Já havia se passado cinco meses desde que eu tinha transado com aquele novinho delicioso que eu nem sabia o nome. Na hora que eu abordei ele, não estava interessada no seu nome, só queria levá-lo para a cama e matar minha sede de sexo o mais rápido possível. Ele morava bem perto da rua onde fico, eu até pensei em ir lá e aparecer do nada, fazer uma surpresa a ele, mas eu não posso simplesmente sair do meu posto assim sem mais nem menos. Depois que eu morri naquela esquina eu meio que fiquei ligada a ela. Eu não posso me distanciar muito do meu ponto, o máximo que eu consigo me afastar do poste é uns dez metros. Não posso ir para muito longe, a não ser que eu pegue carona com um vivo.
Merda!
Quem foi que disse que os fantasmas não tem uma vida difícil? Você acha que apenas os humanos tem problemas na vida? Está enganado. Espíritos também tem seus problemas.
Mas não era apenas a vontade de ver aquele garoto que afligia meu coraçãozinho gelado. Uns dois meses atrás a lâmpada do meu poste queimou e a minha querida rua ficou toda escura. O poste era a única fonte de luz naquele lugar, havia outros dois lá, mas suas lâmpadas também queimaram há bastante tempo. As únicas luzes que escapavam eram as das janelas das casas e dos postes das outras ruas que iluminavam muito pouco. A rua, que já era sinistra antes, ficou ainda mais estranha. A luz do meu poste era o que garantia o meu viver. Agora que a minha fonte de luz tinha pifado eu não conseguia mais trabalhar, assustar as pessoas. A rua já era pouco movimentada antes por causa do escuro e do boato sobre "O Fantasma da Rua 23 de Março" (que era eu), agora que a rua havia ficado praticamente no breu, o número de pessoas que passava por ali diminuiu de um mínimo de três por noite para zero. Ninguém andava pelo meu território há um bom tempo. Minha vida havia acabado. O que seria de mim? Uma fantasma isolada em uma rua deserta e escura sem poder assustar os pedestres. Até os carros diminuíram seu tráfego, dois carros em uma noite era raridade. A única coisa que trazia alegria para meu coração. Agora eu estava desempregada, triste sozinha e com vontade de rever aquele novinho.
Minha vida passou a ser tediosa e sem sentido.
Parte 3
Era um Sábado muito bonito.
O Sol brilhava no alto. Devia ser umas onze horas. Eu me abriguei nos galhos de uma árvore próxima a minha esquina na rua mais abaixo. O foda não é apenas ter que viver apenas em um único lugar por anos, eu também não posso sair no Sol. A luz dele queima a minha pele pálida e deixa umas feridas horríveis. Dói demais. Você pode achar que isso é coisa de vampiro, eu sei, mas também me ocorre, infelizmente. Alguns amigos fantasmas que eu tenho não sofrem desse mal, podem sair na luz do dia sem problemas. Eu sou diferente dos outros. Até uma amiga vampira que eu tenho, a Jéssica, acha isso estranho.
Eu não tinha nada para fazer na copa daquela árvore, então me dediquei a uma seção de siririca. Me endireitei sobre os grandes galhos da planta e levantei meu vestido. Minha buceta já estava meio sem vida. Eu não dava umazinha há um bom tempo e o último pau que havia entrado nela foi a do novinho que ataquei cinco meses atrás. Ela nem ao menos ficou lubrificada, tive que usar minha saliva.
Uma coisa boa de ser um fantasma é que eu não preciso cortar as unhas, os cabelos ou depilar a periquita. Ela estava do jeito que deixei há vinte anos. Por sorte eu havia dado uma aparada nos pentelhos dois dias antes de morrer, então a minha "amiga" não estava tão peluda. Menos mal.
