Enganada (2ª parte)

Um conto erótico de SelvaAlves
Categoria: Heterossexual
Contém 5000 palavras
Data: 10/08/2007 06:15:46

Enganada (2ª parte)

Sim, ele merecia todo o seu respeito. Dar-lhe-ia carinho e muito amor; estava a chegar o dia de abraçá-lo. Nessa mesma tarde demonstrou o arrependimento do seu devaneio, quando não respondeu ostensivamente, à saudação respeitosa de José Ferreira. Quis fazer-lhe ver que era uma senhora casada e impoluta na sua honra.

Quando o grande paquete entrou na baía de Luanda, logo foi rodeado por pequenas embarcações e até simples pirogas de onde agitavam braços em calorosas saudações de boas vindas. Só ao fim de duas horas, os trabalhos de amarração e descarga de bagagens foi dado por concluído e o portaló de desembarque foi arreado. Um militar, bem lustroso nos seus metais e polidas as botas, perfilou-se perante Mariana e exclamou:

--Minha Senhora, sou o impedido de Sua Ex.ª o Sr. Comandante e tenho ordens para transportar Vossa Senhoria ao hotel, onde tem reserva marcada. Abriu a porta traseira do Mercedes negro, do comando de Angola, e convidou Mariana a entrar.

O hotel ficava no centro da cidade e logo que se apresentou na recepção, 3 negras ainda jovens e bonitas, se prontificaram a transportar-lhe a bagagem.

Só ao anoitecer é que seu marido foi anunciado. Era um cavalheiro alto, que envergava a farda branca colonial e os brilhantes galões do seu posto nas mangas. Bateu à porta do quarto e quando Mariana abriu, ele se apresentou:

--Sou António de Macedo, acho que sou seu marido declarado por certidão civil e religiosa. Ela olhou estupefacta para ele, não queria acreditar no que estava a passar-se. Não, não podia ser verdade, aquele homem já na casa dos 50 não podia ser o seu marido: o homem que ela tinha gravado no esmalte pendurado em seu peito. Como ela não dava passagem, o major imponente na sua autoridade, afastou-a por um braço, fechou a porta nas suas costas e comentou desdenhoso:

--Mas então, porquê essa cara de espanto? É preciso que me identifique outra vez? Sou o comandante Macedo e possuo documentos que provam que você é minha esposa perante a lei e a igreja. Ela voltou a encará-lo com a mesma surpresa e disse:

--Mas, mas desculpe-me, o meu marido é este que trago nesta volta sobre o meu peito. O homem com quem casei tem 31 anos neste momento, e o Senhor!... – Ele soltou uma ostensiva gargalhada e exclamou com aborrecimento:

--Ora, ora esta juventude e os seus sonhos fantasiosos de príncipes encantados! Mulher, acho que já chega de espantos, abraça-me e beija-me como é tua obrigação, e não me faças perder a paciência. – Ao dizer isto, seu braço moveu-se levando atrás de si o pingalim de pele de hipopótamo que servia muitas vezes para açoitar pretos e até soldados. Retraída e enojada, lá conseguiu deitar-lhe os braços ao pescoço e colar-lhe um beijo na face. Ele não se contentou com aquele ósculo, e segurando-a pela cintura, ergueu-a e esmagou seus lábios com um beijo lúbrico e sôfrego. Olhou para ela de frente, mandou-a virar-se, e acenando com a cabeça um gesto de aprovação, comentou:

--Não Senhora, para uma branca não és nada má; tens um corpo jeitoso que eu vou provar logo, depois do jantar. Agora vai tomar um banho e veste uma coisa bonita porque vou apresentar-te a algumas pessoas importantes que cá vêm jantar. Tens uma hora para estares pronta.

