Helena Matozzano - Parte 7

Da série Helena Matozzano
Um conto erótico de Al-Bukowski
Categoria: Heterossexual
Contém 7943 palavras
Data: 17/12/2023 18:20:32
Última revisão: 28/01/2024 12:27:24

#Sábado

O quase acontecido de sexta-feira no hotel com Henrique causou um impacto em mim de uma magnitude inesperada. Eu não via aqueles quentes momentos como sendo uma traição de fato, apesar de ser certo afirmar que eu cruzara os limites da decência ao me deixar ser desnudada e tocada por ele da maneira que fui. Pelos dias seguintes, na proteção de meu lar e quando sozinha na intimidade, eu por muitas vezes me peguei lembrando de tudo, sendo inevitável me sentir imediatamente molhada e desejosa, recorrendo a meus dedinhos em demorados banhos e brincadeiras no bidê do meu banheiro; algo que o fazia de olhos fechados, sonhando e gozando novamente com o havido, e, por que não dizer, com tudo que imaginei e continuei projetando que poderia ter acontecido com ele...

A verdade era que, no final das contas, ocorrera uma mudança na minha forma de entender e encarar minha condição. Eu, finalmente, adquirira a confiança quanto a poder e conseguir desfrutar de um sexo mais inapropriado e quente. E passei a me ver como uma mulher capaz e longe de ser uma que pensara, por vezes, ser frígida e desinteressante. Meu caso com Henrique estava longe de ter tido um fim, e, assim, eu passei a o ver como uma possível opção segura e real para ensaiar e dar vazão a esses meus desejos impuros, caso não fosse bem-sucedida em recuperar e acordar Geraldo para mim.

Lembro-me claramente que ao longo das semanas seguintes, apesar de evitar a todo custo um contato a sós com Henrique, foi inevitável acabarmos nos vermos em ocasiões sociais, quando, em meio aos amigos e na presença de nossos cônjuges, eu senti toda sorte de emoções borbulhando dentro de mim. Estar frente a frente com ele me fazia tanto empalidecer de medo como também corar e arder ao vê-lo me encarando com aquele sorriso lindo, mas também cheio de malícia e segundas intenções. Parecia que permanecíamos ainda conectados ao ocorrido no hotel, sendo muito fortes as lembranças de nossos beijos, dos amassos e das carícias trocadas. Aqueles foram momentos que ambos visitamos o outro lado de uma perigosa fronteira, e que ficariam para sempre em nossas mentes, nunca mais podendo ser apagados ou negados por mais que quiséssemos.

Contudo, voltando à manhã daquele sábado, eu pensava e me via sem saber como lidar com aquele turbilhão em minha vida, sendo algo que eu não suportaria fazer sozinha. E, após passar boa parte da noite de sexta para sábado em claro, revirando-me na cama sem conseguir baixar a adrenalina que me enlouquecia, eu resolvi procurar novamente minha amiga confidente, ligando para Laura logo cedo e marcando um encontro com ela ainda pela manhã. Eu sabia que ela estaria sozinha em casa pois o marido, Sérgio, sairia para algum compromisso particular qualquer.

Lá chegando, e juntas na mesma sala onde antes eu já lhe abrira meu coração, eu passei a atualizar minha atenta ouvinte sobre minha aventura com Henrique. Sentada e um tanto aflita, eu segurei nas mãos dela e, antes de mais nada, supliquei por sua discrição e confidencialidade:

- Laura, eu preciso te contar algo muito sério! Mas antes você tem que me prometer, por tudo de mais sagrado, que nunca comentará isso com mais ninguém na sua vida. Posso confiar em você, minha amiga?

- Helena! Assim você até me ofende! Lógico que você pode confiar em mim, você sabe disso. Mas diga logo, que estou morrendo de curiosidade!

- Bom... eu já havia comentado com você que o Henrique está trabalhando para me ajudar em um processo familiar, lembra?

- Sim, algo referente a uma herança ou coisa assim, não é? Não entendo direito sobre esses assuntos… mas o que isso tem a ver?

- Então, por conta desse processo e pela necessidade de assinar alguns papéis, acabamos nos encontrando ontem num congresso do qual Henrique estava participando. - e dei uma parada antes de seguir com meu relato, ainda titubeando um pouco antes de lhe revelar o ocorrido.

- E? Vamos, mulher. Desembucha! Rsrsrs - Laura não se aguentava, e tinha os olhos fixos em mim, ansiosa por saber logo de tudo.

- Acontece que esse congresso estava acontecendo no hotel Jaraguá, e Henrique me convidou para almoçar lá com ele durante o intervalo entre as palestras. Na verdade, foi mesmo logo após a palestra apresentada de forma brilhante por ele. Uma que pude assistir a parte final.

- Hum, além de bonitão, ele também está ficando famoso? Estou começando a entender seus flertes e fantasias com ele… Rsrsrs

- Laura!!! É sério, deixa eu te contar!

- Tá bom, vou ficar caladinha - e me disse isso sorrindo e me fazendo ironicamente o sinal de fechar o zíper de seus lábios.

- Bom, tivemos um almoço agradável, ele sendo como sempre muito cortês e interessado nas minhas questões. Conversamos um bom tempo sobre muitos assuntos, até encerramos nossa refeição. Então, para minha surpresa, quando eu esperava que iríamos resolver tudo ali na mesa do restaurante, ele me disse que havia deixado os documentos no quarto em que estava hospedado lá no hotel, perguntando-me se poderíamos ir até lá em cima para ele me explicar e eu assinar tudo que estava pendente.

- Hummm - Laura manteve a promessa, sem se pronunciar, mas abriu muito seus olhos, fazendo força para esconder um sorriso repleto de malícia.

- Ai, Laura, acabou que eu fiquei sem alternativa, né? E concordei em subir até o quarto dele para resolvermos aquilo. Era uma situação desconfortável, sabe? Achei que se negasse, ficaria meio evidente que havia pensado que poderia acontecer algo... e assim meio que deixar patente o quanto ele mexia comigo... - e, olhei para Laura, embaraçada com minhas atitudes controversas, e confusa até mesmo nas minhas justificativas...

- Realmente, Helena... você é uma mulher cheia de complicações. Mas conversamos isso outra hora... Continua, vai!

Segui com o relato, inclusive comentando sobre o constrangimento que senti ao cruzar com alguns advogados e participantes do congresso, e que claramente estavam em meio a encontros com garotas que discretamente circulavam por lá oferecendo seus serviços.

