Animação era a palavra de ordem para nós. Se eu soubesse o que ia não teria mudado nada. Sorrisos, brincadeiras e diversão. Os ensaios, claro, mais intensos do que nunca, afinal, eles nos desafiariam de várias maneiras. Buscamos na internet o perfil dos nossos 'inimigos'.
Kim: - Eu não sei de qual tenho mais medo.
Suzana: - Qual é!! Somos bons... né? (cobrindo o rosto com uma almofada)
Gustavo: - Não vamos nos desesperar. Somos tão bom quanto.
Thiago: - O que é isso? Até tú Suzana? Vamos ganhar. Eu não quero sentimento de perdedor aqui. Ouviram?!
(Todos com cara de paisagem)
Thiago: - Eu perguntei se vocês ouviram?!! (gritando) – Se alguém aqui quiser desistir. (indo até a porta do estúdio, ou, garagem da Suzana) – Pode sair e não voltar mais.
Gustavo: - Nossa que sexy.
Suzana: - Thiago tem razão. Vamos ganhar essa competição.
Ludmila: - Afinal. Já temos um ano de estrada.
Bruno: - Temos algo que os outros não tem!
Gustavo: (falando baixo) – O dinheiro da Suzana?
Suzana: - O meu dinheiro. (assustando Gustavo) – Vamos comprar as melhores roupas, os melhores instrumentos e os melhores treinadores. Parem tudo o que estão fazendo... vamos arrasar.
Chegamos em casa exaustos. Jantamos e fomos tomar banho juntos. Já estava acostumado em ser lavado pelo Gustavo. Ele era carinhoso e fazia uma massagem maravilhosa durante a ducha.
Gustavo: - O que foi aquilo?
Thiago: - Aquilo?
Gustavo: - No ensaio hoje. Me deu até tesão.
Thiago: (virando de frente para Gustavo) – Preciso confessar uma coisa.
Gustavo: - O que?
Thiago: - Eu sou o pior competidor do mundo.
Gustavo: - Jura?
Thiago: - Sério. Eu não me controlo.
Gustavo: - Adivinha quem joga Tropa Estrelares comigo?
Thiago: - Besta... é... é... diferente. O jogo é algo que vale a diversão. Em 2010, eu quebrei o braço de um garoto que ia disputar uma vaga comigo na Filarmônica de São Paulo.
Gustavo: - Caramba.
Thiago: - Fiz até tratamento.
Gustavo: - Promete uma coisa?
Thiago: - O quê?!
Gustavo: - Não quebra o meu braço. (soltando uma gargalhada)
Thiago: - Idiota. (jogando água no rosto de Gustavo)
Gustavo: - Ei. Vem cá. (abraçando Thiago)
Thiago: - Não quero.
Gustavo: - Vem cá, meu amorzinho.
Thiago: - Quando eu tiver aprontando por aí. Não quero te ver reclamando.
Gustavo: - Com tanto que você continue me amando.
Thiago: - Eu vou sempre te amar... besta. (pegando o shampoo e passando no cabelo de Gustavo) – (rindo)
Gustavo: - Que foi? (com os olhos fechados)
Thiago: - Sempre quis ter um cabelo igual ao teu.
Gustavo: - Bobo.
Thiago: - (beijando Gustavo)
Na escola, Mônica ou melhor Matheus apresentou um comportamento diferente. Estava mais triste que o normal. Ludmila percebeu e não se intimidou em perguntar o motivo.
Ludmila: - Desembucha.
Matheus: - Oi?
Ludmila: - Você está mais aéreo que o normal. O que houve?
Matheus: - Nada.
Ludmila: - Tenho quatro amigos gays. Acho que sei quando um de vocês está triste. (abraçando Matheus)
Matheus: (desabando em choro)
Ludmila: - Eu tô aqui. Não se preocupa. Pode chorar. (acalentando o amigo) – Me diz.
Matheus: - É tudo tão dificil. Tenho vontade de desaparecer.
Ludmila: - E você acha que assim vai facilitar as coisas? Fugir?
Matheus: - Minha casa é um inferno, ninguém gosta de mim, e recentemente eu... eu....
Ludmila: - Você?
Matheus: - Tran,,, transei pela primeira vez... e foi horrível. (chorando)
Ludmila: - Amigo. Calma. Olha. É tudo fase. Quando você se formar vai para uma faculdade e deixar tudo isso para trás.
Matheus: - Meus pais me falaram que não vão pagar faculdade para um travesti.
