Cap.1
NARRADO POR CÉSAR
Ai que droga. Mais um começo de semestre. Como se não bastasse terei duas matérias pra pagar do último bimestre. Quem sou eu, o garoto mais preguiçoso do mundo. Me chamo César Figueiredo, tenho 18 anos, e estou no segundo semestre do curso de Letras. Andava praticamente me arrastando pelo quarto em direção ao banheiro. Sabe aquele dia que você acorda com tanta preguiça que sai se agarrando em tudo pra poder andar direito, assim sou eu todo dia. Me olhei no espelho, estava um trapo. Minha franja parecia um espanador. Ai que horror ! Tratei logo de tomar um banho e ficar bonito, como sou normalmente. Tenho cabelos pretos e lisos, olhos verdes, uso uma franja, sou encorpado, médio de altura. Definitivamente não me acho feio. Ah, acho que infelizmente deixo muitos corações femininos arrasados, pois sou gay. Eu sei disso, não tenho dúvidas, mas morro de medo de que meus pais descubram. Meu pai, Paulo, é incrivelmente homofóbico, e não sei o que ele faria se soubesse. Logo após essa reflexão matinal, desci para o café. Minha mãe, Andrea, faz questão de reunir todos a mesa pela manhã. Creio que muitos tem irmãos aqui, mas quase nenhum não tem a particularidade que a minha família tem. Irmãos gêmeos. É, infelizmente eu tenho uma cópia exata a minha pessoa. Se chama Mariano, e eu o obrigo a não usar a franja, ou então ninguém saberia quem é quem. Ou melhor, quem nos conhecesse bem saberia. Mariano é bem diferente de mim, na personalidade. É totalmente extrovertido, popular, pegador, hetero e eu sou tímido, com poucos amigos, virgem e gay. Virgem por vontade própria.
- Oi maninho- falou ele, me abraçando fortemente como sempre fazia, e bagunçando meu cabelo, me fazendo criar um ódio matinal dele.
- Mariano, seu economistasinho de uma figa, vai bagunçar o cabelo do seu rabo, seu idiota, você não sabe o trabalho que me deu pra arrumar !- falei, acertando uma maçã nele.
- Calma maninho, porque você é sempre assim, não consegue aceitar uma brincadeirinha- ele sempre sentava na minha frente, do outro lado da mesa.
- Não quando envolve o meu cabelo !- falei, agora jogando uma banana.
- Ei, vocês, crianças, parem com isso !- minha mãe dizia, trazendo o bolo que havia feito. Eu não gostava de ficar de frente pra Mariano, porque ele me olhava muito. Isso me encabulava, desde criança ele sempre me olhava muito. Implorava as vezes pra dormir no meu quarto, e tomar banho junto comigo. Até hoje ainda não entendi isso direito. Logo após esse café em "família", peguei minhas coisas e sai. Mariano estudava na mesma unidade que eu, e ia de moto, mais eu não pegava carona com ele nem morto, preferia ir de ônibus. O ônibus geralmente era rápido, mais incrivelmente lotado, só quem mora em São Paulo e pega ônibus de manhã sabe. Não demorou muito e eu estava lá. Sempre, meus amigos inseparáveis me esperavam. Marcos e Luana eram meus amigos de infância, para todas as horas, e os únicos que sabiam do meu segredo.
- Oi galerinha !- dizia eu, tentando imitar uma cara de anime super fofa →←
- Oi viado- Luana dizia, de cara fechada.
- Sua vadia, se falar isso mais uma vez eu te quebro a clavícula com a unha ein.
- Viado- falou ela, sorrindo. Era assim todos os dias. Eles faziam letras comigo, sempre gostamos muito de literatura.
- Então César, você vai mesmo ter que pagar aquelas disciplinas ?- Marcos perguntava, com aquela cara de amigo preocupado.
- Vou. O professor não aceitou o meu trabalho, então fiquei sem a nota. Agora terei que pagar. Aff- dizia pra mim mesmo, ainda com raiva, por não ter conseguido passar.
- O Felipe Cavalcante lançou o novo livro dele, no Rio !!!- Luana dizia, toda animada.
- Mentira, já está na livraria ?
- Ainda não, mais ele vai fazer uma noite de autógrafos no dia do lançamento, daqui a duas semanas !
- Sério ? Você vai comigo né, claro que vai ?