A sala de jantar estava repleta de cavalheiros e damas da sociedade luandense, todos os saudaram quando deram entrada no salão, e o major numa vénia um pouco forçada; fez uma saudação abrangente. Mariana soube estar à altura das circunstâncias, mas não saíam de seu pensamento as palavras daquela tia, na hora da despedida:

--Sê forte, nem sempre o que parece, é!... – Agora compreendia a enigmática mensagem. Tentaria ser forte, aquele era o seu destino? Então cumpri-lo-ia!... O jantar foi um tormento: demasiada gente a felicitar o major pela linda esposa que tinha e ela fazendo das tripas coração, a todos mostrou um simpático sorriso. Deslocaram se ao outro salão para tomar café. O major juntou-se a um grupo de personagens importantes e a todos animava com a sua conversa. A cada cigarro emborcava um conhaque e já passava da meia-noite quando subiram para os seus aposentos. Logo que Mariana se sentou para tirar a maquilhagem, ele começou a manuseá-la: eram afagos a frio, como se ela fosse uma desconhecida prostituta, paga para lhe proporcionar prazer. Quase não lhe deu tempo a que tirasse a fieira com o esmalte. Ele próprio começou a desabotoar-lhe a roupa aos sacões e a desnudá-la, como se despencasse uma planta daninha. Arrancou-lhe o soutien de um puxão, e metendo a boca entre os seios lindos e cetinosos, começou a mamá-los e a lambuzá-los de cuspo misturado com o bafo do conhaque. Mariana sentia-se mareada de nojo, tentou ser paciente e suportar o assalto daquele velho nojento, assim disse-lhe, aparentando meiguice:

--Meu marido, a noite é nossa e eu sou a sua esposa, podemos fazer as coisas com calma e delicadeza!... – Ele riu-se como um sádico fauno e disse:

--Minha querida, eu só quero a tua coisinha. Quero depenar essa pombinha que tens entre as pernas. Depois já podes descansar. – Mariana sentiu-se enojada e emporcalhada por aquele homem que a enganara da maneira mais vil. Ele aproveitou-se da sua ignorância e boa fé e em conluio com o primo que o representou na cerimónia matrimonial, mudaram a data de 1902 para 1920.

Ele continuava a agarrá-la, quase lhe não deu azo a que descesse a alva cueca. Desabotoou a braguilha e mesmo sem tirar as calças, atirou-se para cima dela, dizendo:

--Ai, vou entrar dentro de ti!... Vou provar a tua coisinha!... Vou tirar-te o cabaço!... E levantando-se um pouco, contemplou admirado o púbis de Mariana e comentou com brejeirice:

--Sim Senhora, tens uma pentelheira de respeito!... Ora vamos lá a abrir este pitinho que tem fome. Abriu-lhe com os dedos os lábios vaginais, levou a mão à boca e provou o suco que tinha retirado, comentando:

-- Tal e qual como uma negra com cabaço!... e começou a entrar nela. Quando trespassou a membrana do hímen, Mariana gritou.

--Aiii! Tenha cuidado que me aleija! – Ele riu-se escarninho e começou a urrar como um animal:

--Ohhhh!... Coisinha boa!... Pronto, já passou!...Já perdeste o cabaço!... Agora já não és um kafeco!... Agora és como as outras. – Abotoou-se, e sem qualquer outro comentário disse:

--Amanhã mandarei um carro buscar-te e vais viver na nossa casa, lá na fortaleza. – Saiu porta fora sem um carinho ou uma simples despedida de cortesia. Mariana foi lavar o sangue que tinha entre as coxas e desejou ter uma bebida que a fizesse adormecer de repente, sem ter que pensar naquela maldita noite. A noite em que tinha entregue o que de mais querido tinha, que guardara ciosamente para oferecer ao eleito de seu coração, e afinal, foi um velho porco e ordinário, quem a vasculhara sem respeito nem afecto. Arrependia-se agora de não ter soçobrado aos encantos de José Ferreira, esse sim, fora um cavalheiro. Sentiu-se castigada pelos infernais clamores da consciência; seria valente, vingar-se-ia da afronta!... Maria da Luz tinha razão. Ela não esqueceria a lição e seguiria o conselho:

-- Sê forte!...