- Quando fiquei sozinha com ele naquele quarto, Laura, eu fui tomada por uma coisa que não sei explicar. Eu me perdi em meio ao que ele me falava, e fui assinando mecanicamente os documentos sem parar de olhar para aquela cama lá ao lado, a porta do quarto fechada, e eu ali com ele, o homem que vinha mexendo comigo e me tirando o sono nos últimos tempos - parei novamente, respirando fundo antes de entrar na parte mais delicada da história.

- E?

- Ah, Laura. Chegou um momento em que o silêncio tomou conta daquele quarto. Dava quase para tocar nele, de tão forte que ficou. Eu estava perdida com o olhar distante, e acho que aquilo certamente deixou claro para Henrique o quanto que ele estava no controle da situação. E, como um homem de fato, ele tomou a iniciativa, chegando-se a mim primeiro com exagerada ternura, testando minha reação em pequenos toques me abraçando por trás. Quando senti a respiração dele no meu pescoço, e depois sussurrando no meu ouvido, eu congelei... e também deixei, Laura! Não fiz nada para evitar, e apenas fechei os olhos e me fui levada por ele. Não se passaram segundos, e logo, ali em pé naquele quarto, estávamos trocando beijos e carícias, ele avançando mais e me envolvendo do jeito que queria, amiga…

- Peraí, Helena. Explica isso melhor, que agora ficou interessante! - ela, meio palhaça, me fez até rir, descontraindo minha tensão.

- Primeiro que ele não perdeu tempo, e quando vi, já havia abaixado as alças do meu vestido e se aproveitava dos meus peitos como bem queria, me fazendo pegar fogo. Você deve saber, Laura... aquela coisa do homem te desejando e vindo para cima mesmo, sem controle... O que eu sempre quis sentir na minha vida, amiga. E estava ali se tornando realidade!

- Hummm, quem diria, hein? Doutor Henrique mostrando as garras!!!

- E como mostrou! Deixou-me ali parada, como uma palerma, só flutuando nas nuvens sentindo uma excitação enorme que fazia meu estômago se revirar e eu me molhar toda. Calada, respirando fundo e gemendo, era como se eu dissesse: “Sim, pode continuar... Estou adorando”. E, assim, Henrique foi logo onde mais desejava, abaixando minhas calcinhas, e… ah, Laura… tenho até vergonha de falar…

- Deixa de ser boba, Helena. Acho que pelo que já te contei, você sabe que sou bem vivida nessas coisas, amiga. Conta, vai, que estou adorando... quase me sentindo lá com vocês, Leninha! - e ela não se furtou mesmo de cruzar suas pernas de forma mais acintosa na minha frente, claramente também acusando que estava se excitando com meu relato.

- Você não presta mesmo, Laura! - Eu disse fazendo carinha de brava, mas entrando na onda dela - Então… ele parecia um polvo! As mãos dele entravam em cada cantinho e dobra do meu corpo, e quando me dei conta, minha saia estava toda erguida e minha calcinha descida até o meio das minhas coxas, enquanto ele apertava minha bunda e me tocava entre as pernas… Laura... Nunca ninguém fez isso comigo! Imagina, eu deixar alguém mexer com os dedos dentro de mim? Eu tive até que me agarrar a ele para não cair, enquanto sentia os dedos dele me penetrando e me esfregando toda, me tocando em lugares e de um jeito que nunca sonhei. Vou te dizer, aquele homem sabe como tratar uma mulher, Laura. Imagino como a Cecília deve se dar bem…

- Ah... Não sei não, viu amiga? Muitos homens casados reservam esse tratamento todo para as outras… bom, não preciso te lembrar do seu Geraldo, não é não, Helena? Você sabe o que quero dizer...

Naquele momento eu me dei conta das implicações do que Laura me dizia. Em poucas palavras ela resumiu tanto o comportamento de muitos maridos em suas casas, como era o caso de Geraldo, como também me mostrou o outro lado do meu papel lá com Henrique, sendo a outra de seu casamento. Eu, como sua amante ou concubina… quem sabe mesmo Henrique me via como uma vagabunda casada e traidora, a quem ele poderia tratar como bem entendesse; sem se preocupar com as mesmices de um casamento respeitoso e familiar. Isso servindo como pano de fundo para a minha pequena revolução privada, clareando minha visão antes distorcida de relacionamentos mais brutos e carnais entre homens e mulheres.

Eu me calei por alguns momentos refletindo isso, quando fui trazida de volta por Laura, me pedindo para continuar:

- Vamos, Helena! Conta mais... Vocês, então, foram para a cama, não é amiga? Quer dizer, da forma que estavam não tinha mais volta, né?

- Laura, eu não sei onde eu estava com a cabeça. Mas chegou num ponto em que ele havia, de alguma forma, colocado para fora o... você sabe... o...

- O pau dele, Helena! Vai, pode dizer com todas as letras, amiga! Ai que delícia!!! Rsrsrs... e como era? Conta vai...

- Sim, ele colocou o pau dele para fora. E me fez segurar e mexer nele, Laura. Eu mal sabia direito o que fazer com aquilo tudo na mão, pois nunca sequer toquei no do Geraldo. E naquela hora eu tinha aquele pedaço de carne dura e grossa... e quente, Laura! Ele pulsando na minha mão. Nossa, que sensação boa! Eu me senti uma mulher na plenitude, provocando o desejo e devolvendo aquele prazer todo a alguém que me desejava mesmo possuir.

- Ah, eu sabia que você era fogosa, Helena! E que só faltava uma fagulha para te libertar finalmente. E foi com o Henrique, não foi? Como vocês fizeram? Você gozou com ele te comendo, Leninha? Ai, não me aguento... desculpa... mas conta logo!

Naquela hora eu já imaginava a decepção que eu traria para ela, ao contar o que de fato aconteceu depois daquele êxtase que havia me tirado da realidade, e que me dominava até aquela hora. Fazendo uma carinha de menina arrependida, eu ensaiei minha pobre explicação para ela:

- É... bom, Laura. Não foi bem esse o final da história...

- Ah não, Helena! Não me diga que você fugiu da raia? Não... não posso acreditar!!!

- Não fica brava comigo, Laura. Por favor...

- Eu, brava? Eu não! Quem deve estar brava com você, e muito arrependida, é você mesma, Helena! Não acredito que você deixou passar essa chance! A de que você tinha de se descobrir mais, se resgatar como mulher... e ainda mais com um gostoso e decente como o Henrique. Poxa, amiga…

— Eu sei, eu sei… E você acha que já também não tive um certo arrependimento de ontem para hoje? Tudo isso que vem me acontecendo, esse turbilhão de coisas e emoções... a verdade é que eu tive medo, Laura. Medo de estar cometendo um enorme erro, jogando fora meu casamento, sabe? O Geraldo não merecia isso...

