2015 – Daniel Torintho
Tentei discutir ou tentar mudar de par, mas o reitor foi categórico quando disse que ou aceitávamos os pares que nos foram sorteados ou a excursão estaria cancelada. Alguns alunos reclamaram e ouvi comentários do tipo:
“Esse garoto é um fresco, desde ontem eu vi que ele só se importa com ele mesmo!”
“Se a excursão for cancelada por causa desse mimado metido a besta, eu juro que mato ele.”
As pessoas comentavam coisas sobre mim sem nem me conhecerem ou sequer saberem o que aconteceu entre mim e o Fábio, o porquê de eu não querer estar em uma floresta fechada junto dele.
Como eu não queria fazer inimigos, nem prejudicar meus amigos, aceitei meu par sem mais reclamações.
_ Oi. _ Fábio diz chegando perto de mim, com as mãos nos bolsos.
Apenas fico em silêncio, as vezes eu não estava com tanta raiva, outras parecia que eu ia explodir de tanta revolta. Mas Barney diz que eu podia controlar meu transtorno bipolar sem remédios.
Quando entramos no ônibus, Fábio e eu nos sentamos no fundo. Estavamos amarrados até o final dessa excursão, que saco! Sinto que ele está muito desconfortável com essa situação, eu sei que a culpa o está consumido. Mas quer saber? Bem feito!
Descobrimos que a primeira competição é acharmos o acampamento sozinhos. Tipo, soltar um bando de adolescentes numa mata fechada, muito legal...
_ Não se preocupem, demarcamos o local para que vocês não se afastem muito. Boa Sorte! _ O responsável das dinâmicas diz.
_ Não estou gostando desse céu. _ Fábio comenta, acho que com ele mesmo.
_ Vamos logo. _ Digo acenando com a cabeça para Pietro, que estava com uma loiraça.
Nos adentramos na mata e logo não vejo mais ninguém perto de nós, estou andando depressa, mas Fábio logo me alcança.
_ Temos que achar o acampamento logo, pois vai começar a chover agorinha.
_ É adivinho agora? _ Pergunto com desdém.
Ele não me responde, mas logo começa a chover. Isso vai dar merda, adolescentes não deveriam estar embaixo de arvores durante uma tempestade, deveriam? Eu e Fábio começamos a correr, mas eu caio e torço o pé.
Nossa, quanta dor!
_ Você tá bem? _ Ele diz se ajoelhando perto de mim.
_ Tô sim, estou sentado no chão pra ver se a terra é fofa.
_ Não precisa ser ignorante, cara! Vem, eu vou te levantar. _ Ele diz envolvendo o braço no meu tórax e me forçando para cima.
Então me lembro da admiração que eu sentia por ele quando era criança, mas também lembrei o que ele fez com ela.
_ Me solta, vai procurar ajuda.
_ Por que? Eu não vou te deixar sozinho!
_ Você já me deixou sozinho uma vez, não vai ser difícil me deixar outra.
_ A diferença é que agora não tem ninguém me ameaçando. _ Ele diz com um tom um pouco mais alto.
_ Ah tadinho dele! Eu já disse me deixa aqui.
_ Eu nunca mais vou te deixar sozinho!
_ Por que? _ Eu pergunto intrigado.
Ele me senta em uma pedra e fica andando de um lado para o outro, como tomando coragem para contar algo. Estavamos ensopados, será que ele não via que a culpa dele ia fazer a gente pegar pneumonia, não?
_ Você precisa saber de uma coisa e eu não posso mais te esconder... _ Fábio diz, depois de um tempo
_ O que é, hein?
_ Eu... _ Ele mexe a boca, mas eu não ouço nada por causa de trovão que escolheu a hora errada para aparecer.
_ Não escutei nada!
Então ele fala em alto e bom som. E dessa vez eu escuto, não sei se eu queria ou não ouvir aquilo.
Sabe a sensação de levar um soco no estomago? A falta de ar, a tontura e atordoamento?
Pois é, era assim que eu estava me sentindo.
2011 – Fábio Mendes
A vida toda, desde que eu entrei na escola, eu me esforço para ser o aluno número um. Minha mãe diz que a vida será mais fácil se eu for um garoto estudado, ela quer que eu me sobressaia. Eu também quero.
Sempre me perguntei quem será sido meu pai, e o que aconteceu para que eu nunca tivesse ele ao meu lado. Será que foi uma briga ou será que ele simplesmente não me quis?
Talvez eu nunca soubesse, mas quando eu o encontrasse, eu queria estar acima dele. Queria esfregar em sua cara que eu tinha vencido só com o apoio da minha mãe. E foi estudando e ralando muito que eu consegui uma bolsa integral na melhor escola da cidade.
Minha mãe ficou muito orgulhosa de mim, mas não bastava... Por mais que eu não admitisse eu queria que meu pai estivesse presente.
Minha mãe trabalha numa casa de gente rica desde a adolescência, minha vó que a apresentou aquele trabalho. E por lá ela ficou. Bem, nessa casa mora três pessoas: o Sr. Torintho, sua esposa e seu filho, Daniel. Apesar da minha não permitir qualquer aproximação minha com o Daniel, tenho que admitir que sinto algum tipo de ligação com ele que eu não consigo explicar o que é.
No meu primeiro dia de aula eu fiquei amigo de um cara legal, o nome dele era Gustavo, ou Gus para os amigos. Tinha boatos que o pai dele havia largado a mãe dele para ficar com outro homem, por isso ele era super homofóbico.
No terceiro dia outro garoto começou a andar com a gente, seu nome era Charles e eu sentia que havia algo errado nele eu só não sabia o que era. Mas ele era muito carismático e logo me dobrou. Em um mês erámos os garotos mais populares do colégio. E eu já nem ligava mais para essa história de pai.
Isso até um dia em que eu vi o Sr. Torintho discutindo com a minha mãe:
_ O Binho precisa de um pai presente, não alguém que me dê dinheiro pra comprar coisas pra ele Marcus! _ Minha mãe diz, quase chorando.
_ Eu sei que é difícil pra ele, mas contar agora só iria confundir a cabeça do garoto. Ele não pode saber que eu sou pai dele, pelo menos por enquanto.
_ Sua desculpa antes foi seu casamento e que a Laura estava esperando um bebe, você nunca vai falar a verdade, só vai ficar inventando desculpas. Só espero que o Fábio não saiba disso por outra forma.
Então meu pai, realmente, não queria saber de mim. Meu Deus, que ódio. Agora eu entendi a conexão que eu sentia com o Daniel. Isso não podia ficar assim, eu não tinha pai no meu registro, ele tinha. Eu morava numa casa baixa renda e ele numa mansão, aquela vida deveria ser minha também.
Cada vez que eu pensava no tanto que eu tinha ralado para conseguir as coisas enquanto aquele idiota tinha ganhando tudo na boca só avivava minha ira. Desolado, eu fui à casa do Gus. Ele viu meu estado e chamou Charles, logo eu já tinha contado minha descoberta para eles e eles me apoiaram. O culpado de eu não ter a vida que eu merecia era o Daniel e ele tinha que pagar.
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Pessoal que quer vingança, se o Dany brigasse com Charles, no quesito maldade, quem vocês acham que mais sairia machucado? E sobre Binho ser irmão do Dany, o que acharam? Já esperavam por isso?
O de amanhã vai ser maior se a energia já estiver estabilizada, perdi esse texto duas vezes hoje. Droga de falta de infraestrutura. Boa noite!