Assim que acordei, fui fazer meu pequeno ritual do silêncio de sempre, observando a paisagem ali na pousada. Achei que não conseguiria por conta das obras, porém domingo é um dia santo por ali; nem se os funcionários quisessem, poderiam bater um prego.
Quando retornei, minha sogra estava deitada em uma rede na varanda da casa, e me juntei a ela, sentando em uma cadeira próxima. Ficamos conversando sobre várias coisas, e ela entrou no assunto Júlia. Falou que eu já deveria saber, mas elas tiveram um momento muito bonito no sofá e que estava feliz por isso e também por nós, com a chegada de mais um bebê.
Com certeza, eu não esperava ouvir aquilo, mas foi muito bom. Me deu vontade de abraçá-la, e acho que isso ficou perceptível. Em uma tentativa de não tornar aquele momento melancólico, minha sogra levantou e foi fazer uma bandeja de café da manhã. Imaginei que era para meu sogro, que ainda não estava se sentindo bem e não havia levantado. Um médico viria avaliá-lo à tarde porque ele se recusava a ir às consultas.
Avisei que ia ao haras buscar os cavalos para que, quando as crianças acordassem, tivessem uma surpresinha. Ela assentiu e foi à pousada pegar alguma coisa. Resolvi tomar um banho antes, e quando entrei no quarto, percebi que Juh já tinha acordado. Estava com outra roupa, mas provavelmente foi tomada pelo soninho novamente. Entrei no chuveiro com todo o cuidado para não fazer tanto barulho, mas, quando saí, ela já estava sentada, recostada na cabeceira da cama. Assim que nossos olhos se encontraram, um sorriso brotou imediatamente em nossos lábios. Ela esticou os braços me chamando; nem precisava, com certeza eu iria lá dar um beijinho nela.
— Acordei e você não estava aqui — disse, após o beijo, me apertando pelo pescoço como se não quisesse soltar.
— Estava lá fora, gatinha — falei, depositando diversos beijinhos em seu pescoço.
Júlia me segurou pelo rosto, retomando o beijo de forma mais intensa. Passou a fazer carinho de forma delicada nas minhas costas, por baixo da camisa que eu vestia. Sua mão, lentamente subindo e descendo, fazia com que eu me arrepiasse da cabeça aos pés.
— Você tá querendo e tá sabendo pedir... — falei, e ela sorriu.
— Do que você tá falando? — perguntou-me cinicamente.
— Disso aqui! — disse, enquanto ia abaixando o short que ela vestia.
A muié estava uma piscina.
— Eu amo os hormônios da gravidez! — falei, e ela riu me apressando.
Me encaixei melhor entre suas pernas, trazendo-a para a beira da cama e me ajoelhando a sua frente, segurei suas coxas e comecei a fazer um trabalho linguístico, no meu idioma preferido.
De repente, bruscamente, Júlia fechou as pernas na minha cabeça.
— AAAAAAAAAH! — ela gritou assustada e também me assustou.
— Caralho, doeu — falei, tentando olhar para ela.
Quando consegui, percebi que algo errado tinha acontecido. Seu olhar estava voltado para a porta, mas, ao acompanhar a direção, não havia nada lá.
— Viu um fantasma? — perguntei, rindo.
— Minha mãe! — exclamou, finalmente olhando para mim, mas o pânico ainda estava nela.
— Meu Deus! — também me assustei.
— Vai lá falar com ela, amooooor!!!!!! — falou, desesperada.
— Oxeee, falar o quê? Já viu mesmo, gatinha, não tem o que fazer — disse-lhe.
— Tem sim, vai lá — falou, rolando para o outro lado da cama, procurando o short que eu tinha jogado longe.
— Naaaaaao, vem cá pra eu terminar o que eu estava fazendo — disse, ao prendê-la nos meus braços.
— Por favor, vai lá e conversa com minha mãe. E se ela voltar a me odiar de novo???? — disse, quase chorando.
