Maria apareceu na minha vida quando eu estava terminando o colegial. Ela era sobrinha da Dona Lúcia, uma empregada dos meus pais que conheço desde que me entendo como gente. Ela veio às pressas do norte de Minas para ficar na casa da tia. Eu não sabia na época, mas depois a própria Maria me contou que foi expulsa de casa pelo pai. Maria era bisexual e foi flagrada aos beijos com uma amiga do colégio. Depois de levar uma surra da mãe, foi jogada na rua pelo pai. Sua família era de um pequeno arraial e ela não tinha para onde ir. Todos viraram as costas para ela. A amiga dela jogou a culpa toda em cima dela e como a garota era de família rica, as coisas só pioraram para Maria. Sua sorte foi que depois de dois dias dormindo na rua, uma prima dela a procurou. Essa prima levou comida para ela e a levou até a cidade vizinha. Lá ela comprou uma passagem de ônibus para ela vir para BH e avisou que a tia delas que morava na capital a estaria esperando.
As únicas pessoas que conhecia essa história eram eu e sua tia. Talvez Júlia saiba também, as duas são muito amigas. Júlia é muito apegada a Maria, já que praticamente viveu a vida toda com ela. Maria fez mais o papel de mãe para minha filha do que eu mesmo. Quando Maria chegou na casa da tia dela, ela foi direto trabalhar na minha casa como babá da Júlia. Foi assim que nós nos conhecemos. Maria parecia uma india, morena escura com cabelo preto, lisos e longo. Ela tinha um sorriso muito bonito e apesar da vida sofrida, era uma garota de bem com a vida. Não demorou muito para a gente se tornar boas amigas.
Quando eu me casei, não pensei duas vezes em levar Maria para trabalhar para mim. Nossa amizade só cresceu nesse tempo. Começamos a compartilhar alguns segredos e foi quando ela me contou sua história. Isso só me fez gostar dela mais ainda. Maria além de ser uma ótima empregada, era minha melhor amiga. Minha filha a amava como se fosse sua segunda mãe. Pedro nunca foi de conversar muito com ela, mas a tratava educadamente, até a noite que ele viu ela beijar outra mulher. A partir daquele dia ele não dirigiu mais a palavra a ela. Não gostava da amizade minha com ela e muito menos da amizade dela com Júlia. No início era pior, com o passar dos anos deu uma melhorada.
Maria sempre cuidou da minha casa como se fosse a dela. Na época da reforma foi um caos e Maria sofreu muito porque era uma bagunça todos os dias para ela arrumar. Foi nessa época que resolvi fazer os três cômodos para ela no fundo da casa. Era um quarto, sala e banheiro. Não era muito, mas ela teria o cantinho dela e evitaria os encontros constrangedores dela com Pedro dentro da nossa casa. Ela amou e Pedro também. Depois da reforma eu peguei no pé dela para ela voltar a estudar e terminar pelo menos o ensino fundamental. Ela fez isso e apesar de eu insistir, ela não quis fazer faculdade.
Maria era como da família para mim e principalmente para Júlia, que vivia grudada nela. Foi por causa de Maria também que descobri que eu poderia ser bisexual igual ela. Quando ela me contou sua história eu fiquei curiosa com aquilo. Claro que eu já sabia o que era, mas nunca foi algo que me despertou curiosidade. Mas depois que falei com Maria aquela curiosidade apareceu.
Em uma noite eu estava no meu quarto e comecei a pesquisar sobre o assunto. Li alguns artigos e fiquei pensando sobre o que li. Bom, um pensamento leva a outro e a outro. Não demorou muito e eu estava procurando um vídeo sáfico para eu ver. Achei um vídeo com duas garotas lindas se pegando. Não era um porno, mas era muito erótico. Nem percebi quando estava de boca aberta e com minha buceta toda molhada vendo as duas garotas se pegando. Aquilo me deu muito tesão. O vídeo tinha uns quinze minutos e no décimo eu já estava com a mão dentro da minha calcinha me masturbando. Voltei o vídeo umas duas vezes, eu com certeza gostei muito do que vi. Aquilo me deixou muito excitada. E só parei de ver quando tive um orgasmo gostoso com meus dedos atolados na minha buceta.
