- EI! Bernardo! Espera! – eu me virei rápido e tentei acompanha-lo. Esbarrei numa meia dúzia de pessoas pelo menos.
- Lucas, vamo atrás dele! – Júlia chegou atrás de mim.
A gente saiu desviando das pessoas que nem ligavam se estávamos caminhando ou não. Era muita gente mesmo. Esbarrei num cara e fiz ele derramar o copo de cerveja no chão. Apressei o passo pra não ser visto e despistei. Saímos da pista de dança.
- Eu não o vejo em lugar nenhum! – Júlia gritou.
Meu Deus, onde o Bernardo foi se enfiar? A gente deu a volta no sentido oposto da pista de dança, mas nada. Olhei para a mesa da empresa, mas o Igor estava lá sozinho.
- Vamos no bar!
Descemos pro bar e eu o vi lá sentado perto do balcão. Corremos pra lá.
- Bernardo, o Natan é um idiota! Não liga pra o que ele disse! – eu falei me aproximando.
- Lucas, volta pro seus amigos.
- Não. Vamo pra mesa da empresa, o Igor tá lá.
- Não. Eu vou pra mesa da empresa. Você vai ficar com seus amigos. Eles estão esperando você. Vai.
- Bernardo...
- Lucas! – ele gritou. – Agora sou quem quer ficar só. Me deixa.
- Vamos Lucas, ele tá bem. Você já viu. – Júlia puxou meu ombro.
Bernardo continuava zangado sem me olhar. Eu saí com a Júlia.
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Eu tava muito puto com o Lucas! Se aquele otário do amigo dele me enche mais um pouco eu ia amassar ele de murro numa situação que não tinha médico no mundo que concertasse. O Lucas contou do meu transtorno. Aquele idiota boca aberta! Eu queria ficar sozinho e mandei ele de volta pra aquela corja de amigos dele. Na mesa da empresa ao longe eu consegui ver que só o Igor estava lá mexendo no celular. Talvez fosse bom ir pra lá e me ocupar com o papo das pessoas de lá.
Eu não ia embora sem o Lucas. Isso nunca me passou pela cabeça. Só fiquei magoado sobre ele contar uma coisa tão intima minha para os amigos dele e ainda por cima um deles vir usar isso contra mim. Eu sou muito frágil quando se trata desse assunto. Não gosto de ficar comentando. Vem um cara no meio de uma festa e me diz que não sou normal. Só eu não sou normal no meio deles. Porra, aquilo me faz desabar. Me faz lembrar das minhas crises, do trabalho que dava pra minha mãe, dos familiares tristes por um menino tão jovem como eu estar envolvido num problema desses, dos vizinhos que consolavam a minha mãe, dos caras do hospital me segurando pra me sedar, dos remédios constantes, da raiva que eu sentia de tomar aquilo. As lembranças foram chegando.
Eu tive uma crise em que eu não sabia explicar. Algo simplesmente me impedia de sair do quarto. Eu via tudo. Eu via que tava fazendo todo mundo a minha volta sofrer, mas quando eu chegava perto da porta eu travava. Era como se a sala ficasse a quilômetros de distância. Quando eu saia pra ir à cozinha no máximo beber uma água eu trancava as janelas. Nas raríssimas vezes que minha mãe me deixou sozinho, quando ela voltava a casa estava completamente trancada. Eu ia abrir a porta me segurando pra não chorar, porque eu escutava a voz da minha mãe me chamando trêmula, tentando parecer normal, mas eu sabia que ela tava com medo de o pior ter acontecido daquela vez.
Por minha causa minha mãe nunca mais se envolveu com um homem. Ela não tinha tempo. Ela tinha um cara de 15 ou 16 anos que mal ia pro colégio pra cuidar. Porque esse cara não tinha confiança pra fazer nada sozinho.
Me arrependia tanto de ser um atraso na vida da minha mãe. Das vezes em que surtei e quebrei coisas em casa a fazendo chorar. Das vezes em que falei coisas horríveis pra ela, a xinguei e quase a bati. Só que minha mãe nunca desistiu de mim. Nunca. O choro dela no quarto no meio da noite falando no telefone com alguma irmã era uma som vivo na minha cabeça alguns anos atrás. Droga, o choro. Eu era consciente de tudo, tudo! Mas não havia como mudar meu comportamento, algo muito superior a mim me controlava.
Graças a Deus tudo isso passou. Me arrependo demais de não ter ouvido minha psiquiatra e minha mãe. Me arrependo de deixar pra aceitar a ajuda muito tempo depois. De demorar pra me conscientizar que eu tenho um problema. Qualquer um poderia ter. Alguém no mundo tem que ter, esse alguém sou eu, é um fardo. Tudo bem... Mas daí vir alguém e usar isso contra mim como aquele cara fez? E o Lucas ainda diz que são amigos?