— Então você não acha que é melhor você ter essa conversa com ela? — sugeri.
— Não, tô implorando pra você ir. Por favor, Lore! — pediu.
— Tá bom, tá bom... — falei, respirando fundo.
Juh me deu um selinho e sentou na cama. Ela realmente estava com medo.
— Amor, não sofre por antecipação. A gente já passou por coisas piores, tenho certeza de que tudo ficará bem, ok? — falei, fazendo carinho no seu rosto.
Ela me abraçou bem forte e, antes de sair, dei um beijinho na sua testa.
Ao aparecer na cozinha, encontrei D. Jacira calmamente tomando um cafezinho. Eu ainda não sabia o que dizer; sei lá, por mim a gente poderia ignorar o fato e seguir a vida.
Cocei um pouquinho a cabeça como se aquilo fosse me ajudar a criar as palavras perfeitas para justificar que eu só estava fazendo sexo com minha esposa.
— Então, sogra... É... Juh pediu que eu conversasse com a senhora sobre o que a senhora acabou de ver... — falei.
— Eu não queria atrapalhar, só fui levar o café, já que ela ainda não tinha descido, e achei que você estava no haras.
A bandeja que ela preparava era para Júlia.
— Eu precisei de um banho antes e acabei me distraindo... — falei, e ela entendeu.
— Era para eu ter entregado isso para vocês — disse, jogando a chave para mim.
— Obrigada... — agradeci, mesmo estranhando a reação tão calma.
— Leva o café para ela. Se deixar, Júlia pula todas as refeições — me aconselhou.
— A senhora não pode levar novamente? Ela tá toda triste, achando que sua reação não seria boa. Conhecendo Juh do jeito que conheço, ela vai ficar muito feliz com o gesto — falei, e ela assentiu.
Minha sogra ia saindo, virou-se para trás e disse rindo: — Eu sabia que você era o homem.
Eu comecei a rir também, indo em sua direção para impedi-la de prosseguir.
— Continua entendendo errado, não há um homem... Foi só o momento em que a senhora chegou... Bom, talvez se fosse um pouco depois, veria o oposto! — falei, ainda rindo.
— Lorena... Você tem uma cara que vira minha filha pelo avesso... Cuidado que agora tem uma criança dentro dela — disse-me, mas sorria também.
— Seu erro é achar que Juh é um anjo, sogrinha... — completei, e fui saindo.
— Para, não quero mais imaginar coisas — falou, seguindo para o quarto.
Definitivamente, eu não esperava por esse diálogo, mas estava feliz por ele ter acontecido. Não é segredo que eu amo conversar, falar, me comunicar. Por mais delicadas que sejam as situações, e às vezes me faltem palavras, não existem assuntos que me travem. Claro que conversar com minha sogra sobre a minha vida sexual com a filha dela está longe do meu top 100 de coisas que eu gosto de fazer, mas não foi um probleeeema, como eu sei que seria para muitos, ainda mais porque nós duas conseguimos contornar a situação com certo humor. Algo que eu nunca imaginei acontecer; a mulher que não queria que eu abraçasse a filha sob o teto dela agora reagia da melhor maneira possível ao nos flagrar em um momento íntimo.
Fui ao haras andando e voltei montada no Cavalo. Ele é mais calmo que o Spirit; este eu vim segurando pela corda de guia. Já estavam alimentados e os deixei soltos na área da pousada. Agora estava tudo fechado e não havia risco de eles fugirem.
Ao entrar na casa, vi Kaká e Mih brincando e conversando com o irmãozinho ou irmãzinha. Isso divertia Juh, que estava deitada no sofá, e minha sogra, que se encontrava sentada em uma poltrona, os observando. Entrei e os dois engraçadinhos nem me viram.
— Bebê, você tem que gostar de Jão, cavalos, jiu-jitsu e futebol, tá bom? — pediu Milena, rindo.
