A viagem de retorno ao condomínio seguiu-se no mais completo silêncio, quebrado somente pelo baixo volume do rádio automotivo, que tocava um programa qualquer das tardes nordestinas. Em alguns momentos, Tiago dava uma olhadela rápida para Jana, e a flagrava devolvendo o olhar. Ambos desviavam instantaneamente os olhos, evitando maiores constrangimentos.
– Obrigado pela carona, professor. Espero não ter sujado o carro – agradeceu a garota, ao desembarcar em frente à sua porta.
– Deixe disso, o carro já não está limpo, e eu mesmo sujei – tranquilizou-a Tiago, e olhando para a mãe da menina, que aparecera na porta ao ouvir o barulho do automóvel, cumprimentou-a – Boa tarde, Joana! Tudo bonzinho? Cadê Francisco?
– Boa tarde, Tiago! Tudo bem, graças a Deus. Chico ainda não chegou do serviço. Disse que deve estar por aqui umas 22h, só – respondeu a mulher sorridente, abrindo o portão para a filha entrar.
– Tá vindo de onde dessa vez?
– De Camaçari. Foi deixar uma carga em Paulo Afonso, mas como é caminho, não vai pernoitar por lá.
– Ah, que bom, então a família vai estar junta hoje. E Júnior?
– Está no quarto. Esse menino não faz nada da vida a não ser ficar nesse bendito celular. Eu já disse que ele deixe de lado! Chega tá amarelo, não leva um pingo de sol!
Tiago riu da forma que Joana falava. Era uma boa mulher, e uma boa mãe. Janaína tinha puxado a beleza dela, embora fosse mais esguia e com o corpo mais em forma. Joana apresentava as marcas do tempo, mas sustentava uma suculência característica das mães jovens. Curvas acentuadas. Volume nos lugares certos. Uma pele alva e bonita. Parecia sedosa e convidativa. Cabelos longos e ondulados, iguais aos da filha. E os olhos, uma mistura de mel, com um verde transitando entre o jade e o oliva. Olhos únicos, que faziam Francisco feliz, certamente.
O pai de Janaína era caminhoneiro. Vivia viajando o nordeste. Geralmente passava uns três ou quatro dias em casa, e depois retornava à estrada. Era um trabalho puxado, mas ele gostava, e garantia um padrão bom para a família.
Júnior, o irmão mais velho de Jana, já beirando a maioridade, terminara a escola no ano que se passara. Agora, aguardava o resultado do ENEM para ver se conseguia alguma vaga na federal. A cidade vizinha, Delmiro Gouveia, possui um campus da UFAL, e era a única chance de adentrar no ensino superior gratuito, naquelas bandas. Era um rapaz pacato, alguns julgavam ser homossexual, mas nada nunca confirmado. Nos dois anos em que o conhecia, Tiago achava-o estranho e um tanto antissocial, mas quem nunca foi rebelde sem causa na vida?
A família morava duas casas após a de Tiago. No início de sua estadia no sertão, Joana e Francisco emprestaram uns móveis, por uns meses, até que o recém-chegado pudesse se estabelecer. Frequentemente, quando era feito algum prato diferenciado para a janta, um bolo ou um pão, era mandado alguém na casa do professor para compartilhar um pedaço. Eram acolhedores e hospitaleiros. Tiago tentava retribuir sempre que podia o tratamento que recebia do casal.
– Bem, vou indo, viu? Tenho que dar uma arrumada nas coisas em casa, e ligar para Carla. A essa hora, ela deve estar já voltando do trabalho. Até mais, Joana! Tchau, Jana! Se cuida!
As mulheres despediram-se acenando, sorridentes. Tiago deixou o carro na porta mesmo, talvez saísse mais tarde, para encontrar Bruno e tomar a cerveja que prometera.
Entrou em casa, e puxou o celular que estava enfiado na necessaire. O celular indicava mais uma mensagem do número misterioso.
– Dia cheio, meu moreno? Reencontrou velhos amigos, deu um mergulho no rio, passeou com a aluna… Cuidado, viu? Ela é de menor.
Tiago não respondeu nada. Analisou o que falava a mensagem. A pessoa do outro lado sabia de toda a sua rotina. Qualquer pessoa iria se assustar, mas aquilo tudo causava um misto de sensações no professor. Era aterrorizante e instigante ao mesmo tempo. E tudo se aumentou quando mais uma foto foi enviada, agora de uma parte de uma cinta liga preta, na mesma coxa. Pele dourada, bronzeada. O que queria com todo esse jogo?
Preferiu não responder novamente, e não entrar na brincadeira. Mais mensagens foram surgindo na tela.
– Vai sair com Bruno agora à noite? Talvez me veja por lá…
Será que Bruno teria falado com alguém? Mas como a pessoa saberia que ele tinha dado carona à Janaína? Será que também estava no rio? Ou estaria o perseguindo?
– Você pode não responder nada, mas sei que você já viu. Estarei de olho em você, meu moreno. Beijos… – e a mulher misteriosa finalmente o deixou em paz. Era curioso como sabia tanto do seu dia.
