Continue. Esta história promete.
Desejo e Vingança – cap.01
Tudo começou com a morte de papai, policial militar, atacado fora de serviço e covardemente pelas costas, mamãe era separada a 5 anos dele, mas foi quem reconheceu o corpo, era o dia do enterro, uma tarde ensolarada e quente, longe do que vemos no cinema com um clima chuvoso, acho que era o que eu desejava, acho que ele merecia que chovesse.
Nós dois éramos bem afastados, eu nem sabia se ainda o amava após abandonar nossa casa sem dar esclarecimentos, mas a resposta veio quando o vi no caixão, não me controlei e comecei a chorar, minha mente pedia para que eu me recompusesse, mas as lágrimas apenas desciam e minha face foi tomada de raiva e sentimentos que não podia explicar.
Alguém me abraçou, na verdade foi mais um puxão com apenas um braço me colocando rente a seu corpo, mamãe estava a minha frente consolando minha irmã, eu ainda não sabia quem estava fazendo aquilo por mim.
Olhei para ele, era um cara de terno, ainda jovem, loiro de óculos escuros, barba rala, uma cara imparcial como se estivesse cumprindo um trabalho de estar ali, talvez fosse cruel da minha parte pensar isso, mas os óculos escuros me remetia a falsidade, provavelmente um amigo do trabalho de meu pai.
_Meus pêsames garoto...erh eu sei que não é fácil...sei lá, não sei o que dizer.
Eu não tinha me recuperado ainda, não pude responde lo nem obrigado, ficamos juntos enquanto assistíamos o corpo de meu pai ser enterrado, me soltando apenas no final quando mamãe ficou frente a frente conosco.
_Senhora Roberta Giotto, muito prazer conhece lá, meu nome é Timóteo Silva, eu era amigo de seu falecido marido – nisso ele tirou os óculos, seus olhos eram azuis.
_Olá – mamãe estava plena, claramente estava lá por nós, talvez já esperasse a morte de papai a tempos, tinham uma relação complicada – muito prazer conhece lo, em que posso ajuda lo?
_Ahm primeiramente meus profundos pesares sobre o Paulo, eu me ofereço a disposição para tudo que precisarem.
_Ex, ex marido, de qualquer forma, muito obrigado senhor Silva, de coração, agora acho que vou levar os meus meninos para casa – disse estendendo o braço e seu ombro a mim, eu e minha irmã, um em cada braço dela chorando em seu ombro.
_Claro, claro, me pergunto até se precisam de uma carona, estou a disposição...mas se me permite, e desculpe talvez por não ser o momento adequado, mas não sei se a verei novamente, gostaria de por favor ter o seu contato...sou advogado e tenho assuntos a tratar sobre o seu...ex marido.
Sua voz era a mais mansa que conheci em toda a minha vida, estava ali apenas por aquilo? Talvez realmente fosse importante e ele realmente tentou ser educado e sensível ao momento...até demais, todo seus modos e jeito de falar, senti algo por ele, alguma coisa de ruim pairava sobre ele, por cima de meu luto saltou meu sentimento de desconfiança, meus olhos que estavam antes fechados agora se abriram o fitando, ele também me olhava mas desviou o olhar em seguida.
Mamãe passou seu número celular a ele, era óbvio que ele não deixou o dele com ela pois sentia medo de ela esquecer ou não retornar, nos despedimos e enquanto saímos, já um pouco distante olhei para trás, ele estava olhando o túmulo de papai de braços cruzados e voltando a usar seus óculos escuros, parecia estar prestando seu respeito, por um momento esqueci sua primeira impressão de manipulador.
Foram dias comuns os que se passaram, eu e Gabriela minha irmã seguimos nosso período de luto, por volta de 3 dias depois do enterro de papai fui até seu apartamento, queria pegar alguns pertences meus que esqueci em minha última visita, mais que isso, foi um desafio, rever o local em que ele vivia novamente, sabendo que jamais o veria, quando vivo, nossas visitas a ele eram raras, o apartamento não era grande então jantávamos fora, se passássemos pelo apartamento era coisa rápida, a chave estava com a mamãe, foi entregue junto da carteira nos bolsos dele.
Entrando no apartamento, estava uma bagunça, roupas sujas espalhadas pela casa, meu fone que havia esquecido da última vez pois saímos às pressas para o restaurante com o papai estava logo a estante. Peguei e já pensei em sair, mas era diferente o clima, estava sozinho em um apartamento vazio, e eu tinha 18 anos e nunca tinha experimentado aquela privacidade antes.
