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O cara negro que se apaixonou pelo branquelo do pagode, pode isso?
Sete meses haviam se passado, desde que eu assumira o meu cargo como o mais novo funcionário do Banco do Brasil na cidade em que havia nascido e morava há 24 anos. Sempre procurei me destacar em tudo aquilo em que me metia, seja competições esportivas, jogos de tabuleiro sem muita emoção, simples peladas aos domingos com os amigos do prédio em que morava com meus pais e meu único irmão que era dois anos mais novo que eu, ou qualquer outra coisa em que me propunha a fazer.
Papai também trabalhava no serviço público, assim como minha mãe. Essa história de ser negro e pobre, que provavelmente teríamos uma vida difícil e cheia de dificuldades, jamais fez parte do meu mundo ou do meu irmão. Fomos bem criados, tínhamos os dois pés bem fincados no chão e jamais fomos metidos ou mesmo superiores a ninguém por termos tido melhores chances na vida. Também não posso negar que sofremos alguns preconceitos e fomos chamados de muita coisa por sermos negros e não pobres.
Estudei e terminei todos os meus estudos em escolas particulares conceituadas aqui em Fortaleza, assim como meu irmão. Tínhamos ótimas relações de amizades com todos os colegas tanto do colégio como da Universidade. Meus pais jamais mediram esforços no quesito proporcionar o melhor a cada um de nós e em contra partida, sempre nos sentimos na obrigação de querer e fazer sempre o melhor para que seus esforços fossem sempre recompensados com destaques cada vez mais evidentes em nossas vidas.
Tínhamos acabado de descer juntos pelo elevador de social quando meu irmão perguntou:
_ Você pode me pegar hoje na faculdade?
_ Pelo visto seu carro não saí hoje da oficina, né mesmo Guto? Perguntei já meio chateado.
_ Pois é. O pessoal de lá avisou desde ontem que a pintura tem que levar pelo menos mais uma dia até ficar bem fixada.
_ Não vou prometer nada. Em todo caso, você saí que horas?
_ Lá pelas 17:00 h. Vai lá mano, não custa nada você me pegar e aproveita pra conhecer a turma da facu. Que tal?
_ Bando de adolescentes... Tô fora. E sorri já querendo implicar com meu irmão mais novo.
_ Não esqueça que você também já teve essa idade há pouco tempo atrás. falou mamãe toda cheia de sorriso e simpatia. Mulher maravilhosa que sempre seria uma excelente mediadora em nossas vidas.
_ Quebra essa pra nós Max, estamos cheios de serviço e não quero que seu irmão venha de van ou ônibus, essa onda de violência me deixa assustado. Falou meu pai.
Isso foi o que me convenceu. Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse justamente hoje com o Guto ou com qualquer um deles só por causa de uma provável recusa minha.
_ Tá fechado Guto, em frente a facu exatamente as 17:00 h, um minuto a mais e vai pra casa a pé. Ouviu bem?
_ Pode deixar chefe, estarei lá. E Guto ficou na posição de sentido, nos fazendo rir todos de uma só vez.
Uma vez na garagem do prédio, entrei em meu carro e segui para a Agência do BB em que trabalhava. Mamãe estrou no dela e foi para mais um dia de serviço no Fórum Trabalhista Autran Nunes na Avenida Duque de Caxias onde exercia a função de Diretora Geral do lugar e papai levaria Guto até a faculdade de Administração na Avenida da Universidade, antes de seguir para o IJF e seus pacientes.
A rotina do banco já estava na massa do meu sangue. O serviço que fazia no setor contábil não mais me assustava tanto, era como se eu começasse a colocar em prática tudo o que havia aprendido na Faculdade terminada há dois anos. Ainda estava fascinado pelo serviço e mais ainda pelo ambiente que meus pares proporcionavam. Éramos uma verdadeira equipe ali no setor e vez ou outra batíamos metas que nos fazia destacar cada vez mais ante os olhos do gerente geral da agência e também lá na Superintendência do banco localizada na Avenida Santos Dumont, próximo ao nosso apartamento.
Negro, forte, alto, malhado, sarado, bonito, dentes retos e brancos, braços e pernas musculosas por conta da genética privilegiada que tinha, cabelos máquina 01 pretos, olhos mais pretos ainda e uma cor de ébano de deixar muita gente de pescoço virado ao passar, esse era eu Maximiliam Alves de Noronha Pacheco, ou simplesmente Max para os íntimos.