- Não merecia, Helena? E a Marta? Já se esqueceu dela, meu amor? E outra… ia ser apenas uma aventura gostosa num hotel numa tarde de semana, e ninguém nunca saberia de nada. Os dois casados, nenhum de vocês pensando em um acabar com o casamento do outro, e ainda ambos morrendo de tesão e desejo. Não me conformo! Era a oportunidade perfeita, de apenas fazer sexo casual, sem compromissos, Helena! Apenas por prazer, um lance entre dois amigos. Você percebe isso?

Ouvia o sermão de Laura e pensava mesmo no quão burra eu poderia ter sido. Mas a verdade é que eu não estaria sendo eu mesma, e não estaria sendo fiel ao meu coração e sentimentos. Por mais que Henrique me tirasse do sério, meu amor era por Geraldo. E eu "ainda" precisava de romance e carinho, não apenas "dar uma trepada" para ver como era, para usar as palavras de Laura. Contudo, daquilo tudo que ela me dizia, o que mais me fez tremer for ter escutado o nome dela... o nome de Marta. Foi algo que novamente me abalou, e me trouxe de volta à minha realidade.

- Eu sei, Laura. Mas… ah, amiga. Me ajuda, vai? Quis te contar tudo isso para você ver como eu estou enrolada e confusa. Acontece tudo isso e eu ainda não sei o que fazer para ter o meu Geraldo de volta, sendo apenas meu, sabe? - e minha expressão no rosto demonstrava isso, o meu sofrimento e angústia ante não saber como agir.

- Ah, você não existe, Helena. Olha, vamos falar do Geraldo, então. Mas você vai me prometer que, se a coisa não se acertar entre vocês, que voltará a dar uma chance para o Henrique, ok? - ela me disse isso séria, mesmo sendo uma situação e conselho totalmente "non-sense".

- Está bom, eu te prometo. Se o Geraldo não se enquadrar, bom… um dia vai receber na mesma moeda! Rsrsrs - respondi sorrindo meio forçada.

- Ok! Trato é trato, hein? Mas falando no Geraldo e na nossa “amiga” Marta, eu andei sondando algumas coisas…

- Mesmo, Laura? Me diz logo, o que você descobriu?

- Não é muita coisa, mas quem sabe podemos usar isso para alguma coisa…

E ela passou a me contar das conversas que teve com o marido e até com outras pessoas do círculo liberal que frequentavam, tentando saber mais sobre Marta, mas tomando cuidado de o fazer da forma mais discreta possível e sem levantar suspeitas. O que ela me contou, em resumo, não era mesmo muito. Deu alguns detalhes de como funcionava a casa dela, o bar e restaurante que havia embaixo e os quartos usados na parte de cima do estabelecimento, onde ocorriam os encontros dos homens com as meninas. Disse que era normal ter as prostitutas desfilando e seduzindo a clientela, alguns cativos outros itinerantes, junto ao bar embaixo antes de os conduzirem para seus leitos. Uma forma de ganharem um lucro a mais, principalmente com o consumo de bebidas.

Explicou também como que Marta conseguira montar o negócio sozinha, sua história na sociedade paulistana desde que chegara do interior de Minas, e como prosperara e vinha ficando muito bem de vida. E que, por esse motivo, passara a atender apenas clientes especiais escolhidos por ela, e não qualquer um que chegasse oferecendo dinheiro. Bom, pelo menos não um dinheiro comum, pois era sabido que muitos políticos poderosos e fazendeiros endinheirados, conseguiam ainda a levar para a cama sob determinadas condições. Mesmo sem saber como Geraldo fora lá parar, ela desconfiava que, de alguma forma, os dois desenvolveram algum relacionamento de "amizade" que o enquadrava no rol desses clientes ditos especiais.

- Bom, é isso, Helena. Geraldo deve ter mesmo algo com Marta, visto que ele frequenta regularmente a casa dela, como você mesmo descobriu. Mas mais do que isso, apenas eles podem explicar o que acontece entre eles - e terminando o relato, Laura me viu cabisbaixa e pensativa, tentando raciocinar o que faria a partir dali.

- Helena, meu amor... - e Laura pegou em minhas mãos para ter toda minha atenção - Independente disso, eu queria mesmo saber é o que você está sentindo sobre isso tudo. Geraldo, Marta, e agora até mesmo esse envolvimento com o Henrique. Como você se vê em meio a isso tudo, amiga?

Fazendo uma boa pausa, e respirando fundo enquanto sentia uma pequena lágrima escorrendo de meu olho, eu tentei colocar a cabeça em ordem até mesmo para que Laura me ajudasse em decidir o que fazer.

- Antes de tudo, eu amo o Geraldo. Não quero o perder, não quero que meu casamento termine por conta de... de uma aventura dele. Mas eu também quero ser respeitada e ter meu lugar como sua mulher... como sua "única" mulher, sabe? Quero levar nossa relação para um lugar onde ela nunca esteve de fato, e resolver essas nossas diferenças. Queria muito que ele me visse com desejo, que soubesse o que anseio também, e que estou disposta a romper essas barreiras que trouxemos para nosso casamento.

- E o Henrique, Helena? Como ele fica? Você sabe que, de alguma forma, se formou um vínculo entre vocês. E, mesmo que não tendo ido às vias de fato, a verdade é que ele te conheceu como mulher... de alguma forma.

- Eu sei, Laura. Talvez tenha sido um erro me deixar ser seduzida por ele, passando dos limites como fizemos. Eu tenho um carinho especial por ele, mas não penso em nada mais além de deixar as coisas como estão. Pelo menos por agora, que tenho minhas prioridades com Geraldo. Não me vejo no papel de amante, Laura. Mas, como te prometi, também quero e preciso pensar primeiro em mim, e eu vou fazer isso. Se Geraldo não me quiser mais, ou se não mudar seu comportamento, eu me vejo no direito de procurar meu prazer, concorda?

- Sim, completamente, Helena. Eu já te falei sobre isso, e te apoio em tudo que você decidir. Mas... o que você vai, então, fazer sobre a Marta?