- Ei... Me traz o mesmo que você me serviu mais cedo. Aquele fraco, baratinho... – eu disse pro barman.
- Só isso?
- Só, qual o problema? Todo mundo tem que ser cachaceiro e pedir o drink mais forte por acaso? – eu perguntei irritado. O cara levantou as mãos se escusando. Idiota.
Meus pensamentos foram cortados quando alguém sentou do meu lado e ficou me olhando. Um perfume tão bom tomou conta do ambiente.
- Numa balada dessa com essa cara de tristinho. O que foi que aconteceu?
- Amanda... Por favor, eu já tô estressado. Não quero brigar. Já disse tudo na nossa última conversa. O quê que você quer?
- Não é difícil saber.
O barman colocou o drink na minha frente.
- Não enche Amanda...
- Não... tô querendo conversar. Numa boa.
- Pode começar ficando calada.
- Você lá em casa brigando comigo e eu pensando besteira...
- Que besteira?
- Em calar tua boca com um beijo e te levar pro quarto.
- Amanda, por favor...
- Deixar você todo vermelho. Arranhar essas tuas costas brancas cheias de sinais...
- Amanda! Mais que porra! – eu soquei o balcão. Olhei pros lados pra ver se ninguém notava.
- Bernardo... – ela alisou meu braço. – Diz que você não sente falta. Diz que você anda fazendo sexo por aí como a gente fazia. Diz que você nos últimos tempos transa com uma mulher que nem eu. Que fazia o que eu fazia na cama. Que te fazia gozar umas três vezes numa note só. Diz que você consegue comer alguém por aí que te deixa com a virilha dolorida de tanto meter como fazia comigo. Aquelas transas malucas que a gente tinha! – ela riu safada.
Cara eu lembrava. Minhas transas com a Amanda foram as melhores da minha vida. Entendam, com mulheres. A Amanda é uma mulher completa na cama, sem pudor nenhum, a que faz o que o homem quer, sem frescura, a que quer o prazer do sexo a qualquer custo. A mulher que se excita quando você está excitado. A mulher que tem prazer em saber que é ela quem tá te deixando louco e que as outras vão ter que ralar muito pra ser que nem ela com um homem na cama. Puta mesmo! E isso não é uma coisa ruim. Se toda mulher fosse assim, dificilmente os caras trairiam tanto. Mas isso é um pensamento machista meu... O Lucas sempre fala. Mas ele é gay. Não que eu não seja agora também... Mas deixa pra lá.
- Amanda, você deveria se dar valor. – eu chequei a hora no celular. Eram quase duas da manhã. Quando o Lucas ia querer ir embora meu Deus... Tentei não dar atenção. Abri o Whatsapp e deixei o aparelho numa posição que ela pudesse ver que eu estava usando o aplicativo, como quem conversa com alguém.
Ela se calou. Graças a Deus. Continuei vidrado no celular para ver se ela saia. Decidi mandar mensagem pro Lucas e fiquei digitando. Ela não saiu, mas continuou quieta. Quieta até demais! Alguns minutos depois eu olhei pra ela e ela mexia na bolsa de lado. Quando voltou a me olhar teve um breve susto.
- Não adianta Bernardo. Eu quero você. A gente pode se encontrar casualmente. Só sexo. Sem essa coisa de namoro que foi o que atrapalhou a gente. Olha... se não tivéssemos namorado, estaríamos juntos até hoje. Só sexo, com seus benefícios é claro! Ei rapaz... – ela disse pro barman. – Traz o mesmo que o dele pra mim.
Aquilo não ia se prolongar. Eu não ia deixar. Peguei meu copo e virei. Aquilo estava fraco mesmo, super aguado. O cara deve ter feito com raiva. Saí dalí imediatamente pra mesa da empresa. O Igor ainda estava lá sozinho. Iria ficar conversando com ele, sempre dizem que ele é simpático então... Pelo menos pra passar o tempo e essa maluca largar do meu pé.
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- Calma Lucas... Você tá com essa cara há mó tempão... Ele tá bem.
- Ele tá chateado Júlia... Quando chegar em casa ele vai brigar comigo. A gente havia se acertado agora depois daquilo tudo.
- Lucas, eu não falei por mal. Foi a bebida. Eu só queria você com a gente... Tu é muito querido, todo mundo sente tua falta.
- Natan, cala a boca! - Ele fez cara de triste. – Que horas são?