Me esparramou pelo sofá, coloquei meus fones, confortável, fiquei apenas de cueca e ouvindo música, foi então ao arrastar um short sujo que estava por baixo senti uma coisa, um celular, um celular já estava com a polícia pelo que sabia, mas pelo visto ele tinha dois, tinha uma senha, meu pai nunca foi o cara mais esperto que conhecia, sabia uma senha antiga dele, que ele usava para tudo com medo de esquecer “Colorado123” a cidade que nasceu mais 123, como já o ajudei com questões de email antes sabia disso, era realmente a senha do outro celular, ri em pensar o quão simples ele era, bloqueei novamente e joguei o celular do lado, porém, parando pra pensar estava sozinho e podia descobrir um pouco mais sobre meu pai, desbloqueei novamente, primeiro fui ver o histórico de Google, porno, porno e mais porno, descobri uma bissexualidade de papai e bem nisso nós se igualávamos, fotos, suas galerias tinham mais porno e nada de muito aproveitável, mas foi então que vi uma foto do homem do enterro, ele estava de terno bege sem gravata em uma mesa de restaurante, era aparentemente uma foto surpresa tirada por meu pai dele distraído comendo, próximo aplicativo que vasculhei foi whatsapp, estava lendo as mensagens com primeiro contato, tinha muita coisa trivial, papai estava em um relacionamento, o perfil estava sem foto mas desconfiava claramente ser o moço de terno, falavam também de trabalho, meio que em código eu não sabia compreender tudo, quando fui acessar outras conversas, tentando ampliar a foto de outro cara fiz uma ligação sem querer, desliguei em seguida. Droga pensei, um morto ligando, o que vão pensar? Por um momento, pude esquecer o luto, foi engraçado entrar na “mente” de papai, descobrir seus segredos, sempre fui uma pessoa curiosa, e era algo que só eu sabia, era um sentimento que nem sabia explicar, fui conhecer um lado dele que nunca havia notado ou sabia da existência, e tudo depois de morto.
Fui para casa algum tempo depois, e ao entrar me deparei com mamãe e Timóteo conversando sobre a mesa de jantar.
_Oh ele está aí.
_Boa Tarde garoto, qual seu nome mesmo?
_Ahm, Felipe.
_Felipe...um lindo nome.
_Felipe, o amigo de seu pai veio até aqui buscar a chave do apartamento de seu pai, parece que ele precisa procurar uns papéis do trabalho, algo assim, poderia dar a chave a ele?
_Claro, claro, está aqui.
_Senhora Roberta eu lamento ter de incomoda lá tão cedo com esses assuntos mas realmente estávamos trabalhando nesse processo e eu precisava tentar reaver os documentos, não podíamos prever essa tragédia que iria acontecer.
_Ora eu realmente não me importo, eu nem sei onde fica ao certo o apartamento do Paulo, entregaram a mim os pertences por ser o parente mais próximo ele não tinha família por perto.
_Entendo, mesmo assim muito obrigado e logo volto para devolver a chave, se me permite eu já vou indo. Muito obrigado pelo café – disse ele já saindo pela porta, pelo visto sempre se vestia elegantemente.
_Eu não consigo aceitar que esse completo estranho já estava aqui em casa, e você aceitou dar a chave da casa do papai para ele de bandeira.
_Querido, você acabou de voltar de lá, há alguma coisa para ser roubada? E se tiver, o que importa agora? Seu papai já se foi e só estamos ajudando um amigo dele.
Lembrei da foto no celular do papai, eram mais que amigos sem dúvidas, logo, papai confiava nele, mas a ideia de ele ser um total estranho ainda me causava estranheza.
_Só vai encontrar roupas sujas pela casa, você tem razão acho que só estou implicando com ele, vou pro meu quarto.
Fui ao meu quarto e lá fiquei o resto do dia, saindo apenas para comer, fiquei ouvindo música, dormi cedo. No dia seguinte voltaria a faculdade após o período de luto, cursava Direito, primeiro ano, influência de meu pai, o dia se arrastou e eu estava cansado quando saindo da faculdade avistei Timóteo encostado em um belo carro bem em frente as portas da minha faculdade. Ele estava conversando no celular mas quando me avistou logo desligou e veio em minha direção.
_Olá Felipe, podemos conversar?