Estou sentada no sofá da sala, as pernas cruzadas, o olhar perdido na televisão que murmura um programa qualquer. É noite, e o silêncio da casa amplifica os pensamentos que giram na minha mente como um redemoinho feroz. Há poucos dias, completei 18 anos, um marco que deveria trazer leveza e promessas, mas que agora pesa em mim como uma âncora. Meus cabelos cacheados, indomáveis e cheios, caem sobre os ombros, e eu enrolo uma mecha nos dedos, tentando abafar o calor que sobe pelo meu corpo ao ouvir os passos de Leonardo ecoando no corredor.
Leonardo, meu padrasto — ou "pai", como eu e Larissa o chamamos desde pequenas —, é mais do que um alicerce na minha vida; ele é uma tempestade que me arrasta sem que eu consiga lutar. Aos 40 anos, com 1,83m de altura, ele tem o corpo magro, mas esculpido, cada músculo traçado com uma precisão que parece desafiar a natureza. Sua pele morena, quase negra, é como chocolate ao leite, quente e viva, refletindo a luz em tons que me hipnotizam. E aqueles olhos verdes, profundos como florestas secretas, cortam através de mim, vendo mais do que eu gostaria de mostrar. Ele é a perfeição masculina em carne e osso — não um homem comum, mas o homem, um ideal que eu nem sabia que sonhava até ele se tornar o centro dos meus pensamentos. Alto, imponente, com ombros que parecem sustentar o mundo, Leonardo exala força e segurança, mas também uma ternura que me faz querer me dissolver nele.
Desde os meus 5 anos, ele está aqui, segurando nossa família com mãos firmes e um coração que nunca hesita. Seus cabelos negros e curtos emolduram um rosto de traços fortes, e sua voz grave ressoa em mim como um trovão distante, cada sílaba um convite ao caos que cresce no meu peito. Ele é justo, generoso, um sucesso no ramo de transportadoras, mas é mais que isso: há uma aura nele, uma masculinidade bruta e silenciosa que me rouba o ar. O jeito como ele caminha, com passos decididos, o modo como os músculos dos braços se desenham sob a camisa social, a energia que pulsa dele — tudo é irresistível, quase sagrado.
Minha mãe, Rosana, está fora novamente, aos 38 anos, brilhando com seu projeto de roupas, perdida em viagens de dois ou três dias. Sem ela, a casa se transforma. O vazio que ela deixa não é só maternal; é um espaço que se torna íntimo, quase sufocante. Comecei a reparar em Leonardo de um jeito que me assusta. No escritório em casa, ele se curva sobre papéis e o laptop, a luz suave da luminária desenhando o contorno firme do seu maxilar, a curva sutil dos lábios que parecem esconder um mistério. Quando ele me chama, aquela voz grave me envolve como um manto, e eu sinto um arrepio que não consigo explicar.
Hoje, Larissa, minha irmã gêmea idêntica, dorme no quarto ao lado. Somos reflexos uma da outra: pele levemente morena, cabelos cacheados que caem em ondas rebeldes, olhos castanhos claros como mel que brilham com a mesma curiosidade. Mas, por dentro, somos abismos distintos. Ela o admira, claro, mas nunca vi nos olhos dela o fogo que me consome quando penso em Leonardo. É um desejo que me devora, um segredo que eu mal ouso confessar a mim mesma.
Levanto do sofá, o coração batendo descompassado, e vou à cozinha. Pego um copo de suco e monto uma bandeja com biscoitos — uma desculpa frágil para me aproximar dele. No escritório, ele está lá, o perfil iluminado, os dedos longos e precisos voando sobre o teclado. Hesito na porta, mordendo o lábio. Meus olhos o devoram, famintos: a pele chocolate que brilha com um calor próprio, os músculos definidos que se insinuam sob a roupa, a postura de quem domina o espaço sem nem tentar. Ele é perfeito, uma força da natureza que me puxa como a gravidade.
— Pai? — chamo, a voz macia, quase um sussurro. Ele ergue o olhar, e aqueles olhos verdes me atravessam. Por um instante, o tempo para. Juro que vejo algo ali, uma faísca que vai além do carinho paternal. Ou será que é só o que eu quero enxergar?
— Oi, princesa. Tá tudo bem? — A voz dele é um ronronar baixo, e o "princesa" desliza sobre mim como uma carícia proibida, arrepiando minha pele.
