Todos nós guardamos monstros dentro de si. Aprisionados por sete chaves. E escondidos por boas ações que nos transformam em anjos. Anjos nada altruístas. Pois quando algo obstrui a nossa felicidade, a ira valida qualquer justificativa de perversidade. E monstros saem de dentro de nós.
— Mãe? Mãe? Mãe, acorda mãe, por favor, acorda! Acorda! Você tem que acordar! Você tem que levantar, seguir, lutar, nos mantendo em família! Você me prometeu! Acorda, porra! Acooordaaaa! — berrou Paulo, se esvaindo descontroladamente em lágrimas.
Paulo começou a bater no peito da mãe e a sacudia violentamente. Ele chorava desesperadamente e copiosamente, enquanto Biel apenas observava emocionado.
— Desgraçado! Aquele desgraçado terminou de lhe tirar a vida, pois ele sempre impediu que você vivesse, fosse feliz! Justo agora que você estava feliz comigo! Justo agora! E justo agora eu vou matá-lo — Paulo olhou transtornado para Biel, que temeu — Apenas cuida do Wandinho...
— O que tu tas fa...
— Nunca me existiu família... Minha vida é uma farsa! Não há mais nada pra lutar! A não ser encontrar e nos enfrentarmos com a morte.
— Tu tens um filho!
— Exatamente. Apenas avisa ao Diogo pra cuidar do nosso menino!
Paulo levantou-se, cambaleando, e saiu desnorteado correndo pela mata.
— Paulo, esperas!
Biel saiu desesperadamente correndo atrás de Paulo. O catarinense corria determinado, sem sair de seu encalce, tentando alcançá-lo. Então Paulo parou. Biel o alcançou e quando ia falar algo, Paulo o surpreendeu lhe aplicando um forte soco na cara, e em baque, o catarinense acabou se desequilibrando e caindo. Paulo seguiu correndo pela mata e Biel percebeu que havia o perdido de vista, mas ainda sim se levantou e correu em sua procura.
Estirado no chão, de costas, nu e sem forças, estava Jeff. Em suas costas tinha uma poça rala de esperma diluído, enquanto em seu rosto esperma ia se secando. Ricardo, que estava nu e em pé, aproximou-se do garoto, o pegou pelos cabelos e o levantou. Lhe deu um molhado beijo, invadindo a boca de Jeff com sua língua áspera e quente enquanto salivava na boca do afeminado. Logo o policial se afastou sorrindo e respirando forte no rosto de Jeff.
— Gostou do trato né, viadinho?
Ricardo largou Jeff, que imediatamente caiu no chão e fechou os olhos. Ricardo virou-se para trás e viu Cláudio vindo se arrastando em sua direção e de Jeff, com dois saquinhos de maconha na mão. O policial riu alto e se afastou nu, enquanto Cláudio se aproximava tremendo de Jeff.
— Perdão... Perdão... Ele veio.. Não... Ele conseguiu... Ele te... Perdoa... Me perdoa... Eu não quis! Perdão... Eu não protegi... Jeff, Jeff! — balbuciava coisas sem sentido e desesperado.
Jeff manteve-se calado, deitado no chão e com os olhos fechados. Cláudio começou a bufar de raiva, se revirando e esmurrando o chão.
— Eu não... Consegui! Eu vou... Parar! Perdoa! Perdoa! Eu faço! Eu faço! Tudo que você... Perdoa! Quiser! Maldito, desgraçado! — gritou irado.
Cláudio deu um berro e levantou-se partindo pra cima e pulando em Ricardo, e por tudo ter acontecido em frações de segundo, Ricardo acabou caindo no chão com Cláudio por cima dele. Como já havia feito algumas lutas quando era playboy, Cláudio tentou socar o policial, mas suas mãos tremiam muito, e ele apenas imobilizou Ricardo, o agarrando com suas pernas e braços. Ricardo começou a golpear Cláudio, mas o “ex-playboy” mantinha-se firme. E aproveitando tudo isso, Jeff levantou-se assustado e correu até onde estavam as roupas de Ricardo, pegando de dentro do bolso da calça um celular.
O telefone tocara. Diogo estava no corredor do hospital, esperando o médico terminar de examinar Wandinho, e acompanhado de Lindsay e Mel (cap.9). A enfermeira que passava o advertiu, pedindo por silêncio e Diogo apenas se afastou das amigas, atendendo a ligação.
— Alô?
