"Clair de Lune" - Capítulo 9 - Decisões indecisas

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 3767 palavras
Data: 21/11/2022 13:12:28
Última revisão: 21/11/2022 20:03:18

Depois disso, foi um inferno! Ela não queria trabalhar e eu, nem minha mulher, conseguíamos convencê-la. Acho que as lembranças e a frustração vieram fortes nos dias seguintes, porque, por duas semanas, minha filha, prática, calculista, objetiva, centrada e dona de si, se perdeu da vida e chorou o que nunca havia chorado em toda a nossa existência nesse mundão de meu Deus. Até uma patroa dela veio saber o porquê do seu sumiço e, ao tomar conhecimento, se compadeceu e disse que cuidaria de seus processos até ela se restabelecer:

- Seu Vicente. - A dona Eugênia retirou-me de meus pensamentos: - Não há um ditado que diz que nada é melhor que um amor para curar as dores de outro amor. Então!? Talvez o Marcos seja o bálsamo que a Annemarye precisa.

- Não sei. Eu… Eu peço desculpas se ofendi seu filho, não foi essa minha intenção, dona Eugênia, mas eu… Eu realmente não sei o que pensar. Vamos ver… Deixa eu conversar com minha filha depois, ok?

[...]

Capítulo 9 - Decisões indecisas

Depois de tomar meu cafezinho com o Marcos sentado de frente para mim e me encarando a todo o momento com um semblante preocupado, mesmo com o meu pai o encarando de soslaio, desconfiadíssimo, decidi que era hora de realmente ir embora. Se fosse verdade o que ele me disse e ele me quisesse, saberia onde me encontrar. Bastaria ele resolver sua situação com a namorada e querer fazer acontecer e quem sabe a gente… Despedi-me novamente deles e dessa vez não chorei. O Marcos ficou por último e ainda cochichou novamente em meu ouvido, após um abraço apertado, sentido, triste:

- Eu vou te buscar! Eu vou te buscar… Acredite em mim.

Sorri, mas nada comentei novamente. Saímos dali e fomos direto para meu apartamento. No caminho minha mãe, claro, minha mãe, não perdoou:

- Moço bonito!

- Ele tem namorada, mãe, não começa! Só quero trabalhar, construir minha vida e um dia, se eu der sorte, arrumar alguém.

- Ninguém é feliz sozinho… - Meu pai começava um de seus intermináveis monólogos existenciais.

- Para! - Eu o interrompi antes que ele embalasse: - Não começa ou vamos discutir. Não quero ninguém agora além de vocês.

Ele olhou confuso para minha mãe e, com toda a liberdade que havíamos construído ao longo de minha vida, me perguntou:

- Mas ele não gosta de você?

- Quem te disse isso?

- A mãe dele, uai! - Respondeu.

- Como é que é?

- Ela falou que vocês dois se gostam. - Insistiu.

- Vicente!? - Minha mãe o repreendeu.

- O quê? - Ele perguntou para ela, bufando: - Eu quero entender essa história! Só não quero que a Anne entre em outra enrascada.

- Gente, chega! Para, por favor. - Pedi quase chorando: - Ele acabou de me falar que não ama a namorada e que vai terminar com ela para ficar comigo. Eu… Eu não quero acabar com o relacionamento de ninguém. Eu sei o quanto dói!

- Mas, querida, se ele não gosta dela… - Veio minha mãe.

- Para! - A interrompi também, brava: - Desculpa, mãe. Eu… Eu não sei de mais nada. Vamos deixar as coisas acontecerem. Se ele realmente fizer isso e quiser conversar comigo, nós vamos conversar. Se daí vamos namorar, noivar, casar, etc. e tal, só o tempo dirá, mas agora eu só quero descansar. Então, por favor, chega desse assunto.