Era uma fortaleza de antiga construção e dominava a entrada da baía. Tinha sido construída para defender a cidade da invasão dos holandeses quando estávamos sob o domínio filipino e a nossa esquadra fora destroçada na derrota da Armada Invencível.

A habitação era ampla e ficava logo abaixo do piso das ameias. As três raparigas negras ajudaram-na a arrumar as roupas e algumas loiças que trouxera nos baús. Elas seriam as suas inseparáveis criadas, mais uma negra já de idade, chamada Benta, que seria a cozinheira. Pelo meio da tarde apareceu o marido, este trazia um pretito chamado Zagaio e que seria o acompanhante da esposa em todas as deslocações que ela fizesse. Mariana olhou o rapaz, pareceu-lhe demasiado esperto para a idade que disse ter; 10 anos.

O marido dormia a maior parte das vezes no seu gabinete de trabalho. As criadas tinham uma habitação própria, logo pegada à casa, e que era dividida por uma porta de que ela não tinha a chave. Mariana começou o reconhecimento da fortaleza pelo piso das ameias, dali havia uma grande vista para o mar e para a parte sul da cidade. Mais tarde reconheceria todos os recantos e a rede de túneis que iam esbarrar com portas metálicas e cerradas. Entreteve-se passeando na parada que ficava no centro do forte e depressa passou a conhecer a rotina do dia a dia, e também os oficiais da guarnição, que era composta por 300 homens. Descobriu que quando passava pela caserna da guarda, ouvia conversas que fariam corar um carroceiro mas que ao mesmo tempo, a informavam de tudo quanto se passava a nível de pessoal. Até sabia os dias em que havia manga de capote (massa com feijão) para o almoço.

Resolveu ir dar um passeio na cidade, mandou o pequeno Zagaio dizer ao major que ela queria um transporte. Dentro de 10 minutos tinha um carro com chaufeur à espera, lá nisso o seu marido não era sovina. Entrou para a viatura e logo o Zagaio se sentou a seu lado, quando lhe disse que não precisava da sua companhia, o chavalo informou-a de que tinha ordens do major para a não deixar sozinha nem um momento. Compreendeu que o miúdo servia como informador do Comandante.

Quando regressou da cidade, deparou com as 3 raparigas sentadas em volta da mesa da sala de jantar, como a casa estava arrumada mandou-as embora; Mariana sabia que as 3 eram concubinas do major, a velha Benta tinha-a informado e avisara-a para lhes não dar confiança. A velha cozinheira sabia tudo acerca daquela fortaleza e quando Mariana lhe perguntou pela chave da porta que dividia a sua habitação dos aposentos da criadagem, ela levou-a até um velho baú de ferro onde estavam dezenas de chaves de todas as portas daquele forte e informou-a de que ali havia chaves para tudo, até para o cofre do comando. Foi nessa noite que ela, já quando todos dormiam, se afoitou a percorrer as galerias subterrâneas da fortaleza. Foi numa pequena porta ao cimo de uma estreita escada que ela ouviu:

--Merda para esta puta de guarita! Logo me havia de calhar aqui a guarda das 2 às 5. Esta puta nem tem vista para nada, é mesmo o fundo do cú!... – Espreitou pelo buraco da chave mas nada conseguiu vislumbrar, teria que inspeccionar aquela saída durante o dia. Contando os passos, depressa descobriu qual era a tal guarita do “fundo do cú”. Era a mais afastada de todas as vigias da fortaleza. Ela conseguiu a chave da velha porta e com petróleo e azeite conseguiu lubrificar a fechadura e as dobradiças.

Naquela noite não conseguiu fazer a sortida nocturna que se propusera. O major resolvera dormir lá em casa e fizera uma visita à sua alcova. Nessa noite ele confessara-lhe que casara com ela para ter filhos que lhe perpetuassem o nome. Que não senhor! As negras já não lhe diziam nada, se ela quisesse ele as mandaria embora; Mariana é que era a sua mulher e ele começara a gostar dela e só dela! Ela sabia que ele estava a mentir, mas isso pouco lhe importava, ela passara a desprezá-lo!...

