Muito bom
Os negões me comeram na frente da minha família.
— Ele tá fodendo sua filha, papai — eu disse, um tanto surpresa pelo meu próprio rancor — Tá arrombando sua garotinha na sua frente, paizinho. E você aí se mijando todo. Seu bostinha. Seu covarde do caralho!
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” — era o ditado de papai. Patriota, conservador, em prol da família. Sabe como é. Do tipo que fala, ao mesmo tempo em liberdade de expressão e intervenção militar. Do tipo que fala grosso, por qualquer coisa diz que vai “dar porrada”. Em casa, fala mal de pretos, de viadinhos, de feminazis. Na rua nem tanto, hoje em dia ser considerado racista, machista e todos os outros “istas” pega mal, então ele espera chegar em casa para despejar todo o seu repertório na família, geralmente durante a janta.
O maninho é um feministo enrustido. Do tipo bem ativo nas redes sociais, daqueles que vocifera por qualquer coisa, que defende maior diversidade em filmes e séries, que comemora quando algum protagonista branco, hetero, sisgênero se torna preta, homoafetiva, transgênero – não que esse combo específico aconteça com grande frequência. Fala de Justiça Social e, mais recentemente, comemorou com sua bolha quando “a esperança venceu o medo”. Mas ele faz isso só pra tentar pegar mulher mesmo. Se camufla de progressista e justiceiro social, mas trata suas amigas com desdém, na melhor das hipóteses. Para ele, garotas não são pessoas, são depósitos de esperma.
Mamãe é evangélica. Daquelas que passa mais tempo na igreja do que em casa. Domingo tem culto de celebração, segundas, quartas e sextas, tem seminário; terça tem culto de louvor; quinta tem grupo familiar; sábado à tarde tem oficina de artes plásticas e à noite, outro culto de louvor. Eu e o meu irmão conseguimos nos livrar do seminário – por enquanto – mas dois dos três cultos da semana são obrigatórios. Sábado, papai sequestra pra assistir palestras patrióticas, terraplanistas ou sobrevivencialistas. Meu avô paterno é um militar da reserva, o que torna papai uma espécie de popstar no meio deles. E ele adora, né?
Eu? Eu seria o que as pessoas chamam de isentona. Tento passar desapercebida. Passar ao largo de toda discussão política. Ser só uma loira burra, sabe – com o perdão do pleonasmo. Não quero ter razão, quero ter paz. Claro, eu tenho a minha opinão, mas ninguém se interessa por ela. As pessoas se interessam por ouvir o eco da própria opinião na boca de outras pessoas. E é isso que eu dou a elas. Entre progressistas, sociais-democratas e comunistas, eu sou contra o fascismo, contra o imperalismo americano, a favor de cotas, marxista convicta. Entre conservadores, eu sou leitora de Edmund Burke e Olavo de Carvalho. Entre liberais, sou plenamente a favor do Livre Mercado, estado mínimo, leitora de John Locke e Adam Smith. Nunca li nada disso, mas assisti vários vídeos no YouTube. Para todos digo a mesma coisa – sou da resistência. Antes, eu era resistência contra o petismo. Virei resistência contra o bolsonarismo e, ano que vem, virarei resistência contra o petismo de novo. Eu, na verdade, não sou comumista, petista, progressista, bolsonarista, fascista, nazista, coletivista. Como diria Raul, eu sou egoísta.
Foi numa dessas viagens para seminários patrióticos que a gente foi assaltado. Ou, pelo menos, essa é a versão do papai da história. Que a gente foi interceptado por um carro cheio de macacos e eles roubaram tudo o que a gente tinha. Que ele puxou sua arma e atirou nos vagabundos, mas eles conseguiram dar fuga.
Bom, não foi assalto. Meu irmão maconheiro comprou e não pagou. Ficou enrolando seu traficante por semanas até que o pessoal da favela resolveu dar um basta na situação. Papai não puxou arma nenhuma. Ele tem uma pistola, mas ela fica trancada em um cofre em casa. É mais um troféu do que uma defesa.
Eu nunca tinha visto pretos tão enormes de perto. Machos, grosseiros, violentos. Quase neandertais. Pelo rumo que a conversa estava tomando, não era difícil entender onde tudo aquilo chegaria. Meu irmão iria pagar sua dívida. Venderia o que fosse preciso, roubaria ou alugaria o corpinho se fosse preciso, mas ele pagaria. Isso seria depois. Eles deram um prazo. Agora, minha buceta serviria como entrada. É, eu devia estar apavorada. Eles tinham picas pretas enormes e eu não sou exatamente alta ou particularmente corpulenta pra aguentar o tranco. Sou uma garotinha baixinha, magrinha e poderia facilmente ser partida em duas ali. Mas não se pode negar que eu estava muito bem lubrificada. Eu chegava a babar, contemplando aqueles monumentos de ébano à testosterona. Quando o primeiro deles baixou a bermuda, minhas pernas cederam e eu caí de joelhos. Deu-me um tapão ardido na cara e não foi com a mão. O cheiro do seu sexo me encheu as narinas. Uma poça parecia formar embaixo de mim. A calcinha encharcada. Eu estava gotejando. Eu tentava com todas as forças esconder meu sorriso, mas era mais forte do que eu.