Não posso esconder que sempre procurei ser bem reservado na vida particular, até por temer ter a minha homossexualidade revelada às pessoas que mais amava, minha família. Muitas foram as noites que me masturbei vendo filmes pornô gay na internet. Muitas foram as tardes e dias de folga em que passava vagando pelo calçadão na Avenida beira Mar me exibindo e me notando ser desejado por homens bonitos e bastante interessados por mim. Não canso de pensar em quantas vezes marquei encontros que nunca fui, justamente por não ter coragem de ir em frente, caso a coisa tomasse um rumo que não desse pra controlar. Eu podia ser o garoto desejo de muitos, mas era também um covarde por não ter peito de encarar de frente minha própria condição por sentir uma vergonha muito maior que meu desejo.
Tava justamente pensando nisso quando uma colega tocou e meu ombro e perguntou:
_ Todo mundo já foi embora, você não vai?
_ Poxa Bruna que susto, acho que tava em outro planeta. Que horas já são?
_ Se aquele relógio ali não tiver com defeito, falta vinte para as cinco. vamos?
Muitos dos colegas já haviam dado um toque, alertando do interesse da Bruna por mim. Era uma garota linda. Loira, alta, corpo extremamente bem feito, diziam até que falava várias línguas e de uma simpatia contagiante. Eu admito que várias vezes me senti culpado por nada sentir.
_ Vamos sim Bruna, pois vou ter que passar na Facu do meu irmão e levá-lo pra casa. Obrigado por me trazer de volta. Sorri de puro agradecimento.
_ Não precisa me agradecer Max, disponha sempre que quiser. E sorriu de volta. Juntos pegamos o elevador no quinto andar e fomos colocando o papo e dia. Praticamente voei ao encontro do meu irmão.
Guto estava na companhia de uns cinco garotos da mesma idade dele. Todos falavam muito alto e riam por qualquer coisa. Fui apresentado a todos eles, item que não dei muita importância e após mais uns minutos de conversa fiada, Guto entrou no carro e partimos pra casa.
Meu irmão era um pouco maior que eu, um pouco mais forte que eu, um pouco mais lindo que eu, tinha mais músculos que eu, e com certeza era mais popular do que eu jamais fui em toda a minha vida estudantil. E como consequência disso tudo, era o cara que jurei a mim mesmo proteger de qualquer maldade desse mundo. Eu simplesmente era louco pelo meu irmão caçula. A nota triste disso tudo era justamente lhe decepcionar caso ele viesse a saber o que realmente eu era. Sempre que esse pensamento me assaltava eu procurava fugir correndo dele.
_ Poxa Max, te fiz um convite e você mais uma vez fica no seu mundo particular e nada diz.
_ Foi mal senhor afobadinho. Admito que tava numa das luas de Saturno. O que você quer saber?
_ Um chapa meu, Jordano, ele hoje não veio a aula. Amanhã ele e a banda de pagode que formou junto com amigos, vão tocar na calourada da UNIFOR, aí eu perguntei se você quer ir junto comigo e a turma da facu?
Sexta-feira à noite e nada pra fazer. Alguns amigos haviam falado dessa festa da calourada desde o final da outra semana e eu sempre respondia evasivamente se ia ou não.Do nada meu irmãozinho queria saber se eu iria ou não.
_ Cada um no seu carro, né?
_ Se você quiser pode ir comigo, já que meu caro saí amanhã. Que tal?
_ De jeito nenhum. Vai que eu vá e não goste e queira vir embora. Você me levaria pra casa e depois voltaria pra sua festa? Eu não vou confirmar se vou ou não. E se eu decidir que vou, vou no meu próprio carro. Assim tá bom pra você?
_ Sem problema nenhum, contanto que você esteja lá bem vestido, perfumado e que pegue o maior numero de gatas que puder, que tal?
_ Combinado maninho, combinado.
Entramos na garagem do prédio e na subida do elevador, outros dois moradores foram conosco.
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Meus queridos amigos...
Finalmente voltamos a nos encontrar. Como vocês puderam comprovar uma nova trama se inicia e com ela aquela boa e já velha expectativa acompanhada de um bom frio na barriga por não saber o que nos espera dessa vez. Decidi criar essa história na base do improviso. Os personagens são pessoas comuns que trabalham, estudam, amam, sofrem, vibram, vão, vem, fazem, desfazem, temem, enfim, são comuns como cada um de nós.
