Capítulo 4 - Hesitação
You – The Pretty Reckless
Dentro de si algo tinha ficado estranho. Derek não conseguia se sentir bem, ainda tinha um monte de culpa o rodeando, mas saber que Stiles não tinha mudado nada o reconfortou. Alguém não tinha mudado. O menino morcego, como carinhosamente Derek o chamava quando cuidava dele todos os dias por anos, ainda era o mesmo garotinho bondoso e leal de sempre. Deitado em sua cama sem conseguir dormir, ele teve a impressão de ouvir passos no corredor e se sobressaltou, vestiu uma calça de moletom e saiu do cômodo lentamente, dando de cara com Stiles andando de um lado para o outro, arrastando a perna engessada e balançando as mãos histericamente.
O coração de Stiles estava pulando, seu peito doía a cada batida, sua perna estava tão dolorida que ele mal conseguia continuar a arrastando, mas andar o acalmava, um pouco apenas, mas acalmava. Ele precisava ficar calmo, não é porque o rádio anunciou que Tom Build fugiu da penitenciária em uma rebelião naquela madrugada que ele deveria surtar. As imagens daquela noite ainda estavam vivas e tão fortes que ele sentia o estômago revirar. Os olhos de uma Callie morta foram o suficiente para ele tentar correr para o banheiro e acabar fazendo uma lambança com a nojeira guardada em seu estômago no caminho.
Derek foi envolvido por aquela aura tomada de dor e tristeza, pela primeira vez desde que voltara sentiu o cheiro do medo e do estresse em níveis elevados demais para um adolescente e temeu que o garoto pudesse ter um treco. Seu coração batia tão forte que ele quase podia ouvir o fluxo rápido de sangue, a respiração rápida e entrecortada, as mãos histéricas, os passos pesados e intermitentes de um lado para o outro e então o garoto tentou correr sem ao menos perceber Derek por ali, o seguindo até ver o menino se dobrar na porta do banheiro despejando todo o conteúdo de seu estômago no chão.
O cheiro era forte demais para o olfato lupino de Derek e ele torceu o nariz tentando ignorar tudo aquilo e ajudar o garoto. Stiles sentiu mãos o puxando pelos quadris e então seu corpo ser aninhado no colo de alguém quente. Abriu os olhos mesmo que o desespero ainda o atormentasse e viu Derek, os olhos verdes preocupados e uma expressão de nojo. Pensou em recusar a forma delicada que o homem o carregou até o outro banheiro da casa, no quarto de Stiles e o sentou no vazo. Nenhum dos dois disse nada, mas o filho do xerife tinha que admitir que estar perto de alguém o deixava mais calmo. Claro que todo esse cuidado era obrigação de Derek, ele estava sendo pago para manter o filho do xerife em segurança e negligenciar sua saúde não era uma opção.
Aquele cuidado de Derek pareceu falso, mesmo que o olhar do homem não passasse esse ar de preocupação mentirosa. Sentiu o estômago se contrair de novo e Derek o deixou vomitar na pia, segurando seus quadris e alisando suas costas de forma delicada. Estava se sentindo humilhado, ter um ataque de pânico na frente de um homem como Hale não estava em seus planos, mas ele não podia reclamar, tinha que admitir que gostava, mesmo que seu cérebro gritasse o contrário, da presença do maior ali o amparando. De repente voltou a si e se viu sem camisa, mesmo que não lembrasse de tê-la tirado.
– O-O-O que você pensa que está fazendo? - Stiles se sentiu exposto demais e se afastou quando percebeu que Derek tinha desamarrado o cadarço do seu moletom.
– Tirando sua roupa. - Stiles arregalou os olhos e Derek nem pareceu se importar. - Pensei que fosse óbvio. - o lobo encarou o menino vendo o pavor formar uma expressão naqueles olhos âmbar. -Oh! Pelo amor de Deus Stiles! Eu já fiz isso milhões de vezes. - Derek torceu o nariz para a ideia que ocorreu ali.
