recebeu uma boa refeição do lado de fora da casa, e voltou ao treinamento, em quatro dias ele não estava preparado para o que iria enfrentar, mas ao menos o seu corpo já estava mais habituado a desempenhar o de antes. Seguiram na sexta para o aeroporto da região, Fred dirigia, Beto ia no banco de trás e Rômulo ao lado dele, iam em silêncio.
- E aí Lessie, tá preparado pra sair por aí? – Fred perguntou lhe olhando pelo retrovisor. Beto confirmou com a cabeça. – Espero que tu não volte de lá, vou adorar dar fim do teu frango se tu morrer – Rômulo se armou, sabia que aqueles jogos mentais eram capazes de desestabilizar Beto e teve medo que isso impactasse em seu desempenho.
- Acho bom que eu morra mesmo antes de saber que tu mexeu no Ricardo, porque aquele murro que eu te dei... – Fred o olhava perplexo – Eu ainda sei dar, mas dessa vez sem ter ele pra me parar... – Ele sorriu de lado – Boa sorte pra tu! – Desceu do carro de imediato quando parou de falar. Rômulo puxou a bolsa com alguns pertences e saiu também contendo um sorriso amarelo, os dois entraram num avião bimotor fretado pelo pai do menino e deixaram o Fred boquiaberto dentro do aeroporto com a certeza de que algo estava em curso.
Demoraram por volta de seis horas para desembarcar numa pista de pouso clandestina. Guardaram o pequeno avião que havia sido pilotado por Rômulo num grande depósito ali próximo, estava tudo combinado com o dono do local, lá eles trocaram de roupa e saíram imediatamente. Quando já andavam por uma hora em mata fechada, orientados apenas por uma bússola, Rômulo falou.
- Acho que tu deu nas vistas hoje! – Ele falou com cautela.
- Eu sei, não era pra ter acontecido, mas quando falam do Ricardo eu me descontrolo. – Explicou.
- Eu te entendo cara, mas isso põe o cara em perigo, eu o salvei, mas eles ainda sabem a localização dele. – Rômulo avisou.
- Eu sei, vamos andando que estamos nos aproximando do local – Ele quis se apressar para mudar de assunto, pensar em Ricardo em perigo lhe deixava nervoso e para que o seu plano desse certo ele teria que estar bem tranquilo e relaxado. Mais uma hora de caminhada e eles encontraram aquele acampamento improvisado, uma fogueira quase apagada, alguns homens e mulheres que eram mantidos como prisioneiros e lá dentro funcionavam como escravos do local, eles que desempenhavam os trabalhos domésticos, alguns ali desempenhavam trabalhos sexuais com os guerrilheiros, enfim, faziam o que lhe mandavam, viviam no terror.
Os dois soldados subiram em árvores diferentes, olharam em volta e fizeram a contagem das barracas, em uma delas o movimento era mais frequente e aquilo os chamou atenção, pela sua própria experiência sabiam que aquilo significava que alguém doente estava ali dentro. Resolveram começar por lá a busca, esperaram que os guerrilheiros se distanciassem do local e como havia sido combinado, Beto desceu da árvore e foi até a barraca tomando todo o cuidado possível para passar desapercebido, entrou no local e além do garoto sem a mão, já com o braço gangrenando, havia também uma moça que estava tão pálida e ao mesmo tempo azulada que sequer se atreveu a tentar olhar o que lhe haviam feito.
Enrolou o garoto numa manta, colocou-o no ombro e saiu sem dificuldades, olhou em volta, viu Rômulo com a arma em punho pronto para salvá-lo caso aparecesse alguém, andou um pouco e então ouviu o primeiro tiro, logo em seguida milhares de gritos em castelhano e ele se pôs em movimento, escondeu-se, mas sabia que eles iriam encontra-lo, Rômulo continuava a atirar certeiramente e matou muitos entre guerrilheiros e reféns, Beto conseguiu se embrenhar na mata, com o garoto que havia acordado e sussurrava coisas desconexas. Ouvia os tiros ao longe, deixou o garoto numa clareira bem escondido e voltou, no caminho ele municiava as armas que iria usar. Quando chegou próximo ao local, viu que Rômulo sangrava em cima da árvore e começou a atirar também, sua pontaria não era mais a mesma, mas ainda assim conseguiu ajudar naquele tiroteio.
