Despertando o amor no brutamontes (07)

Olhei no relógio e vi que já eram 7 horas da noite. Estava assistindo TV com meu pai, ao ver as horas me fui ate a cozinha onde minha mãe e a empregada estavam nos afazeres do jantar.

Eu: -Mãe, não vai por o jantar não?

Ela: -Daqui a pouco.

Eu: -Então vou logo tomar banho porque tenho compromisso.

Me virei e sai da cozinha e fingi que não ouvi ela perguntar que compromisso. Tiago tinha uma certa rejeição de todos com quais eu conversava, queria evitar mais uma bateria de explicações para minha mãe. Sim, eu sábia que algo de verdade nisso tudo devia existir, porque não é normal tanta gente não gostar de uma única pessoa, mas o que eu tinha visto dele ate agora eu tinha gostado, ele se mostrou atencioso, educado, gentil, sei lá, não conseguia vê-lo da maneira que o narravam.

Tomei meu banho, troquei de roupa e já sai do quarto pronto para sair com Tiago quando ele chegasse. Já eram 7:40 e o jantar começava a ser posto na mesa.

Mãe: -Matheus, você vai pra onde?

Eu: -Tomar uma cerveja, não sei. Dar uma volta. Mas não vou sair da cidade não.

Mãe: -Vai só?

Eu: -Não

E em seguida me sentei na mesa. Ela veio e se sentou de frente a mim.

Mãe: -Você vai com quem?

Eu: -Mãe eu já não tô bem grandinho pra você ficar pegando no meu pé não?

Mãe: -Matheus, eu a gente tá longe a tanto tempo, eu sinto tanto a sua falta. Eu queria poder participar da sua vida pelo menos enquanto você tiver aqui. Eu não vou me importar se você me disser que vai sair pra namorar, serio mesmo.

Eu fui invadido por uma vergonha tremenda, ri sem graça e abaixei a cabeça: -Mãe, não vou sair para namorar, só vou dar uma volta com um amigo.

Mãe: E você não pode me dizer quem é esse amigo?

Eu já cansado da insistência dela: -Eu vou sair com o primo.

Mãe: -Você vai sair com Bruno e a noiva?

Eu: -Não, com o irmão dele.

Mãe: -Ai que ótimo! Eu adoro o Eduardo, dos filhos de seus tios ele é o que mais gosto. Sempre trabalhador, honesto, só não via você andando com ele, vocês são tão diferentes né?

Eu balancei a cabeça em sinal de negação e disse: -Não é com o Eduardo que vou sair.

Ela ficou olhando para mim e não entendeu ou fez que não entendeu: -Ficamos sem primos então... (foi quando a ficha caiu)... Você esta falando de Tiago?

Nesse momento meu pai entrava pela porta da cozinha.

Eu: -Tô sim.

Mãe com ar de espantada: -O que? Não você não vai!

Eu: -Sim, eu vou.

Pai: -O que foi?

Mãe: -Seu filho esta querendo ir para a rua com o Tiago, filho de sua irmã!

Pai se sentou do meu lado e olhou para mim: -Matheus, sai sim com ele, mas faz isso amanha pelo dia, vai num lugar publico. Não sai com ele a noite.

Eu: -Pai, desculpe, eu respeito vocês dois, mas eu hoje eu cuido do meu próprio nariz, eu sei que vocês tem suas razões para não gostar dele. Mas conversei com ele hoje de manhã e vi ele de um jeito diferente de vocês. Assim como foi com Bruno, lembra que vocês não gostavam dele? Viu como isso mudou? Da uma chance pro rapaz, deixa eu conversar com ele.

Mãe: -É diferente, o Bruno só tinha problema de brigar na rua e o caso mais grave foi a paixão dele pela esposa de doutor Everaldo, Tiago é ladrão. Ele rouba loja, ele...

Eu interrompendo ela: -E porque ele não esta preso?

Mãe já se alterando: -Porque os pais dos amigos dele que também estavam envolvidos deram um jeito, mas são tudo uns pitboys, filhinhos de papai, ele pode estar aprontando uma para você meu filho, eu já soube de um rapaz homossexual que ele cercaram e deram uma surra no rapaz sem motivo.

Eu: -Mãe, eu sou crescidinho, confia em mim. Eu quero ouvir o lado dele, quero ajudar o rapaz.

Pai: -Você não tem a obrigação de ajudar todos os seus primos.

Eu: -É não tenho mas quero tentar.

Mãe: -Você vai deixar a gente acordado, cheios de preocupação aqui?

Nesse momento a campainha tocou. Olhei o relógio e vi que já eram 8 horas.

Eu me levantando: -Não precisa disso. Podem confiar em mim e durmam tranqüilos. Vou abrir que é ele e já vou para rua.

