- Pai?!
A voz de Bianca era de susto e não de emoção.
- Minha menininha. - Abraçou forte Bianca. - Que saudades, meu bebê.
- Ah não, já me basta dona Elizabete me chamando de bebê, mas um eu não suportarei, vou precisar de análise. Eu tenho 20 anos, nossa custa para vocês entenderem que eu já sou adulta?!
- Calma filha, me desculpe. Quando eu fui para a guerra você era uma menininha linda, toda frágil e que sempre queria saber de tudo. Como o avião consegue voar, parar no céu, papai? Por quê Deus não tem telefone? Eu queria falar com ele, pai. Sinto tanto ter perdido seu crescimento. - Secou as lágrimas produzidas pelas lembranças da infância de Bianca.
- Onde você esteve esse tempo todo?
- Ah minha filha, eu queria poder esquecer tudo que eu vevi. Aliás, tudo que fui obrigado a fazer para me manter vivo naquele cativeiro.
- Acho que vamos precisar beber algo forte para esse tipo de conversa. - Ligou para a mesa da secretária. - Traga um garrafa de Wísky e gelo. Bebida da boa, não aquela que você traz para enganar certos fregueses. Ah, se tiver algum compromisso sério, marque outro dia depois do dia 10, tirarei uma semana de férias. Tira esse sorriso bobo do rosto, eu disse que eu vou estar em férias, você e os outros funcionários irão trabalhar normalmente. Traga logo essa bebida, a conversa será tensa. - Desligou.
- Por quê tirar férias?
- Não pense que é por você, nunca seria, para mim você estava morto há muito tempo.
- Isso magoa.
- O que me magoa é um pai de família largar sua esposa e filhos para ir para a guerra só para agradar seu velho pai moribundo.
- Mas respeito com seu avô, eu não permito que fale dele assim!
- Eu estou na minha empresa, falo como eu quiser sobre quem eu quiser. Você aparece depois de tanto tempo e ainda quer exigir alguma coisa de mim.
Batidas na porta.
- Pode entrar. - Respondeu Bianca. - Graças, eu preciso mesmo de um drink.
Bianca colocou Wísky em dois copos e uma pedra de gelo. *[quem já bebeu sabe o quanto essa bebida é forte, por isso o gelo]* Entregou um copo à seu pai, bebendo um gole abundante do líquido em seu copo.
- Arh... Bom! Desse que eu gosto.
- Costuma beber frequentemente, Bianca?
- Não sou uma alcóolatra. Bebo socialmente e em festas. Put'z, tenho bebido demais nessas festas, pobre fígado, haha.
- Não tem graça, sabia?!
- Por quê voltou?
- Consegui fugir do cativeiro. Entrei em um caminhao de óleo, fiquei imerso no líquido, respirando por um canudo de bambu.
- Tipo "Rambo", sei.
- Bianca sem ironias, por favor. Antes de ir para a guerra eu fiz essas tatuagens - mostrou o braço, eram duas crianças, o nome de Bianca no desenho da menina, um menino e o nome de Felipe - porque jamais queria esquecer pelo o que eu lutava. Por um mundo melhor para meus filhos. Quantas vezes quando eu já estava cansado das surras, humilhações, provocações e abusos sexual, eu olhei para essas tatuagens e manti firme. Sendo que o quê eu mais queria era que eles me matassem e acabassem logo com o sofrimento.
- Sinto muito, eu não podia imaginar...
- Claro que não meu bebê, sua estaca cuidando de você da melhor forma que pôde. Eu a agradeço muito por ter feito de você e Felipe pessoas honestas e trabalhadoras.
- Minha mãe e Felipe são tudo para mim. Agora também tem a Júlia.
- Júlia? Uma neta? Filha um sua?
- Não! Uma amiga por enquanto, mas quem sabe seja minha mulher um dia.
- Mulher?
- Sim querido papai, sou lésbica.
- Nossa!... Não sei o que dizer.
- Você não precisa dizer nada sobre isso, eu sou lésbica e acabou, eu não estou te perguntando se eu posso ser lésbica.
- Me respeite.
- Respeito é um sentimento que se conquista, Aleck.
- Estou aqui para isso. Voltei com minha nova família, uma esposa e uma filha. Veja a foto deles.
- Pai, eles são... Escuros... Entende?
- Racismo é crime no Brasil, Bianca. Você também não é tão branca o quanto pensa, minha filha. Sua mãe ainda não sabe desse fato, mas isso logo será esclarecido no jantar.
- Sinto muito perder esse momento marcante, em que suas duas mulheres estarão frente-à-frente te disputando como uma coca-cola de 2,5 L geladinha no deserto, mas eu tenho outro plano bem mais importante.
- O quê é mais importante que seu pai?
- Júlia. Ela está internada e precisa de mim para dar apoio.
- O quê houve com ela?
-Foi esfaqueada. Olha já está ficando tarde, ainda tenho muitas coisas para resolver aqui no escritório, então se você puder sair e me deixar trabalhar eu agradeço.
- Você é insensível como sua mãe.
- Não acho, nós somos práticas. Até um dia. Ah, divirta-se nesse jantar e tente não ser preso por Bigamia ou falsidade ideolóca Alessanderson Santos. Que nome mais ridículo! Kkkk.
Aleck saiu do escritório da filha decepcionado, mas não por não ter o carinho da filha, mas sim por ela não ser tão inocente e manipulável como ele esperava. Durante a guerra sua família nos Estados Unidos acumulou muitas dívidas, Aleck voltou para a casa do pai, descobrindo sua morte, uma dívida de 700 mil doláres com o governo na garantia dele pagar. Assumiu nova identidade *[ Alessanderson Santos]* se casando com uma africana dona de um lava-rápido. Teve uma filha com ela. Resolver contar sobre a família no Brasil quando descobriu que sua filha Bianca é uma empresária bem sucedida no ramo de construções e decorações de prédios no Brasil e no mundo.
- Bianca você é uma mina de ouro, mas como é chata, aff. Terei que te aguentar por um tempo até conseguir por as mãos em parte dessa sua grana, afinal foi seu avô que pagou seus estudos e manteve você, sua mãe e seu irmão, por anos. Parte disso é meu. Meu!
Aleck parou um táxi e voltou ao hotel com sua nova família.
.
Bianca foi para o hospital, o médico havia mudado, os enfermeiros também, por seu nome estar lá como acompannhante ela entrou sem problemas no quarto que Júlia estava. Uma mulher estava sentada próxima à Júlia, segurando a mão da enferma com muito carinho.
- Quêm é você? - Perguntou Bianca.
- Fernanda, mãe de Júlia.