Depois do tesão passar eu fiquei pensando sobre o que tinha acontecido. Com certeza eu tinha gostado do que vi e não me importaria de estar no lugar de nenhuma das duas mulheres. Aquilo ficou na minha cabeça por um tempo e acabei falando com Maria. Ela foi muito legal comigo, me explicou como ela lidava com isso. Nossa conversa me deixou mais tranquila. Eu nunca tive certeza absoluta se eu era mesmo bisexual, mas eu tinha quase certeza que sim. Eu sempre reparei mulheres bonitas e ficava muito excitada quando via alguma cena entre duas mulheres. Mas isso nunca foi um problema para mim. Nunca pensei em ficar com uma mulher ou me fantasiei com uma em específico. Era algo que me excitava, como cenas de um homem com uma mulher também me excitava. Mas coisas assim como essa descoberta me deixou ainda mais próxima da Maria. Ela era uma amiga da minha total confiança. Por isso aquela revelação me machucou tanto. Como ele pode ficar com o Pedro? Como ela pode jogar nossa amizade no lixo assim?
Foi pensando nisso que parei meu carro na porta da casa da sua tia. Ela não tinha outro lugar para ir. Então eu tinha certeza que ela estava ali.
Desci do meu carro e chamei no portão, mas ninguém veio atender e a casa parecia estar toda fechada. Resolvi ligar para Dona Lúcia e fui atendida rapidamente. Ela já me atendeu me perguntando algo que me fez repensar o que eu iria fazer.
~Oi , minha querida. O que aconteceu na sua casa? Porque Maria está indo embora? O que ela fez?
Eu não esperava por aquilo.
~Oi, Dona Lúcia. Eu não sabia que Maria estava indo embora. Eu achei que ela estava na sua casa. Inclusive estou aqui na porta. Vim conversar com ela.
Dona Lúcia não iria mentir para mim e ela realmente pareceu preocupada com a sobrinha.
~Ela não está aí. Eu estou com a chave e estou aqui na casa da sua mãe. Maria me mandou uma mensagem mais cedo. Ela disse que estava indo embora. Me agradeceu por tudo que eu fiz por ela e pediu desculpas por ter estragado tudo. Eu não entendi nada. Estou preocupada com ela, mas não posso sair daqui agora. Eu estava pensando em te ligar para ver o que tinha acontecido, mas você acabou ligando primeiro. Vocês brigaram? Ela fez alguma coisa errada?
Eu não sabia o que falar. Achei melhor não contar tudo.
~Ela errou feio comigo, mas não brigamos não. Na verdade eu nem a vi depois que descobri o erro. Queria me encontrar com ela justamente por isso. A senhora tem ideia de onde ela pode estar?
Minha esperança de ter alguma informação era Dona Lúcia.
~Espero que vocês se acertem, Maria gosta muito de você e da sua família. Olha eu não faço ideia, por isso estou preocupada. Ela não tem para onde ir aqui na cidade e se ela está pensando em voltar para casa, ela está fazendo uma grande burrada. Ela não vai ser bem-vinda por ninguém na sua cidade. Se mesmo assim ela pensou em fazer isso, ela deve estar na rodoviária. Tem um ônibus que sai às 21 horas para a cidade dela. Olha, eu não sei o que houve e respeito sua privacidade, mas se você ver ela, não deixa ela ir embora não. Ela vai passar pelo inferno lá na cidade dela de novo.
Naquele momento eu realmente queria que ela passasse um inferno mesmo. Como ela estava me fazendo passar. Mas achei melhor guardar aquilo para mim.
~Tudo bem. Vou ver se a encontro. Se eu conseguir lhe dou notícias. Se caso a senhora tiver notícias dela, me avise por favor.
Nos despedimos e eu olhei a hora. Se Maria tivesse ido para a rodoviária com certeza ela ainda estaria lá. Entrei no meu carro e segui para a rodoviária. Eu precisava ouvir da boca dela o que levou ela e Pedro me traírem covardemente. Eu tinha certeza que Pedro não me falaria, ele podia confirmar o que houve e só. Mas pela cara que ele fez falei para ela sair da minha casa, eu sabia que era verdade. Mas me contar com detalhes e o motivo, ele não contaria. Provavelmente ainda iria arrumar alguma desculpa. Maria apesar de ter sido uma FDP comigo, teve a decência de me contar a verdade.