Na cabeça de Tiago pipocavam teorias de quem seria a pessoa que o atordoava. De qualquer maneira, ele não queria aprontar nada, ainda mais estando há tanto tempo longe de uma vida “bandida”. Estava quieto, e seus planos agora eram juntar dinheiro, comprar a casa e casar com Carla. E falando em Carla, estava na hora de telefonar para ela. Se fazer presente, perguntando como foi o dia, quais os planos da noite, e etc.
Discou o número, que chamou incansavelmente, até cair na caixa postal. Tentou novamente mais duas vezes, e olhou no relógio. 18h. Talvez ela estivesse no trânsito, ou o celular estivesse descarregado. Resolveu aguardar que retornasse. Enquanto isso, ligou para Bruno, e confirmou de tomarem a cerveja prometida, às 20h.
Aproveitou para colocar as roupas na máquina de lavar. Quando retornasse, estenderia. Tomou um longo banho, e manteve-se de toalha. Não queria vestir nenhuma roupa, e ainda tinha um tempo considerável para o horário combinado com Bruno. Deixou-se ficar de toalha na cintura.
Esperava a ligação de Carla. Já havia deixado mensagem no WhatsApp, indicando estar preocupado. Não foi recebida. Estranho. Ligou para a mãe da noiva, que falou que estivera com Carla há meia hora. Isso o tranquilizou mais. Talvez só estivesse descarregado mesmo.
O barulho da campainha indicou alguém na porta. Abriu uma fresta, pois não estava com roupas compostas, e deu de cara com uma Joana sorrindo sem jeito:
– Desculpe incomodar, Tiago… mas fiz esse bolinho de macaxeira, e resolvi trazer um pedaço. Já serve pra complementar a janta – falou, tentando não olhar para o rapaz sem camisa, algo que Tiago percebeu.
– Ô, Joana. Não precisava. E já conhecendo os seus dotes, deve estar uma delícia! Eu vou dar uma saidinha, mas não vou resistir e vou provar um pedacinho antes.Obrigado mesmo, viu? – completou Tiago, um tanto sem jeito, escondendo-se atrás da porta para esconder o início de ereção ao olhar o interesse furtivo da mulher e seu decote proeminente, mas comportado.
– Não precisa agradecer, Tiago. Vou indo, viu?
Ao dar meia-volta, e Tiago fechar a porta, Joana não viu que a barra de seu vestido ficara presa, o que a fez perder o equilíbrio e cair sobre um dos joelhos. A mulher soltou um gemido de dor, e Tiago abriu a porta, curioso?
– Oxe! O que aconteceu?
– O vestido ficou preso na porta… Não vi e caí quando dei a volta.
Ao levantar, descia do joelho um filete de sangue. Tiago prontamente abriu a porta, oferecendo ajuda para cuidar da escoriação.
– Vixe Maria, chega pra dentro que eu vou higienizar isso daí.
– Não carece não, cuido em casa mesmo, Tiago.
– Não senhora, você vem trazer um bolo e eu não retribuo o mínimo necessário? Senta aí, que vou pegar a bolsinha com os remédios.
Joana fechou a porta e ficou sentada no sofá da sala. Observou Tiago, de toalha, caminhando pela casa, e corou. Não devia estar ali. Ela, uma mulher casada, mãe de uma aluna dele, em presença de um homem semi-nu. Pôs as mãos no rosto, tentando esconder a vergonha.
Tiago retornou, com o kit de primeiros socorros. Ajoelhou-se em sua frente, e ao vê-la esconder a face, indagou:
– Tá tudo bem? Tá sentindo alguma coisa?
Ela concordou que estava tudo normal, tirando as mãos do rosto e aquiescendo com a cabeça. Evitava olhar para os seus olhos, então olhava o chão.
Tiago, por sua vez, não pode deixar de notar novamente o belo decote, agora próximo de seu rosto, exibindo orgulhosamente a fartura do busto da mulher. Pegou delicadamente a perna, e a apoiou em sua coxa, junto ao chão. Pele macia, quente, depilada. Gostosa de tocar. Olhou o rosto da mulher… Corado. Riu de canto de boca, e disse:
– Vou passar um antisséptico. Talvez arda um pouco.
Ela murmurou em resposta. Tiago derramou cuidadosamente o líquido medicinal na ferida, o que provocou uma reação já esperada na mulher. Um outro gemido de dor, e um espasmo na perna, que ao se esticar, roçou no volume que tornara a aparecer na púbis de Tiago.
Joana demorou um certo tempo até perceber o que o pé tocava. Olhou para a silhueta semi-ereta, e então para os olhos de Tiago, flagrando-o fitar seus seios. Uma mistura de vergonha e satisfação tomou conta da mulher, que desviou os olhos, com um sorriso disfarçado. Apesar de tudo, não tirou o pé de onde estava, continuando a sentir o calor do membro do homem, que já praticamente ereto, esquentava a toalha úmida.
Lentamente, Tiago fez o curativo, fingindo não notar que a ponta do pé de Joana bolinava sua virilha. Aproveitava para passar a mão lentamente em sua perna, deliciando-se com a sensação que o tato lhe conferia. Sentia que podia avançar, a depender das reações da mulher. Ela, pelo menos, parecia querer. Será mesmo?