Aquela era realmente uma pergunta sem resposta ainda. Conversamos muito mais naquela manhã, considerando seriamente a hipótese de eu colocar Geraldo contra a parede, expondo que eu sabia de tudo. Cobrando que ele mudasse de comportamento, caso contrário ele me perderia de vez. Laura, sempre muito decidida e confiante, era favorável a esse jogo aberto, colocando as cartas na mesa e apostando alto. Acabou que eu saí de lá, depois de também conversamos sobre outros assuntos menos importantes, voltando a pensar em minhas alternativas. Porém eu o fiz ainda muito insegura quanto a o que falar e como abordar Geraldo. A verdade é que eu morria de medo de algo assim levar a uma ruptura de nosso matrimônio, e de tudo que isso acarretaria à vida de nossos filhos, principalmente. Guardei Henrique numa caixinha escondida, meu lado imoral e pecador sendo alimentado pela expectativa de algo no futuro, e me foquei totalmente em meu marido.

Depois de uma tarde caseira, tivemos uma noite agradável de família, indo todos ao cinema para assistirmos ao novo filme de Elvis Presley, o "Seresteiro de Acapulco" e que era aguardado há muito por Soninha e Cidinha, fãs incondicionais dos rebolados daquele galã. Algo que também não posso negar que também mexia um pouco comigo, levando-me a alguns pensamentos pouco condizentes com a antiga Helena séria e puritana, mas que se encaixavam muito bem com meu lado renascido e fogoso. De qualquer forma, depois do filme, seguimos para jantarmos em um restaurante novo escolhido por Geraldo. E, enquanto comíamos, por bons longos momentos, eu senti uma paz e esperança que me levaram de volta aos tempos anteriores a minhas descobertas sobre a traição de Geraldo. Olhava para todos a minha volta, as pessoas que mais amava na vida e em como elas eram importantes para mim. Muitas risadas e um sentimento de felicidade e amor genuínos, que deixavam claro que Geraldo não poderia estar sendo assim tão falso. Eu sentia o carinho dele, a atenção comigo e com todos. Ele errou, e vinha errando, mas eu poderia superar isso, se o tivesse de volta para mim apenas.

#Segunda-feira

Durante o domingo, eu passei horas e horas refletindo e pensando, enquanto fingia estar lendo um dos meus romances, deitada em uma rede de balanço no fundo de nossa casa. Não cheguei a virar uma página do livro durante toda a tarde, e, de história mesmo, eu me alimentei apenas do drama que tinha a mim mesma como sua personagem principal. Autora e protagonista, minhas decisões é que definiriam o que aconteceria nos próximos capítulos. E, certo ou errado, eu decidi seguir meu instinto, e, ao invés de confrontar Geraldo, minha decisão foi por ir de encontro à minha rival. Eu não tinha bem claro o que faria, mas eu precisava conhecer Marta, saber mais a respeito dela e sondar o que existia de concreto na relação dela com o meu marido.

Praticamente sem pregar o olho, levantei segunda-feira imbuída em voltar ao fatídico endereço do bordel dela, e, de alguma forma que ainda não sabia como, ter uma conversa de mulher para mulher com a vadia. Era um plano malfeito e bem arriscado, onde eu era a única que poderia, de fato, sair machucada, com as eventuais novas descobertas que fizesse. Contudo, foi assim que eu decidi fazer e, logo após o almoço e em meio a desculpas esfarrapadas para Cidinha e meus filhos, fui para o ponto de táxi na esperança de encontrar Pereira disponível para me levar. Por sorte ele estava por lá terminando uma partida de dominó com os colegas, interrompendo-a assim que me viu me aproximando do local.

- Dona Helena, como vai? Está precisando de uma corrida? - sempre solícito e educado, ele logo se adiantou vindo ao meu encontro.

- Sim, Pereira. Que bom que você está disponível, pois era quem eu estava procurando.

- Então vamos, que meu carro está logo ali - respondeu ele me indicando seu veículo estacionado numa providencial sombra.

Assim que me acomodei no banco traseiro do táxi, após Pereira ter educadamente aberto a porta para mim, ele me perguntou o destino da viagem.

- Bom, Pereira. Talvez isso o surpreenda, mas preciso ir ao mesmo endereço da semana passada...

- A senhora quer dizer... até o consultório de seu marido?

- Não, Pereira! Preciso ir até aquele segundo lugar onde estivemos. Para a Casa da Marta, lembra?

- Dona Helena... a senhora tem mesmo certeza disso?

- Sim, tenho certeza absoluta. Por favor, pode ligar o carro e me levar para lá agora. Vamos!

Balançando a cabeça um tanto incrédulo, meu já quase motorista particular naquela aventura, colocou o táxi em marcha, seguindo para o endereço combinado. Naquela segunda vez, Pereira ficou medindo as palavras, tentando sondar minhas intenções em meio a comentários de um ou outro assunto corriqueiro. Contudo, dei-lhe pouca brecha, e ela acabou meio desistindo ao perceber em minha voz o quanto eu estava resoluta e não mais tão incomodada com a situação. Lá chegando, a meu pedido ele estacionou o táxi próximo de onde havíamos ficado antes, prudentemente um pouco distante do bordel.

- Bom, eu acho que a senhora veio decidida dessa vez, não é, Dona Helena? Tem algo que eu possa fazer para que mude de ideia?

- Mudar de ideia quanto ao quê, Pereira?

- Ah, Dona Helena. Sou velho e vivido, e tudo me leva a crer que a senhora veio aqui ter para entrar lá naquele local, não é mesmo?

Eu sorri com a perspicácia daquele homem, de maneira que aceitei compartilhar uma parte do meu plano, a única na verdade que eu tinha certeza em fazer:

- Sim, Pereira. Vim aqui para visitar aquele local e conversar com aquela mulher. E nada vai me impedir disso hoje.

- Bom, ok... entendido! Mas eu vou, então, fazer o mesmo da outra vez, e ficarei aqui à sua espera, dona Helena. E nem adianta querer me impedir, pois eu também sou muito teimoso quando quero ser!

- Rsrsrs... Só posso lhe agradecer, meu amigo. Mas já aviso que pode ser algo demorado... na verdade, não tenho ideia de quanto tempo irei passar lá dentro.

- Não há problema. Ficarei aqui de olho. Só não quero ter que chamar a polícia… Mas, não corremos esse risco, não é Dona Helena? Rsrsrs

- Credo, o que é isso Pereira? Sou uma mulher discreta e educada! Apesar que... pensando bem... a ideia de dar um fim naquela mulher não deixa de ser também uma boa opção. Não havia me ocorrido ainda... - E sai do carro dele, vendo-o murchar a risada e ante seu olhar assustado, ficando um tanto desconfiado sobre até onde eu seria capaz de ir com aquela maluquice.

