O único contato que tivemos com o pai do Rodolfo foi durante o processo de adoção, na verdade foram alguns, nós graças a Deus nunca mais vimos aquele homem e nem queremos, o Rodolfo tem toda liberdade para falar com o pai dele, mas ele nem toca no assunto, então deixamos pra lá, como ele mesmo diz, ele já perdoou o que o pai fez, mas ele prefere o Pai Frederico, que nas palavras dele é o melhor pai do mundo. Nunca forçamos o Rodolfo a nossas opiniões pessoais, deixamos ele tomar as decisões dele, e por algum motivo divino nesse aspecto temos a mesma opinião sobre o pai dele... Antes de começarmos o processo de adoção o Fred teve a ideia de colocarmos a mãe do Rodolfo como nossa ajudante do lar, na casa nova a Delicia não poderia cuidar de tudo sozinha como era no apartamento, e ele tinha pensado nisso como uma medida definitiva para o Rodolfo ter mais contato com a mãe já que se gostam tanto.
Eu não me manifestei contrario, eu apoiei como sempre faço, o Frederico tem essa tendencia a resolver os problemas de terceiros e eu estou me empenhando pra ser assim, um dia eu chego lá, o processo de adoção acabou com o Frederico ele não admite mais a cada pedido que tínhamos negado, ele se deprimia mais e mais, e quando o Rodolfo estava perto ele tentava de todas as formas vender a imagem de família perfeita que tudo estava bem, e que acima de tudo no final daria certo, eu tentei o tempo todo me manter confiante, nós fomos obrigados a burlar o sistema de algumas formas para que o processo fluísse, e mesmo assim barreiras e mais barreiras eram impostas, e um esforço maior ainda era feito pra não tornar nada publico, o nosso processo foi julgado bem rápido, acho que pelo peso dos sobrenomes, e os promotores e juízes tinham prazer em nos dizer NEGADO.
Quando tivemos o primeiro pedido negado foi o que ele mais sentiu e eu me via incapaz de ajudar, sempre que eu perguntava o que poderia fazer ele desconversava e dizia que estava bravo por conta do abajur dele e osso de não sei quem, que eu quebrei... Não tive a menor culpa, estava quieto na minha dentro de casa fazendo embaixadinhas para o Rodolfo ver, estava até indo bem, mas a bola pegou efeito e foi direto no abajur, com tanto lugar pra acertar ela foi direto lá, foi bater e eu ouvir ele gritando lá de dentro...
– O Que foi que você quebrou agora MARCELO...
Acho bonitinho porque ele vem todo bravo com cara de mal, coloca a mão na cintura e fica me encarando esperando uma resposta, quando eu mostrei pra ele o que tinha quebrado, nossa eu pensei que fosse morrer, ele tinha sangue nos olhos, foi um trabalhão para ele mudar de ideia, e deixar de ficar irritado comigo, tive que prometer dar um lustre para casa nova, eu nem sabia quanto custava um lustre, mal sabia eu o tamanho do buraco que estava entrando, até hoje ele me enche o saco por causa daquele abajur, era só um vaso preto com uma lampada, mas ele fala que sou um insensível, que era uma peça única, feita a mão, tinha todo um artesanato e blá, blá, blá... Pra mim era um vaso preto com uma lampada...
Até parece que ele é santo, eu tenho certeza que ele não contou isso, mas sabiam que o Frederico foi preso no inicio desse ano? Pois é minha gente desacato a autoridade, e ameaça, não sei bem como tudo aconteceu, quando minha mãe me ligou ele já tinha sido preso e estava na delegacia esperando alguém para ajudar ele, pra resumir bem a historia, ele tinha ido levar minha mãe a uma consulta no oftalmologista, e parece que chegou uma senhora com o olho sangrando e tampado por um pano, o médico tinha se recusado a atende-la porque ela não tinha dinheiro para consulta e aquela era uma instituição particular, falou isso dando costas a senhoras e com sorriso no rosto, o Frederico abusado como sempre, puxou o médico pelo braço e disse uma serie de coisas e falou que ele atenderia ela sim, porque ele pagaria a consulta.
O médico mesmo assim disse que não iria, e minha mãe lá... Sem saber se corria ou se separava a briga em potencial, o Frederico e o médico nas altas, o Fred falou para um enfermeira entrar com a senhora e chamar outro médico, porque aquele não servia para cuidar nem dos cachorros dele, parece que o médico ficou nervoso e empurrou ele, como o Fred sempre é imprevisível, ia partir pra briga, os seguranças do hospital foram lá, chamaram a policia, e o Policial ficou do lado do médico dizendo que nada poderia ser feito, o hospital era particular e tinha normas, a única coisa que minha mãe lembra é do que o Frederico disse ao policial, ela disse que se fosse com ela daria um tiro na cara dela, apesar de ele ter dito uma verdade...
