Meus caros leitores, esse capítulo vai dar o que falar, certeza. E digo desde já que até eu, o escritor, odiei. Quando vi que o rumo da história pendia para esse lado, confesso que tentei mudar, fazer uma alteração aqui e alí, mas não deu. Eu odiei escrever essa quinta parte. E sem sombra de dúvida eu daria 0 como voto a esse conto. Mas não me julguem, por favor, eu só fui seguindo as palavras. Comentem e partilhem comigo essa dor. Sejam solidários nessa hora tão triste.
Conto anterior
— Eu não sou gay, já disse, mas será que se eu ficar deixando você pegar eu posso virar um? Porque eu não quero ser.
Eu não sabia responder. E essa pergunta só me deixou foi transtornado. Mas não por Pedro ser ou não gay. Foi por um simples motivo: Será que nunca mais eu iria ver ou tocar a parte de Pedro? Será que nunca mais eu sentiria aquele membro nem mesmo através das calças? Droga. Eu lamentei profundamente. E esperei que aquilo não acontecesse.
...
Depois de tudo que havia acontecido eu só queria ficar do lado do Pedro. Não apenas por desejos eróticos ou sexuais. Sem conseguir explicar eu estava começando a gostar do meu amigo. Gostar de um jeito diferente, eu conseguia sentir mas não descrever.
Confesso que por muitas vezes tentei dizer não a mim mesmo, reprimir aquilo tudo e voltar a ser o velho Lucas. Mas eu falhava todas as vezes. Eu só queria ficar ao lado do Pedro e pronto. Era pedir demais? Acreditei que não. Então fui ao portão de sua casa e o chamei. O portão era todo de grande e quando o vi apontando ainda ao longe, me alegrei infantilmente.
Pedro chegou ao portão:
— Eai, Lucas, blz?
— Sim, e você?
— De boa. O que manda?
Fiquei meio sem jeito mas falei como dei conta:
— Não pode ficar aqui fora? Bora conversar.
Pedro fez uma expressão que me deixou triste. Depois disse:
— Não sei, vou ver com minha mãe.
— Vê com ela aí. To te esperando.
— Os meninos vão jogar bola hoje?
— Não sei.
— Blz. Espera aí, já venho.
Afastei-me do portão e me sentei encostado ao muro da casa do Pedro, debaixo de uma árvore de sombra boa. Peguei um graveto e comecei a rabiscar o lodo do chão enquanto esperava. Escrevi "Lucas" e depois, na frente do nome, desenhei um coração. E o meu desejo era colocar depois do coração o nome do Pedro e nos unir. Mas me contive e apenas rabisquei um "P" que só parecia P na minha cabeça. Era meu segredo, meu código.
Então ouvi um portão sendo destrancado. Larguei o graveto.
— Eai, Lucas...Ou, vai sujar sua roupa aí, pô. Tá cheio de lodo o chão.
— Tem nada não — Disse eu. — E isso nem suja, pode sentar aqui do meu lado.
Pedro ficou desconfiado e eu percebi. À princípio pensei que a desconfiança tinha sido pelo "suja ou não suja", mas depois que vi Pedro me encarando meio estranho, entendi logo. Ele apenas se aproximou. Continuou de pé.
— Lucas, aquilo que aconteceu foi só aquela vez, não quero continuar. Se os muleques ficarem sabendo, não vão zoar só você, eu entro nessa também. Vão me chamar de gay.
— Mas eles não vão ficar sabendo — Defendi minha intenção.
— Não? Uma hora ou outra eles podem descobrir e aí já era. É melhor deixar pra lá.
— Mas...
Fui interrompido.
— Você é gay mesmo?
Voltei a rabiscar o chão, agora riscos sobre riscos.
— Eu não sei — Respondi.
— Não sabe? Ué, você disse que gostou de pegar no meu pau e achou ele legal. Acho que você é, sim.
Senti-me acuado nessa hora. Joguei o graveto longe e encarei Pedro:
— E se eu for? Você disse que não se importaria se eu fosse. Você disse isso aquele dia.
— Eu disse mas eu me importo, sim. Não quero ser zuado.
— Mas ninguém vai ficar sabendo, Pedro — Levantei-me. — Vai ser tudo escondido.
— Tudo escondido? Como assim? O que você quer de verdade, Lucas? Quer ficar pegando no meu pau todo dia? É isso? — A voz subiu um pouco de tom mas Pedro a equilibrou novamente. — Ou tá querendo mais coisas? — Fez uma pausa. — Não diga que agora você gosta de mim, Lucas.
Minha cabeça foi a mil e eu xinguei mentalmente o Pedro. Me deu vontade de chorar. Segurei firme. Fiquei calado.
— Então você gosta mesmo? Meu Deus! Lucas, eu sou homem. Acho que foi um erro aquele dia.
— Me desculpa, Pedro, eu pensei que você tava gostando.
— É claro que eu tava. Você fez ele acordar e quase fez eu...você sabe, mas não quero que um garoto goste de mim.
Que raiva e tristeza eu sentia.
— Por que não posso gostar de você, Pedro? Você não precisa gostar de mim.
— Eu já te disse, cara, não sou gay e pronto. Foi pra isso que você me chamou aqui fora? Sacanagem.
Meu coração foi partido, e eu senti a dor quase literal no peito. Meus olhos se encheram d'água mas segurei firme mais uma vez.
— Desculpa, Pedro.
— Desculpa? Você é burro?
A cada palavra dura era como um punhalada que Pedro me dava. E eu aguentava calado, chorando apenas por dentro.
Do fim da rua, então surgiu uma galerinha. Era a turma do futebol: Victor, Rafael, Douglas e Danilo. Esfreguei as mãos no rosto e sequei os olhos. Vi Pedro se afastando de mim, como que me evitando, e indo em direção aos garotos. Senti a pior das sensações. Quando Pedro os encontrou, deu-me a última punhalada, a pior de todas elas, a mais dolorosa:
— Galera, descobri que o Lucas é gay. Outro dia ele pegou no meu pau e agora falou que gosta de mim.
Todos riram muito alto.
— Anem, Lucas, pensei que você fosse homem — Falou Rafael.
— E ele bateu uma pra você, Pedro? — Caçoou Douglas.
— O pior é que bateu.
Então todos riram ainda mais alto. E nessa hora, sem chão, sem teto, sem força, sem nada, corri para minha casa e me tranquei no quarto. Ali dentro eu chorei. E chorei muito. E foi muito mesmo.