"Toda sabedoria consiste em desconfiar dos nossos sentidos e das nossas paixões." - Giuseppe Parini.
Voz - ...Eu sei, cara... Eu vou conseguir, é só você me dá um tempo... - parei na porta do banheiro e fiquei escutando. Vocês devem estar pensando: "Nossa, o Marlon é muito fofoqueiro. Ele fica ouvindo a conversa dos outros atrá da porta!!". Gente, tudo bem, eu assumo que sou fofoqueiro, mas não tanto assim. Eu não faria isso se não tivesse um bom motivo. E o motivo era simples: a voz é do Guilherme. Eu pensei que ele não tinha vindo para escola hoje, pois ele sequer apareceu na sala. - ...Vai ficar tudo bem, eu vou te devolver o que é seu!... - afirmou. Mas do que é que ele está falando? A princípio pensei que tivesse alguém junto com ele, mas acho que ele está falando ao celular. - ...Tudo o que eu peço é um tempo... ok... você não vai se arrepender... claro que não, eu não sou um novato... Me encontra lá no sábado... Falou então, tchau...
Logo depois, silêncio. Resolvi sair dali antes que ele me visse. Virei o corredor e fiquei ali, contei até 90 e caminhei lentamente até o banheiro. Assim que entrei, ele, que estava apoiado na pia do banheiro olhando para o espelho, se virou para mim com cara de assustado e estava bastante pálido.
Guilherme - Marlon??
Eu - Oi, Gui. - tentei transparecer calma na voz e na expressão, tentando fingir que eu não tinha ouvido nada.
Guilherme - A quanto tempo está aí? - disse com um pouco de desespero na voz.
Eu - Acabei de chegar. - menti. Ele deu um suspiro de alívio. - Aconteceu alguma coisa? Você está pálido. - disse me aproximando dele.
Guilherme - Não, está tudo bem. - eu estava à uns 30 centímetros dele. E, claro, tive que olhar para cima para poder olhá-lo nos olhos.
Eu - Tem certeza? É que você nem apareceu na sala hoje...
Guilherme - É que... é que... eu não estou muito bem. - disse ele rápidamente, como se fosse a primeira resposta que tinha vindo à mente.
Eu - Quer que eu chame alguém?
Guilherme - Não, não precisa. Só você estando aqui me fez melhorar bastante. - ele passou os braços na minha cintura. - E então, tudo certo para quinta feira? - disse, mudando de assunto.
Eu - Ouvi dizer que vai ter uma festa no sábado lá no campinho, aí eu pensei: porque não vamos lá? - ele pensou um pouco e depois disse:
Guilherme - É, pode ser.
Eu - Ficou chateado comigo?
Guilherme - Não, não, nunca. Sabe, - ele presionou seu corpo no meu. - vai ser legal voltar lá, no lugar onde eu beijei o garoto mais lindo do mundo. - e me deu um selinho. Logo em seguida o sinal tocou.
Eu - Você vai para sala?
Guilherme - Não. Eu vou ficar mais um pouco. - para quê esse menino vem para escola sendo que não assiste as aulas.
Eu - Está tudo bem mesmo? Não quer que chame alguém?
Guilherme - Não precisa, sério. Daqui a pouco eu vou. - disse me soltando. - Mas antes eu tenho que resolver uma coisa...
Eu - O que? - ele me deu vários selinhos e me disse:
Guilherme - Nada com que precise se preocupar, meu lindo. Agora vai lá.
Eu - Tudo bem então, se cuida.
Guilherme - Pode deixar. - dei um beijo nele e saí. Por alguma razão, senti meu peito apertado, como se algo fosse acontecer. "Tomara que seja só uma coisa da minha cabeça", pensei. Fui para a sala e assisti o restante das aulas, e ele não apareceu. E, como todo dia, quando o sinal tocou fui para o portão de saída para esperar pelo Pedrinho. Fiquei conversando um tempo com a Lara até que, para minha surpresa, o Léo aparece de carro, um Cruze cinza, da Chevrolet.
Léo - Gente, entra aí, preciso falar com vocês. - a Lara e eu nos olhamos e entramos no carro. Eu no banco da frente e a Lara no de trás. O Léo ligou o carro.
Eu - Para onde nós vamos?
Léo - Para o campinho, temos que resolver alguns detalhes para a festa de sábado.
Eu - Mas... - eu ia dizer que estava esperando pelo Pedrinho mas me contive por causa da Lara. Desde ontem não falamos mais sobre ele, e eu não sabia no que ia dar se eu falasse sobre ele.
Lara - Mas...? - tinha que pensar num jeito de avisar ele para ir sozinho, afinal, ele ainda estava sem celular... O celular!! Até hoje o Guilherme não me devolveu.
Léo - Que foi, menino?