Postura firme, fui caminhando calmamente pela calçada até o ponto para atravessar a rua já defronte ao meu destino. Antes disso, contudo, discretamente tratei de tirar minha aliança e guardá-la na minha pequena bolsa, o que esperava poder me ajudar a esconder minha identidade. Externamente eu era toda confiança, mas na verdade, quanto mais me aproximava, mais eu tremia por dentro, questionando-me quanto ao meu plano amalucado e incompleto.

Vestindo um sobretudo bege e comprido, eu segurava firme minha bolsa quando apontei para a entrada daquele lugar, sendo ali recebida pelo mesmo homem que fazia as vezes de anfitrião do estabelecimento. Ante seu olhar de estranheza e silêncio, eu me antecipei no pedido:

- Por favor, você poderia me servir uma mesa?

- Hã... a senhora tem certeza, madame? Quanto a ser esse o lugar... correto?

- Sim, certamente, meu senhor - e encenando olhar para a fachada, completei minha resolução - Não é aqui a “Casa da Marta”?

- Oh, sim... Isso mesmo.

- Então é aqui mesmo que eu queria vir. Posso entrar? - E eu o olhava fixamente nos olhos, fingindo uma determinação que lutava contra os batimentos acelerados do meu coração.

- Bom, sendo assim... Por favor, me acompanhe! - E ele tomou minha frente me orientando por onde ir adentrando o local.

Dessa forma, segui o homem até uma mesa em uma das partes mais reservadas do salão principal. Uma que ele escolheu provavelmente ainda desconfiado de minha presença ali. O movimento àquela hora do dia não era intenso, mas já havia algumas jovens mulheres desfilando pelo salão em roupas menores e cheias de gracejos para os potenciais clientes. Dentre esses, havia um grupo de homens mais maduros que pareciam ser velhos amigos, e que conversavam mais ruidosamente fazendo galanteios às moças que se achegavam a eles. Fora isso, apenas alguns outros poucos homens sozinhos que degustavam seus "drinks" enquanto aproveitavam o momento em meio ao contato com as meninas.

Após caminhar discretamente pelo salão até minha mesa, eu me postei em pé e soltei o cinto do sobretudo que trajava, aguardando a ajuda do anfitrião que se colocou atrás de mim para me ajudar a retirá-lo. Naquele momento, minha autoestima se inflou, pois mesmo com a tentativa de me deixar num lugar mais discreto e escondido, recebi de imediato a atenção da maioria dos ali, quando me mostrei com meu vestido um tanto mais provocante.

Era um dos novos da leva de compras feita com ajuda de Laura, destinado à sedução e desenhado para valorizar meus predicados femininos. Um semi-longo em tons de verde esmeralda, que combinava uma aparente ingenuidade e leveza, com entradas mais reveladoras. Acima havia um decote muito insinuante e que se acentuava pela ausência de um sutiã que pudesse conter a presença de meus fartos seios. Já abaixo, ele tinha fendas agudas que subiam até quase o final de minhas coxas, permitindo antever até mesmo as presilhas que eu trazia afixadas às minhas finas meias arrastão.

Anos depois, relembrando aquela loucura, eu tomaria consciência de que minha presença e comportamento naquele bordel eram um prenúncio perfeito de uma "bela da tarde", em referência ao filme que ficaria famoso pelo papel de Catherine Deneuve. Ou seja, o da mulher madura e sedutora que encontrava nos períodos das tardes a oportunidade de fuga de um casamento infeliz para manter encontros num reles bordel, realizando ali suas mais variadas fantasias sexuais com diferentes parceiros. Algo que parecia ser um retrato inspirado em minha vida, contudo comigo ainda não tendo, naquele momento, um vislumbre se a minha história seguiria, eventualmente, pelo mesmo rumo.

- A senhora deseja alguma bebida? Ou talvez algum acompanhamento? - O atencioso anfitrião me perguntou, enquanto dobrava e acomodava meu sobretudo sobre o assento uma das cadeiras ao lado de minha mesa.

- Eu aceito um licor, por favor. Pode ser o mais leve que vocês tiverem.

- Sim, madame. Fique a vontade que já vou mandar servi-la.

Pouco tempo depois, uma das garotas, fazendo as vezes de garçonete, veio do balcão de bebidas carregando uma pequena bandeja para trazer meu drink, sorrindo-me muito e com um olhar de curiosa. Por instantes eu a observei e não pude deixar de fazer uma comparação com minha filha Soninha, ante a aparente semelhança de idade com a daquela jovem garota. Apesar de não estar lá para aquilo, não consegui refrear um instintivo maternal de compaixão pensando nas condições do “trabalho” dela ali, mesmo que sua jovialidade e uma certa alegria no rosto disfarçassem ao que se submetia recorrentemente.

Fui tirada desses pensamentos quando a escutei me dirigindo educadamente a palavra, ainda de pé ao meu lado, e me perguntando de forma singela:

- Desculpe, dona. Mas a senhora é muito bonita, viu? É amiga da Marta? Veio visitá-la? - Ela me perguntou, carregando um indisfarçável sotaque do interior paulista.

- Muito obrigada! - respondi sorrindo - Não nos conhecemos ainda, mas estou aqui sim para falar com a Marta. Você sabe me dizer se ela está?

- Está sim! Está lá em cima, nos aposentos dela. Mas já já ela deve descer. Quer que eu avise ela de que a senhora está aqui? Que diga que está esperando por ela?

- Não precisa, meu amor. Eu espero aqui para conversar quando ela descer. Muito obrigada, viu? Você é uma simpatia!

- Imagina, dona. Olha, se precisar de algo é só me chamar! Mariana é o meu nome. - e a jovem saiu para deixar a bandeja no balcão antes de se voltar para uma mesa e sentar no colo de um rapaz, passando a dar-lhe toda sua atenção.

Nesse meio tempo, mesmo de canto de olho, eu notei que principalmente o grupo de senhores estivera o tempo todo a me observar à distância. Olhos voltados para mim, faziam alguns comentários em voz baixa entre si, e que despertavam alguns sorrisos maliciosos entre eles. Mas um em especial, um homem mais alto e de presença mais marcante, não tirava os olhos de mim, a todo momento me apontando para os outros com o charuto que fumava, e dizendo algo a eles que eu não conseguia decifrar. Mesmo disfarçando, por vários momentos foi inevitável cruzarmos nossos olhares, aos quais não me furtei de fugir mesmo temerosa de como isso pudesse ser por ele interpretado. A verdade é que, mesmo nervosa, aquela atmosfera de pecado e desejo também me provocava uma certa excitação, que eu mantinha contida receosa de me perder de meus reais objetivos daquela tarde.