– Eu queria ver é se fosse a sua mãe nessa situação senhor policial, eu tenho certeza absoluta que ela é pobre, e você deveria se envergonhar pois é pago pelo povo para servir o povo, e esta ficando do lado do meio corporativo? Que especie de policial é você que vira as costas para seu povo e sua gente?
– O que o senhor quer dizer com minha gente?
– Pobre, Rico o senhor não é, muito menos instruído, agora já que não fez o seu trabalho pode ir embora, pois ela já esta sendo atendida por um profissional médico de verdade, ao contrario desse ai, por isso que prefiro a segurança particular se formos depender de policias como o senhor estaremos todos mortos.
Parece que o policial se sentiu ofendido, e disse a ele que não ouviria desaforo de um viado, minha mãe fala que o Fred já estava se sentando, ele levantou e foi novamente onde estava o policial, e recomeçou toda a briga, e no final disse ao policial que apesar de ele ser assumidamente gay era muito mais digno e respeitável que a maioria dos PM's que ficam em bate-papo para fazer catação gay, na luz do dia, todos são homens, mas na calada da noite, não existe mais masculinidade, quando ele fechou a boca o policial já algemou ele e levou embora, minha mãe disse que ficou desesperada, pois chegava a hora da consulta dela, e tinha o Frederico sendo preso, ela me ligou e eu quase não acreditei no que ela me contava, fui as pressas para delegacia, chego lá ele esta sentado em uma cela, de braços cruzados e todo irritado, cheguei junto com o advogado, mas logico que tirei uma foto dele preso, para guardar de recordação.
No dia do almoço na casa dos meus sogros onde nossas famílias se reuniriam pela primeira vez, eu acordei com o Fred me empurrando segundo ele eu não acordo quando ele chama, ai ele me derruba, enfim... Tomei um banho caprichado, me arrumei e nem tive tempo de comer nada, pois segundo o Rodolfo e o Fred nós já estávamos atrasados e de fato estávamos quando chegamos minha família já estava quase toda na casa do Frederico, e minha mãe veio nos interrogar na porta, saber da demora, entramos e quase fomos ignorados, todos queriam o Rodolfo e tinha uma disputa entre minha mãe e a do Fred para saber quem dava mais atenção ao Rodolfo até minha avó estava babando no meu menino, fomos entrando para cumprimentar, o povo a primeira vez que vi meu sogro ele foi um tanto quanto hostil pra dizer o minimo, mas dessa vez, foi de uma doçura sem tamanho, educado e cortês comigo e com toda minha família.
Cumprimentamos os anfitriões meu pai e o pai dele, e em seguida os dois também foram falar com o Rodolfo que já tinha sido abraçado e amassado de todas as formas foi um final de semana tranquilo e engraçado, tudo tinha voltado ao normal meu sogro e eu já conversávamos na boa sobre amenidades e tudo ai bem, felicidade essa foi aniquilada na segunda audiência de adoção a Juíza além de querer nos tirar a guarda do Rodolfo ainda queria nos impedir de ver a criança, segundo ela influenciávamos no caráter do menino, o Frederico tremia na cadeira e me olhava chorando tudo que eu queria era ir pra cima daquela mulher e socar a cara dela, mas não poderia fazer isso, até a mãe do Rodolfo saiu em nossa defesa, nosso advogado nos instruiu a não falar nada, que seria melhor daquela forma, a juíza estava colocando pré-conceito dela acima do cargo e do senso de justiça.
No dia da audiência assim que ela acabou eu voltei para o escritório para trabalhar tinha muito o que fazer, e sim o processo de adoção acabou comigo também fiquei desgastado, o medo de perder deixa a gente um pouco irracional, a noite quando já saia liguei para o Rodolfo e ele me disse que estava com o Frederico e que iriam jantar, perguntou se queria que levassem pra mim, eu falei então que iria me juntar a eles, o Fred sempre diz que quando se trata de adoção, não escolhemos a criança que vamos adotar, a criança é quem nos escolhe, e ele tem toda a razão do mundo, muitos dizem que adotamos muito rápido nem aproveitamos nossa vida como casal e já fizemos esse compromisso, eu sempre falo que a melhor coisa para nossa vida de casal foi o Rodolfo, aproveitamos muito mais com ele.
Me juntei a eles e fomos jantar, fiquei pensando comigo como uma juíza pode querer acabar com algo assim? Eu concordo que os processos de adoção tem que ser rígidos porque a muita gente vagabunda por ai, mas o conceito pessoal deve ser colocado de lado para não afetar no julgamento, depois de comermos fomos pra casa, o Rodolfo comigo no meu carro e o Fred sozinho no dele, em casa o Frederico foi colocar ele pra dormir, e eu fui tomar um banho quando nos deitamos ele apoiou a cabeça no meu peito e ficamos horas conversando, sobre o processo de adoção, e coisas da vida, até que tocamos no assunto aniversário do Rodolfo, os olhos dele começam a brilhar e ele ter um monte de ideias, quando ele deu aquele brilho minha cabeça coçou... Ou seja, ele iria querer gastar muito.
continua...