- Duas horas. – Rony avisou.
- Olha! Ele saiu do bar. – Júlia me puxou pelo braço. – Quem é aquele cara com ele?
- É o Igor. É um cara da empresa. Deixa ele lá, ainda bem.
- Tá vendo? Ele tá bem. Vem, vamo dançar. Já tá quase na hora de ir embora. – Júlia me levou pra pista.
Natan e Rony vieram. Natan agora não passava da lata de guaraná por conta da cena de mais cedo com a bebida. Eu tava muito chateado com ele. Tudo que ele falava eu mandava ele calar a boca. Mas a bebida não deixava ele entender e ele voltava a falar. Haja paciência.
Fiquei me mexendo na pista com a Júlia e sempre observando o Bernardo. Ele estava sentado num sofá e o Igor em outro. Igor de pernas cruzadas com o celular na mão, Bernardo com os braços abertos no sofá.
Deixa ele lá. Mal acompanhado ele não está.
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Haja paciência pra gente bêbada! Sinceramente... O Roberto, um outro cara que trabalha comigo, bebeu e de repente viu o Kaio como sendo o melhor amigo de toda uma vida. Passou o braço no pescoço do Kaio e estão até agora na pista. O Kaio, de educado, fica dando trela. Eu não tenho paciência com isso. Não tenho!
Voltei pra mesa da empresa que não tinha mais ninguém lá. Preferi ficar sozinho com a companhia das latas de cervejas e redbulls vazias jogadas na mesa. Me sentei cansado e fiquei mexendo no celular checando Instagram e tudo mais de forma aleatória. Eu queria ver como o Kaio ia se livrar daquele cara. Fica dando moral pra bêbado é isso que dá. Ele que aguente aquilo sozinho então.
Bernardo veio sozinho pra mesa. Levantei os olhos pra ele enquanto ele sentava. Ele sorriu timidamente, eu retribuí. Que falta de educação a minha... O cara chegou e eu no celular. Suspirei e guardei o aparelho.
- Cadê o Lucas? – eu perguntei me ajeitando no estofado.
- Tá com uns amigos dele por aí. – ele falou meio irritado, foi isso?
- É... o Kaio também. Tá na pista com um “novo melhor amigo” dele.
- Como é? – ele riu.
- Um cara da empresa bebeu e descobriu um amizade que eu não sei da onde saiu com ele. O Kaio é educado demais pra dar um chega pra lá nele.
- Pessoas que bebem perdem a noção das coisas.
- Sim. Perdem.
- Não se dão conta das burradas. – ele abriu os braços no sofá.
- Pois é.
- Fazem besteira e você tem que relevar porque o idiota encheu a cara!
- Exato! O Lucas bebeu foi? Também te fez raiva?
- Não... O Lucas não... Um amigo dele me disse umas coisas e eu não sei se desço essa escada e quebro a cara do cara ou se vou embora de vez.
- Se for pra brigar é melhor ir embora. A festa tá rolando há um tempo e não houve confusão até agora, isso é raro em lugares tão cheios. Melhor, fica aqui e espera a raiva passar. Você tá esperando o Lucas pra ir embora?
- É que a gente mora junto... Eu até tenho uma cópia da chave mas... A gente veio de táxi e eu não queria deixar ele ir só. – ele parece que percebeu o que disse. Se endireitou no estofado.
- Eu entendo. Olha, se quiser posso pedir pro Kaio deixar vocês em casa. A gente também veio junto.
- Não... não precisa.
- Você que sabe.
- Você e ele são muito amigos né? – Ele perguntou e ficou me olhando esperando a resposta. Há! Não me pega! Ele já havia notado sobre Kaio e eu. Vamos ao enrrolation!
- Sim. Somos amigos há muito tempo. Acho que desde infância. Nossas famílias são amigas e a gente é até meio primo por parte de pai, sei lá. Ele passava férias na casa dos meu pais anos atrás. Você e o Lucas também?
- Ah... Não. A gente se conheceu esse ano. Estamos dividindo aluguel pra cortar gastos. A gente é estudante.
Um tempo foi passando... Bernardo começou a bocejar.
- Que sono... Já mandei mensagem chamando o Lucas pra ir mas ele nem olha o Whatsapp.
- Acho melhor você ir lá falar com ele.
- Não posso. Se eu der de cara com aquele amigo dele, eu nem sei o que faço.
Mas um tempinho se passou e eu notei que ele suspirava. Logo estava suando.
- Que calor é esse?
- Todo lugar aqui faz calor, mas até que eu estou bem. Não tô suando que nem você não.
