Nao haviam muitos detalhes ali. Se tinha algo nele na qual admirava era a objetividade. Desde pequeno dizia, batia o pé e cumpria. Algo que de fato, nunca consegui.
Nao respondi a sua mensagem. Minha mania de super-interpretação distorcia os fatos; além do mais, sua voz era grave e doce e as chances de ouvi-la nao eram remotas:
- voce nao me respondeu - dizia ele no telefone
- olá pra voce também, como vai ?
- nao tão bem, sinto falta de meu irmão.
Toda a dureza e repugnância que jurei ter ao atender aquela ligação se desfizeram. Esquecer ele nao era uma opção. Aonde eu estava com a cabeça !?
- voce - longa pausa - quer conversar ?
- podemos ? To com saudade cara...
- voce sabe o que eu sinto por ti, sabe que esse joguinhos de ...
- cala a boca seu merda ! Vem me ver agora, se nao colo aí !
- voce nao muda ... tá na sua vó ?
- To te esperando. Vem logo !
Odiava aquilo. Ele sempre gostou de desligar na minha cara. Dezenove anos e um jeito maroto tipico dos doze.
Mas nao eram necessárias informações. Ele nunca saía da casa de Tereza. Sua namorada, nem ela, permitiam a movimentação do belo jovem. O que era bom, já que desta forma, vê-lo era apenas um regalo aos privilegiados, que no caso, também era eu.
Beirando os quarenta minutos após a ligação, estacionei na sua casa. Já pude ver a cabeça dele se levantando para me vigiar no portão. Quando o vi se aproximado naquele jeans desbotado, e sua camiseta branca toda amarrotada com manchas vermelhas me lembrei que ele sempre, desde pequeno, nao tinha o habito de usar cuecas: seu pênis rolava para os lados conforme se aproximava.
- seu aniversario é daqui uns meses ainda, mas se quiser umas cuecas de presente, tenho umas velhas lá em casa ...
- o engraçado disso é que você estava olhando pro meu saco.
- aff, abre esse portão aqui !
Ele acatou minha indagação no mesmo instante. Com aquele sorrisinho na boca, de quem quer parecer formidável; principalmente quando fez sinal com as mãos me convidando a entrar, como quem diz "primeiro as damas".
- pensei que voce nao vinha - disse ele caminhando ao meu lado até a sala, com as mãos para trás.
- voce se enganou. Cadê sua vó ?
- foi na casa da Sandra...
- faz tempo que nao vejo ela. Tô com saudade dos bolinhos dela
- e eu ? Como fico ?
- ué cara ? Eu to aqui, nao to ?
- está .. Super frio comigo, mas está... Disse que tava com saudades de voce e tu nem disse nada; chegou aqui super grosso, nao me deu nem um abraço. Nao sei por que isso cara !
- nao se faz de desentendido. Voce sabe muito bem o porque disso ...
- nao sabia que só por tu ser gay nao pode abraçar seu melhor amigo - sentou-se ao sofá.
- desculpa cara, eu tô meio grilado com isso tudo ainda e...
- voce faz falta - disse ele me puxando a um abraço apertado.
Foi um abraço longo. Eu sentia sua respiração quente e ritmada em meu pescoço. Nossos corpos estavam perigosamente próximos. Ele apertava minhas costas com seus braços fortes, e eu debruçava meu queixo entre seu pescoço e ombros. Tentei retroceder, mas ele parecia apreciar demais aquele momento. Estava me sentindo desconfortável naquela situação já, quando seus dedos tocaram meus cabelos. Ele acariciou brevemente, em seguida deu uma pequena puxada. O soltei na hora...
- o que voce ta fazendo cara ?
- nada ... Quer beber alguma coisa ?
- longa pausa- ta, pode ser ...
Ele voltou com dois copos de suco nas mãos. O copo soava como ele. Era bizarro.
- posso ligar o ar ? ta muito quente cara
- a casa é sua ...
Ficamos no mais absoluto silencio desde então. Eu nao parava de refazer aquele momento em minha cabeça, e por melhor que tenha sido, eu nao conseguia sentir prazer naquilo. Ele era meu amigo. Eu nao podia misturar as coisas. Por mais estranho que tenha sido, nao devia imaginar nada. Ele namorava uma linda garota. Certamente nao era gay.
- terminei com a Laura ...
- serio cara ? E aí ?
- terminamos ué - disse enquanto sorria.
- voce esta usando aliança então por que ?
- ah, rá rá, esqueci de tirar !
- nossa, então é recente ...
- foi agora pouco... Liguei terminando.
- aff cara, por telefone ?
- a gente já estava mal, nao queria olhar pra ela, só brigas e mais brigas... E a gente nem transava também, muito frescurenta: nao faz isso, nao quer aquilo, nao chupa isso, nao engole aquilo... Essas coisas desgastam !
- acho que terminou mais pelo sexo.
- lógico. Nao sabe o quão constrangedor é pra mim ter que bater punheta quando tenho namorada...
- rá rá rá ...
- e voce, ta pegando uns carinhas aí ?
- nossa, que conversa desnecessária !
- o que tem demais nisso ? Tu nao gosta de homens ?
- eu nao gosto de homens cara, eu gostei de voce.. É diferente
- e tu nao gosta mais ?
- se for pra ficar falando sobre isso, prefiro ir embora.
Sem dizer nenhuma palavra, ele se levantou e se sentou no mesmo sofá em que eu estava. Levantou suas pernas como de costume pôs-se a me olhar.
Desta vez, embora sabendo que ele estaria me zoando, decidi nao fazer nada. Pus-me a olha-lo também, apenas por provocação.
- isso é bizarro - disse ele.
- o que ?
- o fato de termos feito um combinado de nunca esconder nada um para o outro e nao termos conseguido cumprir
- só se for de tua parte, por quer eu te contava absolutamente tudo.
- é... - disse ele enquanto se aproximava mais. Fechou seus olhos em seguida, de forma bastante 'forte' assim digamos, Serrou seus lábios um pouco mais adentro da boca, e me beijou a bochecha.
- o que voce ta fazendo ?
- porque voce complica tudo ? - disse ele, sem me olhar no rosto.
- olha aqui pra mim cara...
- eu to com vergonha de você.
- rá rá rá rá
Puxei seus cabelos como ele tinha feito comigo anteriormente. Eram macios e estavam úmidos. Olhei dentro de seus olhos, mas ele nao conseguiu fazer o mesmo.
- aquilo nao foi um beijo.
- hanÉ quecala a boca.
- vai ficar enrolando ? eu já teria te beijado se nao estivesse me segurando a cabeça.
- bobo.