- É bem óbvio né, você acha mesmo que eu vou perder a oportunidade de ficar cara a cara com aquele homem lindo- Felipe Cavalcante é um autor de romances. Ele lança romances regularmente, a maioria beeeemmmm romântica mesmo, e a maioria das garotas e garotos gostam. Além disso, ele é hiper lindo, dizem que tem gente que desmaia ao vê-lo. Ele é basicamente, um homem alto, branco, loiro de cabelos lisos, tem olhos verdes claros que contrastam com todo o resto, tem um rosto bem perfeito, e uma voz hiper sexy. É, definitivamente, o sonho de qualquer mulher. Logo chegamos na minha sala. A mesma turma de sempre, cada um sentava no mesmo lugar sempre, e eu sento no canto esquerdo, colado a parede. Na faculdade não tinha muitos homens bonitos. A maioria era mais ou menos, ou feia. Gays, tinham muitos, mais a maioria eram rasgados até a cutícula, então eu não me interessava por ninguém. Exceto um professor, em especial. Ele daria a nossa primeira aula. Tá, eu sei que ele é 17 anos mais velho que eu, podia ser meu pai, mais eu ficava caidinho quando o via. Ele é loiro, dos olhos azuis, branco, alto, magro, tem cabelos pretos lisos, apesar de alguns fios grisalhos ameaçarem aparecer. Eu realmente o achava bonito. Mais o que ele tinha de bonito, tinha de mal educado, mal humorado e grosso.
- Bom dia professor- uma menina falou do outro lado da sala.
- O que tem de bom ?- falou, jogando suas coisas de uma vez na mesa- infelizmente, pra vocês, continuarei dando aula de estudos linguísticos pra vocês. Como sempre, sem celulares, prestem atenção, qualquer barulho eu coloco pra fora, e aos novatos, estudem, ou não passarão comigo- eu nem ligava pro que ele dizia, só queria imaginar como ele seria por debaixo daquela roupa e... te controla César. Logo ele começou a falar sobre algumas coisas, e eu, como bom aluno que sou, anotei a maior parte. No final, teríamos que decidir quem seria o estagiário dele durante o ano. Ele escolhia sempre uma pessoa, e ninguém queria pegar o estágio, por ele ser mal humorado. Eu até queria, talvez pra ter uma chance de conhece-lo melhor, mas não consegui no último semestre. Alguma coisa me dizia que ele não era realmente assim- vamos lá, escolhi essa pessoa por ter sido aquela que se saiu melhor na minha disciplina no último semestre, César, é você- falou ele,lançando um olhar que eu não conseguia decifrar.
- Eu ?- falei, ainda não acreditando.
- É você, ficará depois das aulas comigo nas turmas, pra entender como tudo funciona.
- Ok- eu dizia, vendo naquilo uma oportunidade de conhecer melhor o professor.
NARRADO POR MARIANO
- Ei, Mariano, você tá escutando ?- dizia Ronaldo, falando sobre alguma coisa.
- Tô- falei, mentindo, pois não prestava a menor atenção no que ele dizia. Era intervalo, e eu, estudante de economia, ficava no pátio observando meu irmão. Ainda buscava respostas por esta fissura que eu tinha por ele.
FLASHBACK
6 ANOS ATRÁS
Chovia muito aquela noite. Uma trovoada forte decaiu, e em seguida a luz foi embora. Eu, com 12 anos, era um medroso, e ia logo atrás de alguém. Peguei uma lanterna e corri pro quarto do meu irmão, César. Lá estava ele, deitado, parecia dormir.
- César, você está dormindo ?- falei, baixinho.
- Não- falou ele, de olhos fechados- porque ?
- Tá chovendo muito- falei, com vergonha de dizer que estava com medo.
- E daí ?
- Tá trovejando...
- Você tá com medo é ?
- Ai, tô !- falei, emburrado
- Mais não é você que é o mais velho, vive dizendo a todos que é 12 minutos mais velho que eu- falou, virando pro outro lado
- Poxa, deixa eu dormir com você, eu tô com muito medo- ele virou, e olhou pra porta.
- Tá bom- falou, abrindo espaço pra que eu me deitasse. Me encobriu com seu lençol e me abraçou- pronto, melhorou, irmão "mais velho"- falou, fazendo aspas com as mãos.
- Humrum- eu ainda não entendia bem o porque, mas tinha alguma coisa que eu gostava no meu irmão. Seu cheiro, seu corpo, eu não entendia esses sentimentos. Mais eu adorava ficar perto dele, e adorava quando ele me abraçava. O que seria isso ?- ah, César ?
- O que ?
- Eu sou sim mais velho que você- ele me apertou ainda mais e podia sentir a respiração dele na minha nuca. Estávamos de mãos dadas.
- É tão mais velho que está aqui precisando de um abraço do irmão mais novo pra passar o medo, seu medroso- que sentimentos são esses ?
Continua
Gostaram ????