"Segredos que guardei
Mentiras que escondi
Por querer o seu bem não te contei.." - Anônimo.
Eu - Minha mãe chegou! - ela entrou e veio em minha direção.
Sara - Oi, meu filhote?
Eu - Oi, mãe. - ela sentou ao meu lado, segurou meu rosto com as duas mãos e beijou minha testa.
Sara - Como foi a aula?
Eu - Entediante. - ela sorriu e alisou mau cabelo. - Acho que precisamos conversar, não é mesmo?
Sara - É, é sim. Antes de mais nada, quero que saiba que eu fiz isso por não ter escolha. Foi demais para mim aguentar, e eu acabei me deixando levar. Quando vi, estava envolvida até o pescoço nessa história. E se eu menti, foi para te proteger.
Eu - Mãe, estou ficando preocupado. O que foi que aconteceu? Quem é aquele cara?
Sara - Bem, para você entender vou te contar a história do inicio:
"Quando eu era pequena, meus pais tinham um grande amigo, e ele se chamava Antônio. Eram tão amigos, que chamaram ele para ser meu padrinho. Tudo corria bem, ele nunca tinha feito mal algum à mim, nem aos meus pais, e eu aodrava ele. Só que tudo mudou depois de um terrível acidente. Eu tinha 9 anos de idade quando meus pais sofreram um acidente de carro. Um engavetamento na estrada. Dentro do carro estavam meu pai, minha mãe e o Antônio. Meu pai, que dirigia o carro, não viu que tinha um carro quebrado na estrada e bateu com tudo nele. Eles estariam vivos se não fosse um caminhão que vinha logo atrás e que não tinha conseguido freiar. Fiquei arrazada, quando recebi a noticia eu estava na casa de uma coleguinha de escola, e foi a mãe dela quem me contou. Fomos correndo para o hospital. Mas quando chegamos lá, descobri que meu pai tinha morrido à caminho do hospital, minha mãe estava em coma e em um estava reagindo bem ao tratamento. O Antônio tinha quebrado uma perna mas não corria risco de vida, logo logo poderia voltar para casa. Não tinha com quem ficar e a mãe dessa minha coleguinha se ofereceu para ficar comigo por uns dias. Quando o Antônio saiu do hospital, foi direto conversar comigo. Disse que iria ficar comigo até minha mãe melhorar. Se passou 4 meses, e o Antônio e eu ficamos visitando minha mãe toda semana, até eu receber a noticia de que minha mãe tinha morrido."
Nesse momento, minha mãe chorava muito revivendo esses acontecimento da vida dela. Eu já sabia que meus avós tinham morrido por causa desse acidente, mas ela não tinha me contado essa parte do Antônio. Entre lágrimas e soluços, ela continuou a contar.
"Nesse momento ele me deu muito apoio, me confortou, me deu carinho. Disse que eu não iria ficar sozinha no mundo e que iria me adotar. Ele prometeu o que cumpriu, me adotou e cuidou de mim. Quando fiz 14 anos percebi que ele tinha mudado comigo. Me olhava de um jeito diferente, falava comigo de um jeito diferente. Não me tratava mais como uma criança, mais sim como uma empregada. Dizia para mim que eu tinha que fazer o que ele mandava porque quem bancava a casa e quem me bancava era ele. No meu aniversário de 15 anos, nós fomos para um parque. Quando chegamos em casa, fui para o meu quarto, peguei minha camisola e fui tomar um banho para dormir. Enquanto tomava banho, tive a sensação de que estava sendo observada, abri a cortina do box e levei um susto enorme: O Antônio estava dentro do banheiro me olhando tomar banho. Assim que gritei de susto ele pareceu acordar de um transe, ficou assustado eu acho, e eu, em vão, tentava esconder meu corpo com a cortina transparente. Derrepente sua fisionomia mudou, não era o Antônio que cuidou de mim desde pequena quem eu estava vendo ali na minha frente, era um Antônio completamente diferente. Seu rosto demonstrava desejo. Sim, desejo. Ele tirou toda a roupa, se aproximou de mim e me empurrou para a parede do banheiro. Sem dizer uma palavra se quer, foi me apertando e me beijando. Eu gritava o tempo todo dizendo que era para ele me soltar mas ele não me ouvia, continuava me apertado e me beijando. Segurou em meu cabelo e me puxou para o meu quarto, me jogou na cama e subiu em cima de mim. Já estava me faltando o ar de tanto eu gritar pedindo para ele parar. Até que..."
