Capitulo 23
Ainda tinha muita coisa que eu queria ter dito para Li, mas não disse, por que uma parte, patética, de mim não deixou eu colocar tudo para fora. Eu podia estar fervendo de raiva de Li, mas não tinha como esquecer que ele me ajudou quando eu mais precisava, não seria hipócrita a esse ponto. Estava com vontade de chorar, uma vontade que me assolava, cada soluço que eu escutava de Li, era mais uma espada cravada em mim. Continuei andando, sempre olhando para frente. Se eu desse pelo menos uma olhadela para trás, eu ia voltar correndo para Li, pegar ele nos braços e ninar ele até que ele estivesse mais calmo, limparia todas as lagrimas que eu fiz ele derramar, beijaria toda e qualquer parte de seu corpo com muito carinho e adoração e só depois iriamos para cama, aproveitar o prazer que os nossos corpos ofereciam um para o outro, no final ele faria uma piada qualquer sobre a minha tentativa louca de ser independente e eu iria rir.
Mas eu sabia que isso não iria acontecer, por que eu não iria voltar e Li não faria a maldita piada. Provavelmente a minha copia iria proporcionar a noite de amor que eu imaginei. Fechei as mãos em bolas apertadas quando esse pensamento repugnante invadiu a minha mente. Quem eu queria enganar? Nem eu estava acreditando que eu tinha superado Li, quando ele passou três semanas longe de mim era doloroso demais de suportar, agora essa dor estava quadriplicada, era pior sentir saudades de uma coisa que estava longe do que uma que estava perto.
Tão perto, mas ao mesmo tempo, tão longe.
Heitor andava do meu lado, calado, e eu estava mais do que agradecido pelo simples gesto dele de se manter calado. Já tinha lidado com Li, agora estava na hora de eu colocar os meus irmãos nos lugares deles. Coloquei eles em um pedestal de ouro e adorei-os como deuses por muito tempo. Tinha que fazer isso agora, se eu fosse para a casa de Heitor, eu iria perder toda a coragem. Eu ainda amava eles, ainda estava mantendo o meu juramento. Mas eu queria voltar para casa e não ia deixar eles passarem por cima de mim como eles fizeram por tanto tempo.
Como eu só tinha assistido os primeiros quarenta minutos de aula, eu sabia que eles não estariam em casa a essa hora, suspirei um pouco aliviado, afinal eu teria mais algumas horas para pensar no que disser para ele. Você estar se contradizendo, Christian, eu disse para mim mesmo, em uma hora você diz que quer fazer agora para não perder a coragem e depois só quer enfrentar seus irmãos depois de ter falas prontas, você é um babaca Christian. Até meu subconsciente concordava com os outros. Eu era um babacão, apenas com o exterior mudado, mas ainda assim, um babacão.
Heitor pegou minha mão quando eu passei direto pelo carro dele, deu um sorrisinho torto e ele correspondeu com um sorriso cheio de dentes. Gentilmente eu tirei minha mão da sua, aquele pensamento de que foi assim que as coisas entre mim e Li começou, não parava de entrar em minha mente. Gostava de Heitor e não queria acabar a nossa amizade. Eu entrei primeiro dentro do carro e logo em seguida Heitor se contorceu para colocar seu corpanzil dentro do carro. Ri quando ele bateu sua cabeça no teto do carro e se enrolou com o cinto.
- Você tem que comprar um carro maior, Heitor - Apesar do carro ser enorme para mim, era minúsculo e apertado para o meu amigo, Heitor se inclinou só alguns centímetros para frente e seu peito grande e musculoso apertou a buzina, eu ri novamente - Certamente um carro maior.
- Christy-Ann, você é mal - Ainda estava me acostumando a escutar o meu nome com aquele sotaque dele, e dei outra risada. Heitor era uma criança presa dentro daquele corpo enorme e cheio de músculos, ele ainda estava enrolado com o cinto, virou pra mim e disse - Pelo menos me ajude a morrer, Christy-Ann.
Eu apenas me inclinei e me ajoelhei no meu banco, apoiei meu peito magro no super desenvolvido dele e peguei o cinto, cingi ele com o material expansível preto e afivelei. Ele murmurou um obrigado e eu voltei para a minha cadeira. Era sempre assim, Heitor era muito grande para aquele carro. Ele girou a chave na ignição e o motor ganhou vida quase silenciosamente, tirou o carro do ponto morto e abaixou o freio de mão.