— Eu fui seqüestrado!
Diogo reconheceu aquela voz.
— Jeff?
— Por um policial. Ele se chama Ricardo Andrade. Eu não sei onde estou. Ele me trouxe numa viatura. O Cláudio ta comigo. A viatura tinha um GPS. Ele me seqüestrou lá na...
Quando Jeff ia dar mais informações, Ricardo deu um forte golpe em Cláudio, que não agüentou e largou o policial. Imediatamente, Jeff jogou com toda sua força o celular na parede, que na mesma hora se espatifou. Agachou-se no chão, e Ricardo vinha em sua direção, pegou a arma, levantou-se e apontou para o policial, que imediatamente parou.
— Larga essa arma, viado.
Jeff tremia. Ricardo raciocinava. E Cláudio começou a revirar os olhos.
— Você já atirou alguma vez na vida? É preciso segurar firme, pois o baque faz o chão tremer e o barulho é ensurdecedor...
— Pra tudo há uma primeira vez... — disse tremendo.
— Primeira vez é dar o cu! Atirar em alguém não tem essa de primeira vez, requer calma, sangue frio de ver a bala perfurando e ensangüentando...
— You right, baby. Eu jamais atiraria em você... Só em algo!
Ricardo olhou sem entender e Jeff mirou rapidamente a arma em direção à porta, fazendo dois disparos consecutivos, um que acertou destruindo a maçaneta e o outro amassando a fechadura.
— Porta resistente que abre pra dentro. Sem janelas, maçaneta ou fechaduras.
Jeff olhou para Cláudio, que ainda revirava os olhos, mas estava com um sorriso aliviado. De repente, Cláudio começou a respirar forte. Seu rosto ficou vermelho, em brasa, começou a suar forte e seu coração disparava. Ele começou a gritar, agonizando de dor, sentindo uma enorme dor no peito enquanto se sentia asfixiado. Jeff entrou em desespero. Queria ajudar o namorado, mas não sabia o que fazer e preocupava-se em também manter a arma apontada para Ricardo. Então Jeff apenas chorava. Cláudio, que ainda sentia asfixiado e com a sensação de morte se aproximando, começou a soltar baba. A baba escorria pelo canto da boca, e aos poucos, se misturava com vômito e sangue, que fez o rapaz se engasgar e por fim, perder a consciência.
Jeff largou a arma e caiu de joelhos, chorando e soluçando muito. Ricardo apenas observava Cláudio desacordado no chão, com um sorriso no rosto.
— Parece que pro seu namoradinho só restou a morte!
Jeff olhou extremamente irado pra Ricardo e respirou fundo, limpando as lágrimas.
— Pois é. E pra mim a humilhação. Pois eu quero que você me foda, meu macho! Atole toda sua pica no meu rabo porque esse será o seu único prazer nos seus últimos minutos de liberdade.
Jeff levantou-se, caminhando lentamente até Ricardo e batendo forte no peitoral petrificado daquele sádico, mas excitante policial.
— Me fode! Me fode, meu macho! Me arromba, me faz de vadia, me fode!
Jeff começou a bater em Ricardo, chorando, que o segurou, o dominou e o jogou contra parede. Ricardo agarrou Jeff furiosamente, beijando e chupando a língua do seu viadinho, e ficando com a pica dura pronta pra mais uma foda.
Entardecia. Aquela era uma casa grande. Antiga, perto de uma praia, construída provavelmente ilegalmente. Uma casa vazia, onde qualquer suspiro fazia um enorme eco. E o choro de Roberto ecoava por toda a casa.
— Desgraçado! Filho da puta! — ouviu-se o eco da voz de Paulo.
Roberto que estava com a cabeça baixa, com a arma embaixo do queixo, levantou lentamente a cabeça e logo viu Paulo surgindo em sua direção, com o rosto vermelho de raiva e as veias da testa e do pescoço afloradas. Descontrolado, Paulo partiu pra cima do pai, que foi rápido e logo se levantou, apontando a arma para o próprio filho. Paulo parou.
— Por quê? Porque você a matou? Porque você a destruiu, seu desgraçado?! Por quê? Responde seu maldito! Por quê? — berrou Paulo aos prantos.
