Cinco anos antes.
Montamos um quartel general na casa de Renata para organizar a forma como iriamos proceder. Eu, meus pais, os pais de Renata e meu irmão gerenciávamos uma equipe de busca. Nos organizamos de forma a não deixar passar nada. Não queríamos esperar a polícia agir conforme seus protocolos demorados. Poderia ser tarde demais. As equipes procuravam pistas em câmeras de segurança, testemunhas, buscas pela cidade, hospitais e delegacias. Dr. Anselmo não saída do telefone. Usava sua influencia política para aumentar o campo de pesquisa até onde a polícia não ia. Eu acompanhava a tudo atônito, eu estava surtando. Ficava vendo a mobilização de todos, mas eu mesmo não conseguia fazer nada. Eles falavam sempre para eu me tranquilizar e deixar eles trabalharem. Que no meu estado eu só ia atrapalhas. Eu concordei e ficava apenas vendo todos eles nos telefones.
O dia do desaparecimento passou assim como outros. A esperança de encontrar Renata ficava cada dia menor. Todos já se preparavam para o fato dela não ser encontrada com vida ou até mesmo de não ser encontrada. Um fato me chamou a atenção naquele monte de desencontro de informações. Todas as mídias sociais de Renata tinham desaparecido. Não encontrava nenhuma delas. Era como se ela tivesse sido deletada do nosso mundo. Quando falei isso para o pai dela e deveríamos informar este novo fato a polícia, ele falou que já tinha percebido e que já tinha informado. Ele completou dizendo que o Delegado esclareceu que em caso de sequestro, isso poderia acontecer. Eu não conseguia dormir, não conseguia comer. O desespero começou a se transformar em tristeza e as crises de choro não demoraram a aparecer.
Um mês se passou. A família de Renata já conformada, foram para Brasília junto com meu irmão. Eles resolveram deixar nas mãos de Deus e da polícia. Eu não tinha o que fazer. Não tinha conhecimentos, dinheiro, saúde nem animo. Só sabia chorar. Ficava no quarto o dia todo. Não tinha esperanças, e uma pessoas sem esperança, não tem nada. A depressão tomava cada dia mais meu corpo e mente. Meus pais me vigiavam o dia inteiro em revezamento. Eles tinham medo que eu fizesse algo contra minha vida. Minha mente não estava em seu juízo perfeito. Dito e feito. Uma noite, quando estava no meu pior momento, onde nada mais importava. Entrei no banheiro de minha mãe e tomei de uma só vez mais de 20 comprimidos para dormir que ela usava. Tomei e me sentei no chão do banheiro, esperando eles fazerem efeito e terminarem com meu sofrimento. Quando estava me sentando no chão esbarrei em um vidro de perfume que estava na pia e ele caiu no chão se espatifando. Esse barulho salvou minha vida.
Acordei no hospital dois dias depois. Fiquei sabendo que minha mãe acordou com o barulho, me encontrou no chão do banheiro e em questão de minutos me levaram ao hospital mais próximo. Quando tive alta, foi orientado por um psiquiatra a me internar em uma clínica e fazer um tratamento intensivo. Fiquei nesta clinica por seis meses. Não foi fácil. Renata não saída da minha cabeça. Meus telefonemas eram sempre para perguntar a minha família e para a família dos pais dela sobre as novidades do caso dela. Nas visitas que recebia os assuntos eram os mesmos, mas as respostas que eu recebia eram sempre as mesmas. Que nada de novo aconteceu. Ela continuava desaparecida e que eu deveria seguir em frente. Após seis meses tive alta da clínica, mas o tratamento continuava em casa. Resolvi então seguir em frente, mesmo tendo sonhos diariamente com ela.