Ela abaixou a cabeça e chorou mais ainda. Me aproximei dela e a abracei forte. Não disse uma palavra à ela, esperei ela se acalmar um pouco.Ela respirou fundo e continuou falando.
"Até... que ele acabou com a minha vida. Ele abusou de mim naquela noite. Dizia-me coisas horríveis durante o ato e eu, cansada de lutar, fiquei imóvel, apenas ouvindo e sentindo tudo o que ele dizia e fazia comigo. Quando acabou, desejei morrer ali mesmo, pedi muito à Deus para que me tirasse a vida antes que eu mesma fizesse isso. Ele se levantou, andou até a porta e disse sem olhar para mim: 'Quero que você leve meu café da manhã no meu quarto às oito horas'. E simplismente saiu, como se nada tivesse acontecido. Não consegui dormir, não consegui me mexer, muito menos falar. Eu estava com nojo de mim mesma. Na minha cabeça vinha o tempo todo a voz dele me perguntando se eu estava gostando do meu presente de aniversário. Foi horrível, um verdadeiro pesadelo. Depois desse dia minha vida virou um verdadeiro inferno. Se eu não fizesse o que ele mandava ele me batia até se cansar, e se eu fizesse ele me 'presenteava' com uma hora de televisão. Por várias vezes tentei fugir daquela casa, mas sempre dava errado e sempre apanhava até ficar desacordada. Se assim já estava ruim, tudo piorou quando eu fiz 17 anos. Ele sempre saía de noite mas eu nunca tinha me perguntado aonde ele ia, e numa dessas noites ele me levou com ele. Me disse que eu ia passar a trabalhar na 'empresa' dele, já que eu só sabia viver as custas dele. Quando chegamos lá eu não acreditei no que via."
Minha mãe já tinha parado de chorar, e narrava os fatos com puro ódio na voz e no olhar.
"Ele havia me levado para um puteiro. Eu relutei, tentei fugir, mas foi pior para mim, levei dois tapas na cara que só depois percebi que tinha ficado inchado. Era um prédio de três andares, pavoroso por fora e luxuoso por dentro. Era um ambiente com iluminação baixa e vermelha, tinha algumas meninas dançando e outras conversando e beijando alguns homens. Ele ria ao ver meu espanto e disse que era ali que eu ia trabalhar a partir dali."
Ela ficou um tempo em silêncio, com um olhar vago, revivendo os momentos que tinha passado, lembrando do que tinha sofrido nas mãos daquele... daquele... daquele imbecil.
"Os dias que se passaram foram horríveis. Eu ia para cama com os homens mais nojentos possiveis, além do Antônio. E ainda tinha que entregar todo o dinheiro que eu recebia à ele. Quando fiz 18 anos descobri que estava grávida. Fiquei com medo e feliz ao mesmo tempo, afinal a criança não tinha culpa de nada que me aconteceu. Não tive outra escolha a não ser contar para o Antônio que eu estava grávida, nesse dia ele me bateu como se estivesse batendo em um homem. Chutes, socos, cadeiradas, e o que tivesse pela frente ele tacava em cima de mim. Por sorte não perdi a criança. Continuei 'trabalhando para ele' e jurava à mim mesma que na primeira oportunidade eu fugiria dali. E ela surgiu quando eu estava com cinco meses de gravidez, estava de noite e eu estava num dos quartos que eu dividia com Antônio, ele fazia questão de dormir todas as noites comigo mas dessa vez foi diferente. Ele recebeu uma ligação no meio da noite e saiu apressado do quarto, tão apressado que deixou a porta destrancada. Esperei alguns minutos para ter certeza de que ele não voltaria, fui andando devagar até a porta e me certifiquei que não havia ninguém no corredor. Fui andando até a porta dos fundos, já que pela porta da frente seria muito arriscado e muita burrice minha. Abri devagar a porta e pude sentir um sensação de euforia crescendo dentro de mim. Saí correndo pela rua e, mesmo com a barriga, não senti cansaço ou desconforto algum, tudo que eu queria era estar o mais longe possivel dali, o mais longe possivel do Antônio. Não sei por quanto tempo corri, mas