Helena se manteve próxima a tribo, já que ali havia uma cachoeira que ajudava na manutenção do seu acampamento. À medida que os dias se desenrolavam, a curiosidade de Iara em relação aquele viajante sem nome apenas aumentava. Ela se encontrava observando discretamente seus movimentos, procurando entender melhor quem ele era e o que o trouxe até ali. Enquanto isso, Helena, cuidadosa para ocultar seu verdadeiro eu, sentia-se igualmente intrigada pela jovem índia, cuja conexão com a natureza e sabedoria ancestral a fascinavam profundamente.
Numa tarde quente, enquanto Iara colhia ervas medicinais nas margens do riacho, Helena se aproximou dela, decidida a manter seu segredo intacto, mas também a ganhar a confiança da jovem.
"Iara, gostaria de lhe agradecer por nos permitir abrigo em suas terras", começou Helena, sua voz suave carregando um tom de sinceridade meticulosamente calculado. "Sua hospitalidade é verdadeiramente apreciada."
Iara ergueu os olhos, surpresa com a iniciativa do viajante, mas permaneceu cautelosa. "Enquanto estiver aqui apenas para se alimentar sem nos fazer mal, você é bem vindo, mesmo que não saiba nada sobre você, nem seu nome."
Helena respirou fundo, escolhendo suas palavras com extrema cautela. "Eu sou um explorador, como você deve ter percebido, me chamo Henrique", explicou ela, mantendo sua verdadeira identidade oculta. "Mas há muito mais sobre mim do que simplesmente viajar pelas trilhas."
Os olhos de Iara brilharam com interesse enquanto ela ouvia as palavras de Helena. Ela podia sentir uma sinceridade superficial na voz da viajante, mas algo dentro dela sussurrava que havia mais do que Helena estava disposta a revelar. "Todos nós temos nossos segredos e nossos motivos ocultos", respondeu Iara, sua voz suave, mas seus olhos atentos. "Nem sempre é fácil confiar em estranhos."
Helena assentiu, reconhecendo a verdade nas palavras de Iara. Ela sabia que precisava manter sua verdadeira missão escondida, mesmo que isso significasse manter distância da confiança da jovem. "Às vezes, a vida nos obriga a manter segredos por nosso próprio bem", disse Helena, sua voz carregada de um peso que Iara não pôde deixar de notar. "Mas saiba que minha gratidão por sua hospitalidade é genuína."
Iara olhou nos olhos de Helena, vendo um mistério oculto atrás da máscara cuidadosamente construída da viajante. Ela sabia que Helena guardava segredos, mas não podia deixar de se perguntar sobre a verdade por trás deles. "Eu não sei o que você está escondendo, Henrique", disse Iara, sua voz calma, mas firme. "Mas se um dia precisar de alguém em quem confiar, saiba que estarei aqui."
Helena sorriu, grata pela compreensão de Iara, mas ao mesmo tempo consciente de que manter seu segredo era essencial para sua própria segurança. Ela sabia que tinha encontrado uma aliada improvável nas vastas planícies do Brasil colonial, mas também sabia que era importante manter a distância para proteger a si mesma e a Iara das consequências de seu verdadeiro eu ser descoberto.
E assim, enquanto o sol se punha no horizonte e as estrelas começavam a pontilhar o céu noturno, Iara e Helena compartilharam um momento de compreensão mútua, cada uma guardando seus próprios segredos, mas também encontrando conforto na presença uma da outra em um mundo cheio de incertezas e perigos. E enquanto o vento sussurrava nas folhas das árvores e o riacho murmurava suavemente ao longe, as duas mulheres se preparavam para enfrentar os desafios que os aguardavam, cada uma protegendo seus próprios segredos enquanto se uniam em uma aliança frágil, mas significativa.