Contudo, para aqueles homens, a minha simples presença ali mudara um pouco as regras do jogo. Ao contrário do lugar comum e ali esperado, eles tinham naquele momento também a "opção" de uma mulher madura e elegantemente sexy, e que desafiava a habitual confiança daqueles senhores acostumados a garotas mais novas e aparentemente ingênuas. Popularmente falando, eu era a “carne nova no pedaço”, e que passou a estimular os “machos mais aptos” a se arriscarem numa possível conquista. E, perante isso, não demorou para um deles, justamente o senhor que mantinha o olhar fixo em mim, se aproximar de mim ante o incentivo dos demais colegas.

- Posso lhe fazer companhia? - E sem esperar resposta, foi puxando uma das cadeiras de minha pequena mesa, vindo se juntar a mim mesmo sem ter sido convidado, e ignorando meu silêncio.

— Não lhe conheço ainda… é nova por aqui? Qual o seu nome, docinho? - Logo percebi seu modo rude e um tanto canastrão, típico dos convencidos de que seu dinheiro e poder eram aval suficiente para possuírem o que desejassem.

- Renata. Meu nome é Renata - mesmo assim, respondi-lhe de forma educada dando-lhe o nome com o qual planejei me apresentar também para Marta, fazendo isso em meio a saborear um gole em meu licor, dando-me algum tempo a mais para pensar em como sair daquela situação.

- Muito prazer. Caso você não tenha me reconhecido, sou o desembargador Josias Menezes! - E me disse isso inesperadamente segurando com firmeza a minha mão que descuidadamente eu deixara sobre a mesa.

Dei-lhe um sorriso diplomático, sem saber bem como me comportar, ante a abordagem direta dele. Isso possivelmente piorando ainda mais minha situação, pela leitura errada feita por ele.

- Sabe, desde que você entrou por aquela porta que não consigo parar de pensar em você. E em como podemos nos divertir bastante essa tarde, minha querida...

E dizendo isso, a abordagem dele se transformou ao mesmo tempo em um assédio mais acintoso, pois ele também se inclinara em minha direção e já pousara sua outra mão sobre minha coxa, que semidesnuda, não me protegia do contato dos dedos dele em minha pele. Um tanto desorientada, eu sentia um pavor crescente dentro de mim, me enrolando com as palavras e perdida sem saber como agir:

- Eu… hã, não estou aqui para… quer dizer… Eu...

- Ela é apenas uma grande amiga minha, Josias! Seu safado! Não perdoa nenhum rabo de saia mesmo, não é? Hahaha - ainda assustada pela situação constrangedora, fui surpreendida quando vi Marta ao meu lado, já cumprimentando calorosamente aquele senhor que, de pronto, largou minha mão e se levantou, todo sorrisos, para trocar um abraço e beijos no rosto com minha salvadora.

Enquanto trocavam cordialidades, eu pude observá-la de perto pela primeira vez, constatando realmente como era uma bela mulher e de presença inquestionável. Mesmo não tão produzida como eu, ela trajava um vestido branco num tomara-que-caia insinuante e com a cintura e quadris tão justos que claramente expunham a completa ausência de roupas de baixo, dada a ausência de marcas no tecido e a forma como modelavam as curvas e reentrâncias de seu traseiro. Ao seu lado, tinha a companhia de uma esbelta e bonita mulher na faixa dos 25 e pouco mais anos, e que não escondia seu propósito, vestindo um saiote curto e apenas uma blusa de ceda que mais se assemelhava a um baby doll.

- Minhas sinceras desculpas, Renata. Eu fui meio afoito, mas em minha defesa tenho que dizer que sua beleza é algo soberbo. - e sussurrando apenas para nossos ouvidos dali, Josias complementou - Mas se mudar de ideia, gostaria muito de ter o privilégio de sua companhia dia desses. Dinheiro não é problema, entendeu? - e deu-me uma última e repulsiva piscadela de olho antes de Marta o puxar para despachá-lo dali.

- Nem mesmo você pode pagar o preço dela, Josias. Vamos, saia daqui que a Flávia está ansiosa para o reencontro com você. Afinal, faz mais de mês que você a deixou aqui sozinha e abandonada, seu insensível! - Percebi como ela contornou habilmente tudo aquilo, ao trazer a atenção dele para sua acompanhante.

- Oh, não diga uma coisa dessas, meu chuchu. Vamos logo que o papai aqui vai cuidar muito bem do seu bebê! - e assim o tal do desembargador se esqueceu completamente de mim, saindo abraçado e trocando carinhos abusados com a moça, que era por ele apalpada sem nenhum pudor e à frente de todos, enquanto seguiam em direção à escada que levava para os quartos na parte superior da casa.

Marta, então a sós comigo, tomou a iniciativa e se sentou à minha mesa, fazendo um sinal discreto em direção ao balcão onde um “bartender” preparava as bebidas, vindo a ser logo atendida com um coquetel que eu não saberia descrever exatamente o que seria.

- Bom, peço desculpas pelo inconveniente que Josias lhe causou. Mas você sabe como são os homens, não é? Não passam de crianças crescidas! Apenas os brinquedos é que são mais caros! - E soltou uma boa risada, tirando um cigarro de sua cigarreira para acender e passar a fumar descontraída à minha frente.

- Imagina, eu apenas posso agradecer a maneira como você interveio, pois eu não sabia bem como resolver aquele… hã… engano - era nossa primeira conversa juntas, e para a qual eu percebia nervosa que não havia me preparado o suficiente.

- Não precisa agradecer. Na verdade, a despeito do seu incômodo, eu até entendo o comportamento dele, pois você é uma belíssima e sedutora mulher - e dando uma pausa, e quanto se ajeitava na cadeira, cruzando suas belas pernas, questionou quem eu era — Mas qual é mesmo o seu nome?

- É Renata. Meu nome é Renata. E você eu imagino que seja a Marta, não é?

Depois de dar uma boa e funda tragada com sua piteira, Marta me olhou por alguns instantes e me lançou um olhar inquiridor, varrendo-me de cima abaixo como se estivesse me examinando, antes de me fazer a pergunta que eu mais temia que mas sabia que seria inevitável ter que responder:

— Renata… - fez uma longa pausa, durante a qual ficou me olhando enquanto dava uma nova tragada, soltando a fumaça pelo ar antes de me responder.