Os dois tinham posições privilegiadas do alto e com isso conseguiram dizimar a maioria dos soldados que continuavam por lá, quando a poeira baixou e os que sobraram fugiram do local, eles dois conseguiram fugir. Voltaram a clareira e o rapaz que estava alucinando de febre foi colocado nos ombros de Beto que não havia sido atingido. Rômulo andava fazendo compressa no ferimento do braço, cansado e pensando em todos os homens que havia matado naquele dia. Beto ia na frente, silencioso como costumava ser.
- Tu tá bem aê? – Betão perguntou quando saíram do perímetro que seria mais perigoso para os dois.
- Estou, o tiro pegou de raspão, quando a gente parar eu fecho com pólvora. – Ele falou suspirando de cansado.
- Isso aí. - Avistaram o hangar onde o avião estava escondido, Beto então colocou o rapaz no chão, Rômulo não estranhou, já que achou que iriam descansar um pouco, tirou o colete com as armas e quando ia sentar Beto gritou:
- Sai daqui mané! – Apontou um revolver para o rapaz que não esperava aquilo.
- Que porra é essa mano? – Rômulo perguntou assustado.
- Tu não volta comigo! – Beto falou firmemente.
- Como assim, tá doido cara? – Ele disse sem entender.
- Eu estou te libertando! – Ele ainda apontava a arma, lembrou de sua confusão da primeira vez em que esteve livre e estava pronto para atirar caso Rômulo agisse daquela forma também.
- Que porra de libertação? – Rômulo estava realmente confuso e perplexo, algo que nem ele havia antecipado, em sua cabeça o plano era que os dois saíssem livres, matassem Cristóvão e Fred e depois cada um pra um lado.
- Vai te embora Rômulo! – Beto destravou o revólver – Tu não volta comigo, eles não podem desconfiar que a gente tem algum plano, vou dizer que tu morreu – Beto limpou a testa ao ver o rapaz suspirando.
- Cara... – Ele engoliu em seco.
- Some, desaparece, mas de vez em quando dá uma olhada no Ricardo. – Betão falou.
- Cara, ele vai te matar! – Rômulo falou preocupado, percebendo que um plano já estava em curso na cabeça de Beto, muito antes de eles saírem do Brasil.
- Vai não, o Fred não dá conta sozinho das missões, eu tenho que ganhar a confiança dos dois novamente... – Ele olhou para o garoto para verificar se o mesmo continuava dormindo e viu que sim.
- Mas cara...
- Nada de “mas”, vai te embora, refaz a tua vida!
- Baixa a arma – Rômulo pediu.
- Pra que? – Beto perguntou.
- Pra eu te abraçar! - Rômulo falou de pronto.
Com aquela atitude Beto selou o destino de todos, a vingança iria começar e ele logo estaria no topo da cadeia alimentar de novo.
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Nas últimas noites o sono estava mais leve que o normal, bastava o menor barulho para que Ricardo se sobressaltasse e não conseguisse mais dormir, aquele homem que agora estava investigando o paradeiro de Betão parecia ter mais experiência e sucesso do que qualquer um dos outros investigadores e por mais que isso lhe enchesse de esperança, havia uma pequena parte de seu eu que nutria um medo enorme do reencontro, as dúvidas deixadas pelos muitos anos de silêncio lhe desestabilizavam o sono e a fé, Ricardo se questionou se conseguiria se perdoar algum dia por ter sido ele o causador daquela separação. Andou pelo apartamento no escuro, abriu o armário da cozinha e encontrou um doce ali, considerou se o comeria, acabou sendo vencido pela gula. Sentou-se em frente a tv, programou o despertador e deitou-se no sofá.
Enquanto assistia um filme de super heróis pensou em Beto, havia dias em que a saudade estava menor, havia outros em que ela lhe maltratava de uma maneira tão perversa que chegava a sentir dor física. Dormiu por fim, na manhã seguinte acordou, foi ao trabalho e tudo corria normal, foi quando seu celular tocou. Ele não reconheceu o número de imediato e o atendeu mesmo assim.