Meu pai voltou a encarar minha mãe, bravo como um típico pai, italiano e mineiro raiz, e não me contestou. Chegamos em meu apartamento e liguei para o doutor George. Eu precisava entregar meu atestado de afastamento para ele e, se o aceitasse digitalizado, me facilitaria muito:

- VOCÊ FOI O QUÊ!? - Ele gritou do outro lado da ligação quando eu disse que tinha sido agredida e desligou na minha cara.

Olhei para o celular, sem entender nada e logo uma chamada de vídeo dele se iniciava, pois certamente queria me ver. Atendi e ele começou a me metralhar:

- Como que você só me liga hoje, Annemarye!? A Lili me disse que você iria tirar uns dias para descansar, mas não tinha me falado que bateram em você. Que falta de juízo, menina! Está precisando de alguma coisa? Qualquer coisa!?

- Calma, doutor. Calma! Estou bem. Meus pais estão aqui comigo. Eu só queria saber se posso te enviar meu atestado médico digitalizado, porque vou para a roça descansar um pouco.

- Chama teu pai! Quero falar com ele.

- Como é que é?

- Só vou ficar tranquilo quando souber que você não está sozinha. Sei que não tem família aqui e não vou te deixar sozinha.

Comecei a rir dele e mostrei meus pais para ele, pedindo para darem um “tchauzinho” para meu patrão preocupado. Depois, ele se acalmou um pouco e resumi melhor tudo o que havia passado e que já estava me recuperando, mas queria, se ele concordasse, tirar uns dias de folga na casa dos meus pais, descansando, mas o avisei:

- Naturalmente, se alguém tiver alguma dificuldade com um processo meu, basta me ligar, que eu explico ou até faço o trabalho e lhe envio. Só me avisem com antecedência.

- Tudo bem, então, menina. Vai descansar. Não precisa me mandar atestado, te conheço e sei que você não é do tipo que falta ao trabalho.

- Obrigada, então, doutor.

- Descansa! E se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, me avisa que eu providencio.

- Aviso sim, obrigada. Até mais.

- Até.

Fui então com minha mãe arrumar uma mala maior para passar meus quinze dias de descanso e logo ouvi meu pai gritar:

- E o que você vai fazer com esses bichos aqui? - Certamente ele havia encontrado o Torresmo e o Bacon.

- Vou colocá-los numa gaiola e levá-los. Dá pra levar, não dá? - Perguntei.

- Dá, né!? - Respondeu meio desanimado: - É cada uma…

Terminada minha mala, aliás, malas, fui aprontar meus bichinhos numa gaiola para a viagem. Depois os colocamos no banco ao meu lado, minhas malas no porta malas e saímos, rumo a casa de meus pais no interior de Minas Gerais.

Chegamos umas três horas e meia depois. Por conta dos remédios que ainda estava tomando, dormi a maior parte da viagem. Não que eu precisasse de remédios para dormir num carro, mas aqueles me davam um soninho danado. Coloquei meus bichinhos na área de serviço e meu pai levou minhas malas para meu antigo quarto. Estava quase idêntico a quando eu havia partido, os mesmos móveis, as mesmas cores, algumas bonecas da minha infância, livros, mergulhei numa verdadeira nostalgia. Me instalei e depois fui até a cozinha, porque eu já sentia o aroma de um café novinho e de… pão de queijo! Ah, que pãozinho de queijo gostoso! Por mais que nossa casa seja nosso refúgio, não há nada como a casa de nossos pais: o sentimento de acolhimento, de proteção, nos fazem um bem imenso ao coração e ao corpo também!

Passei os primeiros três dias literalmente reclusa porque não queria que alguém me visse com o rosto roxo, mas, ali no aconchego deles, meu corpo se curou milagrosamente rápido. Quatro ou cinco dias depois, a mancha no rosto havia praticamente sumido, a dor ainda persistia levemente e o inchaço era só uma lembrança. Somente meu irmão, cunhada e minhas sobrinhas foram me visitar nesses dias.

[...]