Resolvi desistir da medicina. Tudo naquele curso me lembrava Renata. Me matriculei em um curso de comercio exterior e resolvi me dedicar em tempo integral. No pouco tempo que me sobrava eu me pegava procurando por Renata na internet. Buscava nas mídias sociais e através de fotos. Minha dedicação no curso me trazia um destaque entre os professores e a Reitoria da Universidade. Meu nome circulava pelos corredores e eu era referência para tutorias e aulas de reforço. Com o tempo minha mente, de alguma forma, escondeu Renata em algum lugar remoto do meu cérebro. O tempo passou rápido. Já faziam dois anos e meio que Renata tinha desaparecido. Nesse meio tempo recebi a notícia de que o Sr. Amadeu infartou e veio a óbito. Liguei para a esposa dele e dei minhas condolências. Fiquei sabendo também que meu irmão havia assumido a empresa de segurança dele. Fiquei imaginando o carma da Dona Luzia. Perder uma filha e um marido em menos de três anos.
Chegando na metade do curso meu desempenho continuava me rendendo frutos e não foi surpresa nenhuma quando uma empresa me procurou. Eu tinha sido indicado pelo meu reitor e endossado pelos meus professores. Se tratava da maior metalúrgica do estado. No dia da entrevista fui recebido pelo próprio presidente da empresa. Ele me elogiou e falou das referencia que ele tinha recebido. Como todo empresário o seu tempo era curto e ele foi curto e grosso me perguntando se que queria trabalhar na empresa. Ele me falou que o seu Diretor de importação e exportação iria se aposentar em dois anos. Tempo de sobra para que eu me adaptasse a empresa, entendesse como funcionava o setor e dependendo da minha produção eu poderia assumir o cargo. Mediante o tamanho dessa oferta, não poderia nem pensar duas vezes. Seria contratado como assessor desse diretor e aprenderia tudo o que precisasse e quando me formasse já seria diretor. Só dependeria de mim.
Assim foi feito. Fui contratado. Aprenderia na prática todo o conhecimento que recebia na universidade. Logo na primeira semana estava almoçando no refeitório da empresa quando uma linda ruiva se sentou ao meu lado e puxou assunto.
- Quer dizer que você é o prodígio que todos estão falando?
Pronto, começava ali, naquele banco de refeitório mais uma história de amor. No princípio eu a tratava como uma colega, mas com o tempo percebia que ela disponibilizava muito tempo comigo a ponto de começar a me visitar em minha mesa. Comecei a nutrir um sentimento por ela e sabia que era recíproco. Minha história com Renata veio à tona e acho que sem saber, produzi um trauma, que veio à tona com esse novo sentimento. Quando ela me chamou para me juntar a ela a alguns amigos na sexta feira a noite para relaxar, eu senti que precisava ser honesto com ela. Falei que não estava no clima e ela sentiu em meu rosto uma certa agonia. Ele tinha um timing excelente e perguntou se eu queria falar alguma coisa com ela. Eu disse que sim, mas não poderia sem agora e nem entre um grupo de amigos.
Ela sugeriu que nos encontrássemos na saída, mas eu falei que preferia no sábado pois ainda tinha que ir à universidade a noite. Nos encontramos então no parque da cidade da cidade. Ela não foi de moto e eu não fui de camelo. Muito ansioso, cheguei quase uma hora antes. O tempo demorou a passar, mas valeu a pena. Ela apareceu na hora marcada com um vestido florido com alças finas que modelavam todo o seu corpo de uma forma muito sútil e uma sandália que deixava a mostra grande parte de seus pés perfeitos. Ela se aproximou, me deu dois beijos na face e pude sentir um aroma floral levemente amadeirado que entrou pelas minhas narinas me deixando nas nuvens. Depois de alguns assuntos protocolares falei para ela que precisava ser honesto com ela e que me perdoasse caso eu tenha tido uma ideia errada sobre ela.
Respirei fundo e minhas primeira palavras quase não saíram:
- Eu estou gostando muito de você. Sei que nos conhecemos a pouco tempo, mas eu acredito em química e tenho certeza que a nossa se encaixou. Não posso afirmar, mas posso sentir no seu olhar e nas suas expressões quando está comigo que não estou nessa sozinho.
Vi ela abrir um sorriso franco e perfeito que me deixou ainda mais encantado. Então daqueles lábios sai uma frase até certo ponto engraçada.
