— Rodrigo eu...
— Por favor, só quero a tua companhia. Eu não quero ficar só!
— Tudo bem — disse aquilo com uma sensação estranha.
Ele levantou da cama foi até a porta do quarto e eu só o ouvi a trancando, voltou pra cama, deitou olhando pro teto. Eu me ajeitei e fiquei do lado dele e ninguém falou nada por um momento.
— E o Renato?
— Ele vai passar essa noite lá no Hospital.
— Hum.
No mesmo momento meu celular tocou, o toque era de mensagem, eu peguei ele do bolso e era do Príncipe. Fiquei olhando um tempo e li:
“Cara, hoje não vou na tua casa, tô cansado, acabei de chegar em casa. Amanhã a gente se fala.. Boa noite”
Respirei aliviado lendo aquilo, não respondi.
— Era o Príncipe?
Pensei em mentir, mas acabei dizendo que era ele.
— E como vão as coisas entre vocês?
Meu ex-namorado querendo saber como tava meu namoro, que coisa estranha, né?
— Graças a Deus, tudo bem!
- Que bom!
Depois daquilo outro silêncio reinou no quarto. Pelo fato de eu ter tido um dia cansativo acabei dormindo rápido.
Me espantei de com algo pesando em cima de mim, era o Rodrigo. Ele dormia com a cabeça no meu peito. Na mesma hora veio aquela maldita sensação que na barriga tem um milhão de borboletas voando, eu tava sem camisa e com isso sentia a respiração dele pesada no meu corpo. Meu coração começou a ficar acelerado mesmo que contra a minha vontade, pensei em tirar ele de cima de mim. Sim, de cima porque uma das pernas dele tava por cima das minhas. Mas não fiz isso, pensei em tudo que ele tava passando e quando eu vi minha mão já tava no cabelo dele fazendo carinho. Não, aquilo não era certo, era o que a minha cabeça dizia e eu sabia, mas ficar sem tocar nele era algo que eu não conseguia resistir. Porém consegui resistir e comecei a me mexer o fazendo se espantar e na hora eu fechei os olhos pra ele pensar que eu fazia aquilo dormindo. Ele saiu de cima de mim e eu me virei ficando de costas pra ele. Então olhei no relógio que ele tinha na cômoda do lado da cama que ainda era duas da manhã.
Voltar a dormir foi complicado, mas consegui e tive um sonho que até hoje me lembro exatamente como foi. Era numa praia com um dia lindo e eu me sentia feliz, calmo e tinha alguém comigo do meu lado, mas eu não via o rosto porque o sol empatava com a claridade.
Logo depois eu acordei com umas batidas na porta do quarto e eu vi que o Rodrigo dormia abraçado comigo em forma de conchinha. As batidas ficaram mais fortes até que ele se assustou e deu um pulo da cama e eu fingi que dormia. Ele:
— Oi mãe, aconteceu algo?
— Não, eu só vim te avisar que tô indo pro hospital pro Renato poder vim dormir.
— Ah, tudo bem.
— O Vinícius dormiu aqui?
— Foi, ele ficou me fazendo companhia e acabou dormindo.
— Que bom que vocês voltaram a se dar bem. Bom, meu filho, eu vou indo!
— Tudo bem, qualquer coisa me liga mãe!
Só o ouvi fechando a porta do quarto e logo depois ele deitou na cama e voltou a ficar na posição em que nós estávamos antes da mãe dele bater na porta. Nem preciso dizer que meu coração já batia forte, a respiração dele no meu pescoço me fez arrepiar. Na minha cabeça só passava o porquê de ele tá fazendo aquilo. Mas graças a Deus meu celular começou a tocar e com isso ele se afastou de mim. Tirei ele do bolso e era o Rafael:
— Bom dia, bora levantar.
— Oi, Fael!
— Já disse que adoro quando tu me chama assim, né?
— Já sim.
Ele riu do outro lado da linha.
— Bem, só liguei mesmo pra te acordar, tô indo trabalhar. A gente se vê hoje?
— Claro que sim, tchau!
— Tchau!
Desliguei e fiquei olhando pra tela.
— Bom dia!
Eu me virei e o Rodrigo me olhava com um sorriso.
— Bom dia, tá melhor?
— Aquela angústia pelo menos passou!
