2011 – Outubro
Ele era muito paciente e, pode ser coisa da minha cabeça, mas parecia que ele arranjava qualquer desculpa para tocar em mim.
_ Você está indo muito bem, pra quem aprende sozinho em casa.
_ Obrigado, Pietro.
E assim passamos três horas inteiras conversando e tocando. No final ele tocou uma música muito bonita, Say Something (Diga alguma coisa).
_ E ae o que achou? _ Ele pergunta, depois de terminar.
_ Muito bonita, quem canta?
_ Yan Axel.
_ Ah, legal. Mas a Karol disse que você preferia outro tipo de música.
_ E prefiro, mas achei que você ia gostar mais dessa! Então? Eu vejo você amanhã?
_ Tudo bem.
Então seguimos em direções opostas. Cada um pra sua casa e eu, estranhamente, me senti mal por isso.
()
“Quando você parte
Você não me ouve dizer, por favor
Oh baby, não vá
Simples e limpo é o jeito que você está me fazendo sentir esta noite
É difícil de esquecer”
()
2011 – Dezembro
Depois de muita insistência consegui convencer meu namorado a passar o natal comigo. É, isso mesmo, namorado. Depois de uma leve insistência dele eu havia aceitado o pedido dele no começo do mês do bom velhinho.
Eu estava feliz, leve. A única coisa que me preocupava era nossa primeira vez, apesar de não ser mais virgem, seria a ‘nossa’ primeira vez. Mas ele era calmo e ainda não tinha tocado no assunto ou tentado algo comigo. Ele sempre me dava bombons e até comprou um anel e uma corrente para mim.
Ele ia conhecer minha mãe e eu iria assumi-lo no jantar. Os pais dele não sabiam que ele era gay, aliás, viajaram e o deixaram sozinho. Pietro estava muito nervoso e isso era muito engraçado. Claro que eu também estava, apesar que eu sabia que minha mãe ia me aceitar e amar incondicionalmente. Decidi usar o anel e a corrente de coração escrito: ‘Só entra quem tem a chave’.
_ Mãe, esse é o Pietro. _ Digo saindo do lado dela e passando para o dele.
_ Oi, querido. Dany disse que passaria o natal com a gente, pode ficar à vontade. _ Minha mãe fala o abraçando.
_ Muito obrigado, senhora Torintho. Não quero atrapalhar...
_ Não atrapalha de forma nenhuma, mas me chame de Laura e meu sobrenome agora é Menezes. _ Mamãe diz rindo.
_ Ah! Me desculpa, senho... Laura. _ Nunca vi Pietro tão vermelho desse jeito.
Então a noite vai adentrando e perto da meia noite, quando Pietro, mamãe e Henrique estão mais próximos, mamãe decide servir a ceia. Eles começam a comer e eu decido que não consigo adiar mais. Então:
_ Mamãe e Henrique: quero dizer uma coisa. _ Os três olham para mim, Pietro está apavorado. _ Eu e Pietro estamos namorando.
Henrique engasga na hora e minha mãe parece que perde a fala e pergunta:
_ Pietro será que você pode pegar um copo de água pro Henrique lá na cozinha e Dany vem comigo até meu quarto pra gente conversar um pouquinho?
_ Claro, dona Laura. _ Diz Pietro se levantando.
Eu também me levanto e acompanho minha mãe. Ela respira fundo e pergunta:
_ Você tem certeza?
_ De que?
_ De... que... Bem, dado a tudo que você passou... Eu pensei que...
_ Mãe, mãe. Para! Não tem o que pensar, eu gosto dele e ele de mim. Ele me pediu em namoro e eu aceitei.
_ Ele pediu? Ganhou pontos comigo, mas e se ele quiser... Você pode pirar filho.
_ Mamãe eu não quero conversar com isso com a senhora, e ele nem tentou nada. Eu estou feliz mamãe, acho que eu nunca fui tão feliz.
_ Tudo bem Dany, eu já tinha percebido que você estava mais alegre. Eu só estou com medo dele fazer alguma coisa e você tomar uma decisão precipitada e machucar ele, ou pior, se machucar.
_ Eu prometo que a senhora não precisa se preocupar com nada.
Ela vem até mim me abraça, me dá um beijo e diz:
_ Eu te amo!
_ Eu também te amo mamãe. _ Dou um beijo bem molhado na bochecha dela.
_ Eca! _ Ela diz rindo e passando a mão onde eu beijei.
Voltamos a sala abraçados e o Henrique parecia estar melhor. Minha mãe vai até Pietro, que ficou meio que na defensiva, o abraça e fala:
_ Bem-vindo a família fofo.
()
“Você está me dando muitas coisas
Ultimamente você é tudo que eu preciso
Você sorriu pra mim e disse:
Não me entenda errado, eu te amo
Mas isso quer dizer que tenho que conhecer seus pais?