Espero por cada um de vocês com a maior ansiedade do mundo, uma vez que tava numa ansiedade sem tamanho, só que não tinha tempo e a semana pra variar foi intensa e cheia de emoção pra mim. Me desliguei de uma das escolas em que lecionava, e como já sabem uma nova etapa se iniciará na minha vida a partir doCom relação ao conto passado, só posso agradecer a cada um de vocês por terem cumprido fielmente a caminhada em minha companhia até o final. Dessa vez Portugal se fez presente na pessoa do amigo FAVO e eu jamais poderei deixar de registrar o carinho e amizade do GEOMATEUS, do NARCISO, do SAMUSAM o mais novo amigos que vocês me ajudaram a ter. da CHELE, do TAKAHASHI, do BEULFORT, da ESPERANÇA, da CINTIACENTENO, da DRICA TELLES (AMETISTA ), da AGATHA1986, do KADUNASCIMENTO, da NINHA M, da KYRYAQ e CIDA, do GUINHO, da ROSE VITAL, do EDU19 e 15, do ZÉ CARLOS que amo de montão, da DRIKA (DRIKITA), e de tantos outros que ainda estão na mesma estrada que continuamos a andar, só que em pontos diferentes dela.
Só quero que saibam também que serão sempre o bom e velho POVO DO LADO ESQUERDO, e que o que sinto por vocês me deixa as vezes sem palavras. Obrigado por tudo meus queridos amigos e amigas. Nando Mota.
Comentários
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Amando!!
Admirando seu modo de escrever!
Me vejo nos locais por onde narra de forma grandiosa, que talento para contar sobre diversas realidades humanas,cada conto seu é uma perspectiva diferente sobre a realidade humana.
Parabéns por ser você.
Eba, meu lindo voltou, rs. Nando, este começo está incrível, vc mostrará que mesmo sendo uma maioria em nosso país, os negros bem sucedidos ainda são minoria e por mais que eles sejam batalhadores e honestos, têm sempre aqueles que pensam que somos semianalfabetos ou bandidos para termos dinheiro, como Max, mesmo deixou no ar, tb penso que tb é por isso que ele ainda não se assumiu, mas com uma família maravilhosa que ele têm, ele saberá o momento certo de falar e tb verá que o amor de seus pais e irmão caçula não mudará, só pode a cada dia aumentar mais, junto com o respeito e admiração. Meu professor lindo e totoso, ainda bem q vc não nos deixou muito tempo na espectativa, rs, amando este início. Um cheiro e um superbeijo cheio de sdds da sua chiclete Rose Vital.
Sempre li seus contos e vibrei muito com cada personagem, nunca havia comentado, porém não resisti, tive que fazer cadastro para comentar hj. É demais. Parabéns pela ótima escrita. Um abraço.
Oi, Nando! Tudo bom, querido? Infelizmente, só agora pudi terminar de ler o seu conto anterior. Devo dizer que fiquei muito surpresa com o final. A mãe do Franzé abriu os olhos e percebeu o que estava perdendo. Antes tarde do que nunca, não é mesmo? Parabéns por mais um excelente conto, Nando. Agora vamos embarcar em mais um obra de Nando Mota. Ansiosa pelos acontecimentos deste. É emocionante escrever uma estória a base do improviso. Uma coisa que você costuma dizer que é "brincar com as palavras" vai se tornar mais emocionante ainda. Olha, eu amei o nome do conto. É bem sugestivo. Vai ser incrível. Claro, conto escrito pelo Nando Mota sempre é perfeito. Obrigada por mais um compartilhamento, querido! Estava com saudades de visitar a sua página. Espero que esteja tudo bem contigo. Um ótimo finde. Um abraço e um beijo.
Mais um conto que se inicia e com ele coloco toda minha expectativa em mais essa jornada.
Muito bom, continua...
Muito obrugado já estava até roendo as unhas de tanta ansiedade. Seu conto tá uma maravilha Maximilian tem um medo que pode ser surpeendido pois existem pais que não deixam de amar seu filhos por serem gays, bis, trans, ou qualquer outra coisa, pois o amor é incondicional e não tem precoceitos. Querido amigo vou ser novamente repetitivo seu conto está maravilhoso e estou de novo aguardando por novos cap's, um grande abração e um beijão. Tchau e otimo sábado
GOSTEI DO DESSE PRIMEIRO CAPITULO...
mtu bom
Amigo que saudade de você!! Estava até preocupada que nem no whatsapp tava respondendo, sabe que se não tiver um Oi fico triste, mas entendo sua correria, a minha não é muito diferente, quem dera saísse as 17 hs igual o Max, kkk. Não sei porque, mas super me identifiquei com ele, kkk. Bjos amigo!!
Que bom, mais um conto se iniciando. Pelo que parece, nesse haverá dois preconceitos acoplados - homossexualidade e cor negra.Espero ansioso pela continuação. Um abraço carinhoso,Plutão
Muito bom, abraços Nando.
Que bom que voltou e já me encantou:).
Começo instigante. Continue logo!
Já estava om saudades....
Esta muito bacana, adorei os personagens, espero conhecer o outro logo.