Olá, leitores e escritores do CdC!
FabioStatz, adoro uma especulação,!
Koll, obrigado por ler e pelos elogios. O André bem que merece uma surra mesmo!
Chele, não se preocupe. Eu sempre vou estar postando mais para vocês :). Bom... ou pelo menos até a série acabar.
LucasKrusty, que bom que abalei seu coração, sauHshaHsua. E não precisa se desculpar ;). Sim, até quando o Lannister é ruim, ele morre de forma maravilhosa. Veja bem, ninguém é totalmente inútil, USAHuHAshAs!
Neto M., depois sair das sombras com esse comentário que me fez morrer sufocado no meu próprio ego, você tem toda a intimidade do mundo! Obrigado por usar seu tempo para deixar sua impressão, foi um boost na minha força de vontade. E você digita muito bem no celular, não se preocupe. De fato, à medida que o tempo passa, o nosso tempo para dispender em hobbies fica cada vez menor. Mesmo assim, eu torço para que você possa achar uma brecha para aprender algo que sempre quis, e espero que dê tudo certo no seu trabalho no banco. Só não vá errar nada enquanto pensa se o Eduardo é ou não uma boa pessoa, ou se o André morre ou não, SUhuahsuAHShAUs. Muito obrigado pela consideração e pelos elogios!
Cintiacenteno, Irish, Henrique, menina7 e Ru/Ruanito, muito obrigado pelos votos e pelos comentários!
Hora de conhecer um pouco melhor os nossos queridos heróis, não? Boa leitura!
Contato:
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<REMÉDIO>
“Eu quebrei o meu irmão”.
Eu só conseguia pensar nisso enquanto calmamente fazia um curativo nas mãos de Hector. Pelos ferimentos, supus que ele havia usado os punhos para bater em alguém. Eu ainda não sabia quem era esse alguém, se estava morto ou se estava vivo. Eu realmente torcia para que estivesse vivo.
Hector olhava para mim com olhos cansados. Eu podia dizer que ele estava com muito sono. Eram mais ou menos três da manhã. Depois de nos encontrarmos na cozinha mais ou menos 2:40, pedi para que ele tirasse suas roupas e tomasse um banho quente. Enquanto isso, eu havia feito um chocolate quente para nós dois. Agora, estávamos sentados na cama de Hector, eu tinha uma maleta de primeiros socorros ao meu lado, Hector e eu estávamos frente a frente num silêncio profundo. Ele estava apenas com seu shorts de dormir. Não era problema para mim e nem para ele que eu o visse nu, coisa que já havia ocorrido diversas vezes, mas era melhor que mantivéssemos a normalidade. Mesmo assim, com Hector sem camisa eu podia ver as suas cicatrizes de tempos passados em seu peitoral e abdome trincado. Tempos que antecedem a vinda dele para a família Voldi. Ele nunca revelava as causas daqueles ferimentos.
Os músculos dos braços alvos de Hector estavam tensos, contraídos, muito embora ele parecesse relaxado. Eu estava terminando seu curativo em volta de sua mão. Meus dedos tocavam de leve os seus, com uma delicadeza profissional de quem já havia feito aquilo várias vezes. De fato, quando Hector tinha mais um de seus treinamentos intensivos nos anos anteriores, ele sempre voltava para mim com ferimentos, e eu era o único que poderia consertar esses machucados. Hector nunca deixava outra pessoa se aproximar da mesma maneira.
De vez em quando eu levantava os olhos para o seu rosto e me deparava com um olhar fixo no meu. A intensidade vazia me assustava, mas meu rosto só mostrava uma neutralidade concentrada. Hector não precisava de alguém desesperado agora... Ele precisava de um Victor forte. O Victor de sempre. O mesmo que o quebrou por dentro.
Terminei o curativo e peguei suas duas mãos fortes nas minhas para observá-las. O trabalho havia sido bem feito. Dei um sorriso cansado e satisfeito.
_Como nos velhos tempos... – eu disse.
Hector não demonstrou reação. Apenas me olhava. Seus cabelos ainda estavam molhados. Sua barba tinha gotículas nela. Peguei a toalha pendurada na cabeceira da cama e enxuguei seu rosto e seu cabelo corretamente. Hector ainda permanecia imóvel.
_Se você dormir de cabelo molhado, vai pegar um resfriado. – eu disse enquanto fazia movimentos circulares com a toalha em seu cabelo curto e quase preto.
Ao terminar, o resultado era um Hector com os cabelos quase secos e bagunçados. Dei uma passada de mão para dar uma leve arrumada e sorri para ele. Peguei sua xícara com chocolate quente e entreguei-a. Hector a segurou com certa dificuldade por causa do curativo. Peguei a minha também e recostei-me na cabeceira. Passamos alguns minutos num silêncio confortável enquanto bebericávamos o chocolate quente. Ao terminarmos, peguei a xícara de Hector e a coloquei junto da minha no seu criado mudo. Ali tinha também um porta-retrato, e nele continha uma foto: eu e Hector dentro de um carro, uma foto tirada por alguém do lado de fora. Eu tinha 17 anos nessa foto e Hector estava me ensinando a dirigir. Eu fazia um “V” com os dedos indicador e médio com um sorriso divertido direcionado ao fotógrafo, enquanto Hector tinha seu braço descansando para fora da janela, olhando para a câmera com um leve desprezo. Ele odiava fotos.