Quando nós formos mais velhos você entenderá
O que eu quis dizer quando disse: não,
Eu não acho que a vida é tão simples assim”
()
2012 – Setembro
Estávamos namorando a tempo razoável, mas parecia que tudo se encaixava. Ele continuava carinhoso comigo e parecia que os meus sentimentos por ele só aumentavam. Eu já tinha tentado falar sobre o dia negro com ele, mas não conseguia.
Claro, que ele já havia tentado transar comigo, mas eu havia pedido um tempo e ele me respeitou totalmente, ainda me abraçou e me encheu de beijos.
Até que aconteceu o que minha mãe temia...
Eu estava na casa dele, os pais dele estavam viajando (pra variar) e eu estava no quarto dele estávamos nos beijando e ele tirou a camiseta. Eu já fiquei alerta, ele veio para cima de mim e continuamos a nos beijar. Eu já um pouco preocupado, ele começa a enfiar a mão dentro da minha camiseta e depois tenta tira-la.
_ Agora não Pietro! _ Digo isso tirando a mão dele.
Ele se senta na cama de uma vez, apoiando a cabeça nas suas mãos.
_ É algum problema comigo? _ Ele diz de cabeça baixa.
_ O que? Não!
_ Então o que é? Eu não sei mais porque você se afasta quando a gente vai um pouco mais fundo.
Eu começo a calçar meus tênis para ir embora.
_ Não é nada! Eu só não tô afim.
_ Claro que está, só que você trava na hora. _ Ele se acalma e pergunta: _ Tem alguma coisa que você quer me contar?
E então depois de muito tempo as lembranças do estupro vieram de uma só vez. Fiquei sem saber o que fazer, mas optei pela saída mais covarde.
_ Eu vou embora. _ Digo saindo do quarto dele.
_ Ei, espera Dany! _ Ouço ele gritando atrás de mim.
Saio da casa dele correndo e passo por detrás de uma igreja católica, que era muito grande e tinha uma escadaria imensa, antes de eu pisar o primeiro degrau sinto alguém pegar no braço. Era ele. Ele me vira de frente para rua e começa a falar:
_ Você tá chorando? Desculpa cara, olha vamos voltar pra casa. Eu não posso te deixar na rua sim, toma pelo menos um copo de água...
E enquanto ele falava, eu o vi detrás de Pietro, do outro lado da rua. Era ele: Charles.
Então minha cabeça ficou cheia de vozes e uma delas dizia: ‘Vai ser enganado e estuprado de novo pra parar de ser besta’ ‘Ele não gosta de você, só tá esperando você dar mole pra te comer e jogar fora’ ...
_ Ei, olha pra mim cara! _ Ele parece estar muito preocupado, mas minha cabeça dizia que ele estava fingindo.
Eu tiro as mãos dele de cima de mim e olho pra detrás dele. Não tinha ninguém lá, mas eu levo isso como aviso.
_ Não toca em mim Pietro!
_ Ei, deixa eu te ajudar cara.
Ele tenta me abraçar, mas minha mente manda eu não deixar. Então eu o empurro.
Quando percebo meu erro ele já está rolando as escadas. Não tenho tempo de ouvir mais nada nem ninguém. Quando ele chega no chão, está desmaiado e sua testa está sangrando.
_ Pietro, acorda. _ Eu estou desesperado e chorando muito. _ Pietro, por favor, por favor não morre.
Caço o celular dele nos bolsos e quando o acho torço para não estar quebrado. Felizmente não está.
_ Alô, qual é a emergência?
_ E-ele tá sangrando e acho que não está resp-pirando. _ Eu gaguejo e soluço muito.
_ Senhor fale mais devagar eu não estou conseguindo te entender. _ O atendente pede.
Logo eu sinto alguém tentando me tirar de cima de Pietro. Vejo luzes vermelhas, pessoas de branco e quando me dou conta um policial está me perguntando o que aconteceu. Mas tudo parece distante, um sonho ruim que a gente não consegue acordar.
Não me lembro o que eu respondi, só me lembro que Pietro ficou uma semana em coma. E quando acordou estava com amnésia, depois descobriram que ele não conseguia andar. Estava tudo desabando sobre minha cabeça, a culpa estava me corroendo. Todo dia eu visitava ele no hospital, ia no horário em que ele estava dormindo. Depois de um tempo ele recuperou a memória.
Quando ele voltou pra casa dele, a mãe dele pegou férias para cuidar dele, depois de um mês eu tomei coragem para visita-lo. Ele ainda dormia quando eu adentrei no quarto, apesar de abatido ele estava tão bonito. Eu comecei acariciar os cabelos dele e não comecei a chorar.
_ O que você está fazendo aqui? _ Ele pergunta acordando de repente.