Eu - Esperem aqui rapidinho, eu vou lá na secretaria e já volto. - disse já abrindo a porta do carro.
Lara - Negão, o que você vai fazer lá?
Eu - Eu... eu tenho que entregar uns papéis ao diretor. Já volto. -
Dei a primeira desculpa que me veio à cabeça e saí antes que eles fizessem mais alguma pergunta. Entrei na escola e subi para a sala do Pedrinho. Assim que eu abri a porta tive uma bela surpresa: o Pedrinho estava sendo imprensado no quadro negro pelo Miguel e eles estavam se beijando. Não sei o que deu em mim, mas eu não consegui me mexer, fiquei parado na porta olhando a cena. Não sei distinguir o que eu estava sentindo no momento. Não sei se é raiva, não sei se é tristeza... simplismente não sei. Eles pararam quando notaram a minha presença.
Eu - Pedro... eu... eu... só vim avisar que... - tentava falar, mas havia se formado um nó na minha garganta. Acreditem, fiz muito esforço para continuar a falarvocê pode ir sem mim... porque... eu... vou passar num lugar... antes. - involuntáriamente meus olhos se encheram de lágrimas. O Miguel me olhava com raiva, por ter interrompido o "momento" deles. Pedro me olhava com uma cara de sustoEu não queria atrapalhar... desculpa aí. - e saí sem esperar uma resposta. Andei apressado pelos corredores, ou melhor quase correndo. O que deu em mim? Parece que eu levei um soco tão forte no peito, que eu mal consigo respirar.
Pedro - MARLON?? MARLON?? ESPERA, MARLON!! - a voz dele estava ofegante, ele devia estar correndo mas eu não me virei para descobrir, continuei andando depressa. Não sei se fui eu quem diminuí o passo, ou se foi ele quem apressou o dele, mas ele me alcançou e parou na minha frente. - Ei, eu estou te chamando.
Eu - Eu ouvi.
Pedro - Então, porque não parou?
Eu - Eu não queria te atrapalhar. - disse ironicamente. Até então eu estava de cabeça baixa.
Pedro - Olha para mim. - continuei na mesma posição. - Marlon, olha para mim. - disse sério. Eu levantei a cabeça e olhei dentro dos seus olhos.
Eu - Eu sei que você está muito ocupado no momento. Então volta lá para o seu "amiguinho"...
Pedro - Posso falar? - desviei meu olhar do dele.
Eu - ... vai lá, ele deve estar te esperando...
Pedro - Dá para deixar eu falar? - disse sem alterar o tom de voz.
Eu - ... ele está lá esperando pelo "Pê"... - ele segurou com as duas mãos o meu rosto, me fazendo olhar para ele de novo. - ...me deixa, Pedro. Volta lá para ele, ele deve estar sentindo sua falta e...
Ele se aproximou de mim, ainda segurando meu rosto. E, enquanto eu falava coisas tão desconexas (que nem eu mesmo estava entendendo), sinto sua boca na minha. Primeiro foi aquele surpresa inicial, pois eu não estava esperando por essa. Mas depois, fechei meus olhos, passei meus braços ao redor do pescoço dele e correspondi ao beijo. Posso dizer que naquele momento, eu esqueci de pensar, de raciocinar qualquer coisa. Uma de suas mãos foi para minha nuca e a outra foi para a minha cintura, me puxando mais para perto dele. Um beijo calmo, sem pressa. Não me importei se algum inspetor aparessesse, não me importei com o diretor, não me importei que estava no meio do corredor da escola, mas (como tudo que é bom dura pouco) ele foi parando o beijo com selinhos. Quando o beijo terminou não tive coragem de abrir os olhos, estava tão bom... mas ele não se distanciou de mim, encostou sua testa na minha e, com a mão que estava na minha nuca, acariciou meu rosto.
Pedro - Posso falar agora?
Eu - Hum rum. - respondi ainda de olhos fechados (além de estar sem ar, e com o coração batendo descompassado).
Pedro - Aquele beijo que você viu... - ele ficou sem palavras.
Eu - Deixa eu te perguntar uma coisa?
Pedro - Diga.
Eu - Por que você me beijou? - abri os olhos e o encarei, esperando uma resposta. Ele correspondeu o olhar e sorriu.
Pedro - Você fala demais kk. - me distaciei um pouco dele, já que estávamos praticamente grudados, e dei um tapa no ombro dele. Mas, de alguma forma, eu sabia que tinha algo a mais nesse beijo. - Ai. - disse passando a mão onde eu havia batido.
Eu - Pedrinho, aquilo que você disse no outro dia para mim... sobre se afastar de mim para tentar me esquecer... - seu rosto ficou sério e ele abaixou a cabeça. - ...você está mesmo tentando me esquecer?
