“O que aconteceu? Onde eu estou? Quem é você?”
levou ao chão. Morri na explosão do carro.
Não tive tempo para reflexão, pois o riso de algumas crianças chamou minha atenção. Eram dois meninos e uma menina. Eles corriam pela praia, riam e gritavam, até que um dos garotos caiu no chão. Os outros dois voltaram e o ajudaram.
Só que havia um problema. Aquelas crianças eram nós, no caso, os meus irmãos e eu. Como isso é possível?
— Eu lembro disso — Paulo falou me assustando.
— Paulo...
— Você lembra? — ele questionou, sem tirar os olhos das crianças, que voltaram a correr pela praia.
O meu irmão estava diferente. Usava um moletom branco e uma bermuda da mesma cor. Ele transmitia uma paz que aqueceu o meu coração.
— Também lembro. — afirmei. — Foi no mesmo dia que você levou uma surra por causa daqueles brutamontes. Eles pegaram o pirulito da Priscila e me chamaram de gay. — às lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.
— A vida era tão simples nessa época. — comentou Paulo, respirando fundo. — Nós sempre juntos, sem ninguém para atrapalhar. — encostando a mão no meu ombro.
— Estamos mortos? — perguntei.
— Mortos? — indagou Paulo, não segurando a risada. — Você é louco maninho? Eu lá deixaria você morrer. — me abraçando.
— A explosão. O acidente de carro. O que está acontecendo? — quis saber, ainda chorando com a possibilidade de estar morto.
— Pedro. — Paulo ficou com uma expressão séria e me empurrou. — Acorda! — ele gritou me empurrando de novo, então, caí no chão. — Acorda, Pedro. — ficando em cima de mim e batendo no meu peito. — Acorda!
Senti uma energia diferente dentro de mim. Não conseguia respirar. Abri os olhos e encontrei o Maurício. Ele estava chorando, ofegante e com as pás do desfibrilador nas mãos. Ele largou o objeto e me beijou. Levantei e tirei alguns eletrodos grudados no meu peito. O questionei sobre o estado de Paulo.
O Maurício não conseguia falar. Ele só chorava. Um dos enfermeiros me informou que eles perderam a minha pulsação, ou seja, fui considerado morto por alguns minutos. Segurei no rosto do Maurício e, mais uma vez, perguntei sobre o Paulo.
— Você acabou de morrer. — explicou Maurício. — Eu te vi morto, naquela cama por dois minutos. — ele precisou me segurar, pois eu estava muito fraco.
— Não me interessa. — me soltei dele. — Onde está o meu irmão? — perguntei, caindo no chão.
— Olha para mim. Você precisa ser forte agora. — Maurício se aproximou e me escorou na cama. — Seu irmão não tem muito tempo, os médicos tentaram tudo para salvar ele, mas não conseguiram.
— Maurício, eu quero ver o Paulo. Me leva, ou vou rastejando por todo esse hospital, de sala em sala. — exigi, segurando às lágrimas e suportando a fraqueza.
Eu estava decidido e o Maurício percebeu que não adiantava argumentar. Ele pegou uma cadeira de rodas e me levou até uma sala privativa. Quando chegamos, a minha família já estava lá. Nos abraçamos e choramos juntos.
— Mãe, cadê o Paulo? — perguntei, chorando.
— Pedro, meu filho. — ela limpou minhas lágrimas. — Ele não tem muito tempo, mas, por favor, não vá desesperar o seu irmão. Precisa ser forte. Tá ouvindo a mamãe?
— Sim. — limpei o meu rosto com as mangas do moletom que colocaram em mim.
Com todo o cuidado, o Maurício me levou até o quarto do Paulo. Ele posicionou a cadeira de rodas do lado direito da cama. A respiração do meu irmão estava ofegante e a máquina no quarto fazia um barulho estranho.
Delicadamente, peguei na mão de Paulo e apertei com medo de machucá-lo. Ele esboçou uma reação e abriu os olhos. O meu irmão estava pálido, nem parecia o cara que atazanava a minha vida. O herói que sempre me protegeu e lutou por mim.
— Você está horrível. — Paulo comentou com uma voz fraca e ofegante.
— Já se olhou no espelho? — o provoquei, fazendo um esforço tremendo para não chorar.
Quando se tratava de doença, o Paulo era um bebê chorão, mas aquela situação o deixou mais centrado. Ou será que era a morfina? Na verdade, eu não queria saber. Eu só queria o meu irmão comigo.