Liguei a radio e zapeei de estação para estação, não achando nem uma musica de que eu gostasse, fiquei petrificado no lugar. Que musica que eu gostava? Arquejei em pavor, eu não sabia de que musica os musicas gostava, por que eu já tinha abdicado esse prazer para os meus irmãos. Olha que ponto eu cheguei, um robô sem vontade própria e sem nenhuma musica preferida. Eu tinha varias musicas que gostava quando eu tinha meus amigos, minha vida girada ao redor da musica, agora ela não girava ao redor de nada.
Suspirei e me encostei no banco acolchoado, eu aqui pensando que tinha mudado, mas na realidade eu ainda continuava o mesmo Christian sem personalidade alguma, meus olhos voltaram a arder novamente. Isso era patético, estava tentando ser uma pessoa que eu nunca conseguiria ser. Meu destino se selou quando eu fiz aquele promessa no tumulo de meus pais. E novamente o titulo da musica que eu achei tola por tanto tempo se encaixou perfeitamente em mim.
Mestre da Tristeza.
Eu era o mestre, calejado e ferido com punhais e espadas de dor. Um garoto que nunca foi um garoto, não tive felicidade depois da morte, quando meus pais morreram eu também morri, uma grande de parte de mim morreu. A outra ficou a deriva, um parasita, e os hospedeiros mais próximos de mim naquele momento eram os meus irmãos, depositei minha esperança neles e ficava feliz quando eles estavam feliz. Basicamente eu era uma marionete que pensava que controlava os outros, quando na verdade meus membros estavam amarados a grandes cordas de tristeza e dor, sendo manipulado pelo o arrependimento e a culpa.
O mestre que se torna o aluno.
Passei anos de minha vida sobre os ensinamentos da culpa, ela que me levou a depositar a confiança nos outros. Suspirei, mas minha respiração saiu quase como um arquejo. Fechei os olhos e era quase possível ouvi os gritos outra vez, os pequenos cacos de vidro que cortaram minha pele quando o vidro se estilhaçou-se sobre a pressão, os meus pedidos de socorros desesperados. Prendi a respiração, se eu tomasse um pequeno folego sequer, era capaz de eu tomar a sentir o cheiro ferroso de meu sangue, o gosto de areia e óleo em minha boca. Levei as minhas mãos até os ouvidos, por que eu sabia o que ia acontecer agora. Meus pais gritando em agonia.
- Christy-Ann! - A voz preocupada de Heitor me tirou do meu devaneio doloroso, eu podia sentir as lagrimas descendo pelo meu rosto, e quase podia sentir também o cheiro de fumaça no ar, mas eu sabia que o cheiro era só uma lembrança macabra do passado. Notei que estávamos parados na parte mais afastada na via principal, perto de uma pracinha de bairro, solucei mais forte e Heitor tirou o meu cinto se segurança - Christy-Ann, o que você tem? Estar machucado? É remorso? Culpa por ter tratado aquele de olhos puxados? Fale comigo, Christy-Ann.
Não respondi nada, ainda estava muito assustado com o que tinha acontecido. Geralmente essa lembrança vinha sempre depois do pesadelo que eu tinha correndo na floresta, nunca aconteceu quando eu estava acordado. Isso era demais, muito para que eu assimilasse tudo. Como Heitor estava a pouco centímetros de mim, eu em um átimo de pensamento sóbrio me atirei pra cima dele, rodeando seu pescoço com as meus braços magros, afundei meu rosto na curva de seu pescoço, e chorei. Heitor me colocou em seu colo e depois me cingiu com seus poderosos braços, segundos depois ele começou a me ninar como uma criança assustada.
Só parei de chorar minutos depois, mais precisamente, trinta minutos depois. Estava com a cabeça apoiada no ombro largo de Heitor e olhava para a pequena pracinha, como estava no horário de aula, as únicas pessoas que estavam ali a essa hora eram crianças pequenas e suas famílias e pessoas velhas fazendo ginastica ao ar livre. As mãos de Heitor subiam e desciam pela minha costa, em movimentos calmantes, sua respiração também ajudava a relaxar. Estava quase dormindo no colo de Heitor quando eu vi uma coisa que me fez ficar desperto na hora.
Bicicletas.
