Rigorosamente Proibido, Ligeiramente Permitido - Capítulo 2 - Reencontro
Warmness On The Soul - A7x
Derek Hale estava hesitante, ele não se sentia assim desde que se viu em meio a um fogo cruzado com três crianças palestinas e a ordem era matar tudo o que se movesse. Não que ele pudesse matar três crianças a sangue frio, mas certamente ele hesitou entre verbalizar seu descontentamento e se jogar sobre as crianças as tirando dali como se sua vida dependesse disso. Decidiu arriscar, não era como se jogar-se na frente de mais de duzentos soldados americanos cansados e com a fúria acumulada por estarem longe de casa, alguns brutalizados pela guerra, com o psicológico tão destruído que não enxergavam mais inocentes naqueles campos de sangue e dor fosse fácil, mas ele fez, pela sua honra e por ter jurado não só a pátria como a si mesmo proteger aqueles que não podiam se cuidar sozinhos. Entrou no quarto ainda hesitante e encontrou os dois meninos dormindo.
John voltou para a casa, tomou uma ducha rápida e pegou algumas coisas pessoais do filho para deixar no hospital antes de voltar para seu turno na delegacia. Estava destruído, o cansaço, o estresse e todo o desgaste emocional dos últimos meses eram grandes, não foi nada fácil prender Tom e agora que o criminoso estava prestes a ser transferido para a capital, ele mesmo se sentia perdido. O serial killer canibal deixaria Beacon Hills em paz, mas como sequela seu filho e Scott estariam marcados para sempre, seja nas cicatrizes físicas ou na lembrança de terem visto mais do que dois jovens deveriam suportar de violência em toda uma vida.
Melissa dormiu um pouco depois de tomar um longo e relaxante banho, tinha avisado no hospital que queria notícias do filho de hora em hora e as recebia em mensagens de texto no celular. Falou com John por alguns minutos quando ele perguntou se ela precisava de alguma coisa antes dele começar seu turno e ela negou, dizendo que só queria descansar um pouco. Dormir não foi difícil, a exaustão ajudava e o corpo estava sedento por isso, mas acordar, se olhar no espelho e lembrar que seu filho tinha estado na beira da morte alguns dias atrás a deixava em pânico, ela queria apenas que tudo não passasse de um pesadelo, mas infelizmente era tudo real.
Stiles abriu os olhos e encarou o homem alto, musculoso e vestindo jaqueta de couro e jeans parado em frente a sua cama. Estranhou e se sobressaltou no início, até reparar melhor nos olhos verdes que o encaravam com pesar. Se aquele cara, era quem ele estava pensando, tudo tinha melhorado consideravelmente nos últimos anos para ele, o deixando com uma aparência adulta e máscula e tirando qualquer sinal de simpatia, leveza e alegria daquele homem, se não fossem por seus olhos. O filho do xerife enxergava um mundo de sentimentos todas as vezes que olhava aqueles olhos, os mesmos olhos que ele sentiu falta ainda criança, os mesmos olhos que não estavam lá quando ele ainda se sentia frágil pela falta de amigos, a solidão de ter pai recém-promovido e da descoberta do primeiro amor, platônico, mas ainda sim seu primeiro amor.
– Der, é você? - o tom infantil e nostálgico naquele apelido fez o mais velho baquear.
– Sou eu sim, menino morcego. - Stiles sentiu as bochechas esquentando ao ouvir o apelido de criança.
– Isso é algum tipo de alucinação causada pelos sedativos? - Derek arqueou as sobrancelhas que Stiles sabia que tinham vida própria. - Digo, por que você estaria no meu quarto, no hospital, depois de eu ser atacado por um maníaco? Bem, essa parte é culpa minha, mas não muda o fato de você ainda estar aqui ou não já que pode ser tudo uma alucinação. - Stiles deu de ombros, precisava parar de criar teorias.
– Não sou uma alucinação Stiles e não faço ideia do por que você teria alucinações comigo. - Derek tinha os braços cruzados sobre o peito, vendo dessa forma ele se tornara um pouco intimidador.
– Então o que você veio fazer aqui? - a expressão confusa não passou despercebida.
– Cora acordou, lembra da minha irmã caçula? - o garoto assentiu, não conseguia esquecer absolutamente nada, nem se quisesse.
– Claro, ela era toda nervosinha na escola. - Stiles estremeceu, lembrava da garota mordendo quem lhe enchia o saco.