Enquanto siriricava eu acabei olhando para o lado, para a casa de dois andares que havia ali depois do muro alto. Pela janela eu pude ver a silhueta de duas pessoas. Era um homem e uma mulher. Eles estavam se pegando, abraçados e se beijando intensamente. Curiosa como só eu, resolvi dar uma olhadinha naquela cena romântica. Parei de me masturbar, me estiquei pelo galho da árvore e fui me aproximando. Ainda bem que eu sou um espírito, bem leve, se eu fosse uma humana normal eu já teria quebrado o galho com o meu peso e me esborrachado no chão. Com a mão afastei umas folhas que tapavam minha visão e dei uma boa olhada no casal.
Eu fiquei em choque ao perceber.
Era ele.
O carinha que tinha me comido há tantos meses atrás.
Ele estava se agarrando com uma ruiva safada. Os dois estavam pelados.
Na hora eu não consegui acreditar no que estava vendo. Meu humano estava se esfregando em outra. Meu coração ficou apertado, cheio de tristeza.
Em certo momento ele veio na direção da janela e a fechou. Agora eu não podia ver mais nada. Ele estava lá dentro do quarto com aquela ruiva filha da puta.
Estavam transando.
Depois que eu flagrei aquela cena eu fiquei deitada entre os galhos daquela árvore até o entardecer.
No começo e fiquei pensando no que ela podia estar fazendo lá dentro com aquele menino. Talvez eles não estivessem transando, podia ser que apenas... estavam trocando de roupa. Que bobagem minha pensar isso. Onde já se viu? O que um homem e uma mulher podem fazer pelados e trancados em um quarto além de sexo?
"Será que ela faz anal?", pensei.
Mas de qualquer jeito, ela fazendo anal ou não, aposto que eu era muito melhor que ela. Eu tinha muitos anos de experiência no ramo do sexo. Sozinha, eu já havia atacado mais de setenta jovens que passaram pela minha rua, meninos e meninas, nesses mais de vinte anos de atividade e tinha aprendido muitas coisas com eles e elas. Eu era o que podia se chamar de "A Fantasma Especialista em Sexo". Não havia nada que eu não pudesse fazer entre quatro paredes.
Pensar nessas coisas só me fez ficar mais e mais excitada.
Quem aquela ruiva pensava que era para transar com o meu novinho? Será que ele havia arranjado uma namorada? Bom, no dia que transei com ele não fiz questão de perguntar seu nome, a idade, nem se tinha namorada, apenas o levei para a cama e me alimentei de sua energia sexual. Depois que ele desmaiou de cansaço eu apenas saí da casa dele e voltei para o meu poste. Eu podia ter esperado, acordado ele e perguntado pelo menos o nome.
Agora estava arrependida de não ter feito isso.
Uma semana depois do que aconteceu com a gente eu fiquei louca de vontade de ir à casa dele, mas eu não podia, passava muito do meu limite de distância. Com o tempo eu acabei aceitando aquela situação e tentei esquecê-lo.
Meus pensamentos foram subitamente desfeitos por um passarinho que pousou em um galho próximo ao que eu estava e pôs-se a cantar.
Me levantei do galho e dei uma olhada para a janela da casa.
Lá estava ele.
O safado botou a cara para fora da janela e olhou para os dois lados. Parecia estar procurando alguma coisa. Depois ele voltou para dentro do quarto e não pude mais vê-lo.
"É a minha chance!"
Pulei do galho da árvore, flutuei com o vento até a janela e entrei no quarto.
Me materializei.
Ele estava de costas para mim só de cueca na frente do guarda-roupa trocando de roupa.
- Oi! - falei.
- Aahh! - ele teve um susto e virou-se na minha direção com uma expressão de espanto.
- Sentiu saudade? - perguntei.
Ele não falou nada. Pegou uma das camisas de dentro do guarda-roupa e tentou cobrir a sua semi-nudez.
- É você! - disse assustado. - Tá fazendo o quê aqui?
Nesse momento meu vestido branco se abriu e caiu aos meus pés.
- Vim ver você.
Ao me ver completamente nua e com um belo sorriso no rosto ele se endireitou e começou a se acalmar.
Era agora. Ia acontecer novamente.