Era uma noite fria e chuvosa quando Marina e Ricardo entraram no restaurante acolhedor no centro da cidade. Celebravam seu quinto aniversário de namoro, e tudo parecia perfeito: a mesa junto à janela, a iluminação suave, o aroma de pratos elaborados no ar. O ambiente tinha algo de mágico, um lugar onde os sentidos se aguçavam.
Ricardo, atento como sempre, escolheu o vinho e puxou conversa sobre seus planos para o fim de semana. Marina sorria, mas, por dentro, sua mente começava a vagar. Foi quando ela sentiu um olhar sobre si. Levantou os olhos e encontrou, em uma mesa próxima, um homem que parecia hipnotizado por ela. Era alto, de cabelos levemente desgrenhados e olhos que carregavam uma intensidade perturbadora. Ele sorriu de canto, um gesto tão sutil quanto provocador.
Ela desviou o olhar rapidamente, sentindo as bochechas corarem. Tentou se concentrar no que Ricardo dizia, mas agora havia uma inquietação que não conseguia controlar. Por que ele estava olhando para ela daquela forma? E por que aquilo a fazia sentir uma mistura desconcertante de lisonja e culpa?
Enquanto o jantar prosseguia, os olhares continuavam. O homem não parecia intimidado pelo fato de Marina estar acompanhada, e a ousadia dele a deixava intrigada. Aos poucos, ela começou a ceder, permitindo-se olhar de volta, mesmo que de forma breve. Era como um jogo, perigoso e viciante.
Ricardo, alheio à troca silenciosa, estava animado, contando sobre um novo projeto no trabalho. Marina ouvia fragmentos, mas sua atenção já estava dividida. Sentia-se dilacerada entre a familiaridade e a segurança de Ricardo e a pulsação de algo desconhecido que o outro homem parecia representar. Era como se estivesse sendo arrastada por uma corrente invisível, irresistível e ao mesmo tempo assustadora.
Quando o garçom trouxe a sobremesa, Marina percebeu que o homem misterioso se levantava para sair. Ele passou por sua mesa lentamente, e seus olhos cruzaram os dela por um instante que pareceu eterno. Ele não disse nada, mas o sorriso enigmático que lançou antes de sair foi o suficiente para fazer seu coração disparar.
Ricardo notou a distração de Marina e perguntou com um sorriso preocupado:
— Tudo bem, amor? Você parece distante.
Ela respirou fundo, sentindo o peso do momento. Não sabia o que responder. Estava bem? Talvez. Mas também estava confusa. Um turbilhão de emoções tomava conta de seu peito: culpa, desejo, medo e uma centelha de curiosidade.
— Estou, sim — respondeu finalmente, forçando um sorriso. — Acho que só estou cansada.
Enquanto saíam do restaurante, Marina olhou pela última vez para o espaço vazio onde o homem estivera. Perguntava-se se aquele encontro silencioso significava algo ou se era apenas o eco de uma fantasia passageira.
Ricardo apertou sua mão e Marina se perguntou se o amor que compartilhavam seria suficiente para silenciar aquele novo desejo que havia sido despertado.
Marina e Ricardo deixaram o restaurante sob a chuva fina que caía sobre a cidade. Ricardo, em clima de celebração, sugeriu prolongar a noite em um lugar especial. Marina hesitou por um momento, mas concordou. Ele a levou para um motel elegante nos arredores, com uma suíte decorada em tons quentes e uma banheira de hidromassagem borbulhando à espera.
Enquanto Ricardo se animava com o clima, Marina sentia-se estranhamente desconectada. Tentava se convencer de que tudo estava bem, que a noite deveria ser sobre eles dois e o amor que haviam construído ao longo dos anos. Mas sua mente insistia em retornar ao olhar hipnotizante do estranho no restaurante.
Quando começaram a se despir, Marina fechou os olhos, tentando se concentrar. Ricardo era atencioso, carinhoso, um parceiro dedicado que conhecia cada detalhe do seu corpo e de sua alma. Porém, assim que ele começou a beijá-la, sua mente a traiu. As mãos dele pareciam perder o peso da familiaridade e, em sua imaginação, eram substituídas por mãos mais firmes, misteriosas, como ela imaginava que seriam as do homem do restaurante.
Os beijos de Ricardo tornaram-se mais intensos, mas Marina se entregava ao que acontecia em sua mente, criando um mundo paralelo onde o desconhecido invadia aquele espaço íntimo. Seu coração batia mais rápido, mas não era pelo toque de Ricardo; era pela fantasia, pelo proibido que pulsava dentro dela.
— Você está bem, amor? — Ricardo perguntou, interrompendo o momento ao perceber a expressão distante de Marina.
Ela abriu os olhos, assustada. Sentiu o rosto corar e tentou disfarçar com um sorriso nervoso.
— Estou sim. Desculpa, só... me perdi nos pensamentos.
Ele sorriu de volta, achando que era apenas o cansaço ou o vinho, e continuou tentando reacender a chama do momento. Marina, no entanto, sentia-se cada vez mais culpada. Parte dela queria parar tudo, confessar o que estava sentindo, mas a outra parte temia as consequências. Como explicar algo que ela mesma não compreendia?
Quando finalmente chegaram ao ápice da intimidade, Marina manteve os olhos fechados, buscando nos recônditos de sua mente a emoção que Ricardo já não parecia conseguir provocar. Ela imaginou o outro homem, os olhos profundos, o sorriso provocador. Sentiu um arrepio que, para Ricardo, era um sinal de prazer, mas para ela era o peso de um segredo.
Depois, enquanto Ricardo dormia ao seu lado, satisfeito e sereno, Marina ficou acordada, olhando para o teto. Perguntava-se o que estava acontecendo consigo mesma. Por que aquele encontro fugaz no restaurante a marcara tanto? Era apenas uma fantasia? Ou aquilo dizia algo mais profundo sobre o que faltava em sua vida ou em seu relacionamento?
O silêncio da suíte parecia sufocante. Marina sabia que não podia ignorar o que sentia. Mas o que faria com esses sentimentos era uma pergunta para a qual ela ainda não tinha resposta.