Roberto começou a chorar, desesperadamente, mantendo a arma apontada para o filho. Então Roberto começou a lhe contar toda a história. Contou como conseguiu fugir da cadeia com a ajuda de polícias e mesmo sendo arriscado, ele foi até a casa do filho para seqüestrar Sônia. Chegando lá, Sônia que estava desabilitada, gritou por socorro e lutou contra ele, mas ele conseguiu dominá-la e a levou. Porém quando eles estavam na trilha, Sônia começou a sangrar. O sangue dela escorria pela nuca, nariz, boca, e ele, desesperado, tentou estocar o sangue, mas as mãos de Sônia já gelavam. Então, antes de morrer, Sônia o fez jurar e prometer que gravaria e daria o seguinte recado ao filho:
— Não se constrói ou mantém uma família sem amor. Pois não importa as escolhas já feitas ou casamentos sacramentados, o que vale é apenas o amor — repetiu Roberto, emocionado, as palavras da falecida esposa.
Paulo começou a chorar, entendendo o recado, acenando negativamente a cabeça.
— Porque pai? Porque você a destruiu enquanto ela estava viva? Porque destruiu nossa família? Impediu que fôssemos felizes com essa sua violência excessiva!
— Porque ela gostava! Ela gostava de uns bons tapas!
Paulo olhou incrédulo e partiu com toda raiva pra cima do pai, não pensando duas vezes. Roberto disparou a arma, porém Paulo avançou tão rapidamente, que o disparo não atingiu ninguém e a arma caiu no chão. Paulo empurrou o pai no chão e subiu em cima dele, lhe dando socos na cara.
— Não! Não, seu calhorda desgraçado, você gostava! Você que sempre gostou de abusar dos outros! — gritou interrompendo os socos — Ou você acha que eu me esqueci?
— Eu não sei do que...
— Sabe! Eu era apenas uma criança! E você, seu velho nojento, tentava me molestar! Abusar, subjugar. E mesmo eu sendo apenas uma criançinha indefesa eu lutei e te vencei como adulto! Porque você jamais conseguiu tocar em mim! Então tocava nela!
Roberto tentou se defender, mas Paulo lhe deu vários socos na cara e rosto de Roberto já começava a sangrar e as mãos de Paulo a se sujar.
— O seu prazer sempre foi violentar, não importando o sexo, a raça ou idade, não é mesmo? Sua alma é envenenada pela covardia! E é covardemente que você morrerá! Porque você não tem mais força que eu, e eu vou espremer a tua cara tirando todo o seu sangue podre e te recompensando com a morte!
Paulo deu um berro e começou a socar a cara do pai, que gritava agonizado de dor. Logo após Paulo levantou-se e começou a chutar o pai, e Biel que estava atrás dele o tempo todo sem ser notado, apenas ficou estático e chocado com tudo o que ouviu.
O sol já se escondia e estava preste a anoitecer. Os policiais já cercavam toda a casa. Diogo acompanhava tudo de perto ao lado dos policiais. Dentro da casa, Ricardo fudia Jeff no chão, que apenas gemia. E Cláudio estava morto.
— Aqui é a polícia! A casa ta cercada! Abra ou será pior! — gritou o policial-chefe com um megafone.
Imediatamente, Ricardo largou Jeff, levantou-se e vestiu-se enquanto Jeff fez o mesmo. Jeff tentou gritar, mas Ricardo o agarrou e tampou sua boca. Então de repente, a porta caiu, fazendo um enorme estrondo e Diogo apareceu.
— Solta o meu amigo... Agora!
Ricardo pegou a arma que estava em seu bolso e apontou na cabeça de Jeff, o fazendo de refém. Jeff entrou em desespero e Diogo manteve-se calmo. Vários policiais surgiram, invadindo a casa, apontando a arma para Ricardo. Ricardo se assustou, mas manteve a arma apontada para Jeff, porém quando Lúcia e Murilo, sua esposa e filho, entraram na casa, Ricardo soltou a arma, perplexo. Imediatamente, Jeff correu para os braços de Diogo, o abraçando emocionado, e Ricardo tentou ir até a mulher e o filho, porém eles acenaram negativamente e foram embora. Os policiais seguraram Ricardo para algemá-lo.
— Me soltem! Minha mulher, meu filho! Me larguem, qual foi?! A gente é truta, meu irmão! Policiais! Vão querer me prender só porque eu eliminei um drogado e fudi com uma bichinha? Vamos arquivar eles e ta tudo sussa, parceiro!