– É, ela nunca foi muito quieta. - Derek riu. - Acabei esbarrando com seu pai nos corredores e ele me contou que o menino morcego tinha aprontado das suas de novo. - Stiles suspirou, Derek sempre foi e sempre será uma lembrança feliz, mas o que tinha acontecido nem se comparava com as coisas estúpidas que o levavam para o hospital no passado.
– Eu deixei uma garota morrer e... Scott poderia estar morto por minha causa. - os olhos tristes e perdidos do adolescente não se pareciam nada com as amêndoas quentes que animadas imploravam para Derek o deixar assistir mais um pouco de algum desenho de noite, mesmo que já tivesse passado da hora de dormir.
– Não foi sua culpa, ok? Tudo ao seu redor vai dizer que é, mas não é. Tom é um doente e ele poderia ter feito isso com qualquer um. - Derek relaxou a postura e se aproximou da cama do menino.
– Mas aconteceu comigo, porque eu sou estúpido e fui fuçar as cenas de crime do meu pai. Meu melhor amigo quase morreu, eu nem sei se ele está fora de perigo ou o que aconteceu com as últimas três desaparecidas, meu pai acha que eu vou surtar com qualquer notícia ruim, mas eu estou surtando por me esconderem tudo, por me acharem incapaz de lidar com meu próprio erro. - Stiles não se deu conta que chorava até sentir Derek o abraçando.
Para Derek Hale o contato físico com outras pessoas era sempre muito bem calculado. Ele nunca queria sentir o calor humano de alguém se não tivesse certeza que poderia se defender dessa pessoa. Tinha sido assim desde o incêndio e ele sabia que de nenhum outro jeito ele conseguiria viver depois do que acontecera com sua família, por sua culpa. Por isso, ele olhava Stiles com tanto carinho e compreensão, o filho do xerife tinha cometido um erro, não intencionalmente é claro, mas ainda assim um erro que custou vidas e ele ainda era aquele garotinho feliz e cheio de sonhos que tinha a mãe doente e Derek como babá.
– Scott está fora de perigo, eu posso garantir isso, ele vai levar meses para ficar em seu estado perfeito, mas já saiu do perigo eminente de morte. Eu não vou mentir para você, ok? - Stiles acreditou no homem a sua frente, seus olhos como sempre podiam lhe dizer toda a verdade. - Callie, a garota que estava com vocês, ela foi morta de forma rápida, corte na garganta, Tom parecia querer se livrar dela depois de vocês aparecerem e por mais assustador que seja imaginar uma morte assim Stiles, você e seu amigo impediram que ela fosse humilhada e estuprada por aquele doente, vocês reduziram o sofrimento dela e ela foi encontrada com vida, mas não resistiu. - o garoto tinha os olhos arregalados e repetia para si mesmo que podia lidar com isso. - Existem mais três corpos ou o que sobrou deles. Duas mulheres em pedaços estavam sendo preparadas para consumo quando a polícia encontrou Tom e uma estava agonizando com a artéria rompida, então Stiles, você salvou uma vida. Ainda bem que Tom raptou você, porque com a sua inteligência você salvou uma vida e deu paz para as famílias das vítimas fatais que agora tem o que velar e enterrar. - Derek falava tão sério, mas Stiles não conseguia parar de repassar as cenas traumáticas daqueles dois longos dias.
– Você foi a primeira pessoa em dias que me disse a verdade, mesmo que ela seja assustadora e agora eu esteja repassando cada atrocidade que eu vi, agradeço por me contar a verdade. - Stiles tentou sorrir, mas não conseguiu e Derek segurou suas mãos.
– Quero que você entenda Stiles que na vida saber as coisas as vezes é tudo o que precisamos para seguir em frente, por mais doloroso que a verdade seja, ela sempre nos conforta, nós sempre podemos tirar algo de bom dela. - o menino assentiu.
– Você vai ficar em Beacon? - Stiles mudou de assunto.
– Por um tempo. - Derek deu de ombros.
– Então eu posso dormir que você ainda vai estar por ai quando eu acordar. - o menino se aconchegou nos travesseiros e apertou a mão do homem a sua frente.
– Pode sim menino morcego. - Derek não conseguiu evitar um sorriso.
John entrou no quarto de Stiles e viu Derek sentado na poltrona, seu filho sozinho no local e a cama de Scott vazia. Tinha sido avisado que o filho de Melissa fora fazer exames e pensou que poderia conversar sobre as mortes recentes com Stiles, mesmo que isso o desagradasse um tanto. Ver Derek Hale ali, cochilando numa posição em que ele jurava que o homem zelava pelo sono do seu filho lhe agradou, ele sempre gostava do menino, mesmo quando ele aprontava coisas normais da idade que ele como policial era obrigado a repreender e nunca poderia ter feito uma escolha melhor em chamá-lo para ser cuidador de Stiles enquanto Claudia passava por todas as fazes do tratamento de sua doença.