Reuni todas as forças e deitei na cama, ao lado do Paulo, então, repousei a minha cabeça em seu ombro. Às lágrimas foram inevitáveis. Eu chorei. Eu era um bebê chorão. Eu merecia estar naquela cama. Eu. E não o Paulo.
— Eu tive um sonho. — falei, fanho, porque o meu nariz estava congestionado. — Estávamos na mesma praia que íamos quando éramos crianças.
— Foi a melhor época, né? Ei, tudo vai ficar bem.
— Eu te amo. Amo tanto que dói no meu peito. Eu não consigo viver sem você. Eu não sei...
— Que coisa mais gay. — ele tentou rir sem sucesso. — Ai, caramba, então é isso. Lutamos, vivemos e morremos.
Eu não conseguia consolá-lo. O silêncio criou uma pressão. O maldito silêncio me pegou. Eu só chorava. Fiz a única coisa que a mamãe pediu para não fazer. A pressão cardíaca do meu irmão ficou acelerada, porque a máquina apitou com mais frequência.
— Pedro, não quero morrer. — Paulo começou a chorar, também. — Sinto que está chegando a hora.
— Eu vou chamar um médico. Alguém. — levantei, já esgotado pelo acidente e "ressurreição".
— Não, espera. Chama a Priscila. Eu preciso falar com vocês. — pediu.
O Paulo vai morrer. Ele não vai mais estar entre nós. Como isso é possível? Que brincadeira de mal gosto. Evitei usar a cadeira de rodas e andei até a recepção. Queria reunir toda a família, mas os meus pais se negaram. Maurício e Luciana os levaram para outro lugar do hospital.
Levei a Priscila para o quarto. A minha irmã estava um trapo emocional, talvez, pior do que eu. A ajudei a deitar na cama e andei até o outro lado. Ficamos os três deitados e abraçados.
— Vocês foram os melhores irmãos que eu poderia ganhar. — revelou Paulo nos fazendo chorar como crianças. — Eu amo muito vocês. E quero que vocês lembrem que aquela promessa está de pé. Aonde quer que eu for, eu estarei protegendo vocês dois.
— Eu sei, meu irmão. — disse Priscila, beijando as mãos de Paulo.
— Agora, eu quero que vocês prometam que vão cuidar uns dos outros. Da nossa mãe, do nosso velho e da Luciana. Principalmente, você, Pedro, que é o segundo homem da casa. — orientou Paulo, falando com dificuldade.
Eu dei um beijo na testa do meu irmão e a Priscila fazia carinho nele. Paulo começou a chorar, falar frases desconexas. Me senti um impotente. Não havia nada a ser feito. Ele estava deslizando das nossas mãos. Das nossas vidas.
— Por favor, digam para as pessoas que eu morri com coragem. — implorou Paulo, chorando. — Que eu fui homem até o último instante e...
Paulo começou a convulsionar. Eu me afastei. A Priscila tomou conta da situação, ao segurar a cabeça dele que estava batendo, violentamente, contra a cama. A minha irmã sempre foi a mais corajosa, mesmo neste momento tão desesperador.
— Você é! — gritou Priscila, beijando a testa de Paulo. — Você é o homem da minha vida — repetia a minha irmã no ouvido de Paulo.
— Dorme, mano. — pedi aos prantos. — Essa dor vai passar. Essa dor vai passar.
Dei vários beijos no rosto do meu irmão. Ele deu um suspiro fundo e forte. As máquinas começaram a apitar e os médicos entraram. Um deles olhou para nós e baixou a cabeça.
A Priscila se segurou em mim e caímos no chão chorando. A médica decretou a hora da morte e nos consolou. Então era isso. Não tínhamos, mas nosso irmão perto de nós. Apenas a Priscila e eu?
"Não... não. Paulinho não dorme mano. Eu preciso de você pelo Amor de Deus. Maurício faz alguma coisa... acorda o meu irmão. Paulo!!! Paulo!!!!"
Comecei a escrever esse conto com um nó no coração, sabia que esse momento iria chegar. Por isso quis postar apenas essa parte. Chorei muito. E espero que vocês entendam que a morte faz parte da vida. Lutei muito para entender isso. Mas o futuro trouxe para a família de Pedro surpresas maravilhosas.
Este conto não acho que não servem para aqueles curtem algo sexual. É um romance, uma história de amor e aprendizado com pitadas de romance gay. É bom relaxarmos e curtimos uma leitura leve. Para entender melhor a história basta clicar no meu nick que está acima e poderá conferir as primeiras partes. Por favor, comentem lá em baixo e dê sua nota aqui em cima. A participação de vocês é essêncial para mim.