Voltei-me para o agora e pensei se seria uma boa hora para perguntar o que ocorreu. Eu precisava ser cuidadoso nas perguntas. Precisava ser mais afirmativo do que interrogativo.
_Hector... – encarei-o – Foi o André, não foi?
Ele assentiu de leve.
_Ele está vivo? – perguntei temendo a resposta, embora não o demonstrasse.
Hector assentiu novamente. Encarei-o neutralmente e assenti também, como se aceitasse aquela situação, mas por dentro o meu alívio era enorme. Por enquanto, era o bastante. Algo veio a minha mente... Hector havia feito aquilo por mim. Porque eu ordenei. E por mais que a medida houvesse sido extrema, eu deveria agradecê-lo. Abracei-o, puxando sua cabeça para o meu ombro, ficando assim no mesmo nível. Senti sua respiração no meu pescoço, seus cabelos nas minhas mãos.
_Obrigado, Hector...
Ele não disse nada, apenas abraçou-me também. Hector estava mal... muito mal. E a culpa era toda minha. Eu fiz com que toda a violência e a raiva interior de Hector explodisse depois de todo aquele tempo que ele a reprimia. Hector havia reprimido seu caráter explosivo por mim, e agora, havia libertado ele também por mim. O engraçado era que eu era o único realmente insano ali.
_Você consegue dormir? – eu perguntei baixinho ainda o abraçando.
Senti um aumento leve no aperto de Hector em minhas costas, como se pedisse para que eu ficasse.
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FLASHBACK
Numa torrente, as lembranças dos meus 12 anos vieram. O ano em que minha mãe morreu. Ela tinha um coração frágil desde muito nova. Ela era incapaz de fazer exercícios intensos ou de viver emoções fortes...
...infelizmente seus sequestradores não sabiam disso.
A ligação veio num fim de tarde. Minha mãe havia saído para visitar uma amiga em sua casa, mas seu caminho foi interceptado por sequestradores. Meu próprio pai negociou com eles, sabendo que, se não agisse rápido, minha mãe poderia morrer a qualquer momento por uma parada cardíaca devido ao stress de um sequestro.
Mas as coisas não ocorreram rapidamente como deveriam. No local de troca, só havia o corpo sem vida de minha mãe. Ela usava o mesmo vestido azul celeste de quando saiu de casa dando-me um beijinho na bochecha e um beijo na testa de Hector, que naquela época tinha 18 anos e lutava contra seu caráter explosivo. A processo vinha sendo lento, mas ele tentava com avidez.
Eu havia ficado em casa naquela noite, e foi no mesmo dia que a notícia chegou. Meu pai tentou me consolar, mas eu não conseguia parar de chorar com aquela dor excruciante no peito. Eu não sabia exatamente o que havia ocorrido, e não aceitaria nenhuma justificativa, que qualquer forma. Eu correra para meu quarto e deitara em minha cama, ainda com aquele aperto indescritível no coração. Eu apertava meu peito com minha mão direita, como se aquele sentimento fosse algo que eu pudesse matar com um aperto. Mas não era.
Hector entrara no meu quarto. Naquela época, ele não conseguia manter o rosto e tom neutros dos tempos atuais. Já era forte, no entanto. Hector sempre fora forte. Sua expressão, porém, era totalmente neutra, apesar da morte da minha mãe... não... da nossa mãe. Eu chorava baixinho, com pequenos gemidos, murmurando de vez em quando...
...”mamãe”.
Hector foi até minha cama, deitou-se junto comigo e me abraçou, encostando minha cabeça em seu peito.
_Eu nunca vou deixar algo assim acontecer com você, Victor. – ele disse num tom totalmente inédito naquele jovem Hectortom que escondia todo seu ser para dar lugar a uma nova pessoa.
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TEMPOS ATUAIS
Eu deitei-me junto dele e puxei sua cabeça ao encontro do meu peito. Mas o que é que eu poderia dizer a ele? Que eu era o culpado de tudo? Não... Não era hora disso.
_Eu estou aqui, Hector. – eu disse com os olhos fechados.
E assim, esperei que ele caísse no sono. Eu ficaria acordado para cuidar dele...
...assim com ele sempre cuidou de mim.
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PARTE NARRADA POR EDUARDO
“Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa pos...”
Encerrei a chamada com uma preocupação crescente. Já havia ligado doze vezes para Victor e ele não atendia. Passei a mão na minha barba (gesto que mostrava que eu estava realmente preocupado) e olhei no meu relógio: 14:43. Eu havia ligado de manhã, e o resultado havia sido o mesmo. Eu teria uma aula de Filosofia Moderna às 15 horas, mas resolvi ir ao apartamento de Victor para checar o que havia ocorrido. Mas o quê poderia ocorrer com o Hector perto dele?