Apesar de eu nunca ter aprendido a andar de bicicletas essas maquinas de metal sempre me chamavam a atenção, vi um adolescente que não deveria ser maior do que os meus irmãos empurrando duas bicicletas. O rosto do garoto era uma mascara de frustação e raiva, a boca dele abriu e eu segui com os olhos para quem ele estava falando, mais na frente do garoto das bicicletas estava uma garota, mancando. Sorri quando a compreensão me varreu, ele foi ensinar ela a andar de bicicleta, ela se machucou e agora não quer mais saber das maquinas de metal.
Cutuquei Heitor no ombro e cochichei a minha ideia pra ele, Heitor prontamente aceitou e eu sai do seu abraço e colo, abri a porta e sai andando na direção dos adolescentes, com Heitor logo atrás de mim.
- Mel! - Escutei a voz do garoto segundos antes de chegar perto dele - Foi só uma quedinha, vamos voltar a andar de bicicleta.
- Quedinha!? - A garota parou, seus olhos estavam faiscando de raiva - Eu quase quebrei o meu joelho e você fala que foi uma quedinha!
- Err, com licença - Eu interrompi antes que o garoto pudesse revidar, ele olhou para mim - Será que eu poderia te propor um negocio?
- Negocio? - Ele arqueou uma sobrancelha. A garota segundos depois estava do lado dele - Que tipo de negocio?
- A minha proposta é a seguinte - Falei - Eu quero alugar as bicicletas de vocês, usaremos ela por no máximo três horas e pagaremos cinquenta reais a hora.
- Nada feito - Disse o garoto, se virou e saiu andando.
- Cinquenta cada bicicleta - Heitor falou - Faça as contas garoto, com trezentos reais você e sua namorada podem fazer bastante coisas.
- Podem levar.
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Sentia o ar frio da manhã batendo em minha pele suada e vermelha pelo esforço, meus joelhos e mãos estavam uma calamidade. Depois de tantas tentativas de começar a me manter sobre a bicicleta e falhando miseravelmente eu consegui não só ficar na horizontal, como também já estava andando nela. Ria igual a uma criança, um adolescente e um jovem adulto cheio de problemas.
Heitor sempre do meu lado, me ajudando quando eu caia e me mantendo em pé quando eu buscava apoio. Ele até se jogou no chão comigo quando viu que não tinha como ele me segurar. Ele já tinha pago cento e cinquenta adiantado para os dois pombinhos. Era tão bom pedalar e pedalar, parecia que eu estava voando, de um modo figurativo é claro.
A sombra daquela lembrança que eu tive no carro ainda pairava sobre mim, quase como uma nuvem negra. Pedalava mais rápido cada vez que eu me permitia ficar fraco emocionalmente o bastante para me lembrar daquela noite maldita. Corria daquela lembrança igual gato que corre de agua.
- Mais devagar, Christy-Ann - Escutei a voz de Heitor misturada com o vento que passava rapidamente pelos meus ouvidos, desacelerei apenas um pouco - Você sabe que eu não posso ir mais rápido, eu juro que essa porcaria vai quebrar a qualquer instante.
- Larga de ser frouxo, Heitor - Gritei.
- Frouxo vai ser minha perna quando essa porcaria quebrar sob o meu peso - Ele reclamou.
Não respondi, estava curtindo aquele precioso tempo ao extremo. Mas sabia que iria ter que chegar ao fim, eu ainda tinha assuntos para resolver com os meus irmãos. Andei de bicicleta até avistar novamente os dois namorados acenando para nós de longe. Eu paguei o resto do aluguel das bicicletas, sobre protesto de Heitor. Estávamos suados, cansados e.... satisfeitos.
Entrei no carro e disse para Heitor o endereço da minha casa.
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Nina M, de que parte do Nordeste moça? É vc viu o centro histórico daqui, que ta uma merda (desculpa o palavreado). Então minha agente, conte-me tudo.
Vestibulandocorretor, li o seu comentário e entendi, Ok? então só vou perguntar uma coisinha, por que vc ainda ler o conto se acha tão (suas palavras) pastelão/copia de crepúsculo/confuso/clichê/sem criatividade? Faltou algo? Se esqueci de mencionar algo, desculpa, tá? É sempre bom receber uma critica, mas que essa seja construtiva, quanto mais você fala sobre como escrevo bem, mas fazendo questão de deixar claro que o enredo é uma porcaria eu me sinto super desmotivado. Não sou um escritor esperiente, apenas um garoto com imaginação fértil. Mas como toda opinião é opinião, a sua foi anotada.
E muito obrigado aos meus outros leitores, anônimos ou não.