- O que você vai fazer agora, Marcos? - Minha mãe me perguntou curiosa, aliás, ansiosa logo depois que nos despedimos da Annemarye e de seus pais.

- Vou fazer o certo, mãe. Vou procurar a Márcia e terminar meu namoro. Depois vou atrás da Annemarye e trago ela comigo.

- Então, você, vocês se acertaram na sua…

- Não, mãe! - A interrompi já entendendo sua pergunta: - Bem… não e sim. Rasguei o verbo, me declarei para ela e apesar de ela não ter se declarado para mim, senti que ela ficou balançada. Mas ela deixou bem claro que não ficará entre eu e a Márcia, mas não negou a possibilidade de a gente conversar depois.

Ela me olhava com ternura e acredito que tivesse aprovado minha conduta, aliás, mais que ternura, seu grande sorriso indicava que aprovava a nova “nora” que eu estava tentando lhe arrumar:

- Ai, que delícia! Meu filhinho está apaixonado! - Falou, suspirando logo depois.

- Estou, mãe. Estou mesmo. - Confirmei e, sorrindo, confessei: - A gente se beijou na minha suíte, mãe…

Ela me encarou surpresa e sorrindo. Antes que dissesse algo, continuei:

- Eu nunca senti algo assim. - Sorri, meio constrangido pela confissão feita: - Mas foi o melhor beijo da minha vida! Estou sentindo o perfume… Estou sentindo ela comigo até agora.

- E está esperando o quê, menino? Resolve a sua vida e vai atrás dela.

- Então, mãe… Até sexta não dá. Estou cheio de compromissos e reuniões. Vai me doer, mas vou ter que esperar até sábado. Daí vou para o Rio e resolvo com a Márcia.

Ela não concordou, mas teve que aceitar pois era o certo a se fazer. Eu estive tão envolvido com a Annemarye quando esteve em minha casa que acabei não me lembrando de pegar seu contato. Quando pedi seu telefone para minha mãe, fui repreendido:

- Não acredito que você não tem o telefone dela, Marcos? Que namoradinho mais relapso, hein!?

- Mãe, ela estava aqui. Para que eu iria precisar de seu telefone? - Disse e ela concordou, então pedi: - Passa para mim o número dela, por favor? Quero ligar para ela. Estou com saudade de ouvir aquela voz rouca…

- Eu não tenho o telefone dela! Pensei que você tivesse.

Ficamos obviamente chateados, mas, na era digital, é praticamente impossível que ela não tivesse um perfil em redes sociais. Acertei em cheio, encontrando um no Facebook e outro no Instagram. Ela não era uma aficionada. Suas postagens não tinham regularidade e a última era de uns quinze dias antes do acidente, durante uma viagem à praia. Mandei solicitação de amizade e fiquei esperando retorno. Ela não me aceitou, ou nem viu minha solicitação. Assim, a quarta-feira se arrastou, deixando-nos muito mais ansiosos, mas minha mãe pareceu ter encontrado uma solução:

- Ela trabalha para o Gregório, Marcos. Liga pra ele. - Me disse, esperançosa, mas ela própria se corrigiu: - Não! Eu mesma ligo.

Ligou em seguida e depois de uma ligeira conversa entre amigos que se conheciam há tempos, conseguiu dois números de telefone da Annemarye. O primeiro era de seu prédio em São Paulo e não serviu de nada naquele momento. O segundo era um número de celular que dava como resposta “desligado ou fora de área”. Minha agonia só aumentava e a de minha mãe também por ver que eu não conseguia sequer falar com ela.