Mariana sentia-se defraudada nas suas expectativas de vida, aquele velho matara as suas aspirações de amor. Ela sentia-se jovem e necessitada de calor afectivo. Ao passar pelos soldados mirava-os gulosa, mas disfarçava e nem lhes falava para evitar falatório ou a mais pequena suspeita dos seus pensamentos. Num mundo de homens é difícil uma mulher conter-se, a tentação está sempre à espreita!...

Aproveitou uma reunião da guarnição na parada, para abrir a porta da guarita ao cimo da estreita escada. Um fedor a mijo retardado lhe invadiu as narinas; deslizou até o cimo e mirou a figura de um soldado com a arma a tiracolo lá mais à frente e debruçado sobre as ameias. Agora já sabia a que ater-se, como funcionava o sistema das sentinelas e quem estava em tal e tal guarita e a que horas.

Foi numa noite escura que experimentou. O soldado estava um pouco mais à frente com os cotovelos apoiados numa abertura das ameias:

--Oi, soldado!... Você é o José Vilaça! Não faça barulho e chegue aqui. – O soldado olhou desconfiado, era uma voz feminina, mas?... Tirou a arma das costas e precavido, foi ao seu encontro e perguntou:

--Quem és tu? Como chegaste aqui sem que eu desse fé? Se és uma das pretas do comandante, é melhor que desandes, eu não quero encrencas. – Ela riu e murmurou:

--Achas que eu viria aqui só pelo prazer? Não, eu vim aqui porque sabia que ia encontrar uma pessoa sensível à saudade, de confiança e que sabe guardar um segredo! Sabe José o que é a nostalgia? O anseio de trocarmos os nossos segredos com a pessoa amada, de revê-la? Pois é disso que eu quero falar. Quero lançar ao vento a saudade que está em nossos corações, como uma queixa, como um gemido da alma!...

Ali estavam, só os dois e a escuridão que os envolvia: ele falou da sua amada lá bem longe, no interior do Alentejo. Era morena e tinha uns olhos tão profundos como o sentimento que o minava na nostalgia do sonho de revê-la, do beijo suspenso no tempo, esperando... Ele tinha alma de poeta e sonhava... sofria... Mariana confessara-lhe como fora enganada, a sua desilusão. Como fora despojada da sua pureza e abusada na sua virtude. A mágoa que sangrava em seu coração atraiçoado no sentimento mais puro de uma donzela, do seu anseio de amor e carinho. Em breve, arrebatados pela emoção da saudade, estavam unidos num amplexo fraterno que irmanava suas almas sofredoras. Quando ele, com as mãos em sua cintura, fez menção de beijá-la, ela ofereceu-lhe uma das faces e disse:

--José, seja paciente, tudo tem o seu tempo, deixe amadurecer o afecto. Diga-me quando volta a estar de serviço nesta guarita, com um sinal. Tome esta fita do cabelo e prenda-a na base do mastro da bandeira. Eu arranjarei maneira de cá chegar, agora vá até às ameias para eu me retirar.

Passaram três dias. Logo ao princípio da tarde avistou a sua fita na base de ferro que suportava o símbolo verde-rubro. Sorriu satisfeita, seria a partir da madrugada que começaria a sua vingança...

Jantou com apetite na companhia do marido, até se deu ao capricho de acender uma vela e colocar um ramos de flores na mesa. Ele se mostrou alegre e atencioso e ela, para aumentar-lhe o euforismo, carregou na quantidade de cálices de conhaque que lhe ofereceu. O velho porco foi dali directo para a cama a curtir o excesso de libações.

Mariana lavou-se, envergou um vestido ligeiro, dispensou o soutien e as cuecas, perfumou-se e colocou um véu negro sobre a cabeça.