Pedro - Negão, eu... - ele passou a mão na nuca, sinal do seu nervosismo. Aquilo, para mim, já era uma resposta. Novamente se formou um nó na minha garganta. Respirei fundo, tomei coragem e perguntei:
Eu - Pedrinho, você está gostando dele? - o silêncio caiu sobre nós por um tempo.
Pedro - Marlon, eu não sei te responder. O Minguel me faz bem, é um super amigo... - dava para perceber em seu rosto como a sua cabeça estava confusa. - e... e... - ele olhou nos meus olhos, pegou em minhas mãos, beijou as duas e disse: - Você sabe que eu sou apaixonado por você, não sabe? - eu apenas assenti com a cabeça. - Mas é como eu te disse: eu não quero ficar perto quando você e Guilherme estiverem juntos.
Eu - Mas... mas... eu não quero que você se afaste de mim...
Pedro - Não que eu vá me afastar para sempre de você. Eu só vou ficar um tempinho longe, para botar minha cabeça e meus sentimentos no lugar.
Eu - Então, é uma despedida?
Pedro - Sim. - eu o abracei forte, não estava acreditando no que estava ouvindo. - Mas eu juro que é só por um tempo...
Eu - Não faz isso, por favor, Pedrinho... - eu estava tentando segurar as lágrimas, mas elas teimavam em descer. Senti ele me apertando com mais força.
Pedro - Negão, olha para mim. - disse me soltando. Eu o olhei e ele disse: - Não chora, senão vou acabar chorando também. - ele passou os dedos no meu rosto limpando minhas lágrimas. - Vai ser bom para nós dois. Você vai poder se vingar da vagabriele, ficar com outras pessoas... até mesmo com o Guilherme... se isso for te fazer feliz... sem ter niguém te pressionando... e, além do mais, você tem o Léo e a Lara... e eu, bom... não faço ideia, mas eu vou ver como é que fica.
Eu - Mas... - tentei argumentar, mas ele não deixou.
Pedro - Lembra que vai ser só por um tempo. É só até nós dois pensar um pouco na vida e colocar nossos sentimentos em ordem, ok? - fechei meus olhos, abaixei a cabeça e murmurei:
Eu - Ok. - ele beijou minha testa e depois me abraçou forte. Ficamos bastante tempo abraçados, curtindo e despedindo um do outro. Ele desfez o abraço, ficou me olhando e passando a mão no meu rosto. Nossa, como é bom sentir seu toque, seu cheiro... - Por quanto tempo?
Pedro - Eu não sei. Mas garanto que vamos descobrir juntos. - duas lágrima desceram lentamente pelo seu rosto. - Tchau, Negão. Até um dia.
Eu - Até. - ele virou de costas e foi caminhando em direção à sala dele. Andando em direção ao Miguel. Andando em direção à um caminho longe de mim. Enquanto ele andava até o fim do corredor, momentos de nós dois juntos passaram na minha mente: nossas conversas, nossas brincadeiras, nossas brigas por bobagem, as vezes em nós fazíamos as pazes, a primeira vez em que nos beijamos, o que desencadeou um monte de sentimentos confusos, juntamente com a noite em que nós fizemos amor. Tudo isso enquanto ele se afastava. Quando ele virou o corredor, veio à minha cabeça o beijo que tinha acabado de acontecer. Eu estava certo, aquele beijo realmente tinha algo a mais: tinha um gosto de despedida. Fui para o jardim e sentei num banquinho, eram muitas as lembranças de nós dois que vinham à minha cabeça, muitas coisas que vivenciamos juntos, coisas que eu não vou esquecer. Limpei minhas lágrimas e me levantei para ir embora. Resolvi seguir o conselho do Pedrinho: colocar meus sentimentos em ordem. Fui em direção ao carro, entrei, sentei no banco da frente e fiquei olhando pela janela sem dizer uma palavra.
Lara - Negão, está tudo bem? - eu balancei a cabeça afirmando.
Léo - Tem certeza?
Eu - Tenho. - murmurei.
Ele ligou o carro e fomos para o campinho. Seria bom eu me distrair um pouco. Quando chegamos lá, acertamos alguns detalhes, resolvemos uns pequenos probleminhas, enfim, essas coisas.
Um, dois, três dias se passaram sem grandes novidades. A notícia da festa tinha se espalhado pela escola toda, todo mundo estava comentando sobre ela. A mais excitada com a festa era a vaca, coitada, mal sabia ela que a festa era para ela... Bom, até que nessa sexta-feira as aulas tinham passado rápido. E, até então, eu não tinha visto o Pedrinho. Estava no portão de saída conversando com a Lara, esperando o Léo nos buscar de carro e nos levar para acertar os últimos detalhes da festa, até que ouço a risada dele vindo de trás de mim. Olhei em direção à ele e, não sei se é possível, mas ele estava mais lindo do que na última vez em que nos vimos. Ele estava com a blusa da escola, uma calça jeans clara (daquelas que parecem que estão manchadas), um all star preto com detalhes vermelhos, o cabelo arrepiado e um lindo sorriso no rosto. Ao lado dele estava o Miguel, com a blusa da escola, um jeans escuro, um nike branco e um óculos escuros na cabeça. Como estava muito calor, o rosto do Pedrinho estava meio rosado. Eles vinham em nossa direção.
