Geralmente quando eu entrava em casa a primeira pessoa que eu via era minha mãe, meu pai, o Bernardo e as vezes não via ninguém, mas dessa vez vi alguém que não queria ver.
Beto – Porra, ate que enfim hen mano? Agora da pra me explicar que porra eu fiz de tão grave pra você ta me evitando?
Berg – Beto?
Beto – sim po, sou eu. Que houve?
Berg – Nada po.
Beto – Contra outra mano, te conheço.
Berg – Tou cansadão mano, depois agente conversa.
Beto – Não mano, vamos conversar logo agora, é so tu dizer o que eu fiz.
Berg – agora não da véi, minha família ta em casa.
Beto – Não seja por isso, vamos la pro teu quarto.
Berg – Beto, na boa, vai pra casa véi, não tou afim de papo.
Beto virou a costa pra mim e foi subindo as escadas.
Berg – ei po, ta indo pra onde?
Beto – Vou te esperar aqui no quarto vei, uma hora tu vai ter que falar comigo.
Berg – Tu é phoda mano.
Subi as escadas correndo, mas não deu pra impedir, Beto entrou no meu quarto e já foi deitando na cama.
Beto – e ae, fala o que ta pegando mano, deixa de ser fresco.
Berg – Eu sou fresco mano?
Beto – Claro, ta com raiva e não quer admitir.
Berg – tou com raiva com motivos.
Beto – qual motivo?
Berg – Voce falou uma coisa hoje que me feriu mano.
Beto – kkkkkk, que frescura é essa de ferir mano? Tu nunca foi dessas coisas!
Berg – Tou rindo não mano, tou falando serio.
Beto – parei com as risadas, deita aqui. (Beto apontava pra o lado da cama onde ele estava deitado)
Berg – Porra mano, voce de vez em quando fala umas piadas sem graça po.
Beto – qual das piadas te deixou assim?
Berg -...
Beto – Fala mano.
Berg – Você disse que devia ser acostumado a dar o cu. Porra mano, é assim que você me ver?
Beto – Não lembro de ter falado isso não.
Berg – Como não mano? (lembrei com detalhes toda a cena daquela tarde ate que Beto se lembrou)
*
*
Beto – Tu ficou chateado com isso mano? Eu não falei por mal. ( Beto tentava se explicar, seu rosto estava bem próximo a meu rosto ).
Berg – Tu acha pouco mano?
Beto – é que eu achei que realmente fosse normal, já que tu disse ser viado, achei que tu transasse com a bunda. (rs)
Berg – Ta rindo de que seu otario?
Beto – De você mano. Se eu soubesse que você fosse ficar chateado, nunca teria falado isso, achei que pra você fosse normal.
Berg – Tu ta piorando as coisas mano, melhor tu cair fora.
Beto – Perdoa o teu brother, não foi por mal.
Berg – Vou pensar véi, vou pensar.
Beto – então vamos pensar em frente as telas do cinema.
Berg – Oi?
Beto – tou indo com a Debora. Você vai com agente e vai ver que quando o filme acabar já não vai mais se lembrar desse mal entendido.
Berg – Vamos deixar pra outro dia, hoje eu só quero descansar.
Beto – Pelo menos diz que me perdoa.
Berg – vou pensar vei.
Beto – Então pensa. E ae já pensou?
Berg – Tomar no cu porra!kkk
Beto – Me perdoa primeiro que eu vou. (rs)
Berg – Ta bom véi te perdoo, agora te manda daqui que eu quero dormir. (rs)
Beto – Tem certeza que não quer ir ao cinema conosco?
Berg – tenho sim po, tou de boa aqui, só quero dormir.
Beto – Blza, então amanha agente se fala na facu.
Berg – Blza.
Beto se despediu, e sumiu do meu quarto, eu que já estava deitado, virei pro lado e comecei a sentir o cheiro que ele havia deixado em minha cama.
xX
Berg – Oi Lucas.
Lucas – Boa noite mo.
Berg – Boa noite.
Lucas – O que ta fazendo de bom?
Berg – Tava indo tomar banho e tu?
Lucas – Que coincidência mo, tou no banheiro nesse momento mesmo. Queria que você tivesse aqui para podermos tomar banho juntos.
Berg – Seria demais neh mo!? (não sentia mais tanta emoção falando com o Lucas, mas tava sem coragem de colocar um ponto final por telefone)
Lucas – seria ótimo. Mudando de assunto mo, hoje falei com meu advogado.
Berg – Sobre o lance do Sr Edgar?
Lucas – Isso.
Berg – O que ele disse?
Lucas – Muitas chances de eu ter tudo o que é meu por direito. Quero ver a cara do Edgar quando ele souber.