Na quinta-feira, novamente não consegui contato com ela e nada dela aceitar minhas solicitações de amizade. Esse foi o dia mais longo, monótono e chato da minha vida. Acabei me resignando e decidi que iria pessoalmente vê-la no domingo. O problema é que eu não sabia onde seus pais moravam. Minha mãe, novamente ela, resolveu essa questão em uma nova e rápida ligação para o doutor Gregório, dizendo que não conseguiam falar com ela no telefone e ele, coincidentemente, disse que também não estava conseguindo. Achamos estranho, mas poderiam ser vários os motivos e preferimos não nos preocupar. Na sexta-feira de manhã, durante o café, informei minha mãe que havia adiantado todos os meus compromissos, liberando o dia e a informei que iria ainda naquele dia para o Rio. Ela anunciou que viria comigo:

- Ué, mas a senhora não iria passar uma temporada aqui comigo? - Perguntei, curioso.

- Então… - Ela começou a rir: - Mas vai que você consegue realmente trazer essa moça de volta para cá, né!? Já deixo o apartamento liberado para vocês…

- Mãe, o que é isso!? Deixa a Annemarye ouvir a senhora conspirando… - Falei, rindo demais de sua cara maliciosa.

- Esse é um segredo nosso, hein, Marcos? Não quero me indispor com ela. - Ela ria: - Mas vai que, né?

- Eu sei, mãe. Fica tranquila. - Respondi, enxugando uma lágrima de tanto rir.

O voo da ponte aérea Rio-São Paulo costuma durar pouco mais de uma hora e naquele dia não foi diferente. Chegamos e eu a deixei em sua humilde casa, que de humilde tinha nada, pois era uma imensa mansão localizada no Leblon. Ela me abraçou, beijou e me deu sua benção, torcendo para que tudo corresse bem. Liguei para saber onde a Márcia estaria e ela me atendeu animada, dizendo que estava no apartamento de seus pais. Fui imediatamente para lá. Chegando, entrei imediatamente, pois já era conhecido e autorizado, batendo na porta de seu apartamento minutos depois.

Márcia estava lindíssima nesse dia. Aliás, ela sempre foi uma mulher muito bonita. Com pouco menos de um metro e setenta, era loira e tinha um corpo muito bonito, com seios médios, proporcionais aos quadris e uma cinturinha bem fininha. Eu costumava brincar dizendo que ela parecia um violino. Vestia um vestido de motivos florais pouco acima de seus joelhos e estava nitidamente sem sutiã, acho que até sem calcinha. No rosto, uma leve maquiagem e os cabelos amarrados num rabo de cavalo. Ao me ver, se atirou em meu pescoço e me beijou a boca sem que eu pudesse sequer dizer um “Ah”. Não a rejeitei, mas também não fui receptivo. Ela estranhou imediatamente:

- Precisamos conversar, Márcia. - Falei, assim que ela se afastou um pouco de mim: - Seus pais estão?

- Não, Quinho, eles saíram. Que cara é essa?

- Márcia, eu… - Mesmo certo do que eu queria, falar o que precisava ser dito não era fácil e as palavras me faltaram.

Ela me encarava curiosa, aliás, ansiosa já. Decidi apertar o botão do “foda-se!” e ser honesto, pois era o melhor naquele momento:

- Olha só… Não tem um jeito fácil de dizer isso, então, vou ser bem direto: eu quero terminar o nosso namoro.

Ela arregalou os olhos, ficando também boquiaberta, mas em silêncio, aturdida com meu pedido. Depois de um momento em que ela ficou aparentemente me avaliando, falou:

- É a tal Annemarye, né!? Aquela biscate te conquistou, não foi? Mas que porra de nome é esse? Annemarye, Annemarye… Ah, vá!...

- O que é isso, Márcia?

- Não começa! Tua mãe chegou a me contar da moça que você estava “ajudando”. - Disse fazendo aspas com as mãos, dando a entender uma má intenção de minha parte: - Pra mim, tá mais com cara de armação. Só não sei ainda se dela ou sua para terminar nosso namoro.

- Pode parar. Não quero discutir com você. A gente não precisa terminar assim. A Annemarye não tem nada a ver com minha decisão. - Menti descaradamente, sem saber se a convenci ou não, mas completei meu argumento: - Inclusive, ela não está mais lá em casa já há alguns dias.