José Vilaça estava na mesma posição. Debruçado sobre as ameias entretinha-se a espreitar as diabruras de uma lebre em cio. Ouviu o perceptível: psiu... psiu... da bela dama surgida do nada. Aproximou-se confiante, e confessou-se:

--Sabe, Senhora, na outra noite foi para a caserna e não deixei de pensar na minha Anita lá no Alentejo. Gosto de falar na saudade, depois fico triste, muito triste, e tenho que ir às negras A Senhora compreende, não?... – Mariana sorriu no escuro e disse:

--Deixe lá José, hoje vamos falar de nós próprios, do aqui e agora. Abrace-me e faça-me mimos com muito carinho, o amor requer muita meiguice e sentimento. Sentiu as mãos dele em seu rosto. Seus dedos tinham a leveza de uma nuvem e a sensibilidade de uma pluma. Era gostoso sentir as carícias de um jovem sensível que também sofria de amor. Ela era uma flor de estufa na metamorfose para a planta bravia que queria enfrentar o vento forte do destino, sua haste não podia quebrar: “sê forte!” – Era este o pensamento que dominava sua mente...

Na penumbra prateada de um quarto crescente, ela sentiu o braço de José Vilaça rodeando-lhe a cintura enquanto que com a outra mão lhe segurava a cabeça e prendia seus lábios num beijo molhado que a fazia suspirar. Os dedos foram descendo, entraram atrevidos no decote do vestido e as unhas roçaram-lhe os biquinhos endurecidos pela sensação gostosa das carícias. Seu peito arquejava no anseio erótico, despedaçando suspiros de prazer. Ela resvalou as mãos pelos braços fortes dele e enterrou as unhas afiladas em seus pulsos, numa manifestação de desejo incontido. Suas bocas voltaram a unir-se, seus dentes bateram como se quisessem morder a fúria erótica que os possuía, e suas línguas se estorceram uma na outra como se devorassem a brasa do desejo. As mãos de José tactearam-na decididas e foram-lhe despindo o vestido ligeiro. Ela por sua vez também o ia aliviando da farda. Viram-se nus, trémulos e ansiosos. Ele ainda parou um pouco e contemplou extasiado a nudez daquela mulher branca, tão linda, que se lhe oferecia de corpo e alma. Ela, dominada pela luxúria carnal, enterrou-se nele como querendo fundi-lo em seu corpo fremente de erotismo. Puxou-o para cima de si e sentiu-lhe o sexo tumefacto, procurar o vértice de suas macias coxas, como se fosse um pássaro trémulo de frio procurando o aconchego do ninho. Percebeu-o entrar em si, deslizar em suas carnes macias e quentes. Ela, como uma gata em cio, gemia estorcendo-se nos braços masculinos e cravando as unhas em seus ombros e peito.

--Aiii! Amor!... Dá-me tudo!... Meu querido!... Não pares!... Aiiii!... – Ele a segurava, arrebatado pela fúria felina que ardia nela, e os músculos fortes e retesados a machucavam. As mãos varonis se agarravam às sedosas coxas femininas apertando-lhe as carnes macias e fazendo-a gemer de dor e gozo. Mariana esmorecia com ele no húmido orgasmo que inundou sua vagina. Confundiram-se num estertor exasperado e José lambia-lhe os peitos e o pescoço numa última carícia de afecto. Subiu até sua boca e bebeu sôfrega sua saliva, num beijo longo e interminável.

Estremecidos na modorra do êxtase, continuaram ligados um no outro como temendo passar sós a fronteira do pecado original. Temerosos de que os primeiros alvores do dia, que já se adivinhava lá no horizonte do mar, os surpreendesse desnudos, começaram a vestir-se apressados. Ela lhe pediu que fosse até às ameias, para se esgueirar pela enferrujada portinhola, para o túnel húmido e escuro de onde chegara. Ambos sabiam que muito em breve a fita flutuaria ao vento e os convidaria para novo colóquio erótico.

Mariana constatou que ninguém tinha dado pela sua falta, deitou-se e dormiu até o sol já abordar o austral. A mesa estava pronta para o almoço e o comandante mandou avisar que não vinha. Comeria só, recordaria a sós as delícias da madrugada e iria dormir uma sesta com o pensamento em José Vilaça.