– Eu tinha cinco anos e foi uma única vez. - Stiles estava com vergonha e amaldiçoando a maldita perna que não o deixava se encolher em posição fetal. - Você não vai me dar banho. - a voz do garoto saiu extremamente infantil.
– Você não foi a única criança que eu já cuidei na minha vida e você está todo vomitado. - Derek apontou para as calças do menino que tinham respingos nojentos do que ele regurgitou.
– Só enrola o gesso e eu me viro, como tenho feito ultimamente. - Stiles tentou parecer menos constrangido.
– Vai ter que tirar a calça do mesmo jeito. - Derek não entendia por que o garoto estava com tanta vergonha.
– Eu sei. - o garoto respondeu entredentes. - Droga. - ele levantou e puxou o moletom, mas acabou que a cueca veio junto. - Merda! - ele tentou se cobrir, mas escorregou e caiu com tudo na tampa da privada e acabou grunhindo de dor. - Que porra! - ele xingou mordendo a parte interna da bochecha a fim de não chorar como uma menininha pelo excesso de estresse.
– Tudo bem Stiles, eu não vou ficar te analisando ou qualquer coisa do tipo. - Derek encarava os olhos do menor e ele assentiu, mesmo que tudo ao seu redor estivesse incrivelmente errado.
Derek enrolou todo o gesso de Stiles com plástico filme e o garoto envergonhado se limitava e cobrir seu membro com as mãos e ranger os dentes de forma extremamente estressante para o lobo. O filho do xerife aceitou quando o maior envolveu sua cintura em um meio abraço e passou seu braço pelo pescoço o levando até o chuveiro, abrindo a água e o deixando debaixo dos jatos quentes que relaxavam seu corpo. Hale estava ficando todo molhado, mas se sentia bem vendo o garoto antes tão estressado, relaxar com o contado da água. Stiles esqueceu que estava nu dentro do chuveiro com Derek Hale e deixou suas mãos soltas, encostou nos ladrilhos e sentiu a água molhar cada parte do seu corpo e o incômodo constante daquele gesso o esquentando, causando coceiras e dores, sendo esquecido.
O lobo de Derek ficou calmo com a paz que exalava do menino, um banho era o suficiente para manter o controle do garoto nos eixos e a forma como Stiles corria as mãos pelo corpo lentamente e tentava absorver a calmaria da água fez Derek sorrir. O filho do xerife era como uma criança assustada por causa de um pesadelo bobo ou a ideia de um monstro escondido no armário e pequenos gestos o deixavam calmo novamente. O mesmo acontecia com Derek, que antes estava inquieto e agora se permitia sorrir ao lembrar das tantas vezes que teve que explicar coisas bobas para uma miniatura do mesmo garoto a sua frente, a diferença é que agora Stiles estava com a mesma altura que ele, músculos delicados e escondidos debaixo da pele branca demais e o físico magro, a diferença era que Derek não tinha mais aquela leveza de antes e Stiles não era mais uma criança inocente.
Percebendo que o garoto esquecera do lobo ali, ele saiu do banheiro o deixando em uma posição segura enquanto tomava banho. Foi até o outro banheiro, limpou a sujeira e depois tomou um banho rápido e frio na tentativa de espantar aquele odor nojento, desceu e fez um chá, se o estômago do menino andava tão sensível, deveriam ser os remédios e um chá seria perfeito para acalmar seu interior e ajudá-lo a dormir. Subiu e encontrou o garoto sentado na cama, vestindo uma cueca samba canção do Batman e não conseguiu evitar um sorriso.
– Trouxe um chá, vai ser bom para o seu estômago. - Derek comentou deixando a caneca na cabeceira.
– Obrigado, você nem precisava se incomodar tanto. - o garoto parecia melhor, mesmo que sua aparência ainda tivesse sinais claros de exaustão. - Meu pai não está pagando tão bem para você perder sua noite fazendo o papel de enfermeiro. - o tom não era acusador, mas Derek se sentiu atingido.