Berg – Se é isso que você quer eu fico feliz.
Lucas – Obrigado mo. Mo , mudando de assunto você já decidiu quando vem?
Berg – tou pensando ainda, aqui ta maior correria.
Lucas – eu tenho uma noticia que talvez ajude a você decidir.
Berg – E o que é?
Lucas – Eu consigo fazer um contrato pra voce ficar prestando serviços elétricos nas minhas academiar. Não era isso que tu queria?
Berg – Noticia boa mesmo Lucas, já ajuda muito na minha decisão.
Lucas comemorou do outro lado da linha.
Lucas – olha ae, sabia. Hehe!!
Berg – eu vou ter que desligar aqui tah!? Depois agente se fala.
Lucas – Ta. Beijo mo.
Berg – beijo.
Mal desliguei o telefone e o celular voltou a tocar, era o Kadu querendo organizar tudo pra fazer a mudança para casa do Beto no sábado.
xXXX
Prometia fazer um dia ensolarado, ultimamente só chovia. Acordei e antes mesmo de fazer minha higiene matinal eu fui à cozinha tomar café, estava com fome. Mamãe já estava com a mesa quase toda posta.
Berg – Bom dia mãe. Sua benção.
Mãe – Bom dia meu amor, Deus o abençoe.
Berg – Cade o papai?
Mãe – Foi cedo, Bernardo aprontou alguma coisa na escola e a diretora nos convidou a ir ate a escola.
Berg – eita, papai vai esfolar o Bernardo.
Mãe – que palavreado mais feio meu filho, onde tu aprende isso?
Berg – Ué, o pai fala isso direto. A senhora nunca reparou não?
Mãe – conversa sua, seu pai não e de falar essas coisas.
Berg – A sra tem que conviver mais com o seu marido mãe. Kkkkk
Mãe – Rum.
Tomei um café reforçado, hoje eu passaria o dia na faculdade, depois subi ao meu quarto, tomei um banho demorado, coloquei minha roupa, peguei meu material, coloquei dentro da mochila e partiu pra faculdade. Quando ia descendo as escadas vi o Rafael olhando os porta retratos na estante de bebidas como se tivesse ficado fascinado com as fotos de minha família.
Berg – Bom dia chefe, beleza?
Rafael – fala mestre. Blza e voce?
Berg – Tudo bem. Não é querendo ser chato mas o que tu faz aqui tão cedo?
Rafael – passei pra te dar uma carona.
Berg – preciso não mano eu vou de motoca.
Rafael – pensei em ti levar pra faculdade e de la, irmos estudar la em casa.
Berg – Mas rola uma carona pra casa depois dos estudos, é que vai ta tarde e fica ruim pra voltar de ônibus.
Rafael – claro que rola po. Tu acha que eu vou deixar meu professor andando de ônibus? Kkk
Berg – kkkk. Fuleiro.
Naquele dia as aulas foram cansativas, entre o primeiro e o segundo turno paramos para almoças e colocar os papos em dia. O beto estava falando da noite dele com a Debora.
Beto – rolou um cinema, e depois fomos fazer um filmezinho la em casa. Hehe
Porra, não acredito que eu estava ouvindo aquilo. Naquele mesmo dia eu poderia ter dado pro Beto, e a noite ele sai pra comer a mina dele? Tudo bem era mina dele, e eu era o melhor amigo dele, apenas isso.
Berg – Galera, vocês vão me dar licença, mas eu tou voltando já.
Kadu – Já po? Ta cedo!
Berg– Ta cedo mesmo é, vou lá biblioteca pegar uns livros emprestados.
Kadu – e pra estudar com o Rafa?
Berg – Isso.
Nessa hora o Beto se intrometeu na conversa.
Beto – voce ta estudando com o Rafael é?
Berg – so dando uma força pra ele.
Beto – força em que?
Berg – Umas disciplinas ae que ele ta com dificuldades.
Beto – Hummm, entendi. ( O Beto fez uma cara de desconfiança)
Berg – tou indo nessa, agente se ver na sala.
Despedi-me de todos, e fui ate a biblioteca, peguei três livros emprestados e voltei pra sala, queria deixar marcado os capítulos que eu iria usar logo mais para dar aula ao Rafael.
Falando em Rafael, eu estava distraído com a cara literalmente nos livros quando ele adentrou na sala.
Rafael – Mano?
Berg – Que susto vei.
Rafael – kkkk, foi mal, é que tu estava distraído e não me viu entrar.
Berg – Tou aqui envolvido com os conteúdos que vamos ver hoje a noite.
Rafael – a é? Posso dar uma olhada?
Berg – Claro, ve ae.
Ficamos conversando sobre assuntos da faculdade por um bom tempo, ate que pouco a pouco os alunos foram retornando. Assim que Beto entrou, puxou a cadeira dele e encostou a minha.