Ainda estremunhada, ouviu gemidos na habitação da criadagem. Levantou-se e foi escutar na porta de que não tinha a chave. Ouviu a voz do mandingo:

--Podes gritar o que queiras, ninguém te livra de provares o meu peso. Sabes bem que o comandante não gosta que suas negras fodam com outros.

--Mas isso não é verdade e tu sabes bem... – Mariana percebeu a voz da Lena.

--Bem, então eu vou meter em ti só um bocado, mas tens que ser meiguinha comigo. – Disse o mandingo com voz convincente. Seguiu-se um longo silêncio e Mariana resolveu voltar à sesta. Não teriam passado 5 minutos, um desgarrado berro de dor ecoou lúgubre pelas paredes da habitação. Logo de seguida ouviu o negro dizer para as outras criadas:

--Embrulhem-na numa manta e digam ao chaufeur do comandante que a leve ao hospital e diga que ela teve um aborto. – Mariana matutou naquilo toda a tarde, ela sabia que o negro tinha rebentado a rapariga. A cozinheira tinha-a informado acerca do mandingo.

Nessa noite o major dormiu em casa e foi muito gentil para com ela, disse inclusive que gostava dela e queria que lhe desse um filho. Ofereceu-lhe um anel muito bonito e prometeu que no fim-de-semana iriam jantar fora e dançar no clube.

A sua ligação com José Vilaça transformou-se numa paixão de tal maneira intensa, que ela contava os dias para a renovação do encontro. Ele lhe propusera fugir com ela para a região da Lunda; aí o major jamais os apanharia. Mariana tinha José no coração, cada vez se afoitava mais nos encontros nocturnos com ele.

Na noite de S. João, ela simulou uma enxaqueca para não acompanhar o marido aos festejos na cidade. Mariana não queria perder o encontro com José. Ele entraria de sentinela na guarita do “fundo do cu” às duas da madrugada.

Era noite de lua cheia, vistas do cimo das ameias da fortaleza, as águas da baía eram um espelho que reflectiam a luz prateada daquele maravilhoso luar. José ali estava aguardando e mirando como fascinado, aquele brilho sobre as tranquilas águas. Era como um sortilégio que lhe fazia recordar as ânsias da paixão que morava em seu coração. Ouviu um pequeno estalido metálico e logo o psiu... psiu... que o chamava. Naquele local, o murmúrio de beijos trocados e o ciciar de juras de amor, fizeram despertar o libido que estava neles. Sim, era ali que morava o desejo pulsante e latente que era renovado, com novas promessas, a cada encontro:

--Ooooh! Meu Deus!... Como te amo!.... Quando poderemos estar livres e desfrutar este amor que me queima por dentro?... – Murmurava enternecida Mariana.

--Ó luz dos meus olhos! Minha alma gémea! Já falta pouco. Gozemos este momento sob a bênção deste luar que ilumina nossos corações!... – Os dedos de José começaram a desenhar novos caminhos, rios e vales, na geografia de seu corpo desnudo. Ele a sentou em seus joelhos e começou a acarinhá-la como se ela fosse uma criança. Não havia troca de palavras ou simples murmúrios, os dedos, como plumas; passeavam, tacteavam e afagavam sobre a suavidade impassível de sua pele. Por fim, conduziu-a delicadamente para junto da parede e abraçou-a como uma namorada; acariciou-lhe o rosto, ciciou-lhe palavras lindas ao ouvido, com uma ternura, uma suavidade, que nunca julgou possível num simples soldado! Fascinada com o afecto terno de José, ela se ajoelhou na sua frente. Agora tocava a ele abandonar-se às carícias dela: eram fogo aqueles beijos cálidos no interior de suas coxas. Seu membro, no máximo da rigidez, foi sorvido por aqueles lábios rubros e suaves que o saborearam no mais recôndito de sua intimidade, até que ele, não podendo resistir mais àquela avalanche de gozo, a puxou para cima e a beijou ternamente na boca. Lhe segurou os seios que balançavam na ofegante respiração e sugou demoradamente os róseos mamilos entumecidos de excitação. Ele se baixou, e à luz prateada do luar começou a lamber-lhe o sexo, e havia tal quietude da parte dela e tal contida paixão nos gestos dele, que uma nuvem enternecida por aquele quadro, os escondeu por momentos, da descarada curiosidade da lua. Ela se deitou de costas sobre o empedrado, e ele se abalançou sobre ela e a penetrou até o fim. Se abraçaram como 2 amigos numa despedida, e num enredo de braços, pernas, suspiros e gemidos prementes de volúpia, se retesaram um sobre o outro como se desmaiassem no êxtase que os transportou aos páramos da inconsciência. Foi num lapso daquela paz espiritual da modorra, que ela pressentiu um pequeno ruído na portinhola de acesso à guarita. Embora estranhasse tal estalido na quietude da noite, a languidez que a possuía naquele momento tão sublime, não permitiu que ela investigasse o porquê daquele pequeno rangido metálico. Foi já quase no limite entre a penumbra e a aurora que ela abandonou as ameias e voltou à sua alcova.