Ela ficou em silêncio, ainda me encarando, mas a surpresa em seu semblante, agora se transformava em dúvida que ficou ainda mais claro quando continuou:

- Sou eu, né? Eu fiz alguma coisa errada, não foi? - Neguei com a cabeça, mas ela continuou: - Então, eu deixei faltar alguma coisa, não é? Fala, Marcos, eu posso consertar. Só me fala o que foi que eu fiz ou deixei de fazer.

- Márcia, você foi perfeita. O problema sou eu! - Tentei tirar a responsabilidade dela, usando um clássico “chavão”: - Peço desculpas, mas não dá mais.

Eu me levantei e fui em direção à porta, mas não antes dela me interpelar uma última vez:

- Então, é assim? Quase três anos juntos e você vai me deixar para ficar com umazinha qualquer.

- Eu não vou discutir com você, Márcia. Sei que agora você está magoada comigo, mas espero podermos conversar com calma uma outra hora. Agora só estou te informando que terminamos, só isso.

Ela começou a chorar, mas estava feito e consolá-la era algo que eu não queria fazer naquele momento, mesmo porque poderia lhe dar uma falsa esperança. Saí dali e fui direto para a casa de minha mãe, pois sabia que ela estava ansiosa por notícias. Lá me deparei com ela e meu pai, que havia retornado para reencontrá-la, sentados à mesa, tomando um café com bolo de aipim. Fui até ele, constrangido por já imaginar que minha mãe havia contado tudo, e o abracei, sendo convidado a me juntar a eles. Ao me servir de um café e olhar para minha mãe, tive a confirmação:

- E aí? Já ligou para a Anne? - Ela me perguntou de imediato.

- Mãe… - Resmunguei da presença de meu pai.

- Já contei tudo para ele. - Ela riu e bebeu um gole de café: - Mas e aí? Pelo menos, terminou com a Márcia?

- Terminei, mãe. Lá já está resolvido. - Confirmei e depois de morder um pedaço de bolo, continuei falando, sem encará-los: - Ela não gostou nada, mas, né… quem gostaria?

- Estou curioso para conhecer essa moça que virou sua cabeça em tão pouco tempo. - Meu pai sorria de uma forma mais comedida: - Deve ser um mulherão mesmo…

- Balthazar!? - Minha mãe o repreendeu e eu comecei a rir.

- É, sim, pai! - Confirmei, rindo: - E em todos os sentidos. Pergunta pra mãe?

Minha mãe sorriu de uma forma leve, gostosa, descontraída e confirmou com a cabeça, dizendo ainda:

- Linda, linda, linda, meu velho. - Rasgou elogios: - Linda fisicamente, linda como pessoa, humilde, pacata, divertida e inteligentemente linda. Sabia que já está fazendo até doutorado? Você que gosta de gente inteligente, vai se apaixonar por ela.

- Vai nada! Ela é minha, hein? - Falei, rindo da forma como minha mãe disse.

- Eu já tenho minha paixão, Quinho. - Ele riu e abraçou minha mãe: - Não quero uma novinha. Talvez, umas duas ou três… Quem sabe.

Minha mãe o encarou surpresa e beliscou sua costela, fazendo-o gritar. Depois caíram numa gostosa risada e se beijaram. Fiquei me imaginando com a Annemarye, pois era o tipo de humor que ela tinha e brincadeira que certamente faríamos juntos:

- E o que você vai fazer agora? - Meu pai me perguntou.

- Vou atrás dela, oras! Vou me organizar e vou atrás dela. Se der certo, no domingo, já estarei lá.

- Que paixão, hein, Gegê!? - Ele disse e riu gostoso.

