Gemeos (3)

Um conto erótico de Sr. Ninguém
Categoria: Homossexual
Contém 1483 palavras
Data: 02/01/2015 01:31:36
Última revisão: 02/01/2015 01:51:49

—Alo, é da emergência? Temos um rapaz desmaiado aqui, peça por ambulâncias - Disse a policial ao rádio.

A noite já havia decido do céu, cobrindo as matas a nossa volta de um véu escuro e lotado de estrelas. Em minhas mãos havia sangue coagulado, se fosse a policial iria desconfiar de tentativa de homicídio, mas não foi isso que ela fez. Não havia me prendido nem nada do tipo.

Encostei-me numa das árvores próxima a casa, observando de longe a Tenente conversar com meu irmão, Heitor. Ele chorava muito, estava tão abalado pelo acontecimento, que por instantes lembranças resurgiram na minha mente, pintadas de escuridão e terror. O vi sendo separado de mim, sendo puxado para as sombras pelas mãos da minha mãe.

A emergência chegou junto a minha tia. Senti-me aliviado ao ver seu carro parando na vaga onde normalmente o carro da minha mãe ficava. Eu andava em passos rápidos até o carro, estava cedendo por uma companhia adulta, alguém que pudesse nos proteger e nos defender diante dos policiais.

—O que está acontecendo? —Perguntou minha tia.

—Quem é você? —Perguntou a Tenente que interrompeu a entrevista com meu irmão para tentar segurar minha tia.

—Tudo bem, eu sou tia dele.

Eu a abracei tão forte que senti sua pele por debaixo da camiseta, quente e aconchegante, assim como devia ser um abraço de mãe. Ela pegou meu rosto pelo queixo, e virou para ela. Perguntou:

—O que houve?

—O papai... —Estava chorando, não conseguia acabar a frase sem ser interrompido por soluços tristes — O papai, eu acho que ele morreu! Eu acho que eu matei meu pai!

A tenente riu, virou para mim e disse olhando nos meus olhos:

—Seu pai não morreu! Ele está acordado, e está lá dentro. Não vamos deixa-lo ver vocês agora. Segundo a história dos seus irmãos ele estava bêbado, e ninguém sabe a confusão que ele pode fazer agora.

Um alívio incrivelmente extasiante vazou do meu peito. O peso de ter matado ao próprio pai simplesmente virou fumaça e voou deixando meu corpo. Os carros da policia ainda iluminavam as árvores que cercavam a casa de vermelho e azul. O lago calmo mostrava sua beleza impétua, reluzindo o brilho nas prateadas águas do amanhã.

Meu pai estava vivo. Eu não poderia viver sem ele, assim como não poderia viver sem o Heitor. Assim como não poderia viver com a ideia insurgida de que eu havia o matado. Lembro dos flashs, da moldura e da face sangrando.

Heitor abraçou a tia por alguns segundos, logo após foi a mim, abraçando meu dorso como costumava fazer. Ficamos ambos ali, parados. Observando a cena.

Abraçados, eu e ele. Pude sentir seus cachos ruivos em contato com meu queixo, fazendo coçar. Suas mãos pequenas e doces tocavam meu rosto, fazendo carinho, como faz com os cães e gatos que encontra na rua. Era delicioso senti-lo em contato comigo. Seus dígitos em meu rosto. Em minha pele. Pele com pele, ele chorando nos meus braços. Soluçando no único lugar em que se sentia seguro. Sentia seu hálito em meu peito, em meu pescoço. Éramos do mesmo tamanho, por isso quando nos abraçávamos ficávamos com as bocas tão perto uma da outra. Ainda mais naquela forma que estávamos, seu rosto colado ao meu, seus lábios a apenas alguns míseros centímetros dos meus.

Fiquei duro novamente, mas só ele percebia. Só ele sentia o membro ereto a tocar em sua perna, só ele podia causar aquilo em mim. Aquele desejo ardente que nos resume a apenas uma pessoa. Que nós une nos tornando não dois de um, mas um de dois.

Ele costumava passar o rosto no meu, sentir o contato de nossas peles. Costumava dividir seu calor humano comigo, com seu único irmão gêmeo. Dividíamos tudo, desde pequenos. Nossas roupas ficam em um armário só, nossos tênis em uma gaveta só.

Eu o vejo toda vez que fecho os olhos, toda vez que olho no espelho e toda vez que vejo o lago verde. Não tão verdes quanto os olhos dele. Que agora estavam fechados sob o meu peito.

Não queria me separar dele, e aquela coisa eram uma das que pode nos separar novamente. Aquele desastre com a moldura poderia destruir nossas vidas.

Esperamos na delegacia. Eu, Gabriel, Diego e Heitor. Os quatro irmãos.