Ludmila: - Você faz Enem. Tem tantas outras maneiras de estudar. Você trabalha... pode arrumar um canto pra você.
Matheus: - Valeu, Lud.
Claro que não poderíamos ficar de fora. A Ludmila realizou uma reunião extraordinária com a banda.
Ludmila: - A situação é essa gente.
Gustavo: - Eu lembro de que quando morava com a Martha pensava da mesma maneira.
Thiago: (pegando no ombro de Gustavo) – Mas, o que podemos fazer?
Suzana: - Ele pode morar lá em casa, mas papai não está pronto para morar com um transexual.
Bruno: - Lá em casa não tem espaço nem pra mim.
Thiago: - Lá em casa também.
Ludmila: - A mamãe morre se eu levar alguém lá pra casa. Pelo menos nisso ela repara.
Kim: - Tive uma ideia.
Suzana: - Obrigado Japão. (levantando as mãos para o céu)
Kim: - Bem... a gente poderia falar com a Dona Maria. Ela ainda tem o quarto do Lúcio.
Thiago: - Verdade. Fora que existem outros cômodos na casa.
Bruno: - Tem que ser o meu amor para pensar nas melhores ideias.
Ludmila: - Vou falar com ela o mais rápido possível.
Suzana: - Ah. Graças a Deus que vocês estão aqui. Tenho uma novidade. (balançando os dedos)
Ludmila: - Fala logo.
Suzana: - Grossa. Enfim... a minha mãe conhece a prima, da irmã que estudou com a afilhada de uma mulher que tem o contato da noiva do irmão do Ricardo Menzola.
(Todos olhando para Suzana em silêncio)
Suzana: - Ricardo Menzola!
(todos se olham)
Suzana: - Um professor de dança. Ele vai nos dar aulas. E a primeira vai ser sábado.
Gustavo: - Sábado tenho inglês e estou de plantão.
Thiago: - Eu também.
Bruno: - Treino de futebol.
Kim: - Aulas de francês, italiano, balé, tiro ao alvo e natação.
Ludmila: - Eu acordo às 16h.
Suzana: - Gente... pelo amor de Deus... (olhando para Thiago) – Quer que o Gotas de Júpiter seja a única equipe que não sabe dançar?
Thiago: (apertando o punho) – Marque para às 20h.
Todos: - O que? Eu vou tá cansado! Não posso. Vou morrer.
Thiago: - Chega!!!!
Thiago: - Ninguém vai morrer. Somos jovens. Nosso físico está preparado para esse tipo de situação. Qual é gente. Temos apenas uma semana para aprender alguma coisa. Ou querem sair no primeiro desafio? A diretora Flora só relaxou porque ela pensa que vamos ganhar. E eu quero ganhar. (olhando para Gustavo)
Gustavo: - Ve... verdade gente. Precisamos fazer um sacrifício.
Suzana: - Só vai ser essa semana.
Kim: - Por mim tudo bem.
Bruno: - Posso descansar a tarde.
Ludmila: - Ok. Venceram.
Tive um sonho ruim na última noite. Eu estava no palco, as câmeras ligadas e do nada fiquei pelado na frente de todas as pessoas. Acordei suado e ofegante. Desci para tomar um copo de água e encontrei meu pai.
Hélio: - E ai campeão? Sem sono?
Thiago: - Mais ou menos. Eh... pai?
Hélio: (batendo um copo de leite com nescau) – Aceita?
Thiago: - Uma dose.
Hélio: - Fala filho.
Thiago: - Eu sempre fui competitivo?
Hélio: - Sim, mas isso você puxou a sua mãe. De mim apenas as partes boas.
Thiago: - Pai?
Hélio: - Qual é Thiago? Você é um bom menino.
Thiago: - Diz isso pro braço do João.
Hélio: - Você quebrou mesmo o braço do moleque, hein?
Thiago: - Pai. (sentando na cadeira e colocando o rosto contra a mesa) – Não tá me ajudando.
Hélio: - Amor. (pegando na cabeça de Thiago) – Está nervoso por causa do programa?
Thiago: - Demais.
Hélio: - Você não está sozinho nessa. Vai se divertir com seus amigos, seu namorado.
Thiago: (solta um riso abafado)
Hélio: - O que foi?
Thiago: - O senhor chamando o Gustavo de meu namorado... e em breve ele vai ser seu filho e meu irmão. E a Elizabeth vai ser a minha mãe, que é mãe do meu namorado.
Hélio: - Loucura né?