Bernardo passou a mão na testa e limpou na calça. Ele estava suando muito mesmo. Encostou a cabeça no sofá e olhou pra cima. A respiração dele logo aumentou de ritmo.
- Igor... eu acho que tô passando mal.
- Como passando mal menino? – eu sentei do lado dele.
- Minha pressão... – ele puxou o ar com dificuldade e fez uma cara de dor.
- Respira fundo. Bebeu alguma coisa?
- Só um drink aguado no bar. Era fraco...
- O que tinha nele?
- Sei lá... Chama o Lucas pra mim. Eu tô ficando tonto.
- Não posso te deixar só agora.
- Vai... só tô meio tonto. Eu não vou sair daqui. Vai chamar ele.
O suor dele começou a pingar e molhar a camisa.
- Bernardo não sai daqui. Sério, não sai!
Eu desci pra pista rápido e comecei a olhar pros lados procurando o Lucas. Vi o Kaio ainda com o cara lá. Fui atravessando a pista e só do outro lado é que finalmente o vi com mais dois meninos uma menina. Todos aparentavam ser novinhos.
- Ei, Lucas... – eu disse puxando de leve o braço dele. Ele me olhou assustado e na mesma hora olhou pra mesa da empresa. – O Bernardo, ele precisa de você lá na mesa.
- Ele não tá com você?
- Está sim. Lá na área vip. Vem comigo, é sério.
- Não tá! Olha!
Eu me virei e quando olhei pra área vip o Bernardo não estava no estofado da nossa mesa. Ele havia sumido em menos de dois minutos que levei pra atravessar a pista. Meu Deus, o cara tava passando mal, eu o deixei sozinho e agora ele sumiu!
Fomos os dois correndo para as escadas. Não podia ser.
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Voltei!
Obrigado por todos os comentários. Vamos às respostas:
Drica (Drikita): Não, não apanhei não. Mas a gente treina junto então ele me ajuda com o treino. Porque ele malha há mais tempo que eu então ele me ajuda nos aparelhos, com o peso, revesando as máquinas e tudo mais. Daí teve um dia que ele acabou comigo no treino por conta que eu falei isso de crepúsculo hahaha.
Irish: Se os leitores gostam não há problema de ir um pouco mais "de vagar". Eu tenho medo disso. Quando vejo que tô me estendendo muito logo eu tento resumir, porque tenho medo do leitora char chato e enrolado demais pra entender. Daí se cansa e desiste de ler o conto.
mille***: Nem me lembre de carnaval. O pessoal vai saber de tudo assim que o conto "A primeira vista" for repostado.
Lost Boy: Não. Não sabe. Só quem sabe desse conto é Kaio, Lucas e eu. Bernardo não sabe. A ideia de transformar a história num conto veio por conta de tudo que eu presenciei como vocês estão vendo nos capítulos, daí consegui convencer o Lucas. Mas se o Bernardo não gostar ou se o Lucas desistir, eu excluo tudo amanhã se ele quiser. O conto é dele, eu costumo falar. E Bernardo não se dá bem com o Natan. Com os outros sim, mas com o Natan não. kkkkkk Natan e Rony não se pegam, segundo Lucas hein!
Gik: Né? kkkkkk Espera eu postar tudo de novo pra ver o que o pessoal vai achar!
Higor Melo: Não bebo e nunca me senti atraído por bebida. O meu máximo é um drink perdido na noite e só! Adoro vinho, aqui em casa não falta. Mas só...
love31: Sim, eu também acho.
juniormoreno: Não entendi seu comentário. Não misturar amizade com namoro? A quem você se refere?
Petricky: Eles estão juntos até hoje. Resolveram isso sim. Você vai ver.
For Fun: Eles se acertaram quanto a isso sim. Ciúme demais é um pé na cova. Não dá mesmo.
Jhoen Jhol: Solta a lingua de todo mundo!
Drica Telles(ametista): Concordo com tudo o que você disse. Não. Bernardo nunca aparentou estar mal no trabalho, as vezes você vê pela cara dele que ele está cansado, mas só. QUem nunca foi pro trabalho cansado? É normal. Mas mal sobre doença ou algo assim não, nunca. Ninguém na empresa além de mim sabe disso.
yumi: Ainda bem que você voltou! Continua comigo!
Abraço aos demais que comentaram: De Souza, Agatha 1986, Sr. Crítico, Junynho Play, Fernando_Mocelim, juniormoreno, DavidH, alvorada, Wyllia Paes, Geomateus.
O próximo capítulo não demora sair, juro! Já terminei o conto inteiro. Agora vou revisar e corrigir o "A primeira vista" para liberar em seguida.
Abraço a todos vocês.