– Senhor. - Derek levantou sobressaltado e John apenas o mandou relaxar.
– Está tudo bem, vejo que seguiu meu conselho. - John sentou ao lado de Derek.
– Ele vai ficar bem, no início vai ser um pouco traumático, mas ele é forte. - John assentiu, sabia que seu filho era forte, mas não fazia ideia de quanto o episódio poderia afetá-lo.
– Ele passou por algumas coisas bem difíceis depois que você foi embora, espero que ele reaja melhor dessa vez. - Derek ficou tentado a procurar saber melhor o que aconteceu, mas se calou. - Você disse que trabalhava em uma empresa de segurança privada, o que me diz de aceitar uma oferta de emprego? - John viu as sobrancelhas expressivas do rapaz se unirem em surpresa e começou a relatar sua proposta.
Três dias depois Stiles estava em casa, na sala esperando seu pai trazer seus analgésicos e o almoço. Assistir jogos com o seu velho não era tão ruim quando se estava impossibilitado de andar e ficou menos chato aquele dia quando Derek chegou para acompanhá-los. Era uma surpresa para Stiles que seu pai fosse tão descontraído com um garoto que trocava poucas palavras há alguns anos atrás, mesmo quando Hale vivia enfiado em sua casa, cuidando dele, mas ele não comentou nada. Admirou a facilidade de Derek de comentar sobre qualquer assunto, a forma como o rapaz torcia para o mesmo time de seu pai, mesmo que ele soubesse que o adversário era o time do coração do mais velho. Stiles estava se divertindo ou algo muito próximo disso, pelo menos ele estava tentando, porque Derek se esforçava em fazê-lo sentir bem e seu pai já tinha preocupações demais.
– Stiles eu tenho que te contar uma coisa. - Derek comentou enquanto John ia buscar mais pizza e cervejas.
– Alguma coisa sobre o caso? - Stiles sussurrou e Derek quis rir, o garoto sempre parecia entusiasmado com mistérios.
– Na verdade eu não sei o quanto disso se mistura ao que aconteceu. - Derek deu de ombros e relaxou no sofá, bebeu o último gole da cerveja amarga e quente voltando a encarar o menino. - Seu pai me fez uma proposta de emprego, mas eu não vou aceitá-la se você me disser que não quer que isso aconteça. - Stiles franziu o cenho, um milhão de teorias o assolou.
– Fale de uma vez, ele vai voltar. - o menino olhou para a cozinha vendo seu velho procurar o abridor de garrafas.
– Ele quer que eu vire seu guarda costas. - Stiles engasgou.
– O quê?! Como assim!? Meu pai pirou? - o garoto gritava aos sussurros se é que isso é possível.
– Ele está preocupado com a sua segurança, não o julgue. Se você não me quiser por perto, tudo bem, estou querendo sua opinião em consideração a sua inteligência. - Stiles gostou de ouvir aquilo, mesmo que no fundo ele soubesse que era um truque.
– Se não for você, ele vai arrumar outro. - Derek conseguiu sentir o receio naquela frase.
– Eu não estou aqui para ser seu carrasco, mas sim, outro poderia ser bem pior. - Stiles suspirou.
– Eu não prometo ser obediente, posso dar trabalho. - um sorriso irônico dançou nos lábios do mais novo.
– Não tenho o menor problema com isso. - Derek retribuiu com um olhar assassino e Stiles estremeceu, a conversa acabou e John voltou cantarolando.
John apreciou a ajuda de Derek em levar o filho para o quarto, mesmo que Stiles tenha repetido cem vezes que não era um inválido e tenha escorregado três vezes na escada antes de aceitar ajuda. Já no aconchego de seu quarto, Stiles dormiu facilmente, estava cansado e tinha um monte de coisas perturbando sua mente, o que lhe rendeu sonhos difíceis de distinguir, bom para ele sonhos confusos eram melhores do que pesadelos assustadores. Derek conversou com John, deu a confirmação que aceitava o emprego e ficou satisfeito em receber o convite para ficar na residência do xerife com sua irmã. Era um trabalho integral de segurança, mas John sabia que o rapaz nunca largaria a irmã em recuperação. Últimos detalhes acertados e Derek começaria na segunda, quando o xerife voltava ao trabalho e Stiles por causa da licença médica ficaria em casa sem fazer nada.
To be continued...