*
*
Berg – O que foi po?
Beto – O que foi o que?
Berg – Sei la, tu encostou a cadeira aqui, achei que quisesse alguma coisa.
Beto – Não, não, é que daqui eu tenho uma visão melhor do quadro branco.
Berg – Ah, de boa.
Beto – alias mano, quero algo sim.
Berg – Diz ae.
Beto – vamo assistir um filme la em casa hoje a noite?
Berg – da não mano.
Beto – por que?
Berg – vou la pra casa do Rafael ajudar ele com os conteúdos.
Beto – porra, você vai passar o dia estudando e ainda vai estudar a noite é?
Berg – É po, o cara ta me dando uma grana pra ensina-lo.
Beto – safado, ta explorando o cara?
Berg – claro que não abestado, é um preço justo.
Beto – sei... kkkkkkk
Berg – então-se pronto. (rs)
Beto – e esse estudo vai ate que horas?
Berg – Não sei, ele que vai decidir sobre isso.
Beto – hum. Depois que tu sair da casa do Rafael tu vai então, ae tu dorme la. Blza?
Berg – Garanto não mano, se der eu vou, mas o mais certo é que eu não va.
Beto – ta certo, outro dia agente combina então.
Berg – Blza.
Enfim a aula chegou ao final, não aguentava mais ver números na minha frente.
xX
A casa do Rafael era linda, estilo a cada do Sr Edgar. A diferença é que a piscina era na parte de inferior da casa. Entramos, ele me apresentou para sua mãe e depois fomos direto pra biblioteca.
Rafael – cara, como você consegue fazer ficar fácil?
Berg – Ah vei, eu curto isso demais. É a profissão que eu quero pra minha vida.
Rafael – eu também gosto, mas não consigo aprender não.(rs)
Berg – Mas agora ta aprendendo, não ta não? (rs)
Rafael – tou porque voce esta me ajudando, se não fosse voce eu tava na merda.
Berg – Que bom mano, eu tava com medo de voce não conseguir entender, eu nunca tinha dado aula particular pra ninguém.
Rafael – ta perdendo de ganhar dinheiro, voce explica bem pra caralho.
Berg – porra, valeu. (rs)
Rafael – você prefere lanchar aqui ou na cozinha?
Berg – Vou recusar mano, tou com a barriga cheia.
Rafael – Minha mãe vai ficar chateada, ela esta na cozinha ajudando a empregada a fazer um lanche especial pra nos.
Berg – é serio?
Rafa – claro mano. Eu falei da força que você esta me dando, e ela ficou grata.
Berg – então vou aceitar. Hehe
Xxxxx
Já na cozinha.
Berg – como é o nome disso Rafa?
Rafa- deixa eu ver.
Berg – aqui.
Rafa – cara, eu não sei o nome disso ae não. Bom neh!?
Berg – Uma delicia mano.
Rafa – é receita da minha mãe.
Berg – muito bom, ela poderia muito bem ser cozinheira.
Rafael ria solto do meu comentário.
Berg – O que foi po?
Rafael – é que minha mãe é cozinheira mano. Ela tem um restaurante onde ela é chefa de cozinha.
Berg – kkkkk, então por isso ela cozinha tao bem vei.
Rafael – demais neh!? Eu tenho trabalho na academia pra manter esse corpo. Kkkk
Berg – Tou ligado. (eu ria meio sem graça, mal conhecia o cara e já estava morrendo pela boca na casa dele, ele ia acabar descobrindo que eu era um morto de fome. Hehe)
Rafal – se meche não, esta sujo aqui na sua bochecha.
Berg – Já?
Rafael – Já sim.
Berg – mano, queria ir ao banheiro rapidão.
Rafael me ensinou onde era o banheiro social e eu fui ate la, dei uma mijada e aproveitei pra ligar pro meu pai, pedi pra dormir na casa do Beto e ele permitiu.
xXX
Pedi para o Rafael me deixar na casa do Beto e ele aceitou. Durante o percurso íamos conversando coisas da minha vida e da vida dele. Descobri que Rafael tinha 25 anos, 1,85 de altura 85kg, moreno claro, cabelo raspado estilo militar, barba falhada, olhos pequenos e escuros, dentes alvinhos e gostava muito de ostentar com sua bmw, cordões e relógio de ouro. Pedi pra gente passar em um supermercado, comprei um pote de sorvete e pipoca, o sorvete é por que o Beto era viciado e a pipoca era porque combinava com filme. Não demorou muito e lá estávamos em frente a casa do Beto, eu me despedi do Rafa e em menos de um minuto já estava na porta do Beto. Toquei a campainha e nada dele vim atender, olhei na garagem e o carro lá estava sinal que ele não havia saído. Peguei meu telefone e disquei seu número.