— Parece que sua irmã gosta do que está vendo — o outro comentou entre risos.
O negão meteu sem dó aquela coisa na minha garganta. Eu não engasguei nem nada. Parecia que eu havia nascido para engolir uma pica preta gigante. Lágrimas escorreram pelo meu rosto – não sei se medo ou felicidade. Meus dedinhos se movendo contra a minha vontade, levantando a saia, puxando a calcinha de lado e tocando uma deliciosa siririca na frente do papai e do maninho, enquanto eu caía de boca na rola descomunal do meu deus de ébano.
— Caralho, essa putinha sabe como chupar um caralho preto — o monstrão me elogiou.
— Não é castigo se ela gosta — o outro retrucou.
— O castigo não é pra ela — o primeiro falou, apontando para o meu irmão — é praquele ali.
O segundo negão puxou meu maninho pelos cabelos e o trouxe para perto.
— Olha o que a putinha da tua irmã tá fazendo, seu bostinha — ele disse, dando-lhe um pescotapa que o fez perder o equilíbrio — Olha como ela tá gostando, olha.
Papai chorava de soluçar. Era patético. Ele sempre fora fracote. Um homenzinho medíocre com delírios de grandiosidade. Um arremedo de homem. Um velhote incapaz de defender sua própria família. Eu tinha nojo de mim mesma por estar tão alegrinha em chupar uma rola preta na frente da minha família, mas sentia ainda mais nojo de papai por não ser homem o bastante para impedir que aquilo chegasse naquele ponto.
O maninho recebeu vários tapões na cara de maconheiro, sem levantar a guarda uma só vez, sem revidar, sem se portar como um macho deveria.
Só haviam dois machos de verdade ali. E eram os que iriam me fazer mulher. Os outros dois eram só branquelos de classe média. Só dois piroquinhas murchas.
O monstrão me levantou do chão como se eu não pesasse nada e me empalou com sua estaca de carne. Eu gritei. E chorei. Meu mundo explodiu em agonia. Minha cabeça foi projetada para trás e eu só queria que Deus fosse misericordioso e me levasse.
— Agora sim, isso tá parecendo um castigo — o outro falou.
O gigante me arrombava com seu aríete sem dó, sem pausa, sem o menor traço de piedade. Mas a dor foi ganhando contornos de prazer. Débeis à princípio, mas consistentes. Sem ter ao que se apegar, minha mente foi se focando mais no prazer do que na dor. Foi ficando bom. Bom de verdade. O prazer na dor. Prazer na humilhação. Foi quando eu consegui voltar a mim e percebi que meus gritos escasseavam e davam lugar a gemidos de tesão.
O outro ficou contrariado, mas o gigante que me fodia, sorriu.
— Me fode, anda — minha voz deu uma fraquejada de princípio, mas logo se firmou — estupra direito, macaco. Fode com vontade, anda.
Foi quando eu ouvi um grito de mulher. No meu delírio, achei que fosse mamãe e gelei. Impossível, é claro. Mamãe estava à quilômetros dali. Mas eu não estava com a cabeça no lugar. Olhei apavorada para o lado e vi que aquele grito feminino viera de papai, que pendia para frente e para trás como um retardado, o mijo manchando suas calças.
A profundidade do rancor me pegou de surpresa. O meu riso abalou até mesmo o monstrão e ele até parou de bombar na minha xoxotinha quando gargalhei.
— Ele tá fodendo sua filha, papai — eu gritei — Tá arrombando sua garotinha na sua frente, paizinho. E você aí se mijando todo. Seu bostinha. Seu covarde do caralho!
Foi eu falar e levar um tapão. Tapinha, na verdade. Foi meu irmão que se sentiu mais ofendido pela minha atitude do que pela violência que eu sofria. Típico.
— É só isso, maninho? O tapa que ele me deu com a pica foi mais forte do que isso. Bate que nem homem.
Ele até tentou, mas o outro o puxou pelos cabelos, como uma boa putinha deve ser tratada.
O monstrão sorriu. Estava se divertindo com o espetáculo.
Eu o abracei, enlaçando seu corpanzil com minhas perninhas.