Thiago: - Demais. E o senhor, seu Hélio? Está preparado?
Hélio: (respirando fundo e saltando o ar de uma vez) – Não. Só de pensar meu coração bate forte, minhas mãos ficam suadas e eu... eu...
Thiago: - O senhor apaixonado é uma gracinha.
Hélio: - Você está feliz com a minha escolha?
Thiago: - E o senhor ainda pergunta? Se tú não casar com ela, eu caso.
Hélio: - Xiii. Baixou o gauches em ti, pia?
Thiago: - (rindo) – Estou cercado de gaúchos, nada mais natural.
Hélio: - Fico feliz por ter mudado para essa cidade... quer dizer... sei que passamos por mal bocados no última ano, mas em geral as coisas foram positivas.
Thiago: - Claro pai. A nossa melhor decisão. (levantando o copo de nescau em direção ao pai)
Hélio: - A nossa melhor decisão. (brindando com Thiago)
Nos reunimos na casa de Dona Maria e explicamos tudo o que estava acontecendo com Matheus/Mônica
Dona Maria: - Claro que ele pode ficar.
Suzana: - A senhora jura?
Dona Maria: - Preciso mesmo de uma companhia.
Thiago: - Dona Maria se eu chegar no céu e a senhora não estiver lá juro que faço o maior barraco.
Gustavo: - Para de besteira amor.
Thiago: - Brincadeira.
Ludmila: - Mas precisamos organizar o quarto. A senhora já está fazendo demais oferecendo ajuda.
Suzana: - Eu compro os moveis. Todos rosa. (batendo palmas)
Ludmila: - Acorda. Ele é travesti, e não uma menina de cinco anos.
Kim: - Espero que isso ajude o Matheus a ficar em paz consigo mesmo.
Bruno: - Já até dei uma dura em uns jogadores do time. Eles são idiotas.
Kim: - Fez bem amor. Muito bem.
Thiago: (abraçando e beijando Bruno no rosto) – Bruno. O defensor das gays oprimidas.
Bruno: (rindo) – Idiota.
Fizemos uma pequena reforma no quarto de Matheus/Mônica e decidimos fazer uma surpresa.
Ludmila: - Será que ele vai gostar?
Bruno: - Se ele não quiser eu quero. Meu sonho é ter um quarto só pra mim.
Thiago: - Ficou legal.
Gustavo: - Fizemos de coração.
Longe dali, o pai de Matheus tinha mais uma crise de raiva. E ele descontava tudo no filho.
Lindomar: (jogando Matheus contra a parede) – Viado, inútil.
Matheus: - Para pai! O que eu fiz?
Lindomar: - Nasceu. Nasceu seu desgraçado. (pegando o cinto e batendo em Matheus)
Matheus: - Para. Não.
Lindomar: - Como tú faz isso comigo?!
Matheus: (chorando, encolhido no chão) – Eu não fiz nada. Para.
Lindomar: - E esse vídeo? (pegando o celular e mostrando para Matheus)
Matheus: - O que?!
Lindomar: - Esse negão te comendo. Tá gostando? Tá gostando? (batendo mais em Matheus) – Ainda vestido de mulher. (chorando e ficando de joelhos no chão) – Seu maldito. Eu te odeio.
Matheus: - Me perdoa pai. Eu não queria. (se levantando e tentando abraçar o pai)
Lindomar: - Sai daqui! (empurrando Matheus) – Não me chama mais de pai. Eu te odeio. Viado. Espero que você morra. (cuspindo em Matheus) – Vou no bar. Se eu voltar e você estiver aqui eu vou te matar. E leva toda a tua boiolice daqui.
Matheus: - Pra onde eu vou?
Lindomar: - Pro inferno. (saindo do quarto)
Matheus: (chorando aos prantos)
- Do outro lado da cidade -
Ludmila: - Agora sim. Ficou demais.
Suzana: - Serviço completo.
Bruno: - Falando assim até parece que tú fez alguma coisa.
Gustavo: - Ela nunca faz.
Suzana: - Queridos, eu sou uma líder. Não nasci pra servir... (jogando o cabelo em direção aos dois)
Ludmila: (atendendo o celular) – Alô? Calma. Calma Matheus. Não, não faz nada. Estamos indo na tua casa. Fica tranquilo. Vamos dar um jeito.
Thiago: - O que foi?
Kim: - Que cara é essa?
Ludmila: - O pai do Matheus expulsou ele de casa.
Suzana: - Gente. O timing da bicha é certeiro.
Todos: - Suzana!!!
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