Pai: -Você não vai nem comer?

Eu: -Como alguma coisa na rua.

Me despedi e fui ao portão, havia deixado o carro na rua. Abri o portão e lá estava ele. Lindo, camiseta preta lisa, calça Jeans, tênis, e quando me viu abrindo o portão abriu o sorrisão.

Tiago: -Boa noite primo!

Eu retribuindo o sorriso: - Boa noite! Tudo bom?

Tiago: -Agora tá tudo ótimo.

E na seqüência me deu aquele abraço.

Eu: -Se não se importa vamos sair logo daqui?

Ele me soltou e perguntou: -Porque?

Nesse momento meu pai abre o portão.

Pai: -Boa noite Tiago.

Tiago serio: - Boa noite tio.

Pai: -Aonde você vai levar meu filho?

Tiago: -Ele que esta me levando tio. Ele escolhe o nosso destino hoje.

Pai: -Quero meu filho de volta em casa como ele tá saindo.

Tiago: -Tio, comigo ninguém rela no teu filho. Te garanto ele em casa são e salvo. De repente ate antes da meia-noite pra evitar que ele vire abóbora.

Eu: -Eu volto na hora que eu tiver que voltar. Boa noite pai.

Abri o carro pelo acionamento remoto, abri a porta e entrei.

Tiago serio: Fica despreocupado tio, eu adoro seu filho, ele volta bem, palavra.

E entrou no carro em seguida. Quando já estava começando a sair de casa ele disse:

Tiago sorrindo marotamente: -Tenso hein?

Eu devolvi o sorriso: -Relaxa, com meus pais eu me entendo. Pior que não jantei.

Tiago: -Nem eu, me atrasei, sai tarde de casa, cabou que nem deu tempo de jantar.

Eu: -Onde a gente janta bem aqui na cidade agora hein?

Tiago: -Para uma pessoa da sua etiqueta acho que o único que serviria seria o restaurante do hotel.

Eu ri: -Na minha etiqueta? Fala serio né Tiago.

Ele riu também.

Fomos ao restaurante, sentamos na primeira mesa que vi. Na verdade só tínhamos nós dois no restaurante. Olhei o cardápio e perguntei para Tiago:

Eu: -Vai comer o que?

Tiago: -Nada não.

Eu abaixando o cardápio: -Ué!? Você não disse que não jantou?

Tiago: -É mas não tô com fome.

Eu: -O que? Você não tá com fome? Com esse porte físico que você tem? Isso é mentira, qual foi?

Tiago meio sem graça: -Não foi nada não primo, só não vou comer nada beleza?

Eu já começava a entender: -Tiago, eu que te convidei pra vim comer, você só tinha me chamado para dar uma volta. O jantar é por minha conta.

Tiago: -Não, não, coé? Não, isso não tem nada haver. É verdade não vou comer aqui porque não tenho grana pra esse lugar, mas saindo daqui a gente para ali na praça e traço um hot, fica sussa.

Eu chamei o garçom e fiz o pedido, um medalhão de frango e um file a parmegiana. Quando o garçom saiu Tiago perguntou: -Tas com fome hein?

Eu: -Não, nem tanta, o a parmegiana é pra você, pedi porque é um curinga, todo mundo gosta de a parmegiana.

Tiago: -Primo, ae é foda!

Eu: -Não tem nada de foda, come a porra da tua carne e não enche meu saco.

Tiago riu do que falei: -Não via o primo falando desse jeito.

Eu: -Você faz uma idéia muito errada de mim.

Tiago: -Ta parecendo.

Tivemos um papo super descontraído. Tiago se mostrou uma pessoa extremamente agradável. Inteligente e com modos bem diferentes de Bruno. Não era grosseiro ao segurar um garfo, nem jogava metade do arroz para fora do prato tentando cortar um pedaço de carne e engolia a comida antes de falar. Talvez reflexo dos amigos com quem ele andava, sim porque afinal eram de famílias com condições, diferente de Tiago. Ao final paguei a conta e seguimos para um barzinho, aliais o mesmo que soube do casamento de Bruno. Sentamos e começamos a tomar uma cerveja. O melhor foi que durante todo a noite não pensei em Bruno nenhum única vez.

Mas não demorou muito para que voltasse a me lembrar dele. Eu quase não estava bebendo, beber depois de comer nunca foi meu forte. Já Tiago bebia bastante. Havíamos pedido outra cerveja e quando percebi alguém ao lado da mesa. Eu estava rindo de uma bobagem que Tiago falou, pensei se tratar do garçom, mas ao virar para o lado vi se tratar de Bruno.