_ Por favor, me desculpa. _ Eu disse se ajoelhando ao lado dele.
_ Pensei que você não vinha me ver. _ Ele sorri. _ Pelo menos não acordado.
_ Foi tudo culpa minha.
_ Tá tudo bem, é sério! Eu só quero que você confie em mim e me diga a verdade. _ Ele diz pegando minha mão.
Eu a tiro de cima de mim e respondo:
_ Não há nada pra ser contado.
Ele fica claramente desapontado.
_ E então? Como ficamos? _ Ele pergunta esperançoso.
_ Não ficamos.
_ Como?
_ Eu quero terminar. Eu não posso mais...
_ É por causa das minhas pernas? Eu vou voltar a andar. O médico disse que é reversível.
Eu dou um sorriso, mesmo sem querer, entre as lágrimas.
_ Você não tem que se achar inferior a mim, Pietro. Jamais! O problema sou eu. Olha onde você está cara. E a culpa é toda minha.
_ Eu já disse que não me importo.
_ Eu me importo. O melhor pra mim é não me envolver com ninguém, pelo menos por enquanto. Eu preciso ficar só, antes que eu mate alguém.
_ Ninguém é feliz sozinho, Dany. Eu não vou insistir. Eu amo muito você, mas eu não vou forçar você a decidir nada.
Antes de sair do quarto eu sussurro: ‘Também te amo!’.
Eu contei o que realmente tinha acontecido pra minha mãe e ela resolveu que eu tinha que fazer terapia. Eu fiquei mais próximo da Karol, sentia necessidade de ter alguém comigo. Sentia falta dele. Estranhamente, ele começou a me evitar. Se eu entrava num lugar, ele dava um jeito de sair. E assim se resumiu, eu era feliz, minha mãe se esforçava pra isso. Mas eu não era completo.
()
“As coisas do cotidiano que mantém todos ocupados
Estão me confundindo
Foi quando você veio na minha direção e disse
Queria poder provar que eu te amo
Mas isso quer dizer que tenho que andar sobre a água?
Quando nós formos mais velhos você entenderá
É o bastante quando eu digo isso
E talvez algumas coisas sejam simples assim”
()
2015 – Fevereiro
Lá estava ele. Olhando pra mim. O que ele queria?
_ Karol ele tá vindo pra cá! O que eu faço? _ Pergunto quando ele vem na nossa direção.
_ Eu não sei...
E então ele se põe na nossa frente.
_ Dany, a gente pode conversar?
_ Oi? _ Eu digo confuso.
_ Podemos falar... _ Ele olha pra Karol. _ A sós?
_ Tá bom, tá bom! Tô indo, Dany. Mas qualquer coisa é só gritar.
_ Pietro a gente já fa... _ Eu falo tentando sair, mas ele me segura pelo braço.
_ Não, você vai ficar quieto e quem vai falar agora sou eu! _ Ele diz com convicção. _ Eu fiquei esse tempo todo te evitando, pra ver se te tirava da cabeça, tentei ficar com outras pessoas, mas o tempo em que ficamos juntos foram os melhores meses da minha vida. É difícil esquece-los.
Ele estava chorando, eu idem.
_ Quando você se mudou pra cá e eu vi que poderia te perder pra sempre eu não pensei duas vezes. Eu tinha que vir atrás de você. Não me importa o que você fez ou que possa fazer comigo. Se você não quer transar, beleza. Um relacionamento não é só sexo. Eu sei bem disso! Eu só preciso de você. Eu te amo, por favor diga que sente o mesmo.
_ Eu amo você...
E aconteceu, no pátio cheio de alunos, nos beijamos. Não estávamos ligando para nada nem ninguém. Só queríamos aproveitar o momento e aquele beijo tão doce.
()
“Abrace-me
O que quer que se encontre além dessa manhã
Está um pouco atrasado
Independente dos avisos, o futuro não me assusta mais
Nada é como antes”
()
(ários)
Pra começar coloquei a música Say Something no blog, quem quiser ouvi-la é só acessar: / Respondendo os comentários: Antheno espere e verás e falando em Revenge, David_Ross esse sobrenome é seu é em homenagem ao Nolan? M/A, David e Rafaelgyn obrigado e continuem ligados que agora começa uma nova parte do conto. Ale.blm e chbds1 sejam bem-vindos. Kayo Barbosa felicidade de pobre dura pouco (e de rico também). Lukas (lukinha) eu também acho fofo, escritor sofre junto com seus personagens. Chacon bebe melhor tomar cuidado com o moleque. Marcos Costa, pronto, agora já sabe.
Acho o máximo os comentários de vocês, principalmente quem diz que é fã da história, porque eu realmente não esperava essa recepção. Meu muito obrigado e meu ‘I love you’ para todos que gostam do conto. Até amanhã!