acabei avistando um bar no meio da estrada. Entrei, ele estava praticamente vazio só havia dois caras conversando lá no fundo mas nem dei ideia para eles... e esse foi o meu erro. Fui até uma mulher que estava no balcão e disse que precisava de ajuda. Contei à ela que tinham me sequestrado e que fugi. Ela ficou chocada e disse que ia chamar seus filhos e, por pura irônia do destino, eu os conhecia. Eram seguranças daquele puteiro, logo entendi o porque das portas do prédio estarem vazias. Eles logo vieram em minha direção e cada um segurou um braço. Um deles me deu uma pancada na cabeça e apaguei. Quando acordei estava num quarto, mas não era o quarto que eu estava antes pois aquele ali mais parecia uma cela do que um quarto. O Antônio entrou nele pouco tempo depois de eu ter acordado. Me bateu, me chutou, me deu socos, me ameaçou... essa cicatriz que eu tenho nas costas foi por causa dele ter me cortado com um canivete. Só que dessa vez a criança não teve a mesma sorte, acabei sofrendo um aborto por conta dessa surra que ele me deu. Muito tempo depois, acho que eu estava com meus 24 para 25 anos, engravidei de você. Escondi dele que estava grávida, tinha que arrumar um jeito de sair dali. Até então haviam se passado 16 anos, e todas as vezes que eu tentei fugir deram errado, mas dessa vez eu não poderia falhar. A oportunidade surgiu quando houve uma batida da polícia no prédio, foi a maior confusão, um corre-corre de pessoas para todos os lados e, no meio dessa confusão, perdi o Antônio de vista. Corri para o lado oposto do qual tinha corrido da vez que tinha perdido meu bebê, não queria voltar a ver aquele bar. Corri tanto que, quando eu percebi, estava no meio dos carros e teve um que quase me atropelou, mas a minha sorte foi que a pessao freiou a tempo. Foi quando eu conheci a Sueli, era ela quem estava dirigindo aquele carro, pedi uma carona à ela e, à caminho de algum lugar que eu não sabia qual era, eu contei toda minha história à ela. Senti que poderia confiar nela, e ela me ajudou me dando um lar. Foi daí que surgiu nossa amizade. Ela me ajudou desde o inicio da gravidez. Para falar a verdade, ela foi meu anjo da guarda. Foi ela quem me ajudou a arrumar um emprego, foi ela quem cuidou de você enquanto eu trabalhava, foi ela quem me ajudou a escolher uma casa para morar... enfim, me ajudou bastante. Quando você tinha uns 4 ou 5 anos, o Antônio me achou. Até hoje eu me pergunto como ele conseguiu me achar. Me ameaçou, ameaçou você, disse que eu pertencia à ele e que eu tinha que voltar a 'trabalhar' para ele. Só que mais uma vez minha anjinha da guarda me ajudou, o falecido marido da Su era militar e botou o Antônio para correr. Me mudei para outra casa e, quando você tinha 12 anos, ele me achou de novo. Foi um desespero, até porque o marido da Su não poderia mais me ajudar, pois havia sido morto em tiroteio numa favela. Assim que o Antônio saiu da casa, peguei você e fui correndo para da Su. Foi uma luta, mas aí eu consegui comprar a casa que nós estamos morando agora. Desde então, o Antônio havia sumido, não tinha me preocurado mais. Só que agora ele me achou e eu não sei mais o que fazer. Eu tenho medo dele, das coisas que ele pode fazer com você. Eu já vi ele fazer coisas... com as pessoas... que não foram nada bonitas de se ver."
Ela parou de falar um instante para que eu possa digerir tudo que ela tinha me dito. É uma história, no minimo, de tirar o fôlego. Minha mãe é uma guerreira, e isso tudo só fez aumentar minha admiração por ela. Ela me abraçou e disse no meu ouvido:
Sara - Eu te imploro para que tome cuidado. O Antônio não está para brincadeira. Eu sei que você já está bem crescido, mas mesmo assim eu me preocupo com você. - ela desfez o abraço e olhou dentro dos meus olhos. - Eu te amo muito e não quero te perder.
Eu - Mãe, eu... eu...
