Eu não sabia o que falar. Eu só me coloquei no lugar dele. Se eu perdesse a minha avó acho que não suportaria. Eu nunca senti isso, porque quando a minha avó por parte de pai morreu, eu era um bebê.
Então eu só fiquei ali, abraçado com ele e acariciando seus cabelos.
- Onde você vai? Digo quando ele levanta.
- Vou ir treinar.
- Você vai conseguir?
- Jogar futebol me faz esquecer.
- Vai! Eu vou tomar um banho e na hora do... Do velório você me busca? Eu vou com você.
- Não precisa. Você ta com pé machucado, eu não vou te levar pra um lugar desses.
- A gente ta junto. Na tristeza e na alegria.
- Ta bom, eu te busco. Mas agora me deixa ir, porque se eu não chutar alguma coisa agora eu explodo.
- Vou esperar.
Ele saiu e eu fiquei deitado pensando na dor dele.
Umas oito horas o Biel me liga.
- Como foi a aula ontem?
- Você não foi, não?
- Não, e pelo visto, nem você.
- Eu tava, com raiva do Wanderson.
- Espera! Tava? No passado?
- A gente voltou. Ontem.
- Até demorou muito.
- Claro que demorou, eu tava disposto a esquecê-lo.
- Eu acredito. Só não acredito que você ia conseguir.
- Como você me conhece tanto?
- Acho que quinze anos de convivência ajudam.
- Verdade. Mas por que você não foi pra escola ontem?
- Matei aula com o Carlos. Fomos pra casa dele.
- Ele já contou pra mãe dele sobre vocês?
- Não. Acho que ainda vai demorar um pouco.
- Eu acho que já demorou demais.
- Não é tão fácil pra ele, como foi pra a gente. A gente
- É. A gente teve muita sorte por ter pais tão compreensivos. E principalmente por não serem evangélicos.
- Com certeza. Ele disse rindo.
A gente conversou bastante até chegar no assunto do meu pé quebrado.
- E como foi que isso aconteceu?
- Bom, eu tava tomando banho e o Wanderson...
- A historia do chuveiro de novo?
- Sim.
- Vocês não aprendem, né?!
- É na empolgação.
A gente conversou por quarenta e sete minutos no total.
Eu levantei, ainda tava difícil andar, mas consegui ir até o banheiro da minha mãe pra tomar um banho.
Quando acabei o banho, voltei pro meu quarto, liguei a TV e pedi pra Deborah levar café pra mim.
- É moleque, você já era chato, agora então.
- Poxa, Deby, eu to dodói.
- Quando terminar me grita que eu venho buscar.
- Ta bom! Linda! Beijo!
Eu fiquei comendo e vendo um filme. Mais tarde, eram umas onze horas, a Carla me ligou.
- Bichaa, novidade: to namorando!
- Serio? Com quem?
- Adivinha!
- Tadeu? (Um garoto que ela tava ficando a um tempo atrás).
- Não...
- Então fala logo, porque eu não tenho paciência pra isso...
- Você não vai acreditar.
- Fala, vaca.
- O... Ela disse e parou.
- Fala logo, cadela.
- Ta, vou falar! É o Thalles.
- Aquele GOSTOSO?
- É... O MEU GOSTOSO!
- Ok! Mas desde quando?
- Eu nem pude te contar, você tava tão atordoado com o termino do seu namoro que preferi nem falar, mas tem um tempo já. Na verdade desde a sua festa.
- Acho lindo!
- No começo era só um rolo, mas ele é tão fofo, tão meigo que eu acabei me apaixonando.
- E tio Paulo? Como reagiu?
- Você conhece a peça, né?! Mas foi melhor que eu imaginava.
- Ele não ameaçou igual ele fez com os outros?
- Ameaçou! Ele disse que uma lagrima minha era um ano na cadeia (O pai dela é delegado).
- Nossa!
A gente ficou conversando até a Deborah levar meu almoço.
- Obrigado!
- Por nada e daqui a pouco eu venho buscar.
Quando eu acabei de acordar o Wanderson me ligou.
- Pode... Pode se aprontar que eu to indo te buscar. Ele diz com uma voz triste.
- Ta bom! Não fica triste, amor. Numa hora dessa ela ta muito melhor que a gente.
- Queria acreditar nisso.
- To te esperando. Beijo!
Eu tomei banho, me arrumei e fiquei esperando ele chegar. Umas 13hs ele chegou, me ajudou a descer e me colocou no carro onde estavam seus pais. Nós fomos em silencio por todo o caminho, apenas nos cumprimentamos e seguimos para o velório.
Chegamos ao velório e lá eu vi o Wanderson se desmanchar em lagrimas, assim como sua família.
Eu estava meio constrangido de não conseguir sentir aquela mesma dor, mas de ver todas aquelas pessoas chorando e pensar em como seria minha vida sem minha avó, também comecei a chorar.
- Vamos sair daqui, eu não aguento mais isso.
- Por que?
- Essa gente toda chorando, inclusive eu, acho que minha avó não queria isso.
- Concordo.
- Vamos pra sua casa? Posso ficar lá com você?
- Claro! Só não sei se vou saber te consolar.
- Seu beijo me consola. Só de você estar perto eu já me sinto muito melhor.
- Como você consegue ser tão fofo até em uma hora dessas.
- Você me faz ser assim.
Ele me levou pra casa no carro do pai e nós ficamos no meu quarto nos beijando a tarde inteira.
- Que horas são?
- Seis. Minha mãe deve estar chegando.
- Acho que não!
- Por que?
- Ela te ligou, enquanto você dormia, e disse que ia no casamento de alguém da família do Cássio.
- Que mãe desnaturada.
- Eu cuido de você.
- Você que ta precisando de cuidados.
- Eu já to melhor.
- Seu sorriso não me engana. Eu sei quando ele é verdadeiro.
- Vamos ver a novela?
- Vamos. Já ta na ultima semana.
A gente ficou conversando e vendo TV até ele ter um surto de fome.