O sol da tarde tingia o céu de Salvador com tons escarlates e dourados, enquanto o calor abafado do verão parecia derreter até os pensamentos. O ar carregava o cheiro salgado do mar, misturado ao aroma de frutas maduras e ao som distante de risos de crianças correndo pela rua. Bruno caminhava pelo Subúrbio Ferroviário, sua figura imponente e discreta atraindo olhares furtivos enquanto seus passos firmes ecoavam pelas vielas.
Sua mente estava em Amanda. O toque dela, o cheiro doce de sua pele e a forma como seus olhos pareciam desnudar sua alma o faziam sorrir sem perceber. Cada encontro era uma descoberta, e cada instante ao lado dela era como aprender a respirar de uma nova forma.
Mas aquele instante de contemplação foi interrompido.
— Bruno!
A voz era feminina, suave e cheia de intenções. Ele se virou e encontrou Natasha. Ela estava ali, a poucos metros dele, como uma visão saída de um devaneio. A pele escura de Natasha refletia a luz do sol poente, e seus olhos penetrantes, quase felinos, pareciam enxergar direto dentro dele. Seus lábios pintados de vermelho formavam um sorriso que prometia algo além do simples cumprimento.
Natasha era uma presença enigmática no bairro, com sua postura confiante e uma sensualidade que não pedia permissão. Naquele momento, vestia um vestido leve que abraçava suas curvas como se tivesse sido costurado diretamente em sua pele. Bruno tentou desviar o olhar, mas era impossível ignorar o magnetismo dela.
— Oi, Natasha. — Ele respondeu, a voz rouca, mas tentando manter o controle.
Ela se aproximou lentamente, como uma pantera rondando sua presa. Seus passos tinham uma cadência deliberada, e o perfume floral que emanava dela parecia se entrelaçar ao ar ao redor de Bruno. A distância entre eles diminuiu, e a conversa, que começou inofensiva, ganhou um peso silencioso, carregado de intenções não ditas.
— Eu gosto de te ver por aqui, Bruno. — A voz dela era quase um sussurro, mas cheia de uma confiança que o fazia estremecer. — Sempre tão sério... tão distante. Acho que você precisa relaxar mais. Se permitir...
Ela brincava com o colar em seu pescoço, os dedos desenhando círculos lentos enquanto seus olhos permaneciam fixos nos dele. A tensão no ar era palpável, e Bruno sentia seu corpo reagir antes mesmo de sua mente processar o que estava acontecendo. Natasha era um convite. Um desafio.
Ela deu um passo à frente, e a proximidade entre os dois o fez prender a respiração. O vestido leve que ela usava revelava mais do que escondia, e a forma como ela tocou seu braço – um toque suave, quase imperceptível – enviou uma onda de calor por todo o corpo de Bruno.
— Você está muito tenso... — Natasha sussurrou, inclinando-se para perto, seus lábios a milímetros de seu ouvido. — Eu sei o que você quer.
Era uma afirmação, não uma pergunta. O calor do corpo dela, o cheiro intoxicante, o olhar que parecia despir qualquer resistência – tudo fazia parte de um jogo que ela sabia jogar bem. Bruno sentiu uma chama subir por dentro dele, mas, ao mesmo tempo, algo mais forte o puxava de volta.
Seus pensamentos correram para Amanda. Ele lembrou-se de seus olhos profundos, cheios de ternura, e do jeito como ela o fazia sentir-se inteiro. A lembrança do sorriso dela era como uma brisa fresca, e a imagem de seus lábios o fez respirar fundo.
Bruno deu um passo para trás, afastando-se do magnetismo de Natasha. Seus olhos encontraram os dela por um instante, e, embora houvesse desejo em seu olhar, havia algo mais: decisão.
— Desculpe, Natasha. — Sua voz era firme, mas não rude. — Eu não posso.
Natasha arqueou uma sobrancelha, surpresa, mas não desapontada. Seu sorriso se transformou em algo diferente, mais enigmático. Ela deu um passo atrás, deixando espaço entre eles, mas seus olhos ainda o desafiavam, como se soubesse que ele havia lutado contra si mesmo para resistir.
Sem dizer mais nada, Bruno se virou e começou a caminhar em direção à casa de Amanda. Cada passo parecia afastá-lo da tentação e aproximá-lo do que realmente importava. Quando chegou à casa dela, encontrou-a na varanda, com os braços cruzados sobre o peito e um sorriso leve, mas cheio de mistério.
— Você demorou. — A voz de Amanda era suave, mas o olhar que ela lhe lançou era profundo, como se já soubesse o que havia acontecido.
Ele não disse nada. Apenas se aproximou, tocou o rosto dela com a palma da mão e a beijou com toda a intensidade que segurava em seu peito. O beijo foi uma promessa, um agradecimento e uma rendição. Amanda respondeu com um sorriso, puxando-o para mais perto, conduzindo-o para dentro da casa.
Naquela noite, o desejo que os unia foi como um incêndio lento e avassalador, alimentado por uma paixão que não precisava de palavras para ser compreendida. Enquanto as mãos de Bruno deslizavam pelo corpo dela, como se agradecessem por cada curva, Amanda o recompensava com uma entrega completa, profunda e envolvente, como o mar que os havia unido.
Bruno soube, naquela noite, que resistir não era sobre o que deixava para trás, mas sobre o que escolhia valorizar. E, nos braços de Amanda, encontrou mais do que desejo – encontrou um lar.