Depois de quase 40 minutos de um trânsito infernal eu cheguei na rodoviária. Estacionei o mais perto possível e fui procurar Maria no meio daquele mar de gente. Tentei ligar para ela de novo, mas foi em vão. Quando eu estava quase desistindo eu a vi sentada em um dos bancos. Eu não a tinha visto antes porque ela estava com a cabeça baixa, mas eu reconheci a sua roupa. Com certeza era ela. Me aproximei e ela não me viu porque ela continuava de cabeça baixa. Quando cheguei praticamente de frente para ela, acho que ela reconheceu meu salto e levantou a cabeça. Seu rosto estava todo inchado, provavelmente de chorar. Ela me olhou nos olhos rápido e abaixou a cabeça de novo. Eu estava com muita raiva e minha vontade era de xingar ela. Mas respirei fundo e sentei ao seu lado. Já ouvi o choro dela.
~Maria precisamos conversar.
Ela só balançou a cabeça negativamente. Mas eu insisti.
~Como assim? Você me deve isso depois da sacanagem que você fez comigo.
O choro dela aumentou de volume. Mas ela conseguiu me responder.
~Eu já te contei o que tinha para contar. Se quiser me xingar, me bater, tudo bem, eu mereço. Mas não tenho mais nada a dizer.
Aquilo começou a me irritar mais do que eu já estava irritada.
~Você só me agradeceu pelas coisas que fiz para você. Depois disse que sentia muito, mas ficou com meu marido e que iria deixar o trabalho. Sua carta mais parecia um bilhete. Nem a capacidade de se desculpar ou se justificar você teve. Agora não quer conversar comigo? Qual o seu problema?
Ela respirou fundo e tentou limpar o rosto com as mãos. Dessa vez ela me olhou e foi de dar pena a situação do rosto dela.
~O que você quer que eu diga? Não tem justificativa o que eu fiz. Eu até podia dizer que aconteceu porque eu estava bêbada, mas não vou dizer porque eu sabia o que estava acontecendo no início e não o impedi. Eu poderia inventar um monte de justificativa para meu erro, mas isso não iria diminuir ele. Eu não pedi desculpas, porque não tem desculpas para o que eu fiz, se tivesse eu me ajoelharia aos seus pés para ter seu perdão. Mas eu sei que eu fiz algo imperdoável, eu sei que estraguei tudo.
Ela abriu a boca para me dizer mais alguma coisa, mas do nada ela se levantou e correu em direção a uma lixeira e eu fui atrás. Ela se abaixou e começou a passar mal. Quando eu vi ela vomitar eu só pensei em uma coisa. O que pensei fez meu estômago embrulhar na hora. Não era possível que aquilo estava acontecendo comigo.
Maria parecia ter melhorado e limpou a boca com as mãos e voltou ao lugar que ela estava sentada. Eu sentei ao seu lado novamente
~Você está grávida?
Ela ficou em silêncio e eu entendi como um sim.
~Pedro sabe dessa gravidez?
Ela só confirmou balançando a cabeça.
~Você não pode ir embora grávida. Ele tem que te ajudar. O filho também é dele.
Ela começou a chorar de novo e disse suas últimas palavras ali naquele momento.
~Ele quer que eu tire essa criança. Eu não vou fazer isso.
Eu não esperava por aquilo e nem pelo que aconteceu a seguir. Seu corpo ficou mole de uma hora para outra, seu tronco tombou para o lado e foi escorregando até ir parar no chão. Eu tentei segurar ela mas não deu tempo. Eu realmente me assustei quando isso aconteceu. Me abaixei e tentei despertar ela, mas foi em vão. Peguei meu celular e liguei para o SAMU. Expliquei o que estava acontecendo e eles avisaram que já estavam enviando uma ambulância. Fiquei ali sem saber o que fazer. Várias pessoas vieram ver o que estava acontecendo. Eu expliquei que ela tinha desmaiado e eu já tinha chamado uma ambulância. Logo um policial apareceu e tive que explicar para ele que ela era minha empregada e tinha desmaiado. Ele me encheu de perguntas e eu fui respondendo. Dei graças a Deus quando vi dois homens se aproximando com uma maca. Eles a colocaram e a levaram até a ambulância. Eles me deixaram ir junto, já que eu disse que era sua patroa e ela não tinha ninguém responsável por ela.
No hospital eles a levaram para dentro e eu resolvi toda a burocracia na recepção. Depois liguei para minha filha e perguntei se ela estava sozinha em casa. Ela disse que não, que o pai dela estava lá. Pelo jeito Pedro não fez o que pedi, mas naquele momento seria até útil ele estar lá. Falei para minha filha que estava no hospital com Maria, mas que ela para ela ficar calma que Maria só teve um mal estar e eu iria ficar com ela. Falei para ela avisar o pai dela e que eu não sabia quando iria voltar, mas daria notícias. Ela ficou toda preocupada, mas insisti que não tinha motivos e logo eu estaria em casa. Assim que desliguei, eu liguei para Dona Lúcia, disse basicamente a mesma coisa e procurei acalmá-la também. Depois fui para a sala de emergência que Maria estava. Já tinha um médico ao lado dela. Ele me perguntou o que tinha acontecido com ela. Eu expliquei que a gente estava na rodoviária e ela desmaiou. Contei que ela estava grávida de provavelmente dois meses. Falei que ela estava passando por um momento de muito stress emocional e que ela tinha chorado muito antes do desmaio.
