Amor no ônibus- o desfecho do passado

Um conto erótico de Gabriel
Categoria: Gay
Contém 1445 palavras
Data: 01/01/2025 23:44:41
Assuntos: Gay, Drama, suspense, Amor

Edu olhava para Diego com um olhar fixo, atento, como se tentasse decifrar cada gesto, cada nuance em seu comportamento. Eles estavam em um pequeno bar no centro da cidade, um lugar tranquilo, afastado da agitação da vida cotidiana, onde as conversas se misturavam com o som suave de jazz que preenchia o ambiente. A cerveja nas mãos estava quase vazia, mas as palavras ainda pairavam entre eles, não ditas, aguardando o momento certo para emergir.

Diego estava distante, os olhos focados em algum ponto perdido na mesa à sua frente. Seus dedos tamborilavam suavemente sobre o vidro da cerveja, como se um impulso nervoso o tomasse, mas ele não dizia nada. Havia algo nele, algo que Edu já havia percebido desde o primeiro momento em que o conhecera. Diego tinha uma história guardada, um segredo que o mantinha preso em uma prisão invisível, mas irrompível. E isso, para Edu, tornava tudo ainda mais enigmático e atraente.

**– Eu sei que tem algo em você que você não quer mostrar. –** Edu disse finalmente, a voz suave, mas carregada de sinceridade. Ele se inclinou para frente, seus olhos fixos nos de Diego, como se tentasse alcançar a verdade que se escondia lá. **– Se quiser, posso ouvir. Você não precisa carregar isso sozinho.**

Diego ergueu os olhos e olhou para Edu com uma mistura de surpresa e apreensão. Durante todo o tempo em que estavam juntos, Edu nunca havia pressionado, nunca havia forçado uma conversa que Diego não quisesse ter. Mas, naquele momento, algo havia mudado. Havia uma sensação de confiança crescente entre eles, algo que começava a romper as barreiras que Diego havia erguido ao longo dos anos. No entanto, a dor que ele carregava ainda parecia ser forte demais para ser compartilhada.

Ele desviou o olhar novamente, os dedos parando de tamborilar sobre o vidro, mas a tensão em sua postura era inegável. Havia algo pesado demais em suas lembranças, algo que o fazia hesitar, como se fosse impossível permitir que alguém visse a verdadeira dor que ele escondia.

**– Eu... Eu perdi alguém muito importante. –** Diego finalmente falou, sua voz rouca e baixa, como se as palavras tivessem dificuldade em sair. Ele se afastou um pouco, como se estivesse tentando se proteger das próprias lembranças. **– A dor é forte demais. Eu não consigo me aproximar de ninguém, Edu. Não consigo.**

Edu ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. O choque não foi imediato, mas a compreensão lentamente foi se espalhando pelo seu corpo. Ele sempre soubera que Diego tinha um peso no coração, mas nunca imaginara que fosse algo tão devastador. O fato de que Diego estava ali, compartilhando um fragmento de sua dor, fez com que Edu sentisse uma empatia profunda, algo que ia além da simples amizade.

**– Eu não sei exatamente o que aconteceu, Diego. Mas posso te dizer uma coisa. –** Edu disse, sua voz suave, mas firme. **– Eu sei o que é perder alguém. Perder alguém que faz parte de quem você é, que te transforma de uma forma que não se pode voltar atrás. Mas também sei que a dor não pode ser o único laço que você tem com a vida. Não pode.**

Diego permaneceu em silêncio, os olhos fixos em suas mãos agora, como se quisesse esconder a dor, mas as palavras de Edu o atingiam de uma maneira diferente. Ele estava começando a entender o que Edu queria dizer. Não era sobre apagar o passado, nem sobre esquecer quem ele havia perdido. Era sobre não deixar que o medo e a dor controlassem sua vida, sobre não se permitir viver em função da perda.

**– Eu sei o que você quer dizer. –** Diego respondeu, com um suspiro pesado. **– Mas você não entende, Edu. Não entende o que é carregar essa dor. Não entende o que é ter uma parte de você arrancada, como se nada mais fosse real depois disso. Como se a vida perdesse a graça, a cor, o sabor. Eu não quero viver nesse lugar. Não posso. E eu tenho medo de tentar de novo e me machucar mais.**

Edu olhou para ele, os olhos cheios de compreensão e empatia. Ele não estava ali para julgá-lo, mas para ouvir, para ser uma presença que não exigia nada em troca. Ele sentia a dor de Diego, não porque tivesse passado pelo mesmo, mas porque sabia o que era carregar um peso que parecia insuportável. Ele conhecia o medo de se entregar novamente, de confiar em alguém depois de ter se perdido em uma dor tão profunda.