Bruno com uma cara de bicho a qual eu jamais havia visto no rosto dele antes e em tom serio e seco: -Boa noite.

Eu terminando meu riso: -Boa noite. Eita que a gente vive se encontrado nesse bar hein?

Bruno: -E sempre estamos com novidades né?

Tiago também ainda rindo se levantou e se virou em direção a Bruno: -Boa noite mano veio! Senta com nois!

E abraçou Bruno. Mas a reação dele foi descabida, ele empurrou Tiago para longe dele com tanta força que o cara caiu derrubando a cadeira e a garrafa que estava em cima da mesa.

Bruno gritando com raiva: -NÃO TOCA EM MIM FILHO DA PUTA!

Eu dei um salto da mesa: -Bruno você tá maluco?

E corri para ajudar a Tiago a se levantar. Enquanto Bruno olhava para gente com aquele olhar animalesco.

Eu: -Tiago tá tudo bem?

Tiago espantado: -Tô, tô, mano porque você fez isso, você poderia ter me machucado!

Bruno em tom agressivo: -Essa era a intenção seu otário!

Percebi que o bar todo tinha ficado tenso, ate porque estava meio vazio, notei que algumas pessoas começavam a deixar o bar.

Eu: -Bruno é assim que você me trata cara? Serio isso?

A cara de Bruno desamarrou e passou da raiva para o susto: -Mas eu não fiz nada com você!

Eu: -Você esta me fazendo passar o maior vexame só porque seu irmão foi bacana com você e te chamou para sentar com a gente.

Bruno totalmente assustado e sem graça: -Não Matheus, você entendeu tudo errado. Eu disse a ele para não chegar perto de você e ele chegou, olha ele ate ameaçou me aleijar hoje se eu encarasse ele, tá entendendo? Eu tô so te protegendo.

Eu em tom serio: -Se você quer realmente me proteger, quer realmente fazer algo por mim? Bruno você me ajuda me deixando em paz, lembra o que eu te disse na sua loja antes de sair? Então faça. Siga seu caminho e esqueça que eu existo.

Vi tristeza no rosto de Bruno, tanta tristeza que foi preciso eu me segurar para não voltar atras e pedir desculpas por tudo que disse.

Bruno muito triste: -Tudo bem, desculpa. Vou fazer o que você tá pedindo.

Se virou e começou a sair do bar, Tiago já estava em pé ao meu lado.

Tiago em tom preocupado: -Primo não posso deixar meu irmão sair desse jeito.

E começou a andar em direção a ele. Então eu segurei ele pelo braço.

Eu: -Não vai lá, deixa ele ir, ele vai achar que é provocação.

Tiago: -Pode ser, mas eu tenho que falar pra ele que não tô chateado com ele, depois de tudo que você disse ele tá sofrendo, acredite, do jeito dele eu sei que ele gosta de você. Não quero deixar ele assim. Fica ai, eu já volto.

E voltou a seguir em direção a Bruno que ja estava do lado de fora do bar procurando a chaves do carro nos bolsos. Cara atitude de Tiago naquele momento contou muito para mim. Eu vi que o cara era muito legal! Depois da vergonha que Bruno o fez passar ele ainda estava preocupado com o irmão! Se eu já estava gostando dele, ali então ele conquistou minha amizade por completo. Fiquei observando ele se aproximar de Bruno e ao mesmo tempo o dono do bar encostou ao meu lado e perguntou se estava tudo bem. Me virei a ele e já respondi que todas as mesas que foram desocupadas pelo ocorrido e o pessoal não pagou, que eu assumiria a conta. Ele se deu por satisfeito e saiu, quando voltei a olhar para frente a única coisa que vi foi Bruno panhar Tiago pela camisa e aplicar um soco que acertou em cheio a cara do irmão. Ele bateu com tanta força que Tiago foi atirado ao chão e sua camisa ficou na mão de Bruno, porque se rasgou com a força do corpo dele caindo.

Eu sai correndo em direção aos dois e chegando lá Bruno se preparava para pegar o irmão no chão, provavelmente para desferir outros socos.

Eu: -COVARDE!

Bruno olhou para mim novamente com a cara de assustado: -Não! não! Dessa vez não, deixa eu falar...

Eu: Cara como eu posso ter me enganado tanto com você? Eu cheguei a pensar que tinha pego pesado com você agora a pouco, meu Deus! Cara eu quero cada vez mais distancia de você!

Bruno: -Você vai preferir o cara que a mim primo?

Eu seco e com raiva: -A essa altura “primo” eu estou preferindo qualquer um a você. Você pode ter matado seu irmão! Ele é menor e mais fraco que você, você se aproveitou da sua vantagem física. Coisa de covarde, aliais coisa que você me disse que não fazia era covardia. Até mentiras né Bruno?