Beto – Oi
Berg – Beto?
Beto – han!
Berg – é o Berg po, tou aqui na frente.
Beto – Berg? Aqui na frente onde?
Berg – Frente da tua casa caralho.
Beto – Berg.. é... espera, tou indo ae.
Berg – Blza, demora não que a rua ta deserta. ( O Beto deveria esta batendo punheta, tava com a voz fadigada, falhando, fazendo esforço pra conseguir falar poucas e simples palavras).
Demorou uns cinco minutos e o Beto apareceu na porta de sua casa.
Berg – caralho vei, que demora, eu tava vendo a hora ser estuprado aqui na frente. (rs)
Beto – Que tu ta fazendo aqui?
Berg – Vim ver o filme po que tu me convidou.
Beto – Mas tu disse que não vinha mano.
Berg – Eu disse que ia ver po, se desse eu vinha.
Beto – Pois é, como tu não deu certeza, eu chamei a Debora.
Berg – Ela ta ae é?
Beto – Ta sim, ta la no quarto.
Berg – humm, então ta, agente combina outro dia neh!?
Beto – é o jeito mano, amanha eu reservo a noite pra nós. Blza?
Berg – Blza. Eu trouxe sorvete e pipoca, tu quer?
Beto – Vou guardar pra amanha. Blza?
Berg – pode comer hoje po, amanha agente compra mais, o Rafa ta me pagando por diária.
Beto – então fechou, ate amanha mano.
Berg – ate amanha. ( eu mal virei a costa e o Beto fechou a porta, acho que ele tava apressado pra cavalgar na tal de ‘’Debora’’)
Agora eu estava ferrado, a pé, altas horas da noite por ae, tinha levado um fora indiretamente ou diretamente, sei la. Porra, por que o Beto fez isso comigo? Se ele convidou era pra ter me esperado. (não consegui segurar as lagrimas, mesmo sem ter nada com o Beto estava me sentindo traído).
XX
No dia seguinte eu acordei com a minha mãe chamando na porta do meu quarto.
Mãe – Gutemberg acorda meu filho, você vai se atrasar.
Berg – Não tenho condição de ir pra aula hoje mãe, tou com febre.
Mãe – O que tu ta sentindo?
Berg – dor.
Mãe – dor aonde meu filho?
Berg – no coração.
Mãe – Meu filho, coração é coisa seria, abre aqui a porta pra mamãe ver como voce ta rapidinho.
Berg – Deixa eu dormir mãe, dormindo essa dor passa.
Mãe – mas primeiro venha explicar pro seu amigo que você não vai.
Berg – Diz pro Beto que depois eu falo com ele mãe.
Rafael – é o Beto não Berg, sou eu, o Rafa.
O Rafa? Levantei-me, e abri a porta rapidamente. Estava minha mãe e o Rafael na entrada da porta do meu quarto.
Rafa –Bom dia mano.
Berg – bom dia.
Minha mãe passou a mão por minha testa, meu pescoço e ainda pegou no meu pulso.
Mãe – você ta febril mesmo. Vou ligar para agencia e disse que não vou hoje, vou levar você no medico.
Berg – Não precisa se preocupar mãe, é apenas cansaço físico.
Mãe – não adianta teimar, vou ligar e vamos ao medico sim, vá logo se arrumar.
Minha mãe foi em direção ao telefone da sala e eu pude conversar diretamente com o Rafael.
Rafa também passou a mão pela minha testa.
Rafa – caralho mano, esta quente mesmo, é bom ir ao medico logo para examinar.
Berg – Nada mano é só dormir ate à tarde que isso passa tou acostumado já.
Rafa – então hoje você não vai pra facu?
Berg – Hoje não, só amanha.
Rafa – Você vai para hospital então?
Berg – Vou nada mano, preciso de medico não. Daqui a pouco vou ta melhor.
Estávamos conversando na porta do meu quarto, o Rafael estava usando uma camisa polo de marca, um boné da nelore, calça jeans preta um pouco justa e uma botina de peão.
Rafa – essa tua doença ta com cara de doença da paixão.
Berg – kkkk é doido é vei? Sei nem o que é isso.
Rafa – Claro que sabe po? O que tu sente pelo Beto é o que então?
Berg – O que tu disse mano?
Rafa – essa tua doença tem ou não tem haver com o Beto?
**
Faço mais de mil perguntas e as vezes até acredito
Que as nossas duas vidas já viveram juntas
Se o meu violão acaso desafinar
Ou se eu não tiver voz pra cantar
Nada vai impedir de dizer e provar
Que essa vida eu só vivo pra te amar.
**
Continua...