Lara - ...aí eu pensei que nós podíamos fazer isso. O que você acha? - só então eu me liguei que a Lara estava falando comigo.
Eu - Bom, está bem.
Respondi sem nem sequer ouvir o que ela tinha dito. Antes que eles passassem por nós, o Léo chegou e parou o carro na nossa frente. Entramos e, enquanto o carro se afastava, fiquei observando os dois. Ele parecia bem feliz com o Miguel, será que eles... não, é melhor não pensar nisso. Acertamos os últimos detalhes e eles me levaram para casa. Convidei eles para entrar e nós lanchamos, antes de eles irem embora o Léo pediu para a Lara esperar no carro e, meio relutante, ela saiu.
Léo - Agora me conta o que aconteceu para você ficar com essa cara de tacho desde terça-feira.
Eu - Eu conversei com o Pedrinho.
Léo - E...?
Eu - E ele disse que quer se afastar de mim para colocar a cabeça no lugar.
Léo - Posso falar uma coisa?
Eu - Fala.
Léo - Se você não fizer nada, você vai perder esse garoto de vez. - ele me abraçou e disse: - Se cuida.
E saiu. Às vezes, odeio quando ele está certo. Tomei banho, almoçei e voltei à minha busca longa e cansativa atrás do tal envelope. Já tinha procurado praticamente a casa inteira, mas faltava um lugar.
Eu - Não, não é possivel que esteja lá.
Fui para o meu quarto e o revirei de cabeça para baixo. Nada. Fui para a sala me sentindo para baixo e deixei meu corpo cair no sofá. Olhei para a estante e vi que tinha alguma coisa lá em cima, tipo um livro. Peguei um banquinho, subi e alcancei esse livro. Ele é grande, do tamanho de notebook, e um pouquinho pesado. Sua capa era de couro com um fecho prateado. Assim que abri vi que não era um livro e sim um album de fotos, que por sinal nunca tinha visto. Folheei o album e vi diversas fotos minhas, da minha mãe, da Tia Sueli, do Pedrinho quando era bebê, de nós dois brincando juntos... como é que eu nunca tinha visto aquelas fotos? Fiquei vendo uma por uma, até perceber que uma delas estava meio solta, e que havia algo atrás dela. Assim que retirei esse negócio de trás da foto, meu coração quase saiu pela boca quando vi o que era.
Eu - É o envelope pardo...
Boa noite, meus amores. Bom, mais um publicado. Eu sei que vocês devem querer me matar por causa do Pedrinho, mas eu tive que fazer isso, amores. Vocês vão entender o motivo nos próximos capítulos, tá? Agora, minha parte favorita: AOS COMENTÁRIOS!!!!!
kaduNascimento - Espero não decepcionar rsrs. Abraço, lindo
vitinho - kkkk não foi troca troca, mas rolou beijo. Quanto ao escroto, pior que essa foi a minha reação na hora, mas agora eu me arrependo... deveria ter era dado um soco nele hahaha. Abraços, amore.
Ru/Ruanito - Brigadão, amore :D
Geomateus - Valeu, lindo. Aí está :)
Talys - Errou por pouco, rolou beijo. Cê tem razão, bola pra frente porque a fila anda rsrs. Beijis, amore.
BDSP - Logo logo o plano e muitas outras coisas vão ser desvendadas. Mas bem que poderia mesmo estar fechada, mas na hora eu nem pensei direito, esa foi minha primeira reação. Beijão, amore.
Lukas. (Lukinhas) - Pior que não, estava mesmo na casa do Marlon, resta saber o que tem nele... Beijão, lindo.
$Léo$;) - A vingança está chegando rsrsrs. Tomara que eu não veja essa criatura na minha frente de novo, ou então não vai ser só um tapa que ele vai levar... vai ser um chute aonde o sol não bate rsrsrs. Beijos, amore.
mathhxx - rsrsrs beijão, lindo.
Gabee - Veitei lindo, beijão :)
Anjo Sedutora - Estou melhor, não vai ser um babaca desses que vei me deixar para baixo. Brigadão, meu Anjo. Beijo.
Bom, meus amores, por hoje é só. Bom domingo para vocês. Críticas, comentários, palpites e votos serão muito bem vindos. Quem quizer entrar em contato comigo me mande um e-mail: . E desculpa pelos erros, gente.
Até segunda, meus amores :)