Sara - Eu sei, meu amor. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e você precisa organizar tudo na sua cabeça. Só peço que me perdoe por não ter contado isso antes. É porque tocar nesse assunto me machuca muito. E só de pensar que você está correndo perigo... isso me deixa louca. - eu a abraçei e disse:
Eu - Não tem pelo quê se desculpar. Eu te entendo, mãe. Eu te amo muito e me dói saber que a senhora passou por tudo isso. - ficamos abraços por mais um tempo até ela desfazer novamente o abraço. Ao olhá-la percebi que seus olhos estavam vermelhos, e que algumas lágrimas desciam.
Sara - Agora, vai lá para o quarto do Pedro, vai. Eu vou conversar um pouco com a Su.
Eu parecia um robô, meus movimentos eram automáticos. Fui até o quarto dele, fechei a porta, encostei as minhas costas nela e escorreguei até o chão. Ali, abraçado à minhas pernas, pude sentir todo o peso das suas palavras. Me dei conta do que tinha acontecido e do que poderia acontecer. As lágrimas desciam involuntáriamente enquanto tentava colocar minha cabeça no lugar. Só senti que estava sendo puxado e colocado deitado na cama, mas não tive ânimo para falar e nem relutar. Pedrinho colocou minha cabeça no seu colo e, ali mesmo, chorei. E, de tanto chorar, acabei dormindo. Não sabia o que poderia acontecer amanhã, afinal ninguém pode prever o futuro. Mas sabia o que eu não deixaria acontecer: esse Antônio não iria mais mexer com a minha mãe. Não sabia como faria ele se afastar de nós, mas com certeza pensaria num jeito.
Boa noite, meus amores. Ufa, segredo revelado. Confesso à vocês que não iria revelar o segredo agora, mas foi preciso para que o Marlon descobrisse outra coisa que está por vir. Agora, aos comentários:
kaduNascimento - Acertou em cheio, lindo. Ele foi um peguete do Marlon. Foi com o Léo que ele deu o primeiro beijo dele. O Pedrinho ficoi com raiva por causa disso hehehe. Beijos, lindo.
oPAKO - KKKKK digamos que o Pedrinho tem uma boa vantagem rsrsrs. As qualidades do Gui ainda não foram ditas, ainda vão aparecer. Beijos, amore.
vitinho - kkkkkkk Menino, pior que tô ficando com inveja dele. Ele tem dois, e eu nenhum :'( . Mas calma que ainda tem tempo e acontecimentos que podem fazer você torcer por um deles. Beijos, amore.
SafadinhoGostoso - Acreditou. Mas por trás dessa história tem mais uma coisa... Abraços.
Mah Valério - Ele está morrendo de ciúmes, afinal o Léo foi um peguete do Marlon, e foi o cara que ele deu o primeiro beijo. E o que você achou da conversa?
$Léo$;) - Nossa, estou vendo que o Pedrinho ganhou fãs mesmo hehehehe. Beijos.
MikePedroB - De certa forma, sim. Ele acabou ajudando a vagabriele na brincadeira, mas ele teve certos motivos... E o porquê da vagabriele e o Negão brigarem tanto vai aparecer quando eles forem colocar tudo em pratos limpos, daqui a alguns capitulos. Beijos.
Anjo Sedutora - Own brigadão, meu Anjo, Um beijão para você ;)
esperança - Valeu, amore :)
Atheno - O Negão vai usar o Gui, mas vai ter consequências... Mas esse lance com o Pedrinho foi derrepente e o Marlom também o vê como amigo, e não como um casal. Pra falar a verdade, ele está bem confuso hehehe. Abraços.
Lukas. (Lukinhas) - Ai, obrigado lindo. Seu conto está muito show, viu. Beijão.
Ru/Ruanito - Brigadão, lindo. :)
Agatha(1986)/Agatha28 - Brigadão, linda ;)
Geomateus - Valeu, Geo.
sterlan - Verdade, o Negão ainda vê o Pedrinho como amigo. Mesmo depois de tudo que rolou. Abraços, amore.
Vagnner - Nossa, brigadão amore. Beijos.
Bem, por hoje é só. Meus lindos, agora eu só vou poder aparecer na segunda. É que tenho que resolver umas coisas aqui em casa. Críticas, comentários, palpites e votos serão muito bem vindos. E (novamente kk) desculpa pelos erros.
Até segunda, meus amores :)