— Está certo, sim. Eu sou a Marta e dona desse estabelecimento, como, pelo jeito, você já deve saber. Mas me diga... Renata... o que trouxe você até aqui? Não quero crer que você tenha entrado por engano, ainda mais que fui informada que veio a minha procura, não é?

Certamente eu devo ter alternado entre ficar corada e pálida, quando a escutei me questionando o motivo de ali estar. Sendo bem sincera, eu mesmo desconfiava do motivo, sabendo mais por um estranho instinto que era o que eu precisava fazer para descobrir, de alguma forma, como seguir adiante no relacionamento com Geraldo. Mas uma coisa foi pensar isso na segurança e comodidade do meu lar, outra era estar ali, exposta e indefesa, perante a amante de meu marido de forma incógnita como uma espiã. Foi nessa confusão de sentimentos que minha torta justificativa foi saindo de minha boca, misturando elementos do que juntara até aquele momento:

- Bom, Marta. A verdade é que fiquei muito curiosa a respeito daqui, depois que uma conhecida minha comentou sobre ele...

- E o que essa sua amiga falou a respeito daqui? Agora eu que fiquei curiosa...

- Ela me disse funcionava como um local de encontros, sabe? Para homens e mulheres se conhecerem melhor e quem sabe terem algum relacionamento mais... íntimo... - lembrando o que disse, realmente eu devo ter parecido uma completa idiota para ela

- Hahaha... Acho que sua amiga não deve saber muito bem do que está falando... - e ela ria debochadamente, me dando a chance que eu esperava de poder inverter a conversa.

- Por quê? Como funciona essa sua casa, então?

- Sério mesmo que você está me perguntando isso?

- Sim, gostaria muito de saber.

- Rsrsrs... Olha, eu não sei de que planeta você veio... - e novamente ela me olhou bem nos olhos, dando-me um grande sorriso amistoso, refletindo um pouco enquanto brincava com o dedo ao redor do seu copo, antes de continuar:

- Mas, sabe de uma coisa? Eu simpatizei muito com você. Não é toda mulher que tem sua presença de espírito e coragem de entrar por aquela porta, e eu valorizo muito isso. Você é uma mulher rara de se encontrar. E até estou achando que podemos virar boas amigas, meu amor.

Aquela sua reação me espantou, pois não me pareceu algo fingido ou insincero. Se havia uma coisa que eu sabia bem era conhecer as pessoas pelo olhar e intenções. E, a despeito de todo o contexto de como nossas vidas haviam se cruzado, naquele momento, ao observá-la melhor, Marta me pareceu pela primeira vez como "humana". Uma mulher com qualidades e defeitos, mas autêntica e, por incrível que pareça, alguém confiável. Era loucura isso, mas eu sentia uma simpatia por ela, e naqueles poucos momentos, o ódio que antes me motivava meio que se atenuou. E, num curto espaço de tempo, cheguei a entender o motivo do encantamento pelo qual Geraldo devia ter se enfeitiçado. Nesse processo, escutei atenta ela discursando sobre os "serviços" daquele lugar.

- Vou, então, lhe contar um pouco do que você está vendo acontecer aqui. Se eu pudesse resumir, e de uma forma mais polida, eu diria que a essência de nossos serviços aqui é a de um atendimento psicológico e físico. Entre muitas coisas, ensinamos jovens a se tornarem homens, e tratamos com muito carinho e atenção de homens carentes e que estão desgostosos em seus casamentos, sabe? Principalmente aqueles casados com mulheres que não sabem lhes proporcionar que buscam e anseiam, unindo o amor da união com um sexo carnal e primitivo. A grande verdade é que nós vendemos paixão, ou seja, a combinação primordial de amor e sexo juntos... Helena!

Naquele exato momento eu senti o mundo girar, ao escutá-la pronunciando meu verdadeiro nome. Devo ter ficado pálida, assinalando claramente o golpe que recebi, antes de tentar me recompor e refazer meu singelo disfarce:

- É Renata... O meu nome...

- Ah, sim. Nossa, não sei onde estava com a cabeça para te chamar de Helena, não é mesmo? Lógico que é Renata, desculpe.

Eu fervia por dentro, e uns bons segundos se passaram naquela mesa, enquanto tomei o restante do meu licor pensando em como seguir com aquela conversa, que havia tomado outro rumo. Minha cabeça havia se transformado num novelo enrolado e cheio de nós, e eu perdida sem um mapa para sair daquele labirinto. Marta, por sua vez, estava tranquila e segura de si, dominando completamente a situação. Felizmente, pela segunda vez naquela tarde, o destino veio me salvar, quando uma outra mulher, agora uma loira sensualmente vestida, de cabelos longos e muito bela, se aproximou de nossa mesa e conversou discretamente com Marta, mas não baixo o suficiente para que me impedisse de ouvi-las:

- O senador Monteiro da Silva já chegou, e está nos esperando na suíte principal, Marta - essa não escondendo sua origem ser do sul do país, provavelmente sendo gaúcha.

- Por favor, querida, siga na frente e vá o entretendo que eu já me junto a vocês, ok? - e discretamente Marta deixou sua mão escorregar pela cintura e fazendo um carinho nos quadris da loira, trocando um rápido selinho antes dela sair num rebolado sensual e sorrindo enquanto escutava as cantadas e elogios dos homens em seu caminho em direção às escadas.

Voltando-se, então, para mim, Marta, sem perder nem um pouco de sua segurança e postura, se desculpou por ter de me deixar sozinha novamente:

- Bom, nossa conversa estava boa, mas eu tenho que ir. Você entende, não? O dever, e também o prazer, me chamam... Hahaha... Adoro meu trabalho! - E mais uma vez ela ria espontaneamente, se divertindo com tudo a sua volta.

- Eu entendo, Marta. Na verdade, gostei muito de lhe conhecer... e de tudo que me disse.

- Mesmo? Eu adoraria que pudéssemos nos encontrar novamente. Fiquei muito atraída por você, e faria muito gosto de nos conhecermos melhor.

- Hã... sim, por que não? Eu também... gostei de você, Marta.

Ela conversava comigo, já se despedindo, e enquanto nos levantávamos para um cumprimento final. Já próximas, trocamos beijos na face em meio a um abraço fraterno, quando ela sussurrou no meu ouvido:

- Amanhã seria um dia excelente, se você puder estar por aqui no meio da tarde. Tenho um encontro com um distinto e gostoso médico, que tenho certeza de que você adoraria conhecê-lo na intimidade junto comigo... Helena!

