Capítulo 1:
Eu sou Miguel, e, antes que você pergunte, sim, ainda sou virgem. Acho que é a primeira coisa que você precisa saber sobre mim. Não, não sou horrível de se olhar, ao menos não acho que seja. Tenho 20 anos, corpo relativamente em forma, e meu cabelo bagunçado até tem um certo charme, se me permite dizer. Mas, de alguma forma, as coisas com mulheres nunca deram certo pra mim. Ou talvez eu que não tenha dado certo para elas, vai saber.
De qualquer forma, tudo isso está prestes a mudar. Ou, pelo menos, é o que uma sensitiva disse. Não vou mentir, fiquei intrigado. Eu? Envolver-me com várias mulheres e, no final, encontrar o amor da minha vida? Parece bom demais pra ser verdade. Aliás, você já foi a uma sensitiva? Achei que ela iria me contar algumas bobagens genéricas sobre o destino, mas aquilo foi bem específico.
Ela olhou nos meus olhos, com um ar de mistério, e disse: "Você encontrará várias mulheres no seu caminho, Miguel. Elas o prepararão para a pessoa certa." Sabe, se isso fosse num filme, esse seria o momento em que eu fico todo confiante, imaginando todas essas mulheres incríveis e me tornando um Casanova moderno. Mas... sou eu, né? O cara que mal consegue falar com uma garota sem gaguejar.
Agora, antes de você me julgar, eu tenho minhas razões. Talvez minha falta de habilidade com o sexo oposto venha do fato de que eu cresci sem uma figura paterna. Meu pai, Pedro, foi embora quando eu tinha apenas um ano. Um ano. Dá pra acreditar? Ele se envolveu com outra mulher, Alessandra, e, quando ela engravidou da minha meia-irmã, Alice, ele decidiu que essa nova família era o que ele queria. Fim da história.
Eu cresci com minha irmã, Manuela, e minha mãe, Marta. E, por mais que a ausência do meu pai tenha deixado um buraco em nossa família, eu não guardo rancor. Não sei explicar, mas não consigo odiá-lo. Acho que minha mãe e minha irmã sofreram mais com isso do que eu. Elas ainda falam sobre ele de vez em quando, com uma amargura que me faz sentir culpado por não sentir o mesmo.
Agora, aqui estou eu, 20 anos depois, arrumando minha mala para passar alguns dias com Pedro. Sim, ele me convidou para passar as férias com ele. É estranho pensar nisso, porque, por tanto tempo, ele foi apenas uma sombra na minha vida. Aquele cara que eu via em fotos antigas, segurando Manuela no colo e me abraçando como se nada pudesse nos separar. Mas aqui estamos, separados.
Você deve estar se perguntando, "Miguel, por que diabos você aceitaria o convite dele?" Bem, é complicado. Talvez seja a curiosidade, talvez seja o desejo de entender quem ele é, de descobrir o que exatamente o fez escolher uma nova vida, uma nova família, e me deixar para trás. Ou, quem sabe, é a tal profecia da sensitiva. Se eu vou encontrar várias mulheres e o amor da minha vida, por que não começar com um recomeço? Sim, eu sei que isso soa ridículo.
Enquanto jogo as roupas na mala, me pego pensando em Alice. Não me leve a mal, eu mal a conheço. Ela tem 19 anos, apenas um ano mais nova que eu, mas nunca fomos próximos. Na verdade, a ideia de passar alguns dias com minha meia-irmã parece mais estranha do que emocionante. Ela sempre me pareceu... como posso dizer? Distante. Talvez seja porque crescemos em mundos separados, ou talvez porque nunca tivemos a chance de realmente nos conhecermos. Mas algo me diz que isso pode mudar.
Agora que estou com a mala quase pronta, me vejo encarando a janela do meu quarto. A casa onde cresci parece menor do que antes. Manuela está na faculdade agora, e minha mãe trabalha tanto que mal a vejo. O silêncio às vezes é ensurdecedor. Talvez essa viagem seja uma boa chance de espairecer, de sair desse marasmo que tem sido a minha vida até agora. Não que eu esteja reclamando – ok, talvez um pouco –, mas preciso de alguma novidade.
Talvez seja o destino, ou talvez eu esteja apenas me agarrando a qualquer coisa que me faça sentir que a vida está prestes a mudar. E, sinceramente, espero que mude. Não vou mentir, a ideia de finalmente me envolver com alguém – ou várias mulheres, como a sensitiva disse – é excitante. É como se o universo estivesse me dando um empurrãozinho, me dizendo: "Ei, Miguel, tá na hora de viver um pouco."
Mas também tem aquela vozinha no fundo da minha cabeça que diz que nada vai acontecer. Que essa viagem será apenas isso, uma viagem. Eu vou passar alguns dias com Pedro, talvez trocar algumas palavras com Alice, e depois voltar para a minha vida de sempre. Mas algo dentro de mim quer acreditar que as coisas podem ser diferentes. Quem sabe, né?
Enfim, está na hora de partir. A mala está pronta, a mente cheia de pensamentos, e o futuro... bem, o futuro está esperando. Vamos ver o que ele tem reservado para mim.
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