— Que bom Rodrigo, mas agora vou indo nessa! – me levantei da cama e ele levantou junto – Tu viu minha camisa?
— Juro que não fui eu que tirei ela! – ele riu e a gente começou a procurar.
Ela tava caída do lado da cama. Peguei e a vesti.
— Bem, vou indo nessa!
— Brigadão mesmo! — ele foi chegando até mim e me abraçou e assim nós ficamos um tempo.
— Qualquer coisa, tamo aí!
— Eu sei!
Fui pra casa tomei um banho e me deitei na cama. Mas logo levantei e fui malhar e lá encontrei o Guga.
— Fala, viado! – ele falou isso alto que metade das pessoas olhou.
— Fresco!
Ele me abraçou.
— Veio malhar a bunda, foi?
— Mas claro, tu pensa que é fácil manter ela assim?
— Vai te fuder!
— Tu tá sabendo do pai do Rodrigo, né?
— Não, o quê?
Contei tudo pra ele que disse que ia lá com o Rodrigo assim que ele saísse de lá.
À noite o Rafael foi lá em casa e o papai tava na sala.
— Isso tá melhor que namoro, toda noite vem bater o ponto Rafael? – ele disse fazendo graça da cara do Rafael.
— Porra tio, pensei que o Vinícius tivesse lhe falado. Eu pedi ele em namoro tem quase um mês — ele falou em tom de brincadeira, mas falando a verdade.
— Até que não seria mal tu como genro — disse o papai rindo.
— Rafael, bora lá pra cima logo!
No quarto ele me abraçou e cheirou meu pescoço me fazendo arrepiar.
— Tava com saudades de ti, Príncipe.
— Ah é? Então mostra o quanto tu tava com saudade!
Peguei ele, encostei na parede e mostrei o que é ter pegada! — tá, tô me gabando, mas tenho que fazer a minha propaganda, né?
— Que tu fiques com saudades de mim todo dia! — disse o Príncipe.
— Olha lá, hein!
Ele deitou na minha cama.
— Tá sabendo do pai do Rodrigo?
— Não. O que aconteceu?
— Ah cara, ele passou mal e foi levado às pressas pro hospital.
— Caralho! E quando foi isso?
— Parece que foi ontem!
— Será que eu vou lá?
— Vai sim.
— Porque sei lá, depois que a gente tá junto... Ah, mas isso não importa, vou lá sim.
A gente ficou conversando um pouco e se amassando e depois ele foi embora. No outro dia pela manhã eu tive que ir pra faculdade resolver um problema com um professor e encontrei o Rafael saindo pro trabalho todo no social.
— Tudo isso é pra trabalhar, é?
— É, hoje tô até simples!
— Hum...
Ele riu e perguntou pra onde eu ia e me ofereceu uma carona. E claro que aceitei.
— Fui ontem lá com o Rodrigo — disse ele.
— E como foi?
— Ele me falou que o pai dele tá consciente, mas vai ter que ficar por lá pra fazer mais alguns exames.
— Sei.
— Ele me falou também que tu passou a noite com ele.
Olhei pra ele assustado e ele me olhou sério, mas logo riu.
— Fiz isso de propósito mesmo, ele me falou que pediu pra ti ficar com ele que já que ele não tava legal e tudo mais.
— É isso mesmo!
Logo nós trocamos de assunto, ele me deixou em frente à faculdade.
— Tá entregue.
— Tchau, meu Príncipe!
— Tchau! – ele olhou pros lado e me deu um selinho.
Saí do carro e fui resolver o que eu tinha pra fazer. Na volta encontrei com o Renato.
— Ei Renato, como vão as coisas?
— A gente tá esperando os exames saírem.
— Se Deus quiser não vai ser nada!
— Tomara. Ah, o Rodrigo me falou!
— O que?
— Que vocês dormiram juntos!
— A gente não dormiu junto, eu só passei a noite lá com ele.
Ele riu.
- Eu sei, só falei isso pra te encher.
Nós ficamos mais um pouco conversando e depois eu entrei em casa.
Os dias passaram e o pai do Rodrigo continuava no hospital, mas tava bem melhor. O Rodrigo passou a me procurar com mais frequência, me ligava todo dia pra saber se eu não queria sair pra comer algo ou ir na casa dele pra jogar vídeo game e eu sempre inventava uma desculpa. O pai dele melhorou, mas ainda continuava no hospital, até que teve um dia, depois de mais uma desculpa que eu disse pra ele que eu não poderia ir, alguém bateu na porta do meu quarto. Me levantei, abri a porta e era ele!
— Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai à Maomé.
— O que tu faz aqui?
Ele entrou no meu quarto.
- Vim ver esse teus estudos — e riu.
- Rodrigo, não é isso.
Ele virou pra mim.
— Tu tem medo de fica perto de mim?
Sim, tenho, foi o que eu pensei.
— Não, por quê? — falei.
— Não é o que parece, aliás, parece que tu tá fugindo de mim.
— Não começa, Rodrigo!
— Hum, como eu vi que tu não tá estudando porra nenhuma, bora lá pra casa, vem! – sim, ele ordenou eu ir com ele.
— Depois dessa gentileza eu vou, né?
Ele riu pra mim.
Peguei uma camisa e nós fomos pra casa dele, lá acabamos jogando play e toda vez que ele ganhava ele me abraçava e me provocava dizendo que eu não sabia jogar. Pra quê? Um jogo normal acabou virando uma disputa!
A gente deu uma pausa e ele foi na cozinha dizendo que tinha sorvete e trouxe um pote. O jogo morreu e nós ficamos vendo um filme que terminou lá pelas oito da noite. Tenho que confessar que ficar do lado dele me lembrava o porquê de eu ficar mexido com ele ainda.
— Brigado pela força que tu tem me dado esses dias, mesmo tu não tendo obrigação, já que a gente não... — ele não terminou a frase.
— Que isso, Rodrigo? Amigo é pra isso, né?
— Bom saber que tu me considera um amigo.
— Mesmo com tudo que tenha acontecido entre a gente eu te considero como um amigo sim!
Ele olhou pra mim e passou o dedo no canto da minha boca.
- Tá sujo aqui.
Passei a língua no canto da boca e depois o dedo.
— Saiu?
Ele deu uma leve mordida de canto de boca.
— Saiu sim — e voltou a olhar para o filme.
Depois daquilo ele ficou estranho, não ria mais e só dizia sim, ham ou não quando eu perguntava algo. Lá pelas nove da noite meu celular tocou. Era o Rafael, atendi.
— Com quem gostaria de falar?
- Com o meu namorado, ele se encontra?
— Depende, me descreva ele!
— Cara, ele é demais, a melhor pessoa do mundo, possui um sorriso lindo que me derrete toda vez que ele sorri pra mim e fora que é muito gostoso.
— Olha que eu acredito, Rafael!
— Tá na tua casa?
— Não, mas eu já tô indo.
— Então tá, 10 minutos eu tô aí!
— Beleza, tchau!
— Até!
Desliguei e olhei pro Rodrigo que me olhava com um olhar, digamos que sereno.
— Já vai?
— Sim.
— Vai sair com o Príncipe?
— Não, não sei, mas ele vai lá em casa.
— Hum... Te levo lá embaixo.
— Precisa não, fica aí! – me levantei da cama e ele junto.
— Valeu mais um vez!
— Que isso, qualquer coisa tu sabe que eu tô aqui, né?
Ele chegou perto e me abraçou, o contato com o corpo dele ainda me causava algo que eu não queria sentir, amor.
Fui pra casa e logo o Rafael apareceu.
— Tudo bom?
— Tudo na paz.
Ele ficou me olhando com aqueles olhos lindos.
— Vem cá! — ele esticou a mão, eu peguei na mão dele e ele me abraçou e ficou assim comigo um tempo. Confesso que não entendi por que.
— O que foi que aconteceu?
— Nada, só quero ficar assim contigo — ele beijou minha testa e segurou meu rosto – Borá sair pra comer algo?
— Bora!
A gente desceu e o papai tava na sala.
— Pai, a gente vai sair.
— Vinícius, vem cá!
O Rafael disse que ia me esperar lá fora.
Eu fui até ele.
— O que foi, pai?
— Eu tava percebendo que tu nunca mais saiu, deixou de ir pra festa, não trouxe mais nenhuma garota aqui em casa com a desculpa que era uma amiga.
Sabia muito bem onde aquela conversa dele tava querendo chegar.
— Pai, não entendo, quando eu saía demais vocês reclamavam, agora que eu tô quieto o senhor tá reclamando? Não entendo.