Logo de manhã, mal o major Macedo se instalou no seu gabinete de comandante, o negrito Zagaio pediu para entrar, e esticando-se sobre a secretária, segredou no seu ouvido:

--“Si, si senhô comandante, eu vi ele entrá e saí na senhorá. Ela beijá ele, foi verdá!” – O rapaz saiu da sala e foi directo à cantina para comprar um chocolate. Estava satisfeito, tinha prestado um bom serviço ao seu patrão branco.

O major passou a ser mais assíduo em casa, não falhava um jantar e muitas vezes levantava-se de noite e ia espreitar na alcova de Mariana. Ela notou aquela mudança de atitude e começou a temer pela segurança das suas relações com José. Começou a fingir carinho pelo marido: sorria-lhe e beijava-o todos os dias ao saudá-lo nos bons dias e boas noites. Num jantar só a dois, quis ela própria servi-lo pessoalmente e ao café foi pródiga em oferecer-lhe cálices de conhaque. Ele olhou muito sério para ela e de repente, disse-lhe:

Desculpa-me querida, mas esqueci que tenho que ir à cidade tratar de um assunto urgente; fica à vontade porque talvez eu não volte antes do amanhecer. Ela sorriu pesarosa e beijou-o ternamente. Após a saída do marido, Mariana foi para a cama fazer tempo para o serviço de sentinela do soldado José Vilaça, lá na guarita do “fundo do cu.”

Foi nessa mesma noite agoirenta, que Mariana se sentiu agarrada por detrás quando abria a portinhola de acesso à guarita. O grande negro mandingo encostou o ventre às suas nádegas, lhe meteu as mãos por dentro da blusa e sem o mínimo de respeito, lhe disse, gozão:

-- Ena! Patroa!... Que peitos lindos tu tens! Que pena eu sinto em não poder desfrutar a tua coninha; essa safada que atraiçoa o patrão comandante, mas não tem problema, ele me mandará fodê-la e então aí, eu enterrarei até o fim este caralho que já tem rasgado muitas negras. Serás tu patroa, a primeira mulher branca que provará este mastro; é pena que não tenhas tempo de o gozar, pois quando ele entrar em ti, te vazará até a garganta. Vira-te, quero saborear esses peitos rijos e mamar nos deliciosos bicos rosados. Quando Mariana ia a esboçar um gesto de repulsa, ele lhe murmurou:

-- Não faças isso patroa; eu posso dizer que tu tentaste fugir e tive que apertar-te o pescoço! Anda, levanta a saia para eu admirar essa cona de branca e entesar esta tora para que tu a faças vomitar com uma boa punheta. Quero sentir essa mão delicada esfregando meu mastro escaruma e ver a esporra correndo entre teus dedos.