— Fode gostosinho sua branquinha, macaco, vai. Fode com vontade, anda. Mostra pra esses branquelos como se faz, anda. Mostra como um homem de verdade fode uma mulher.
O outro, puto, tirou a pica igualmente enorme e meteu no meu cuzinho. De novo a deliciosa dor. Um universo de agonia indescritível. E, de novo, o prazer.
— Olha, papai — falei entre gemidos e risadinhas — eles estão fodendo o cuzinho da sua filha, olha. Estão arrombando sua princesa.
Eu puxei o outro para perto e enfiei minha língua na boca dele.
Em algum momento eles gozaram, enchendo meus buraquinhos de porra quente.
Mas foi só quando eles foram embora, me deixando vertendo porra e sangue no chão frio, que eu me dignei a chorar. Encolhi-me em posição fetal e desabei. Descobri coisas sobre mim mesma que eu não queria saber. Coisas sobre a minha família que eu não queria saber. Meu corpinho fora violado, mas era a violação da minha mente que foi a mais duradoura. Nunca mais vi o mundo da mesma maneira.
Devo ter desmaiado.
Acordei numa cama de hospital. Nada de polícia, nada de perguntas. Quando me perguntavam, eu dizia não me lembrar de nada. Nada. Nada aconteceu. Nem queixa, nem nenhum comentário. Não fosse pela minha genitária dilacerada – tiveram que fazer uma cirurgia – tudo poderia ter sido fruto da minha imaginação.
Quando finalmente cheguei em casa, depois de passar uma temporada no hospital da minha “operação de apêndice” – papai mexendo seus pauzinhos para abafar o caso – finalmente voltei para casa.
Durante semanas, eu só vi a mamãe. E ela não me dizia qual história mirabolante o papai tinha contado para ela. Papai conta versões diferentes para cada público. Eu? Eu não me lembro de nada, né?
Nunca fiquei tanto tempo sem ligar o celular. Eu simplesmente não ligava para o mundo como ele era antes.
Quando, enfim, botei ele pra carregar e liguei, uma nova surpresa. Eu tinha um novo contato. E ele se chamava Macaco.
Dizem que quando você olha para o Abismo, ele te olha de volta. Eu olhei para dentro de mim mesma e vi um monstro, uma putinha. Ela olhou para mim e sorriu. E eu sorri de volta.
RECADINHOS:
Oie.
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Se você, como eu, sentiu agonia e tesão ao mesmo tempo, deixe um comentário.
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Comentários
Muito interessante
Li, me agradei, não me masturbei apesar de ter sido excitante até o momento da humilhação, mas espero as continuações caso hajam!
Uma deliciosa putinha. Bem comtado, gostaria de mais.
Minha putinha, adorei o conto.
Os estereótipos foram um chute na canela, Kkkkk.
E assim como você, senti agonia e tesão, mas não o suficiente para masturbação. Também sou anti PT. Anti Bozo. Anti políticos de qualquer naipe, com raríssimas exceções.
Nota 10 e 3⭐⭐⭐
Gostei muito do seu conto!! Espero ler mais contos seus!!!
![Foto de perfil de Morfeus Negro](/camillaclarkgallery/imagens/perfil/256036/64-dfb8d8c9544216f86f2ab5cab73d9897af0050ab.jpg)
Estou aqui e me agradou. Não me masturbei. Sem reclamações. Sim senti agonia e tesão ao mesmo tempo, principalmente pelas idéias expostas, elas coincidem com as minhas. Conte outras histórias sim, nesse tom, com essa revolta e distanciamento que demonstrou em relação ao ambiente de merda de dualismo maniqueista dessa paródia que chamamos de pátria, uma piada sem graça e pronta.
É sim você é uma puta depravada e sado, ordinária, mas muito interessante quanto as idéias. Que as próximas histórias sejam como essa, para espantar os medíocres e obtusos.
Kkkkkkk eu ri muito nesse conto, mais foi bem excitante tbm! Quero ler mais dessa história! Muito bom
Ótimo conto... é realmente impossível ficar indeiferente a história. Cheguei pensando apenas em putaria, tomei um tapa na cara, mas acabei ficando excitado com todo o desenrolar da história. Se estou ansioso pela continuação...com toda certeza!!!!
Parabéns pelo conto...fabulosamente bem escrito!!!
Chocante e excitante... Muito bom... Quando os quietinhos explodem normalmente é com força nuclear...
![Foto de perfil de Veronica keylane](/camillaclarkgallery/imagens/perfil/225157/64-3b30981193bbf4942a301e64fb431676c45e412d.jpg)
Mulher nossa senhora! Excitada e chocada porém piscando