- Você nunca namorou ninguém, justamente por ser quem você é. E ainda bem que fiz a escolha certa.
- Vai se fuder, seu idiota! Imbecil! Interesseiro.
- Isso. Vamos! Agride mais... Você desce num nível tão baixo, que as vezes eu me pergunto se você realmente é filho do meu tio.
Ao ouvir aquilo, Rafael partiu pra cima dele, mas levou um soco no rosto que o fez desabar.
Ele se levantou do chão e pôs a mão no rosto. O canto da boca sangrava, e sem qualquer reação, encarou o primo que parecia arrependido do que acabara de fazer. Muito mais do que aquele soco, as palavras do Leo atingiram profundamente a sua alma, e ele apenas chorou e se trancou no quarto. O Leo até tentou amenizar a situação e pedir desculpas, mas foi em vão. Ele estava morrendo de ciúmes em vê-lo de papo com o Marcos, mas o Leo sabia que o Marcos não era tão bonzinho assim... Ou será que ele estava tentando apenas atrapalhar a felicidade do Rafael.
Ele se direcionou para o espelho, e as lágrimas foram invitáveis. Estava perdido dentro a sua própria dor, do próprio sofrimento. Ele sabia que no fundo, algumas palavras ditas pelo Leonardo faziam sentido.
- Eu sou um mimado, covarde! Chega de bancar a criança frágil e inocente Rafael... Seja forte, seja maduro. Cresça! Imponha suas decisões e não deixe que a sua felicidade seja guiada pelos outros; se é que existe felicidade... – ele dizia todas aquelas palavras diante do espelho e seu olhar era vazio, perdido... Deitou-se na cama e começou a pensar na vida, até que o sono o venceu, e ele adormeceu.
*******
Andando pelo campo, e chutando a grama em meio a um monte de palavrões ditos, o Leo gritava e xingava a si mesmo.
- Burro! Idiota! Imbecil! Ele que quebre a cara. Quer saber Rafael? Foda-se você e esse Marcos idiota. Só não venha correr atrás do babaca aqui, quando você souber quem é o Marcos. – ele gritava, esbravejava e só manteve a calma, quando se deparou com o Duda, que vinha em direção contrária.
- Quê isso cara? Tá ficando maluco? De longe consigo ouvir seus berros. Algum problema?
- Não é da sua conta! Você é outro que adora acobertar os erros do seu amiguinho idiota.
- Vem cá, você não muda não é? Primeiro, magoa, humilha e chuta o meu amigo, como se ele fosse um lixo. Depois vem com essa ceninha ridícula de ciúmes, só porque ele está de papinho com o Marcos? Ah, me poupe! Você não quis, tem em queira. Este é o sentindo da vida e segue o fluxo. – Eduardo explodiu com ele.
- Não é bem assim como você está pensando. O Rafael se fez de vítima no dia em que levei minha namorada naquele maldito jantar, mas eu fiz isso por vingança.
- Vingança? Você fez isso pra humilhar o meu amigo. Você dormiu com o Rafa, e ele na época acreditou que ao seu lado, tomaria coragem pra revelar sua orientação sexual para o pai dele. Ele te amava, ele te venerava e em troca, você só quis sexo com ele, e depois me venho com aquela piranha de beira de esquina, dizendo que era a sua namorada. O mundo dele desabou. Não adianta se fazer de santo...
- Ah é? Você sabe o que eu descobri? Que logo depois do dia em que transamos, e pra mim foi perfeito. Naquele dia eu descobri que era ele a pessoa que eu queria que estivesse ao meu lado... Mas logo em seguida, eu descobri que ele estava saindo mais cedo do colégio, pra se encontrar com outro garoto de outra turma, e os dois estavam saindo pra transar. E em outra oportunidade, um tal de Hélio, mandou uma mensagem pra ele, querendo marcar um encontro e pedindo para que ele não esquecesse de levar a camisinha... Me diz? Ele te contou tudo isso? O que você esperava que eu fizesse depois de saber que o Rafael saia com mais de um cara, simplesmente para transar? Eu pensava que depois da noite que tivemos nos tornaríamos namorados, mesmo que fosse escondido, mas que estaríamos juntos... Aí eu resolvo levar uma garota pra um jantar de família, e ele se achou no direito de me condenar? Nós não éramos nada um do outro, aliás, nunca seremos.
Eduardo ficou perplexo. O Rafael nunca havia lhe dito aquela parte da história. Mas será que o Leo estava falando a verdade? – ele se perguntou. Bom, antes de qualquer conclusão, precisava conversar com o Rafael e esclarecer as coisas, afinal, se fosse mesmo verdade, o Leonardo era o verdadeiro inocente da história.
- Bom, eu preciso conversar com o Rafa. Não quero tirar nenhuma conclusão. Mas posso te fazer uma pergunta?
- Faça.
- O que você sabe sobre o Marcos? Porque esta implicância toda com ele?
- Este é um assunto pessoal meu. Seu amiguinho vai descobrir sozinho. Mais uma vez, ele mostrando o quanto é imaturo e incapaz de ter um relacionamento digno com alguém. Bom, eu vou continuar a minha caminhada, porque este assunto me deixa com enjôo.
Eduardo o observava se distanciar. Milhões de perguntas circulavam sobre a sua cabeça, mas a única pessoa capaz de respondê-las era o próprio Rafael.
*******
Anoitecia lá fora, e o Rafael estava apenas acordando de um sono profundo e reflexivo. Tivera vários pesadelos, mas quando se dirigiu ao espelho, percebeu que um deles era real: seu olho estava um pouco roxo devido ao soco que tomara pela manhã. Ele acordou disposto a se tornar uma nova pessoa. Seria mais pensativo e não agiria mais por impulso. E se fosse pra enfrentar a realidade, que assim seja! Tomou um banho, e vestiu uma roupa qualquer para jantar. Viu em seu celular, uma mensagem do Marcos, onde dizia para ele o encontrar no celeiro a partir das 22:00 horas. Não respondeu e também nem tinha certeza se iria. Sua única certeza naquele momento era a fome que ele sentia e que fazia roer o seu estômago. Já tinha em mente a mentira que inventaria para a tia, caso ela perguntasse sobre a roxidão em seus olhos, e ele sabia que ela iria perguntar.
- Boa noite a todos! – estavam na mesa: a tia, o Leo, o Eduardo, um amigo da família, e outro tio do Rafa, que havia passado rapidamente pelo local e aproveitou pra fazer uma boquinha.
- Oi tio Paulo! Tudo bem com o senhor? Veio ficar com a gente?
- Não meu filho. Eu só vim mesmo resolver uns assuntos aqui perto. Mas amanhã bem cedo estou voltando para São Paulo. E você? Nossa, levou um soco no rosto?
Pra surpresa dele, nem foi a sua tia a primeira a perguntar. Após a pergunta, o Leo abaixou a cabeça. Eduardo já havia percebido a causa, e os outros aguardavam a resposta dele.
- Na verdade tio, eu cair definitivamente do cavalo hoje cedo.
- Mas eu falei com você hoje cedo e o sue rosto não estava assim. – disse a tia dele.
- Pois é tia. Mas eu caí, e com certeza só senti a dor depois e quando acordei ainda a pouco, percebi estava macha horrorosa. Bom, eu quero comer e não discutir sobre o meu rosto.
Ele se sentou e começou a se servir, enquanto os olhares de repúdio eram dirigidos ao Leonardo.
CONTINUA...