— Agora é minha vez — anunciou Kaique, encostando na barriga de Juh. — Bebê, por favor, não roube o colo da mamãe só para você, eu ainda preciso dele!!!!
— Posso tentar? — perguntei, de trás do sofá, assustando-os.
— Pode! — disseram, sorrindo.
— Bebê, seus irmãos estão muito mimados. Venha acabar com isso!!! — falei, rindo, e eles começaram a me empurrar para longe.
— Mãe, a senhora não sabe o que está dizendo — disse Kaká, rindo.
— Bebê, não escuta elaaaa!!!! — disse Mih, em desespero, enquanto eu a carregava, colocando-a de cabeça para baixo e fazendo cócegas.
— Eu te salvo, Mih — disse Kaique, mas eu consegui pará-lo apenas segurando sua cabeça enquanto ele tentava me alcançar com os braços.
— Pronto, agora que já ganhei de vocês, declaro uma trégua — falei, soltando os dois que não aguentavam mais de tanto rir.
Ficamos um bom tempo ali, esperando para ouvir o que o médico tinha a dizer, mas não deu tempo. Eu não queria sair à noite e já estava ficando tarde. As crianças se divertiram bastante e, pela primeira vez, deixamos que fossem sozinhas devolver os cavalos e voltarem. Ficaram se sentindo superadultos com isso.
Quando nossos filhos dormiram no caminho, Júlia me agradeceu por ter conversado com a mãe dela e me contou como tinha sido. Minha sogra apenas fingiu que nada aconteceu, agindo normalmente. Aconselhou o que ela deveria evitar durante a gestação e sugeriu colocar algumas coisas na alimentação. Achei muito atencioso da parte dela; adorei saber que finalmente tudo estava entrando nos eixos.
No outro dia, levei as três bênçãos para a escola e fui para a clínica. Juh e eu estávamos ansiosas; seria a primeira consulta, o primeiro ultrassom para ver a nossa pequena sementinha.
Infelizmente, tive um dia bem estressante. Discuti com uma colega e, como trabalho com amigos, fiquei um pouco mal, mas sabia que veria lindos sorrisinhos em poucos minutos, e isso com certeza me deixaria melhor. Pena que eu estava redondamente enganada. Quando parei o carro, vi Kaique visivelmente bravo, Milena quieta e Juh mais ainda.
— O que houve??? — perguntei, olhando nos olhos de cada um quando entraram no carro.
— É... Nada demais. É melhor a gente conversar em casa — disse Juh.
— Algo ruim? — perguntei.
— Não, mas acho que você não vai gostar — respondeu, e quase consegui ver um sorriso em seus lábios.
Chegamos para o exame e foi bem bonitinho saber que estava tudo bem. Estava mesmo do tamanho de uma sementinha, tinha apenas 4 semanas; provavelmente, na próxima, íamos conseguir ouvir o coraçãozinho. Saímos com algumas requisições para exames e Juh foi lendo e imaginando mais e mais agulhas. Dois dos meus filhos não me confortaram com seus sorrisos, mas o(a) terceiro(a), que nem tamanho de gente tinha, conseguiu aliviar meu estresse.
Em casa, quis saber o que estava acontecendo; não era normal tanto silêncio.
Me joguei no sofá de frente para eles e perguntei: — Quem vai começar falando?
— Mostra! — falou Kaique para a irmã. — Milena recebeu uma cartinha de um menino e não deixou eu ir lá devolver — disse, bravo.
— Ah, é????? — olhei para Mih, que tinha o rosto quase enfiado no chão.
