A minha irmã tinha sido pega. Não sei há quanto tempo ela estava traindo o marido e isso deixou todos da nossa família em choque. Confesso que fiquei mais impressionada, e também até certo ponto confusa, com o modo como reagiram à notícia. Ninguém queria acreditar que fosse verdade que minha irmã estava tendo um relacionamento às escondidas com outro homem bem embaixo do nariz do meu cunhado; eu mesma não estava acreditando quando ela mesma confessou. Enfim, por que a reação da minha família me impressionou mais do que a própria notícia de que minha irmã é traidora? Eu mantive um estado de neutralidade. Eu não estava ao lado dela e nem contra ela. Não que eu apoiasse o que ela fez, porque ninguém merece ser traído; mas em minha mente ela devia ter um bom motivo para o que fez.
Eu me pegava pensando nisso desde que se espalhou a conversa de que minha irmã estava traindo o marido dela. Por que ela traiu e por que ela escolheu aquele homem e como deveria ter sido a primeira experiência extraconjugal. Não quero dar uma de santa até porque nunca fui nenhuma. Tive alguns namoradinhos quando adolescente e traí todos eles; mas quando casei a coisa foi muito diferente. Nessa parte eu tenho a consciência limpa porque nunca traí meu ex-marido, mas também não quero dar uma de santa outra vez. Eu sentia atração por outros homens além dele. Alguns amigos do meu ex-marido davam em cima de mim e eu gostava, mas trair mesmo nunca traí ele.
Certa tarde eu estava preparando o jantar. Eu fazia força e algumas caretas engraçadas para cortar um pedacinho de abóbora quando meu ex-marido chegou do trabalho. Ele veio até mim, envolveu minha cintura com um dos braços e beijou meu rosto.
— O que vamos jantar?
— Vou fazer um cozido de carne e salada, respondi.
Ele ficou calado por algum tempo e eu também estava calada. Eu estava mais concentrada em terminar o jantar logo.
— Ei, por que sua irmã traiu o (nome do meu cunhado) mesmo?
— Como vou saber?
— Sei lá. Achei que ela tivesse contado a você já que são irmãs.
— Pois ela não me disse nada. E também não tenho interesse em saber. Isso é coisa dela.
— Tem um monte de gente perguntando.
— Então responda simplesmente que você não sabe de nada.
Ele ficou calado novamente. Estava concentrado em ver algo no celular.
— Todo mundo está reagindo de uma forma tão sei lá. Parece que traição é coisa de outro mundo.
— Você acha?
— Eu acho.
Nossa pequena conversa se encerrou aí mesmo. Coisa normal meu ex-marido e eu conversarmos sobre coisas aleatórias enquanto eu preparava o jantar. Mais tarde eu tinha ligado para a casa dos meus pais e pedi para falar com minha irmã, já que ela estava morando com eles desde a descoberta. Também falei um pouco com ela. A voz dela era a mesma de sempre e estava cheia de emoções e eram tantas que eu não soube dizer quais. Falamos sobre coisas bobas e ela riu um pouco, rimos um pouco falando sobre coisas bobas entre irmãs. Eu não queria tocar no assunto da traição, mas ela mesma fez isso.
— Você se arrependeu do que fez?
— Sim… Não… Muitas coisas para minha cabeça pensar.
— Talvez não esteja tudo perdido. Talvez você e ele ainda possam continuar em frente.
— Você acha que fui imprudente?
— Eu não acho, eu tenho certeza de que você foi imprudente.
Ficamos em silêncio.
— Enfim, Loretta, boa noite.
— Boa noite.
Ela e eu nos despedimos. Esse assunto já havia virado um pensamento intrusivo em minha mente.
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Fiz uma pequena viagem só para comprar um dildo novo. Dirigi um pouco mais de 20 km e depois de algum tempo procurando finalmente encontrei o meu alvo. Entrei na sex shop e dei uma olhadinha nos produtos, alguns bem interessantes. Eu não tinha em mente um dildo específico e acabei escolhendo um comum transparente. Paguei pelo produto e dei mais uma olhadinha na loja. Depois fui dar uma volta pela cidade e visitei alguns pontos turísticos. Por um momento esqueci que havia comprado um dildo novo e para qual objetivo ele seria utilizado; mas assim que lembrei voltei para casa; fiz uma pequena viagem só para comprar um dildo novo.
Vou ser mais direta e ir logo ao ponto. Um pensamento intrusivo havia tomado a minha mente: trair mentalmente seria como trair fisicamente? Coisa boba de se pensar, não é? Mas desde que se espalhou a notícia de que minha irmã estava traindo o seu marido me peguei pensando nisso. Esse pensamento não veio logo de cara, precisei associar diversas coisas a outras coisas para poder chegar a essa pergunta: trair mentalmente é a mesma coisa que trair fisicamente? A resposta para a questão parece muito óbvia: não. Não porque não há o contato físico e há apenas o desejo; mas se o desejo já for o suficiente? E se houver um contato físico nem que fosse imaginado?
É bem simples: eu comprei um dildo novo para sentir uma certa sensação, uma sensação que eu imaginava que existia. É bem simples: eu me imaginaria fazendo sexo com alguém aleatório que não fosse o meu marido enquanto uso o dildo. Simples, não é? Fiquei curiosa com a sensação de ser infiel, mas como eu não era corajosa o suficiente para isso, apenas pude imaginar.
Óbvio que nada iria surgir do nada. Haveria todo um ritual antes, cenas premeditadas e praticamente perfeitas de infidelidade mental. Aliás, por que eu estava pensando nisso mesmo? Por que eu estava curiosa com a sensação de ser infiel? Eu não era infeliz no meu casamento. Eu tinha um bom homem que cuidava de mim e que me amava, me fazia mulher de verdade quando a gente trepava. Então por quê? Seria somente o desejo de algo novo ou simplesmente falta de caráter? É falta de caráter trair nem que fosse só na mente? Enfim.