Os policiais se entreolharam ameaçando soltar Ricardo, deixando Diogo e Jeff temerosos. Mas logo o policial-chefe advertiu:
— Se fosse só por causa de uma bichinha, um drogado, eu aliviava pra tu. Mas não, parceiro! Você ajudou na fuga de um bandido que você mesmo prendeu! E isso vazou. Manchou nossa reputação!
— Eu vacilei... Mas era um trabalho fácil demais! Grana fácil, pouco batente, e eu e alguns trutas facilitamos a fuga daquele bandido de merda! — disse rindo e abaixando a cabeça — Quem diria que eu acabaria meus dias na prisão por ajudar bandido!
— Ou por estupro! — intrometeu-se Jeff — Afinal, você me estuprou logo após quando Cláudio teve uma overdose.
— Mentira! Seu viado, filho da puta, você pediu e gostou!
— Me estuprou! Tão violentamente... Me bateu, me deixou marcas. E isso acontecia desde quando o meu namorado Wander era vivo! — mentiu cinicamente se aproximando sorrindo de Ricardo — Já caiu a primeira pedra no seu telhado de vidro, as próximas que virão serão lançadas apenas por diversão. Boa cadeia, meu macho estuprador.
Ricardo tentou avançar em Jeff, mas os policiais o algemaram e o levaram arrastado para fora. O policial-chefe olhou para Cláudio, que estava deitado morto no chão e advertiu:
— Não toquem no corpo e espero você lá fora, pra colher seu depoimento.
Jeff apenas acenou positivamente e policial-chefe foi pra fora. Cansado, Jeff apenas se encostou na parede e sentou-se, abaixando a cabeça. Diogo sentou ao seu lado fazendo cafuné no amigo.
— Meu Deus! Olha onde a gente parou? Parece que a chegada do Biel, a gravidez da Suzana, morte do Wander, tudo isso fez a gente perder a nossa identidade. — observou Diogo.
— É... Saudades daqueles papos fúteis de como pegar um hetero. — disse rindo.
— Ou qual cantora pop mais diva do momento. — complementou também rindo.
— Rihanna, né meu bem? Forever!
— Forever com sua peruca a mostra, isso sim!
Jeff e Diogo caíram na risada e se abraçaram, encostando a cabeça uma na outra.
— Deus queira que nada aconteça ao Paulo. Nem ao Biel. Eles foram atrás do Roberto e ainda não há notícias deles.
— Oh my! — exclamou se afastando — Eu acho que sei onde o Roberto está! Eu ouvi o Ricardo falando... Whatever! Ilha Monstro. Se o Biel e o Paulo acharam o Roberto, eles estão lá!
— Não é tão longe daqui. Eu to de carro, se bem que tem trilha e tem você que...
— Vá! Apenas vá, baby! E traga logo de volta os seus dois amores!
Diogo sorriu amigavelmente e deu um carinhoso selinho em Jeff, se levantando e indo embora. Porém Jeff o impediu.
— Diogo!
Diogo virou-se para Jeff e esperou o amigo falar.
— Apenas escolha.
Diogo entendeu a mensagem e acenou positivamente a cabeça.
— Pode deixar, amigo. Eu já escolhi.
Diogo sorriu e foi embora. Jeff apenas levantou-se, foi até o corpo de Cláudio e olhou acenando negativamente e entristecido.
Anoiteceu. Paulo ainda surrava Roberto, que já estava com o rosto todo desfigurado. A blusa e as mãos de Paulo estavam cobertas de sangue, e Biel apenas observava tudo quieto, pois entendia que Roberto merecia aquilo. E a verdade era que todos ali estavam transtornados, afinal já estavam a mais de 30 horas sem dormir. Então, exausto de tanto ver sangue, Biel avançou em Paulo, tentando segurar suas mãos, mas acabou sendo lançado no chão e Paulo largou Roberto e subiu em cima de Biel para espancá-lo.
— Paulo! Paulo, sou eu! — alertou Biel desesperado.
As mãos de Paulo pararam trêmulas no ar. Paulo percebeu que se tratava de Biel, e se assustou, respirando e levantando-se, sem muito entender. Biel se levantou e percebeu o quão atordoado o rival estava.
— Tu quase tentaste me... Presta atenção! Você precisa descansar. Eu entendo que teu pai é um monstro, mas tu não precisas ser assim. Tu tens uma vida toda pela frente, guri...
— Eu preciso matar ele... Eu preciso... — murmurava desorientado.
— Paulo, me escuta!