Dei as costas pra Bruno e me abaixei para ver Tiago.

Bruno não falou mas nada, quando me dei por mim ele já havia sumido. Tiago estava desacordado no chão. Eu só pensava que pela força do soco de Bruno, aliais força que eu já havia testemunhado os estragos que ela podia fazer, de maneira tão direta poderia ter ate fraturado o rosto do Tiago. Mas para meu alivio não. O sangue no rosto dele descia do nariz. Ele despertou meio tonto.

Tiago: Tu anotou a placa do trator que me atropelou?

Eu ri nervosamente da piadinha dele: -Cara não brinca, vamos pro hospital

Tiago: -Não, não tá tudo bem, me ajuda a levantar.

O cara tava avariado, trocando as pernas, sentei ele na mesa que estávamos e pedi uma água. Ele enfiou guarnapos nas narinas para estancar o sangue.

Tiago: -Perdi minha camisa novinha.

Eu: -Esquece a camisa, isso é besteira. (e abaixando o tom de voz continuei) Você fica muito melhor sem ela.

Ele riu um pouco e virou a garrafa de água na cabeça.

Tiago: -Estraguei nossa noite né?

Eu: -Não, essa noite foi muito boa. Eu precisava ver o que vi. E agora posso dizer que finalmente desencanei daquele brutamontes irracional. Ele sim tem que pedir desculpas. Você foi o cara essa noite.

Tiago: -Não fala assim, ele não faz as coisas por mal.

Ainda naquele estado, depois do que o irmão tinha acabado de fazer covardemente com ele, ele ainda defendia o irmão. Olha eu não estava apaixonado por Tiago e nem via isso acontecendo a curto prazo. Mas naquela noite ele ganhou minha admiração e meu respeito. Mas eu ainda precisava tratar de um assunto com ele.

Eu: -Tiago, o que me falam de você é verdade?

Ele me olhou com ar de seriedade: -Sim, tudo é verdade. Nem sei o que falaram mas provavelmente seja verdade mesmo.

Eu: -E porque você fez? Eu vejo você hoje e não consigo acreditar nas coisas que ouvi.

O garçom chegou com outra cerveja e encheu o copo de Tiago, esse por sua vez virou o conteúdo do copo de uma única vez.

Tiago: -Porque eu fui um mane, maria vai com as outras. Hoje me arrependo. Sim ainda ando com os mesmos caras, porque são meus amigos, mas aprendi ate onde posso ir com eles. Hoje eles tão em um esquema ai, tão indo atras de uma farinha. E eu não tô com eles. Tô aqui com você.

Eu inocentemente: - Farinha?

Tiago: -Sim, pó, cocaína, droga, sacou?

Eu: -Cara você se droga?

Tiago: -Não, mas já experimentei. Não é meu lance, mas é o deles. Quando eles vão para essas paradas agora, eu fico de fora. Antigamente eu não ficava, dai vinha as merdas. Mas amadureci e aprendi minha lição.

Conversamos longamente sobre isso. Seu nariz parou de sangrar e já eram duas da manhã quando deixei ele em frente a roça da família. O carro de Bruno estava estacionado. Dei mil recomendações para ele se manter longe de Bruno e o fiz prometer que me ligaria pela manhã ao acordar para me dar noticias.

Tiago: -Relaxa primo, a essa hora Brunão já tá dormindo. Também já deve estar mais calmo.

Eu: -Tem certeza? Eu não quero que ele volte a te bater.

Tiago rindo de canto de boca: -Fica frio. Se ele vier pra cima de mim eu corro!

Eu: -É serio Tiago, eu já presenciei o estrago que ele pode fazer quando fica assim descontrolado. Eu sou completamente contra a violência, mas entendo seu uso para se defender. Mas a violência desmedida e desnecessária eu não aturo.

Tiago: -Confia em mim, se ele vier atras de mim eu saio correndo, é sério, eu tenho medo de encarar aquele cara. Ele é forte demais, não dá pra mim não.

Após dito isso eu e Tiago ficamos alguns segundos calados, apenas nos entreolhando.

Tiago: -Primo, eu queria ver você amanha de novo.

Eu abri um sorriso: -Eu também gostaria muito.

Tiago retribuindo o sorriso: -Vamos no hotel pegar uma piscina?

Eu: -Tá combinado. Quando acordar te ligo e a gente acerta os detalhes.

Nos despedimos e segui para casa. Eu estava impressionado com Tiago e já começa a falar para mim mesmo: “Matheus, Matheus, não vai se apaixonar!”. Mas ia ser no hotel, no dia seguinte que eu não poderia evitar que esse sentimento surgisse.

CONTINUA...