O jacto saiu disparado com tal pressão e em tanta quantidade que Mariana só tinha visto tal, no touro cobridor lá da sua quinta em Portugal. O negro, depois de se vir, riu-se para ela, limpou-se às suas cuecas e empurrou-a para a sala de jantar onde a prendeu às grades da janela. Sorrindo com sorna junto ao seu rosto murmurou:

-- Agora patroa, vais esperar aqui, que chegue seu marido!...

– Passaram 2 horas, o major Macedo entrou na sala; olhou para sua esposa atada e amordaçada e disse para o mandingo:

--Tira-lhe a mordaça, quero ouvir os seus berros. – Bebeu um conhaque sorvo a sorvo, como para ganhar ânimo. Pegou no pingalim e dirigiu-se para a mulher, riu-se sardónico, e sem uma palavra; sulcou-lhe o rosto com o chicote. Esperou o grito de dor, mas Mariana rangeu os dentes e não se queixou. Zásss e Zásss!... – Como não ouviu os berros de sofrimento que esperava, continuou furiosamente a sulcar-lhe a cara com o pingalim até que o sangue rompeu em borbotões. Mariana continuava a sofrer o castigo sem um queixume. O major enraivecido com tal atitude de valentia, gritou exasperado:

--Eu já te amava, puta de merda! Porque me fizeste isto?... – E Zásss, Zásss... – mandou o mandingo desnudar-lhe o busto e vociferando como um louco, desferiu-lhe o primeiro golpe sobre os alvos seios que pela sua fragilidade, logo esguicharam sangue.

--Diz-me os nomes deles, puta adúltera!... – E o pingalim continuava a zunir sobre os peitos e o ventre da jovem.

--Quantos foram, grande vaca?... – Uma vez e outra a chibata silvava, mas Mariana continuava firme no seu silêncio!...

--Ao segundo dia, depois de uma noite para reflectir, o major constatando que ela não cedia, voltou a espancá-la e a enchê-la de enxovalhos, mas Mariana continuava decidida a levar para a sepultura os seus segredos amatórios e todas as vezes que era agredida, chamava-lhe porco e chibo velho. A resistência dela e o escárnio que lhe atirava à cara, era demais para os brios de um militar. Assim, resolveu aplicar-lhe a mesma pena que às suas pretas infiéis.

O comandante mandou reunir na parada toda a guarnição da fortaleza e num palco improvisado, prendeu sua infiel esposa. O rosto dela, desfeito pelo pingalim, era uma posta sanguinolenta, mais os vergões sanguinosos em todo o corpo; comoveram profundamente os militares. Alguns oficiais escandalizados pela barbárie do tratamento a uma mulher branca, abandonaram a parada. O major Macedo, rubro de raiva e impotência, berrou pelo altifalante:

--Os porcos que tiveram relações com esta puta, devem denunciar-se; é para bem dela, eu juro que os não castigarei!... – Como ninguém se acusasse, ele chamou o mandingo e deu-lhe ordem para violar a esposa. Toda a guarnição assistia horrorizada aos preparativos do enorme escaruma, este antegozando o corpo da branca ama, afastou o estropiado e ensanguentado vestido de suas coxas, desabotoou a braguilha, tirou o enorme bacamarte já tumefacto para fora, e debruçou-se sobre a mulher para executar o estupro. Quando apontava o avantajado pénis para a penetração; soou no silêncio da parada, uma detonação seca e precisa. O major caiu fulminado com um buraco em plena fronte. Logo de seguida todos olharam na direcção do disparo e viram o soldado José Vilaça levar novamente a Mauser ao ombro, carregar no gatilho e...na cabeça do mandingo abriu-se mais um orifício!...

Muito descontraído, o soldado desceu da guarita onde estava de sentinela, dirigiu-se ao tablado, desprendeu Mariana, amparou-a nos braços e apontando um dedo acusatório, disse:

--São todos uns cobardes!...Eu amo esta mulher; ajudem-me a levá-la para a enfermaria!..

Por: A. Alves, em Dezembro de 2006


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Comentários

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ótimo conto.

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Muito bom, e rico em detalhes em contato!...curioso em saber quem vc é!

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