E antes que eu pudesse reagir, eu a vi dando-me as costas e partindo em direção aos quartos, passando rapidamente para comentar algo com o anfitrião antes de subir as escadas. Boquiaberta, eu me sentei novamente na mesa completamente indiferente a todo o resto que acontecia naquele salão. Uma vez poderia ter sido um engano numa estranha coincidência. Mas mais uma vez ser chamada de Helena, e num claro e explícito convite para a encontrar junto com Geraldo, tornava inegável que ela sabia, de alguma forma, que estivera o tempo todo conversando comigo mesma, Helena, a esposa do tal médico gostoso e seu cliente contumaz.

Alguns minutos depois, eu decidi que era hora de partir, e, sem sucesso, procurei Mariana como os olhos, mas não a encontrei, provavelmente por ela já ter também subido para seus momentos com o felizardo rapaz. Dessa forma, chamei discretamente uma outra menina, e pedi para que ela me trouxesse minha conta. Logo após, vi quando o anfitrião veio ao me encontro e se dirigiu a mim:

- Dona Marta disse que seu consumo será por conta da casa.

- Oh… fico muito agradecida. Poderia, por favor, me ajudar com meu casaco? - E levantei-me para vestir novamente meu sobretudo com o auxílio dele.

- Sim, madame. Com todo o prazer.

- Obrigada!

Já pegando de volta minha bolsa e me preparando para sair, fui, então, educadamente interrompida por ele, ao me estender a mão com um cartão para me entregar:

- Dona Marta pediu para lhe entregar esse cartão, que tem o número do telefone dela. Ela pediu também para lhe dizer que "Espera que possa contar novamente com sua presença aqui amanhã. E que tem certeza de que a senhora não vai se arrepender", foram as palavras dela.

Peguei o cartão e o guardei em minha bolsa, sendo conduzida pelo senhor até a saída. Não conseguia pensar em nada racional, e andei como um zumbi até o táxi de Pereira, que me aguardava encostado do lado de fora do veículo.

- Está tudo bem, dona Helena? - Ele me perguntou, abrindo-me a porta e me ajudando eu entrar.

- Sim, Pereira. Tudo certo... Por favor, me leve de volta para casa.

A corrida de volta deixou Pereira meio angustiado, pois ele tentava com cuidado sondar algo do que ocorrera lá dentro do bordel, mas eu apenas lhe dava respostas evasivas. Em determinado ponto, ele entendeu que não conseguiria mais nada de mim, e me deixou pensando sozinha sobre as opções que eu teria. Aquele convite ressoava na minha cabeça e para uma possibilidade que eu não havia pensado até aquele momento. Tentando rever minhas últimas semanas, eu assistia em "flashback" os momentos com Geraldo na minha cama, minhas solitárias descobertas, as conversas e segredos trocados com Laura, o "affair" em minha iniciação com Henrique, e agora uma sedutora proposta vinda justamente da amante de meu marido. Era mesmo muita coisa acontecendo em tão pouco tempo; se eu reclamara que minha vida íntima andava estagnada há muito tempo, agora tudo se desfraldava de uma forma caótica e acelerada.

O tempo da viagem de volta passou assim voando, enquanto eu tentava decidir o que fazer. Quando percebi, o táxi de Pereira estacionava defronte de minha casa e eu providenciava o acerto devido, não economizando num extra em reconhecimento à dedicação e fidelidade dele. Saindo do carro, e após vê-lo já sentado ao volante, eu me voltei para o veículo e disse pela janela entreaberta do passageiro:

- Pereira, vou precisar de você novamente amanhã, ok?


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Comentários

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Vai pegar 🔥🔥🔥

⭐⭐⭐🔥

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Obrigado, Cigarra! Legal como vc pega uma série para ler na sequencia, como se estivesse maratonando! E sim, a coisa vai esquentar!

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Muito bom aguardando o novo capítulo

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Obrigado, So4Nayass!

É um incentivo enorme ter opiniões como essa para que possamos seguir sempre criando mais histórias e continuando a publicá-las aqui.

Bjs

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Caro Al, essa história só melhora sob todos os aspectos. E o pode vir por aí é potencialmente explosivo.

Pessoalmente,já estou em uma faixa etária que me faz olhar com mais frequência para o passado, mesmo aquele que não vivi. E essa história se encaixa com perfeição nessa situação.

Um abração.

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Que bacana seu comentário, Old Ted. Fico realizado quando consigo causar esse tipo de sensação e nostalgia nos leitores, provocando, além da relação com a própria história do conto também sentimentos próprios, geralmente com gatilhos que cada um tem em função de seu passado e suas vivências.

Posso dizer que praticamente todas os contos que escrevo possuem alguma coisa nesse sentido, seja de vivência, seja de fantasias, seja de sonhos.

Agradeço muito seu testemunho, e espero que siga curtindo a história da Helena, que já se encaminha para o final (pelo menos dessa parte da vida dela). Abs

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Olha, este capítulo foi eletrizante.

E na cena em que a Marta fica frente a frente com a Helena, estava na cara de que a dona do bordel realmente sabia que ela era na verdade. Agora como ela sacou a verdadeira identidade da visitante isso não seu. Não lembro se vc desenvolveu isso em Os Mattozano.

Olha, sendo muito sincera eu não sei se seria legal a Helena ir de encontro novamente com a Marta e flagrá-la junto do Geraldo. Seria um choque muito forte embora ela esteja se descobrindo como mulher dando início a uma nova vida sexual.

Uma pergunta: vc pretende finalizar a história até o Natal?

No mais, parabéns mais uma vez!

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Obrigado, Ana! Algumas revelações vão acontecer no próximo capítulo, inclusive sobre a sacada da Marta em reconhecer a Helena (já estava rascunhado isso).

Já sobre completar, meus planos são sim de finalizar até o Natal. Espero que o “universo” ajude a cumprir essa meta!

Abs

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Não tinha lido os outros capítulos, li esse e gostei demais, vou começa a ler a história completa.

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Oi Zequinha! Essa série é uma sequência daquele conto do Matozzano, que escrevemos para o desafio-3 (dos anos 60). Se for maratonar, dá uma lida nele para relembrar onde tudo começou!

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Obrigado, So4Nayass! Sempre bom ter o incentivo dos leitores para seguir com a trama!

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