Minha tia me deu um abraço apertado enquanto eu tentava explicar novamente o que aconteceu para os policiais. Disseram para minha tia que poderiam separar nosso pai da gente, e que depois disso cada irmão teria que encontrar um lugar para ficar, se ela não pudesse cuidar de nós, iríamos para o orfanato.

Heitor abraçou-me forte quando o contei, ficávamos cada vez mais dentro daquele circulo que nós mesmos causamos. Unificamo-nos, porque precisávamos de alguém, precisávamos de uma mãe, de alguém para se “apaixonar” e para ser cuidado. Pelo menos foi essa a explicação da terapeuta três meses depois.

TRES MESES DEPOIS

Papai não foi preso, nem eu... Agora tínhamos terapeutas para ir, eles cuidaram de nós e nos apontou o porquê de tudo. Papai parou de beber, e às vezes perdia a cabeça por alguma coisa boba, mas eu ainda sentia que ele me desprezava. Ainda sentia que era minha culpa a morte da mamãe.

Não foi algo que discutimos na terapia familiar, não conseguia falar daquilo nem para mim mesmo, imagine para uma psicóloga.

Todo o dia a Tia Berta, a tia do dia da briga, vinha para nossa casa ver se tudo estava bem, e apesar do nosso pedido para que ela não perdesse mais tempo, ela permanecia a vir... Bom, até o dia em que tudo deu errado.

Foi um dia claro, onde os pássaros cantavam nas arvores e o ar parecia majestosamente limpo. Todos da casa estavam no lago, jogando vôlei, inclusive meu pai. Quem iria acreditar que ele viraria essa cara sã e forte em apenas três meses? Eu tinha orgulho dele. Orgulho esse que eu nunca poderia retribuir, já que eu matei minha mãe e tentei matar meu pai.

O calor fez minha cabeça doer, apesar do lago estar gelado como sempre. Levantei-me, dizendo que iria entrar em casa, e assim fiz. As areias grudavam nos meus dedos. Limpei o pé no tapete, e vi pelo reflexo da porta de vidro Heitor saindo do lago também. Seguindo-me.

Era hora dos beijos novamente? Dos beijos de irmão? Mal podia esperar, eu iria te-lo nos meus braços novamente, sem pecado e sem medo. Não fazíamos essas demonstrações puras de amor na frente de nosso pai, porque de certo modo ele sempre nos olhava estranho quando fazíamos. Só o fato de abraçar meu irmão já causava um olhar desconfiado dele.

Então sempre nos isolávamos para poder dividir nosso carinho. Aquele carinho que qualquer outro veria como sexual ou de baixo pudor.

Subi as escadas, molhando o chão de madeira que logo secaria. Olhei para trás enquanto subia, para ter certeza de que Heitor me seguia. E lá estava ele. Bem atrás de mim, subindo com um sorriso. Abri a porta por trás de mim, e entrei a cegas, de costas. Encarando meu irmão.

Beijei seu lábio inferior. Ele então fechou a porta nas suas costas e segurou meu rosto. Senti seus dedos ainda gelados pelo lago. Senti seus lábios ainda gelados, em contato com o meu. Suas mãos em contato com meu dorso nu. Dorso esse que eu mantinha bem exercitado desde o incidente com meu pai.

Desde o incidente eu me virei mais para os esportes, foi ideia da terapeuta. Me ajudava a relaxar e descarregar a pressão. E o Heitor expressava nos desenhos que agora cobriam todas as paredes do antigo estúdio da mamãe. Belos desenhos que expressavam o rosto da mamãe, sorrindo, junto a cada um de nós. Pareciam vivos.

Ouvimos meu pai gritar algo lá embaixo, algo como “O filho da Berta está aqui”. Mas ele podia nos esperar! Estávamos muito ocupados. Meu primo, cujo qual eu só vi algumas vezes, podia esperar nós nos amarmos por instantes.

Ele me empurrou então para a mesinha de centro, onde eu deitei sem medo algum. Meu membro não se excitava com isso. Éramos irmãos e trocávamos de um carinho de irmandade. Senti-o subindo na mesa, isso nunca havia acontecido antes. Colocou as pernas sobre mim e me beijou com a língua.

Não, aquilo não era irmandade. Meu membro se inflou, os beijos causaram um ardor interminável na minha parte intima. Queria o penetrar com a força que pudesse, queria o rasgar por dentro, naquela posição mesmo que nos encontrávamos. Ele sobre mim, ejetando sua língua em minha boca enquanto nos conectávamos pela saliva.

Ouvimos um som atrás de nós.

Viramos a cabeça para trás, e meu primo assustado de dez anos, filho de Berta, estava lá. Olhando perto da porta.

—Cacete! — Ele murmurou. E correu em direção ao lago.

FIM DA PARTE I

21 de agosto de 2006

(continua?)


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Comentários

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7 anos esperando continuação...😭😭😭

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A um bom tempo atras, li este conto e por meses espero a continuação... Será que continuarei a esperar em vão? Parabéns pelos contos.

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