— Trouxe suco pra você. Tá trabalhando até tarde de novo — digo, entrando e colocando a bandeja na mesa. Me inclino, e minha blusa leve deixa entrever as curvas do meu corpo. Não estou de sutiã, e o calor sobe ao meu rosto quando percebo, mas não recuo. Ele sorri, um sorriso que ilumina a sala, mas seus olhos passeiam por mim por um segundo a mais antes de voltarem ao meu rosto.
— Obrigado, Lorena. Você sempre cuidando de mim, hein? — As palavras são simples, mas ressoam em mim como uma promessa, acendendo algo que eu não controlo. Cuidar dele. Meu Deus, o que eu não faria pra cuidar dele de todas as formas que minha mente insiste em imaginar.
Sento na cadeira ao lado, cruzando as pernas, o short subindo um pouco mais. Não sei se é de propósito — talvez seja. — Você já terminou o ensino médio, agora é uma mulher feita — diz ele, quase distraído, mas há um tom na voz que me faz prender o fôlego. — O que você quer fazer da vida, hein?
Rio, um som nervoso. — Ainda não sei. Acho que... tô descobrindo quem eu sou. — As palavras saem carregadas, um eco do que eu não ouso dizer em voz alta. Quem eu sou? Uma garota que sonha com o homem que me criou, que vê nele a perfeição que nenhum garoto da minha idade jamais alcançará?
Ele me encara, e o silêncio entre nós é carregado, quase palpável. Quero acreditar que ele sente algo, que esses olhares furtivos, esses toques leves — como quando ele ajeitou meu cabelo dias atrás, os dedos roçando minha pele —, são pistas de um desejo escondido. Mas e se for só eu, me afogando nas minhas próprias ilusões?
— Você tá diferente ultimamente — diz ele, cortando o silêncio. — Mais quieta. Tá tudo bem mesmo?
Engulo em seco, os olhos fixos nos dele. — Acho que... tô só pensando muito. Sobre as coisas. Sobre... pessoas. — Minha voz vacila, e me pergunto se ele percebe o quanto estou vulnerável nesse momento.
Leonardo se inclina um pouco mais, o perfume masculino amadeirado e doce dele me envolvendo como uma onda. — Se precisar conversar, sabe que eu sempre vou te ouvir, né? — A mão dele cobre a minha na mesa, um gesto que poderia ser só conforto, mas que incendeia meu corpo inteiro. O calor dos dedos dele contra os meus é simples, inocente, mas me atravessa como um raio. Meu coração dispara, e sinto um pulsar entre as pernas que me deixa atordoada.
Assinto, sem encontrar palavras. Quando ele solta minha mão e volta ao notebook, levanto, as pernas trêmulas. No quarto, fecho a porta e me jogo na cama, o peito arfando. Como pode ser assim? Como a voz dele, grave e quente, o jeito que ele fala comigo — tão calmo, tão seguro —, e um toque tão simples na minha mão despertam isso em mim? Fecho os olhos, e as fantasias me engolem. Imagino ele aqui, esse homem perfeito, com sua pele chocolate, seus músculos firmes, seus olhos que me despem sem esforço. Minha mão desliza pelo meu corpo, hesitante, até encontrar o caminho sob o short. Toco-me devagar, pensando nele — no som da voz dele me chamando de "princesa", no calor da mão dele na minha, na forma como ele me olha como se pudesse ver tudo. Como eu posso sentir tanto desejo assim, a ponto de me perder desse jeito, só por isso? Meu corpo responde rápido, a respiração ficando curta, os dedos acelerando até que um orgasmo silencioso me atravessa, intenso e avassalador. Por um instante, é como se ele estivesse aqui, real, comigo.
Mas então a culpa chega, afiada como uma lâmina. Ele é meu padrasto, o marido da minha mãe. E eu? Quem eu sou nisso tudo? Uma garota confusa, recém-saída da adolescência, queimando num desejo que não deveria existir? Abro os olhos, encarando o teto escuro. Não sei como lidar com isso, com essa chama que me consome. Mas uma coisa eu sei: na próxima vez que minha mãe viajar, não vou ficar só na imaginação. Preciso descobrir se esse fogo é real — ou se estou me destruindo sozinha na obsessão por um homem que, aos meus olhos, é a perfeição em forma humana.
