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A exposição vista de fora nada denunciava de outros eventos do agronegócio. Os toldos com metros de comprimento, em um tecido branco revestido com couro sintético, escondia, porém, as espécimes que eram expostas nas baias. O zum zum zum de vozes humanas enchia o lugar de ruído. Mas outro mais incomum e estranho aos ouvidos dos iniciantes na prática, podia assustar. Eram os relinchos das diversas espécimes espalhadas dentro do toldo. Havia o barulho dos ventiladores mas era apenas um ruído dentro dos outros. Os relinchos constantes moldava o ambiente sonoro do lugar.
Bia ouvia sem enxergar nada porque o seu mestre Henrique a trazia abaixada com a guia presa a sua boca e queixo. Ela descansava quando o mestre parava e permitia que sentasse nos calcanhares desde que com as pernas abertas. Antes de sair de casa, ele avisara muito sério:
- Caso me faça passar vergonha, - e mostrou o rebenque - vou tirar o teu couro.
Henrique cuidava de Bia desde que sua mãe havia morrido. Ele herdara além do veículo e da casa e uma fazenda, a guarda de Bia, e uma noite, decidiu entrar no seu quarto, e deitar em sua cama, desde então, Bia, passou a viver como mulher do padrasto. Há alguns meses quando ela saiu da escola no terceiro ano do ensino médio e completara dezoito anos de idade, Henrique anunciou:
- Vou te adestrar, - e sorriu coçando o cavanhaque - vem aqui cadelinha…
Henrique colocou uma coleira em seu pescoço e a proibiu de usar roupas dentro de casa. Ele fazia Bia comer de cocoras no chão e dizer:
- Sim mestre, - e ainda - obrigada mestre.
Por qualquer coisa que fizesse a Bia de mal ou bem.
Bia ficava com a bocetinha umedecida quando recebia um afago na cabeça vinda do mestre. Ele a comia todas as manhãs depois do café da manhã. Bia dormia em um compartimento para cachorros no quintal. Henrique a trancava lá dentro e só voltava a aparecer no outro dia pela manhã.
Há alguns meses ele anunciou que eles viajariam. Dessa vez apenas os dois. Porque tinha vezes que Henrique trazia homens para casa e mandava Bia fazer as vontades deles e ela fazia porque obedecer Henrique era como respirar, ela viajou para uma fazenda com um homem de uns setenta anos, apenas os dois, e o homem judiou de Bia, e ainda outro, que a levou para um aras de cavalos, e a tratava como um animal mas esse era mais jovem e Bia o achou lindo e o desejou ardentemente. Bia fazia as vontade do mestre Henrique, sem pensar. Mas desde que chegara aquele lugar. Sem roupa e no meio e um monte de gente em quem ela esbarrava ao passar. Sentindo o ar gelado em sua vagina. As roupas grosseiras passando de raspão por sua pele e os comentários dos homens. Aliás ela ouvia apenas as vozes e o cheiro de homens para onde quer que virasse o rosto. Bia se encolhia para o mestre.
- Para de roçar cadela, - ele avisara.
Henrique era um homem de mais ou menos um metro e oitenta. Com uma barriga estilo pochete. Ele praticava a dominação na enteada como diversão e para evitar que ela tivesse outros homens além de si mesmo. Os dezoito anos de Bia, o instigava. Ele passou a desejá-la depois de a mãe da menina falecer. Nas suas pesquisas sobre BDSM encontrou pessoas que começaram a aconselhá-lo.
"- Você tem sorte, a maior parte de nós, tem que lidar com escravinhas de meio período. Tu tem uma vinte e quatro horas!"
Um amigo fizera o convite para aquela exposição no sul do país.
"- Eu adestro uma que catei na rua há uns anos - disse esse amigo - já ganhou competição e tudo, é uma égua de primeira, você devia levar a sua lá..."
Ele viera pagando apenas o transporte da sua “vaquinha”, eram como os organizadores do evento intitulavam, escravas como Bia.
Henrique passava pelas baias vendo que tinha muito a aprender. As outras vaquinhas eram encorpadas e jamais cometiam os erros de Bia, na forma como caminhavam como verdadeiras vaquinhas e as tetas enormes e as pernas torneadas. Ele olhava para Bia e sentia-se envergonhado.
Henrique não notara o olhar de um homem em especial para sua cadelinha. Ele tinha os cabelos sedosos e brancos como uma folha de ofício. Os olhos argutos de criador de décadas. Viu na espécime que o estranho segurava um potencial reprodutor.
- Mas seu Coriolano com tanta opção - Barnabé, um preto domador de éguas seu criado disse - eu vejo aqui um bando de eguinhas quase perfeitas.
- Barnabé, teu faro é outro, para reprodução que é o que nossa fazenda está precisando, essa aí vai ser melhor que encomenda.
Coriolano ergueu a mão direita para seu capanga de chapéu na cabeça que vinha distraído mais atrás. Nenhum deles parecia incomodado ou surpreso com o que viam ao seu redor. Coriolano tinha uma fazenda no norte do país na fronteira quase, onde mantinha uma criação de éguas como aquelas e talvez melhores. Ele não expunha as suas e comparecia em eventos como aqueles para comprar novas.
- Acompanhe aquele sujeito e faça uma proposta, - disse e não pensou mais nisso - quantos litros essa vaca produz?
Coriolano perguntou já em cima de uma das baias.
Aécio seguia de perto Henrique e Bia, esperou o momento certo para abordar o homem que apoiado sobre uma das baias via uma das vaquinhas ali dentro.
- Que belas tetas hein camarada? - Aécio disse a Henrique. - Aliás, a sua vaquinha é uma graças rapaz.
- Tá de brincadeira? Essa imprestável tá famélica perto dessas… aí…
- Tem interesse em vender? - Aécio foi direto.
Henrique coçou o queixo e puxou a guia de Bia mais parte de si como um gesto protetor. Mas não respondeu logo. Bia escutou e ficou um pouco inquieta.