Ele me agradeceu e começou a examinar ela. Logo chegou uma enfermeira, me disse que se eu quisesse podia esperar do lado de fora e qualquer coisa me avisaria. Eu saí dali e me sentei em uma das cadeiras que tinha no corredor, mas não fiquei muito ali. Fui procurar um banheiro e depois de pedir informação a uma faxineira o encontrei. Entrei em uma das cabines e me sentei no vaso. Ali eu desabei em um choro que parecia vir da alma. Acho que nunca chorei tanto na minha vida. Eu sentia uma dor tão forte no meu peito, que em alguns momentos eu achei que iria passar mal.
Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas foi bastante tempo. Quando consegui me acalmar, eu saí da cabine e fui lavar o rosto. Quando voltei para onde eu estava, já fui direto para a sala que Maria estava. Uma enfermeira disse que o médico pediu para levar Maria para o quarto, porque ela iria ter que ficar internada. Ela me perguntou se eu iria ficar de acompanhante e eu disse que sim. Ela pediu para eu seguir ela que logo dois enfermeiros iria levar Maria para o quarto. Eu a segui até o quarto e logo os enfermeiros chegaram com Maria em uma maca. Colocaram ela na cama e eu me sentei em uma poltrona ao lado da cama. Ali eu passei a noite toda.
Pensei em várias situações durante a noite toda. Acabei chegando a uma conclusão. Maria não tinha para onde ir, sua família não iria aceitar ela pelo que Dona Lúcia disse. Na casa de Dona Lúcia ela não podia ficar. Dona Lúcia ficava mais na casa da minha mãe do que na casa dela. Não tinha como ela cuidar de uma grávida, ainda mais com a idade avançada que ela estava. A única opção era ela ficar na minha casa e eu contratar outra empregada se a gravidez dela fosse de risco. Eu estava com muita raiva dela, não sei se algum dia eu iria conseguir perdoá-la, mas eu não podia abandonar uma mulher grávida. Aquela criança era fruto de uma traição, meu marido era o pai dela, mas aquela criança também era irmão da Júlia. Minha filha nunca iria me perdoar se eu fizesse algo ruim para essa criança. Eu estava em uma situação complicada, mas nem minha filha é nem aquela criança tinha culpa do que houve. Parecia loucura, mas eu iria levar Maria de volta.
Quando o dia clareou perguntei a uma enfermeira se ela sabia de alguém para ficar de acompanhante no meu lugar. Que eu pagaria bem, ela me disse que sabia assim, que tinha uma amiga que podia fazer isso. Pedi para ela ligar para sua amiga e pedir para ela vir o mais rápido possível. Depois liguei para o Marcos, eu sabia que ele acordava cedo. Ele me atendeu e eu expliquei para ele que eu não poderia ir trabalhar nos próximos dois dias, mas que iria resolver tudo com minha secretária. Ele perguntou o que estava acontecendo, eu disse que era uma longa história, mas explicaria para ele assim que eu o visse. Ele foi muito solícito comigo e eu estava de folga por dois dias.
Esperei a amiga da enfermeira chegar. Combinei tudo com ela e passei meu número particular para ela me ligar a qualquer momento. Maria não tinha acordado ainda e eu pedi para a garota explicar para ela que eu tinha ido em casa, mas voltaria a noite. Liguei para um uber e fui para a saída do hospital. Assim que o uber chegou eu fui para minha casa. Eu precisava resolver tudo em dois dias e precisava urgentemente dormir um pouco também.
Assim que entrei fui direto para meu quarto e Pedro estava sentado na cama. Parecia que ele estava me esperando. Estava na hora da gente resolver nossa vida. Respirei fundo antes de sentar ao seu lado. Eu não queria brigar, eu só queria resolver tudo com uma boa conversa. Mas infelizmente nem tudo sai como a gente quer.
Continua..
( Críticas, dicas e elogios são sempre bem vindos, desde que feito com respeito e educação. Obrigado. )