**– Eu entendo. –** Edu disse com suavidade, e sua mão se estendeu, tocando gentilmente a de Diego sobre a mesa. **– Sei que a dor não vai desaparecer da noite para o dia. E que é difícil, que você teme se abrir e se machucar de novo. Mas você não está sozinho, Diego. Você nunca esteve. E se você se permitir, se permitir confiar em alguém... talvez as coisas possam ser diferentes.**

O toque de Edu parecia ter algo de mágico, como se fosse uma âncora que o segurava naquele momento de caos interior. Diego fechou os olhos por um segundo, e a respiração se tornou mais profunda. As palavras de Edu foram se enraizando em sua mente, como uma semente que começava a germinar, mas ainda precisava de tempo para crescer. Ele não sabia se estava pronto para seguir esse caminho. Mas, ao mesmo tempo, ele sentia algo ali, algo entre eles, que o fazia questionar se, talvez, poderia tentar.

**– Eu não sei se posso, Edu. –** Diego disse, sua voz hesitante, mas a dor ainda visível em seus olhos. **– Não sei se consigo confiar de novo. Não sei se posso me abrir e esperar que alguém não me machuque.**

Edu sorriu com um leve toque de tristeza, sentindo que, apesar de tudo, ainda havia algo mais profundo entre eles, algo que transcendia a dor do passado. Ele não sabia o que o futuro traria para eles, mas sabia que não poderia deixar Diego carregar aquele fardo sozinho. Não sem tentar ajudá-lo a encontrar um caminho.

**– Não estou pedindo que você me dê todas as respostas agora, Diego. –** Edu disse com calma, quase como se estivesse tentando dar a ele a liberdade de escolher seu próprio ritmo. **– Só estou dizendo que, se algum dia você sentir que é hora, estarei aqui. Sem pressa. Sem expectativas. Eu só... não quero que você se isole. Não quer ser um peso carregar isso sozinho, certo?**

Aquelas palavras foram como uma pequena abertura no muro de Diego. Ele ainda não sabia se estava pronto para atravessar esse abismo que o separava do que poderia ser uma nova chance. Mas algo nas palavras de Edu fez com que ele se sentisse menos perdido, menos sozinho. Algo no olhar de Edu, na maneira como ele o tratava, fez com que ele se perguntasse se, talvez, fosse possível tentar novamente.

**– Eu não prometo nada, Edu. –** Diego disse, sua voz ainda baixa, mas agora mais suave. **– Mas... vou tentar. Só não espere que eu mude de uma hora para a outra. A dor... é difícil.**

Edu assentiu, e seus olhos brilharam com uma mistura de compreensão e aceitação. Ele sabia que não seria fácil. Não para Diego, nem para ele mesmo. Mas ele também sabia que, ao menos, poderiam começar a caminhar juntos, um passo de cada vez. E, no fim, talvez isso fosse o suficiente.

**– Eu sei. –** Edu respondeu com um sorriso gentil. **– Só me deixe estar ao seu lado, quando você precisar. Não precisa mais fazer isso sozinho.**

Diego olhou para ele com uma mistura de gratidão e incerteza. Mas, naquele momento, algo dentro dele se quebrou. Não a dor, mas a solidão. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas, ao menos, tinha alguém para dividir o peso do passado.

Os minutos passaram, e a conversa continuou. Falaram sobre coisas simples, como a vida cotidiana, as pequenas alegrias e os desafios. Mas a diferença estava no olhar. Algo entre eles tinha mudado. E, de alguma forma, ambos sabiam que esse momento era apenas o começo de algo novo. Algo que ainda estava em construção, mas que, finalmente, não parecia mais tão impossível.

Enquanto as horas passavam e o bar começava a esvaziar, Edu e Diego se despediram, mas, desta vez, havia uma sensação diferente no ar. Um passo dado, ainda tímido, mas cheio de possibilidades. Eles sabiam que ainda havia muito a ser dito, muito a ser feito. Mas o que importava naquele momento era que, pela primeira vez, Diego havia se aberto, e Edu estava lá para ouvir, sem pressa, sem expectativas. Apenas presente.

O desfecho do passado ainda estava por vir, mas, com ele, surgia uma nova chance.


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