Olhei surpresa para Juh, que se aproximou de mim e me pediu para pensar direito antes de falar alguma coisa. Ela estava dizendo isso porque sempre que conversávamos sobre quando chegasse a idade do namoro (nesse caso, não tinha chegado; eles ainda iam fazer dez anos!), eu dizia que ia trancar os dois em um convento para evitar dor de cabeça. Era uma brincadeira com um fundinho de preocupação. Eu não era graça aos treze, muito menos aos dezesseis; não é algo que me dê orgulho e eu não queria que aquilo se repetisse com nenhum dos dois. Sempre soube que chegaria o dia e que não iria interferir, mas isso não quer dizer que estaria ansiosa, torcendo na primeira fileira para que o tempo chegasse, quanto mais retardasse aquilo, mais feliz eu estaria.
Ali havia duas coisas para resolver: a cartinha e o ciúme de Kaique.
— Deixa eu ver a carta — falei.
Milena me entregou, sem olhar para mim, estava com vergonha.
— Vem cá, amor... — chamei-a para meu colo e ela veio e deitou sobre meu peito.
Era basicamente uma cartinha do menino dizendo que Mih era muito linda e que queria namorar com ela.
— O que você achou? — perguntei para minha filha.
— Nada — respondeu baixinho.
— Você gostou? Por isso não deixou Kaká devolver? — insisti.
— Não! — exclamou, me olhando assustada. — Kaique estava muito bravo e ia procurar briga — se explicou.
— Huuuuuum, entendi... — falei, olhando para Kaká, que ainda estava irritado.
Nesse momento, Juh o chamou para sentar no colo dela e ele foi batendo os pés.
— Por que você ficou tão bravo? — Júlia perguntou para Kaique.
— Porque eu queria ter devolvido e dito que ele não ia namorar com a minha irmã — falou, cruzando os braços.
— Ficou com ciúme? — perguntei, e ele afirmou com a cabeça.
— Acho que não temos um problema aqui. Não quero mais saber de confusão na escola; então, acho que Milena evitou bem uma. Também não quero saber de criança namorando; vocês estão na idade de brincar e estudar. Daqui a muitos, muitos, muitos e muitos anos, vocês vão namorar — eca! — exclamou Kaká, me interrompendo, e eu ri — e aí sim nós vamos ter uma conversa séria de como vai acontecer, mas já adianto que vocês não terão poder para interferir na vida um do outro — concluí.
— O que você quer fazer com isso? — perguntou Juh para Mih, apontando para a cartinha.
— Amanhã eu entrego, agradeço e digo que não quero que se repita. Eu ia fazer isso hoje, mas preferi contar para a mamãe primeiro — respondeu firmemente.
— Vocês dois chegaram a discutir por isso? — perguntei.
— Não... — me responderam juntos.
— Eu só fiquei bem bravo e Mih não disse mais nada — respondeu.
— Querem falar algo um para o outro? — Juh perguntou.
— Desculpa ter ficado bravo, Mih — pediu, com uma carinha de arrependimento.
Ela esticou os braços sorrindo e ele correu para dentro deles. Juh se juntou a nós, enchendo as costas deles de beijinhos.
— É assim que gosto de ver. E entendam: nenhuma outra pessoa pode quebrar a união de vocês. Existe um elo que precisa ser cuidado para que permaneça firme! — finalizei.
Depois, mostramos a ultrassom e eles acharam super fofo. Disseram que D. Jacira conversou com eles para rezarem todas as noites pelo bebê e levaram o exame para os anjinhos. Kaká também havia ganhado um da minha sogra e agora a proteção era em dobro.
No quarto, Juh ficou rindo de mim e do meu "ah, é?" inicial, dizendo que não sabia quem estava com mais ciúmes: Kaká ou eu.
— Eu não esperava por isso tão cedo — falei, rindo.
— Mas você agiu super bem, como sempre — disse, cruzando as mãos no meu pescoço e me beijando.
Contei sobre a situação no trabalho e, após o banho, dormi enquanto minha mulher fazia uma deliciosa massagem para que eu relaxasse um pouco. Ela conseguiu; nem jantei com os três, pois só acordei no dia seguinte.