Esse dia terminou sem muitas novidades e eu ainda continuava sem conseguir falar com a Annemarye. Me organizei para ir no domingo atrás dela. Minha mãe se tornou minha fiel escudeira, ajudando-me em todos os aspectos daquela viagem. No sábado à noite, tinha um “check list” pronto:

- Roupas?

- Já peguei, mãe.

- Dinheiro, cartões?

- Já.

- Presente para ela?

- Não.

- Como é que é!? Você vai chegar de mãos abanando?

- Mãe, a gente vai conversar. Nós não estamos namorando. Não quero constrangê-la com um buquê, joia, ou qualquer outro tipo de coisa, ainda mais na frente dos próprios pais.

- Tá, mas uma rosa vermelha só, não seria nada mal, né? Ajuda a quebrar o gelo.

- É. Talvez…

- Talvez nada, toma. - Disse e me entregou uma rosa lindamente preparada, embrulhada e acondicionada em uma caixinha transparente com uma fitinha e laço. Depois, ainda brincou, piscando para mim: - Eu sabia que você ia esquecer e já comprei. Não esquece de falar pra ela que foi a sogrinha que lembrou, tá?

Sorri feliz ao ver a rosa e ri bastante da brincadeira dela comigo. "Sogra nada! Vou falar que fui eu, claro!", pensei, ainda sorrindo para ela. Fui dormir naquela noite mais cedo pois queria estar bem disposto para ir atrás da Anne no dia seguinte. Meu pai me cedeu seu helicóptero e eu já havia combinado com um taxista para me buscar no aeroporto de lá.

Entretanto, durante a madrugada, uma movimentação atípica me acordou. Ao sair de minha suíte, meu pai já vinha nervoso em minha direção, pedindo ajuda pois minha mãe não estava se sentindo bem. Fui até sua suíte e ela apresentava uma estranha falta de ar que evoluiu negativamente para uma acentuada dor nas costas que não cessava de forma alguma:

- Teu pai quer me matar, Marcos. - Disse, entre gemidos.

Eu o olhei, incrédulo, e ele explicou:

- A gente estava animado como esse negócio todo de romance e começamos a namorar. Daí ela começou a passar mal…

- Tá bom, pai. Já entendi. - O interrompi e liguei para nosso plano de saúde, relatando os sintomas.

Em minutos, uma UTI móvel chegava em nossa casa, com médicos e enfermeiros que a estabilizaram, providenciando sua transferência para um hospital de referência, onde, após vários exames, foi diagnosticado um quase princípio de infarto do miocárdio. Infelizmente, não tive cabeça para mais nada a não ser ficar com meus pais ali.

Na manhã de domingo, liguei para meus irmãos para informá-los do acontecido. Todos se desesperaram, mas depois de explicar que ela já estava estabilizada, se acalmaram. Naturalmente, informaram que estariam conosco o quanto antes. Lelinho foi o primeiro a chegar, por volta das dez e meia, o que até me surpreendeu:

- Eu já estava aqui, Quinho. Vim cuidar da divulgação daquele condomínio que a construtora está finalizando em Ipanema.

- Ah, tá. Bom… Ela está dormindo agora, mas se quiser entrar, eles permitem. - Eu falei e ele se foi.

Pouco depois a Márcia também chegou, dizendo ter sido avisada pela amiga da irmã da prima de uma colega que trabalhava naquele hospital e eu não conhecia. Considerando que ela cursava medicina, eu não teria porque duvidar. Mesmo não estando mais namorando, ela ficou ao meu lado e deu todo o amparo naquele momento. Minhas irmãs chegaram depois do almoço e assim que foram inteiradas da situação da nossa mãe, ficaram mais tranquilas. No final do dia, um médico cardiologista e amigo de meu pai, veio nos explicar os procedimentos que seriam tomados com a implantação de, provavelmente, dois “stents”:

- Como assim “provavelmente”, doutor? - Minha irmã Duda perguntou.

- Ainda estamos esperando a confirmação dos resultados de alguns exames, mas, pela minha experiência, digo que serão dois.