- Alô? – Ouviu uma respiração forte do outro lado, sentiu seu corpo inteiro gelar.
- Ricardo? – Reconheceu então a voz de Rômulo.
- Cara, estou esperando uma resposta há dias! – Ele tentou segurar o tom de voz.
- Eu sei, não deu pra ligar antes! – A expectativa pairava por todo o ambiente – Abre o teu navegador e vai naquela conta, te mandei as fotos que consegui. Hoje a noite te ligo pra conversarmos melhor – E desligou em seguida, Ricardo ainda tentou falar, mas só o barulho de estática se fazia ouvir. Correu em seu notebook, ligou-o com a perna tremendo de nervosismo, abriu o navegador, entrou na conta e baixou os arquivos. Antes de abrí-los ele respirou fundo.
A primeira foto que viu foi de Cristóvão sentado na cadeira de rodas, com um óculos escuro no rosto, de terno e sendo empurrado por Beto. A segunda era de Betão saindo de uma academia, a terceira era de Betão correndo numa praça. Havia mais de quinze fotos ali, em outra ele viu Fred ao lado de Beto sorrindo de forma despreocupada. Em uma delas era possível ver que Beto andava armado e aquilo lhe causou um sério mal estar. Mas sorriu ao perceber que o homem que amava com tanta intensidade continuava vivo.
- Agora é hora de deixar os escrúpulos de lado, esse velho vai morrer! – Ricardo falou como se contasse para si mesmo essa novidade.
Mal sabia ele que as coisas não seriam assim tão fáceis.
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*Geomateus : Obrigado querido, bom que você está gostando! ^^
*Dinho49: Hahaha, oi Dinho, bom que você está gostando assim meu querido, na verdade essa ilusão de controle vai começar a se dissipar logo, você vai ver! Eu também achei que colocar o Rômulo apaixonado por outro cara seria forçar a barra... Cara, os próximos capítulos estão bem complexos, me aguarde! Não falarei sobre a morte de nenhum dos personagens! Rsrsrs, olha eu vou aumentar o número de postagens, pode deixar meu lindo! Beijão! <3
* Docinho21: Esses dois sofreram todos os tipos de tortura que se pode pensar. Vmos ver o que acontece agora. Abraços! =D
* dayaBr: Hahaha, que bom que está curtindo, quando ao Rõmulo se envolver com outro rapaz, achei que ficaria muito forçado, sabe? Beijão e obrigado por acompanhar! ^_^
* Fernando808: Bom, não vou dizer nada, mas você atirou numa direção correta, pode aguardar! Vou aumentar o número de postagens, viu? Beijos, Nando! <3
* William26 : Se você diz eu confio, mas mesmo assim estou vermelho aqui! Hahaha, abração e obrigado! =)
* Pyetro_Weyneth : Não se preocupe que não pretendo abandonar essa história, levo até o fim assim como as outras. Obrigado pela confiança! Abração querido! ^^
*Tazmania: kkkkkkkkkkkkkkkkk, Taz tu me mata! Deixe de drama, vou aumentar as postagens! Beijos meu lindo, te adoro! S2
*Catita : Ow querida, eu vou aumentar as postagens, agora deu pra melhorar, muito obrigado pelos elogios, e deixe disso de fã! Hahaha, beijos! =D
* Arthurzinho: Hahaha, que foi? U_U
* Ninha M: Rsrsrs, eu entendo meu amor, mas essa próxima semana vou postar mais vezes, pode aguardar! Hahaha, sim, a trama está se complicando, vamos ver o que se segue! Beijão minha linda! <3
*Bruno Jovovich: Hahahaa, ai BV lindo! Tá aí, espero que goste deste capítulo também! Beijos, seu lindo! S2
* Atheno : Hahahaa, eu até considerei, mas achei que ficaria muito forçado se ele também fosse gay. E quanto ao Cristóvão... Me aguarde! Beijão! ^^
* Monster: Obrigado meu querido, eu fico feliz de saber que está agradando! Beijão! =D