- Ufa!!! Que alivio. Eu queria te falar o mesmo, mas não sabia como. Achei que você marcou este encontro para me pedir que já era casado ou comprometido. Foi até romântico aqui no parque. Mas você poderia ter me falado isso ontem. Assim teria evitado toda minha ansiedade até agora.
- Pelo contrário. Eu precisava dessa paz para poder lhe contar um pouco sobre mim antes da coisa ficar séria.
Ela me olhou com preocupação. Mas nem a deixei abrir a boca. Contei para ela tudo o que havia se passado na minha vida durante meu relacionamento com a Renata. Seu desaparecimento. Minha depressão, minha tentativa de suicídio, minha internação e minha relação cm meu irmão. Ela ouvia a tudo aflita e ao mesmo tempo com uma expressão de compaixão. Depois de falar tudo o que tinha que falar perguntei:
- Depois de conhecer melhor minha história, ainda sente o mesmo por mim?
- Isso responde sua pergunta?
Ela se aproximou e me deu um beijo. Não um beijo qualquer, não um beijo vulgar, não um beijo sem graça. Foi um intermediário disso tudo. Regado de muita doçura e carinho. Eu retribui na mesma intensidade. Depois desse primeiro beijo ela falou:
- Desde o primeiro dia que eu te vi, percebi o quanto você é bonito e ao mesmo tempo doce. Essa sua postura de me mostrar tudo que que passou para não correr o risco de se machucar ou de me machucar, mostra que você é tudo isso e mito mais.
Aquilo foi o começo de um relacionamento que nos dois sabíamos que seria perfeito. Na segunda feira quando eu estava em minha mesa, recebi a visita de Maiara. Ele olhou para os lados, quando viu que não havia ninguém, me deu um selinho. Esse deve ter sido o nosso centésimo beijo, pois naquele sábado e no domingo nós demos os outros 99. Ele me desejou um bom dia e bom trabalho. Ela já tinha me desejado isso logo cedo pelo WhatsApp, mas queria me desejar pessoalmente. Quando ia saindo entrou o Sr. Ronaldo, dono da empresa. O homem que tinha me dado a oportunidade. Ele viu A Maiara e falou:
- Bom dia meu amor.
Antes dela responder eu pensei: “Meu amor” “Que porra é essa? Mas minhas dúvidas não duraram dois segundos.
- Bom dia pai. Respondeu ela.
Não sabia se ficava preocupado ou aliviado.
- Bom dia Rafael, vejo que já conheceu minha filha.
- Sim Sr. Uma menina muito bonita, parabéns. Respondi com o coração na mão e os olhos esbugalhados.
Percebi ela gargalhando em silencio por trás do pai vendo minha reação. Ele me perguntou sobre o Sr. Oswaldo, meu chefe imediato e o homem que eu um dia esperava estar substituindo. Falei que ele ainda não havia chegado. Ele me agradeceu e pediu para que ele fosse em sua sala assim que chegasse. Me parabenizou pelo meu trabalho e que todos estavam elogiando minha postura e profissionalismo. Deu o braço para sua filha e saiu. Quando ia passando pela porta ela se virou e me mandou um beijo. Eu ainda estava petrificado com a descoberta e nem consegui retribuir o beijo.
O tempo foi passando, o namoro progredindo. Em um churrasco na casa dela, eu quase enfartei. Cheguei na casa deles por volta das 10h e fui recebido por ele e por sua simpática esposa Denise. Ela me abraçou e disse que era um prazer conhecer o tão falado Rafael. Eu agradeci o elogio quando, do nada, Maiara apareceu, pegou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho falando:
-Seja bem vindo amor.
Eu tentei sem sucesso me afastar dela pois ela estava pendurada no meu pescoço. Já estava entrando em desespero quando o pai dela deu o golpe final:
- Larga de bobeira Rafael. Eu a mãe dela e toda a empresa sabemos do namoro de vocês. E pode ficar tranquilo, eu gostei muito quando minha filha confessou. Você é um rapaz de futuro, inteligente e muito responsável. Eu armei esse churrasco só para que vocês possam oficializar esse namoro. Agora vem tomar uma com seu sogro que está quente pra burro.