Hector... ao pensar nesse cara eu sentia um enorme desconforto. Era como uma sombra do Victor. Uma sombra perigosa. E embora meu quase-namorado não percebesse, Hector nutria um sentimento ruim por mim. Ele me olhava como se visse através do meu ser... através da minha alma. Ele desconfiava de mim.
Desfiz esses pensamentos e fui até o meu carro. Em cinco minutos, eu havia chegado ao prédio de Victor. O porteiro já havia me visto outras vezes, então ele abriu para mim assim que me viu. Peguei o elevador e subi.
Victor... Victor... tudo o que eu tinha na cabeça era ele. Como era possível? Eu havia me sentido deslocado por toda a minha vida, odiando ficar perto de lugares chatos demais, de pessoas chatas demais, e o problema é que todos pareciam chatos. Admito até que sentia certo desprezo por pessoas comuns. Mas Victor apareceu com toda aquela genialidade... toda aquela confiança mental numa vulnerabilidade física... toda aquela gentileza firme... aquele amor por conhecimento puro...
Tirei meu gorro e alisei meus cabelos enquanto dava um suspiro. Eu estava de fato apaixonado por aquele garoto. Eu o queria para mim, e eu enfrentaria qualquer coisa no caminho... ou qualquer alguém. Dei uma risada leve ao ver o que eu havia me tornado.
A porta do elevador se abriu e fui para a porta do apartamento de Victor. Dei três toques na porta e ela se abriu por estar mal encaixada no trinco. Empurrei um pouco e disse:
_Victor? Vou entrar...
Abri a porta por completo e entrei, ficando no corredor de entrada. Havia um pouco de água no piso, e mais a frente estava um moletom preto encharcado no chão. Dei passos lentos e cheguei à cozinha-sala...
...e não acreditei no que eu vi.
Victor estava sentado no sofá e Hector estava deitado de barriga para baixo com a cabeça no colo do Victor. Eu nunca imaginaria ver o segurança do meu namorado, que mais parecia uma pedra de gelo, naquela situação. Ele dormia com uma serenidade séria no rosto, os braços pousados ao lado do corpo sem camisa, usando apenas um short. Victor acariciava os cabelos de Hector com delicadeza. A TV estava ligada, um filme qualquer passava, mas nenhum som saía dela.
Vic levantou seu rosto e me viu. Eu nunca o havia visto tão cansado e abalado, embora seu rosto mostrasse um sorriso fraco, um sorriso morto. Suas pálpebras estavam um pouco caídas, mostrando que ele provavelmente não dormira noite passada.
_O que aconteceu, Vic? – eu perguntei com receio.
Aquela cena estava muito anormal. O Victor e o Hector que eu conhecia eram uma dupla inabalável. Agora, eu só via destroços do que antes era uma máquina perfeita. Victor ainda alisava os cabelos do seu segurança quando respondeu:
_Não foi nada. O Hector só precisa de um pouco de descanso.
_Nada? – eu disse, cético – Me parece bem grave. E você não atendia o telefone.
_Eu devo ter esquecido no quarto... e deve estar no silencioso.
Sua voz estava cansada, mas ele ainda mantinha um sorriso.
_Vic... o que aconteceu? – eu perguntei usando um tom mais preocupado.
Seus lábios tremeram um pouco e seus olhos adquiriram um brilho. Ele queria chorar, e eu podia ver uma forte tristeza reprimida.
_Eu sou uma desgraça, Eduardo... - disse Victor com uma voz embargada.
Ele estava sofrendo muito por dentro, aquilo era claro. Tentei me aproximar, mas ele fez um sinal para que eu parasse.
_Deixe nós dois aqui, Eduardo.
_Mas você não tá bem, Vic... – eu disse com uma angústia ao ver ele daquela forma... tão triste... tão frágil...
_O Hector está bem pior, acredite. – disse Victor com olhando para seu segurança com um sorriso carinhoso – Mas não se preocupe. Nós dois somos os únicos que podem curar a nós mesmos.
Fiquei em silêncio. Eu sentia raiva daquela situação. Não podia fazer nada... não podia ser aquilo que Victor precisava.
_Nós... – disse um Victor pensativo e apático enquanto passava dois dedos pela face de Hector - ... somos nosso próprio remédio.
Engoli em seco.
_Tudo bem, Vic... Me liga mais tarde, se puder.
_Tudo bem. – ele disse sem olhar para mim, apenas focado no rosto do seu segurança adormecido num sono sereno.
Virei-me e fui até a porta. Quando apertei o botão do elevador, percebi que usava uma força desnecessária. Cerrei os punhos até minhas unhas começarem a ferir a palma da minha mão. Alguma coisa se revirava dentro de mim, fazendo com que eu quisesse voltar para dentro do apartamento e tirar Victor de lá... Dei um soco na porta do elevador, mas não funcionou...
...o ódio não queria sair.
<Continua>