- Mas há risco de morte? - Nana perguntou segurando o choro.

- Risco sempre há. - Disse e nos preocupou a todos: - Mas no caso dela, como foi socorrida bem no início dos sintomas e conseguiram estabilizar seu quadro, o risco será mínimo. Eu diria quase inexistente.

Depois passou a explicar todo o procedimento de colocação dos “stents” e do pós-operatório, deixando-nos mais tranquilos. A cirurgia foi feita naquela mesma noite e no dia seguinte, uma segunda, minha mãe já estava acordada e bem disposta. Entretanto, ficaria em observação, internada por mais alguns dias. Nos organizamos de modo que pudéssemos revezar nos cuidados com ela. Novamente, a Márcia se mostrou muito prestimosa e fez questão de ficar comigo durante todo o momento. Minha mãe mostrou-se grata, mas confusa comigo e eu também fiquei, não nego. Dessa forma, Márcia foi ficando novamente cada vez mais presente na minha vida e ficando... ficando… ficando…

[...]

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.


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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 176Seguidores: 306Seguindo: 12Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Gostei da atitude do Marco cumpriu a palavra ao terminar o namoro,mas o destino nós impõe situações que não dá p acreditar, agora Márcia irá se fazer presente e tentar reatar o namoro,e o Lélio vai aprontar com certeza,estou adorando bjs

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Só estou começando a desatar o nó, Bianca.

A história ainda vai longe, muito longe, mas vai começar a esquentar, sexualmente falando, a partir do 11o capítulo.

Fico feliz que esteja curtindo.

Forte abraço,

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Caguei de rir com a "meia foda" dos véios!!!!!!! "Teu pai quer me matar"!!!!! "Nos empolgados..." kkkkkkk. Meus pais passaram por algo parecido. Minha mãe tinha um problema sério de asma. Viajaram com minhas irmãs para o Uruguai. Depois de uns vinhos e o ambiente do hotel, resolveram se pegar. O quarto era conjugado com o das minhas irmãs. No meio da foda, minha mãe esperando muito descompassado, minhas irmãs pensaram que ela estava passando mal, invadiram o quarto (o casal não tinha trancado a porta). Foi uma merda só. Os velhos fizeram as minhas irmãs jurarem que não contariam pra mim, porque a gozação seria grande. Adivinhem que a primeira coisa que elas falaram quando me encontraram...???? Nunca mais tiveram paz. Kkkkkkkkk.

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*minha mãe respirando muito descompassada

* Adivinhem qual a primeira

Corretor de merda!!!!!

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Uai! Essas coisas podem acontecer, principalmente na chamada "melhor idade", não é?

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Exato!

Nós achamos que somos os senhores de nossas vidas, mas quem nos controla e a "alea" e essa é imprevisível.

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Não conheço nenhum mineiro raiz, mas tô achando que essa fixação por pão de queijo é só nas suas histórias Mark.

Que horas pra esse senhor querer dar o ar da graça hein kkkk.

E pra mim foi o irmão do Marcos que avisou a Márcia que a mãe estava internada.

Tomara que solte outro EP hoje.

Essa série tá ótima.

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Uai! Né não, sô!

Mineiro que é mineiro gosta muito, mas muito mesmo de 5 coisas: família, comequéto, paozin de queijo, cafezin e porquin pururuca!

É quase unanimidade! Garanto.

Um por dia, Marcelo.

Virou a meia noite e terá um novo.

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opa boa tarde...essa história cada vez tem uma reviravolta.. bom demais e parabéns.

outra coisa, vc sabe que vai ter um monte de gente batizando algum bichinho de estimação com o nome desses dois que ela tem... "Torresmo e o Bacon".... nomes muito originais

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Fala, grande Neto.

Só posso te dizer que a história vai começar a esquentar cada vez mais a partir de agora.

Siga acompanhando.

Grato pelos elogios.

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