Ele me segurou o rosto, olhando nos meus olhos e falou:
-Relaxa amor, era tudo o que tinha que ser feito. Agora vai tomar alguma coisa com ele.
- Pai, não força a barra, ele não bebe. Maiara falou se dirigindo ao meu, agora, sogro.
- Sério? Nem uma cervejinha? Esse cara está me saindo melhor que a encomenda.
Depois de ficar vermelho igual a um pimentão, comecei a relaxar. A mãe dela também se mostrou muito a favor do namoro e eu resolvi aproveitar o churrasco. O namoro progredia a olhos vistos. Levei Maiara para conhecer maus pais e eles ficaram encantados pela doçura dela. Meu salário não era gigantesco, mas já me proporcionava luxos que eu nunca tive. Nossa primeira vez foi surpreendente. Nossas mentes estavam preocupadas, mas nossos corpos se aninharam de uma forma que parecíamos amantes a muito tempo. Tudo fluía. Com isso nossas relações sexuais foram se tornando frequentes e cada vez mais descuidadas. Um certo dia Maiara me chamou para conversar e falou que estava grávida. Eu fiquei sem ar por alguns minutos, mas precisava dar apoio emocional para ela e não a deixar ainda mais aflita. Nos acalmamos e partimos para comunicar aos pais dela.
A reação foi melhor do que eu esperava, mas não antes de recebermos um sermão bem dado. Ele não forçou nada, mas pediu que se pudéssemos adiantar o casamento seria uma boa ideia. O que sentíamos era verdadeiro e o casamento só iria sacramentar nossa união. Comunicamos de uma só vez aos meus pais que iriamos nos casar e que eles seriam avós. Foi emocionante vê-los chorando de emoção. Em menos de três meses estávamos casados. Foi uma festa íntima só para parentes e amigos próximos. Mandei convite para meu irmão. Ele me parabenizou e disse que infelizmente não poderia comparecer. Após o casamento e uma lua de mel regada a muito sexo e viagens, nos mudamos para uma casa que a Maiara tinha ganho dos pais e seguimos nossa vida juntos. Nossa filha nasceu e foi uma festa só. Alegria de todos os lados. Faltavam poucos meses para minha formatura e um pouco mais para aposentadoria do Sr. Osvaldo. Eu já dominava todo o serviço na empresa a ponto de ficar sozinho por vários dias. Tinha a total confiança de meu sogro, dos funcionários da empresa e dos clientes e fornecedores que negociavam com a Siderúrgica. Estava tudo indo bem quando me vi segurando a maçaneta do quarto de meus pais.
- Não mãe, não é uma boa ideia ainda. Não sei como ele vai reagir.
- Acho que não terá problema. Ele já está casado. Ama a esposa, tem uma filha linda, um emprego ótimo. Sei que ele vai entender. O que não pode é eu ficar cinco anos sem conhecer minas netas. Tá na hora de você trazer elas. Fala para a Renata que a vida precisa seguir seu rumo e que isso vai tirar um peso da cabeça dela. Não sei até quando terei saúde e não quero morrer com esse peso no coração.
- Sua mãe tem razão. Hora de contar toda a verdade. Aproveita que ele superou.
- Mas a Renata disse que nunca vai ter coragem de olhar na cara dele. Nós temos medo da reação dele. E eu não posso trazer todos aqui contra a vontade deles.
Quando eu ouvi isso, meu sangue gelou e ferveu em seguida. Em vez de abrir a maçaneta eu dei uma pernada na porta e entrei gritando.
- QUE PORRA É ESSA QUE VOCÊS ESTÕ FALANDO????????
A próxima e ultima parte se inicia com a visão de Roberta desde o inicio do namoro com Rafael e termina de uma forma inesperada. Segunda eu volto.