— A minha vida acabou! — berrou desesperado — A minha mulher morreu, meu filho morreu, minha mãe morreu, todos morreram!
— Não! O Diogo vive! E ele vai resgatar o teu piá!
— O Diogo morreu! — gritou caindo aos prantos — Eu morri...
Paulo chorava como uma criança, todo ensangüentado. E naquela triste situação, os dois rivais esqueceram de suas diferenças e simplesmente se abraçaram, emocionados. Roberto caiu na gargalhada.
— Argh! Que boiolice.
Paulo largou Biel e tentou avançar em Roberto, mas Biel o segurou.
— Mas você ta certo, meu filho. Cof, cof. Todos morreram. E quem ainda não morreu, morrerá se permanecer aqui — Biel e Paulo olharam sem entender — Eu sempre fui um bandido versátil. Estupro, trafico, mato, crio bombas. Porque você acha que não atirei em mim antes de você chegar? Pois eu sabia bem que você me encontraria e vingaria a morte da tua mãe, isso se você tiver honra. Então preparei uma morte em família. E pra escapar desta morte, você terá que ser homem e me matar em alguns minutos. E seus socos são muitos frágeis pra isso.
Roberto riu e tirou do bolso um relógio, o jogando no chão. Biel se agachou, o pegou e desesperou-se ao ver que o cronômetro regressivo marcava 2 min e 05 seg.
— Desgraçado... — murmurou Paulo enfurecido.
— Paulo! Paulo, vamos sair daqui!
— Eu vou te matar!
— Paulo! — gritou Biel tão apavoradamente conseguindo a atenção do rival — O Diogo te ama! Tas me ouvindo? Ele te ama! A viagem, tudo, eu só propus porque eu conheço o meu guri e eu sei que ele te ama! É a ti que ele quer e ama!
Os olhos irados de Paulo encheram-se d’água, e aos poucos foram se enternecendo. Mas antes que isso acontecesse, Roberto trouxe de volta a ira.
— Me diz Sonia, como você criou um filho tão viado? Mulher besta! Porque nem pra honrar a sua morte, sua vadia, ele consegue.
Paulo deu um grito, descontrolado, e partiu pra cima de Roberto, começando a chutá-lo, e depois se agachando e espancando enfurecidamente o pai, sem parar. Biel tentou impedi-lo, mas o relógio já marcava 1 min e 15 seg., então sem nem pensar, o catarinense saiu desesperadamente correndo para fora da casa.
Quando aprisionamos monstros tão violentos dentro de si, nossos anjos padecem e permitem a liberdade de tais monstros. Para que assim possamos fazer escolhas. Perversidade ou complacência. Vingança ou perdão. E nossas escolhas nos responsabilizam pela falta de controle e caos que provoca a morte.
Biel saiu da casa, começando a correr desesperadamente pela areia rumo a praia, sempre olhando para trás para ver se Paulo vinha. De repente, ele avistou Diogo correndo em sua direção. O catarinense correu até o cafuzo, e quando chegou nele, logo o pegou pelo braço, tentando afastá-lo do local.
— Biel? Biel você ta bem? Cadê o Paulo? Onde ele está?
— Vem comigo... — disse tentando carregar Diogo.
Diogo se soltou dos braços de Biel.
— Não! Eu quero saber onde está o Paulo, cadê....
— Vem que... — disse novamente pegando Diogo pelos braços.
— Me larga! Cadê o Paulo?
— Ele ta la dentro, mas te afasta, vêm, te afasta!
— Eu vou lá, eu...
— Não, tu não vais...
— Porque? Cadê o Paulo? — gritou chorando.
— Vai explodir! — gritou desesperado.
Diogo não manteve-se calmo. Olhou incrédulo para Biel e olhou para a casa. Imediatamente, soltou-se dos braços do catarinense e correu em direção da casa, mas Biel foi atrás de Diogo, o alcançando, pulando em cima do cafuzo, e o jogando no chão. Diogo se debatia, tentando se soltar, mas Biel o agarrava firme, impedindo dele se soltar.
— Te acalma, guri... Te acalma.
— Não! Não! Me larga, Biel, me larga! Pauloooo! Sai daí! Me solta! Paulo! Foge, foge! Paulooooooooooooooo — gritou Diogo em extremo desespero.
Um eco de explosão. Impacto de coisas voando no ar. E fogo se alastrando. Tudo isso, junto, em frações de segundos, deixou aquela antiga casa em destroços.