– Eu não cuido de você pelo dinheiro, se você soubesse quanto custa meu trabalho e o quanto seu pai me paga, teria certeza de que não é pelo dinheiro. - Stiles hesitou, tinha uma resposta afiada na ponta da língua, mas o cara estava sendo gentil e eles tinham uma história, não era saudável jogar nele suas inseguranças.
– Então por que você está aqui? - ele não conseguiu evitar o tom frio da pergunta, mesmo que o chá estivesse o aquecendo por inteiro.
– Eu voltei para essa cidade por causa da minha irmã, mas quando seu pai me pediu para aceitar o emprego, percebi que tem mais gente precisando de ajuda por aqui e calhou de ser você. - Derek não tinha explicado nada direito e quis se socar por isso.
– Síndrome de Super-Herói? - Stiles perguntou deixando a caneca de lado e se deitando, estava com um pouco de frio, mas a preguiça de buscar uma camisa era maior.
– Não Stiles, carinho por alguém que passou metade da minha adolescência me enchendo o saco. - Derek estava perdendo a paciência.
Stiles fingiu que aquilo não o atingiu em cheio. Então Derek Hale se importava e tinha carinho por ele? Isso significava alguma coisa, certo? Seu cérebro entrou em colapso com o turbilhão de teorias e ele estremeceu, parecia mais frio agora que ele mesmo não sabia o que responder para o homem a sua frente, com os cabelos molhados pelo recente banho e uma nova muda de roupa seca. Derek estava muito mais bonito agora e Stiles não tinha problemas em admitir isso, ele se sentia bem em usar sua sinceridade como arma também e por isso não via problemas em achar um homem bonito e Derek estava além dos seus padrões de beleza. O queixo quadrado e bem alinhado com as maças do rosto bem cortadas, a barba por fazer em uma área bem marcada, os lábios finos e bem desenhados, o nariz que encaixava perfeitamente com suas expressões, os olhos de um verde que sempre instigaram Stiles, sempre o fizeram pensar sobre até onde uma pessoa conseguia se expressar com o olhar e as sobrancelhas com vida própria, escuras, bem feitas e perfeitas para aquele rosto. Derek era perfeito, como um super-herói.
Derek percebeu que o menino o analisava, ao mesmo tempo, percebeu que o garoto tremia de frio. A pele arrepiada o entregava, mas os tremores cada vez mais claros também confirmavam sua condição. O lobo pegou uma camisa no armário do garoto e a entregou, vendo os lábios dele separarem como se fosse falar alguma coisa, mas sendo fechados de novo, ele tinha desistido e isso deixou Derek intrigado. Ele não tinha recebido nenhuma resposta desde sua pequena confissão que ele se arrependeu de fazer ao ver o menino tão surpreso e confuso. Levantou da cama e desligou a luz, deixando o abajur ligado e se aproximou do garoto.
– Eu vou indo, você já parece bem melhor. - Stiles piscou algumas vezes e entendeu que esteve mudo esse tempo todo.
– Obrigado, por tudo. - Derek viu o rosto do menino ruborizar e se perguntou como ele conseguia ter a língua tão ferina e ser tão dócil mesmo assim.
– Boa noite. - Derek caminhou até a porta.
– Boa noite. - Stiles sentiu que deveria dizer alguma coisa, ele precisava dizer que também tinha carinho pelo homem, que sentira sua falta e que sofrera muito pela sua ausência em um momento tão difícil. - Derek. - ele o chamou vendo que o mesmo já estava quase fora do quarto.
– Sim? - o lobo sentiu que Stiles queria dizer alguma coisa, estava ansioso e o coração pulava no peito.
– Feche a porta quando sair. - Derek repreendeu a si mesmo por esperar qualquer resposta do adolescente e Stiles se afundou na cama ouvindo a porta ser fechada lentamente.
To be continued...