— Não é isso. É que tu nunca mais namorou!
— Pai, só porque eu não tô namorando não significa que eu não tô pegando ninguém. E outra hora a gente fala disso, o Rafael tá me esperando.
— Claro, o Rafael não pode esperar!
Já tava ficando puto com aquilo.
— Sim pai, o Rafael, por quê?
— Tu não acha que tá saindo muito com o Rafael? Aliás, tu vive pro Rafael, pra onde tu vai é com ele, quando não sai ele vem aqui em casa. Vocês parecem... — ele parou, respirou fundo — Vai lá que ele tá te esperando.
Ele sentou no sofá e voltou a ver TV. Saí de casa e o Rafael me esperava no carro, eu entrei e ele me olhou.
— Que cara é essa?
— Nada não!
Ele desligou o carro
— Só vou ligar quando tu me falar o que aconteceu.
— O papai que ficou jogando umas indiretas pra cima de mim.
— Iiii... Foi sobre a gente?
— Também, mas olha, não quero falar sobre isso não, bora comer que é melhor!
Ele ligou o carro, mas o clima tinha esfriado. A gente fez o caminho todo em silêncio, ele parou numa churrascaria, nós sentamos numa mesa um de frente pro outro.
— Tu ficou triste? — disse ele quebrando o silêncio.
— Triste não, mas sei lá, tô preocupado. Ele já falou aquilo só porque eu tô saindo contigo como amigo, imagina quando souber que eu namoro contigo!
— Independente de qualquer coisa que acontecer eu sempre vou tá contigo, porque acima de tudo sou teu amigo e nunca vou deixar de ser!
Dei um sorriso pra ele. O jantar foi até legal. Quando a gente saiu de lá, isso já no carro, ele disse:
— Dorme comigo hoje?
— Durmo sim!
Nós fomos pra casa dele e ficamos no terraço conversando quando meu celular começou a tocar. Era o papai.
— Oi.
— Vem pra casa não?
— Vou dormir aqui no Rafael pai!
— Porra, tu não tem casa moleque? Tu já prestou atenção que quase todo dia tu dorme com ele? Vocês parecem até viados!
Sim, ele disse viado e como eu já disse, acho essa palavra nojenta. Nunca gostei e passei a odiar ainda mais quando comecei a me relacionar com homem.
Nós ficamos em silêncio, o viado que ele acabara de dizer ainda ecoava na minha cabeça.
— Vinícius, eu não queria...
— Tô indo pra casa pai!
Desliguei e olhei pro Rafael. Pensei em dizer o que o papai tinha me falado, mas pensei melhor e não contei.
— Papai tá com o culhão virado hoje e mandou eu ir pra casa! – me levantei – Vou indo nessa Rafael, tchau!
Ele segurou meu braço e me abraçou, o abraço dele sempre me fazia sentir seguro, e depois me beijou. Ele me deixou em frente da casa dele.
— Amanhã a gente se vê?
— Claro, a não ser que tu não queira!
Ele riu.
Eu fui andando em direção de casa, sabe quando tu sente algo te sufocando como se sentisse que vai acontecer algo? Era assim que eu me sentia.
Peguei meu celular e vi que era mais de onze horas, cheguei em frente de casa, fiquei um tempo parado, mas logo entrei. O papai ainda continuava no sofá, ele olhou pra mim e se levantou. Eu parei e fiquei olhando pra ele que se aproximava, até que ficou a poucos passos de mim.
— Eu nunca pensei que um dia eu fosse te fazer essa pergunta que eu vou fazer agora, Vinícius.
Ele parou como se tivesse criando coragem pra dizer.
— Tu virou viado, Vinícius?
Pensei em sair dali correndo ou até mesmo negar até a morte, mas olhei fixamente nós olhos dele.
— Não pai, eu não virei viado...
Ele respirou fundo.
— Eu virei gay, pai!
Bem, eu atualizei o conto com uma versão revisada que uma leitora do conto fez. Queria deixar aqui o meu muito obrigado a Josi, a pessoa que teve esse trabalho todo. Então vc que estiver lendo a partir de hoje, irá ler uma versão bonitinha, sem erros ortográficos e tudo mais rsrsrs. Aproveita e me segue lá no Wattpad / Tô escrevendo e postando uma história lá. Dá lá essa moral rsrs.
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