Entre Grades - Um conto de Natal.

Um conto erótico de Cesar Junior
Categoria: Homossexual
Contém 4815 palavras
Data: 07/10/2022 11:32:14
Última revisão: 08/10/2022 16:26:46

gostaria de me desculpar pela demora.

por causa do período de provas e eleições, acabei atrasando um pouco.

mas aproveitem o especial de natal. amo vocês

comentem cassete!!!

06:00 da manhã. Levanto da cama de Carlos. Sem roupas e vou direto em direção ao banheiro. Sento no vaso e fico olhando para um ponto fixo na parede pensando em uma única frase de motivação. "VAI PAULO, HOJE É O ULTIMO DIA DE AULA! "

Sim! Hoje é o último dia de aula, depois o programa de educação do presidio iria entrar em recesso até o fim das festas.

Carlos, ainda estava dormindo, junto com todos os outros meninos. Tomei um banho gelado, o verão estava chegando com tudo, os ventos frios foram embora junto com setembro e durante outubro e novembro, tivemos amostras do que seria o verão carioca.

Peguei a prova, e trabalhos e matérias impressos dos alunos, que fui juntando durante o ano e fui colocando em envelopes, organizando tudo antes do horário da abertura das celas. Eu tinha que correr, tenho um dia cheio.

Coloco a roupa e peguei o celular na cama de Carlos e ligo para dona Telma. Busco saber se Saldanha já tinha passado, lá para pegar as encomendas. Obvio, dessa vez autorizado pelo diretor Adriano; acreditando que quem fazia os lanches era a esposa de Saldanha.

Abriram a porta eu sai em disparada em direção ao portão do pavilhão.

As obras daquele ano estavam acabando também. Para um lugar que mais parecia um purgatório... nossa casa, era bem jeitosa. Hoje os meninos só iriam pintar os blocos.

As “lavandarias” em cima de cada bloco já estavam prontas. Atendendo os pedidos dos meninos, refiz a área de lazer; coloquei traves novas no campo e areia lavada no chão; tinha um cobertura também com telhas e uma mesa, onde acontecia os eventos do mês. Todas as celas tinham sido reformadas, com mesas, cadeiras, radinhos pra ouvir música, chuveiros e vasos sanitários. E depois do aniversário de Fernando, eu conversei com Adriano, sobre fazer um bolo para os aniversariantes do mês; ele concordou, desde que o comportamento continuasse excelente. Muitas conquistas, Mas ainda tinha muito pra fazer por eles. Ainda tinha muito pra dar dignidade aos mesmos.

Na minha cabeça, essa era minha forma de cuidar deles, sabe, principalmente de quem não podia pagar pelas reformas, que trabalhavam e eu ainda ajudava dando um dinheiro por semana.

Tipo, no começo, só os pedreiros recebiam, os ajudantes não pagam reforma. Quando o dinheiro foi entrando fui dando um dinheiro pelo trabalho. Assim fui formando equipes de fixas de limpeza, para cada bloco; e no fim de semana também eram pagos.

Não vou ser hipócrita, era minha forma de fazer meu corre. Naquele ano eu já eu já estava com um patrimônio considerável. Pelas minhas contas eu tinha cerca de R$:250.000,00. E sim, passei a ser um dos chefes de cela, então tinha participação em alguns valores dos corres. Sequestros por telefone, venda de maconha, venda de agua de fogo, dos chapeiros, dos barbeiros, cantina e etc. Esse dinheiro saia com a senhora negra, que visitava Carlos todo fim de semana.

Pra ser bem sincero nunca perguntei a Carlos pra onde ia esse dinheiro ou o que ele fazia. Eu sei que eu tinha o meu, e só de eu não ter que pagar, a minha parte do corre, entrava mais dinheiro fácil na minha mão.

....

Chego na minha sala, e corro para encher bolas, afastar as mesas. Saldanha chega com as comidas e me ajuda a arrumar na mesa. Eu estava correndo para tudo ficar pronto até as 09;00h.

Consigo aprontar tudo e começa a chegar os alunos, já que era o último dia decidi juntar todos, ignorando o falto de que pavilhão eles eram. Algo muito especial estava acontecendo ali algo que estava para além de facções; estávamos celebrando a educação, estávamos celebrando a primeiras frases a serem lidas sozinhos, estávamos celebrando as pessoas que conseguiram sair para fazer a prova do ENCCEJA. Acho que isso era motivo o suficiente e foi.

As pessoas foram chegando e se acomodando, comendo e conversando. Adriano, chega com um monte de certificados, impressos na sala dele mesmo, em formato de diploma. Por mais que aquilo, não tivesse nenhum respaldo da secretaria de educação e não tivesse valor acadêmico do INEP, aquilo era uma lembrança de tudo o que eles tinham conquistado; pra muitos alunos, foi bem difícil, lutarem contra seus próprios preconceitos, que acreditavam serem velhos de mais, não se sentiam capazes.

Alguns alunos estavam vestidos como se fossem uma formatura com sua melhor roupa, que podia se ter na prisão (calça jeans, e blusa de manga.). Ver o quanto aquilo era importante, para eles, fazia ser importante para mim; e isso me emocionava, muito. Me peguei diversas vezes ao longo do evento com os olhos cheio de água, muito emocionado. Foi pra isso que eu nasci. Para ensinar!

.....

Termino o evento com sensação de dever cumprido. Arrumei tudo que faltava, deixando minha sala limpa e organizada pra o ano que vem.

....

Voltei para o pavilhão e eu não parava nem por um segundo. Era uma sexta feira. No domingo, teríamos o aniversariantes do mês de novembro. Minha cabeça já estava explodindo, porque eu mal tinha tempo pra organiza tudo isso.

Cheguei, na cela e meu amor e os meninos estavam almoçando, deixei uma caixa com salgados que tinha sobrado e Ítalo atacou, fui para minha cama peguei a agenda e sentei ao lado deles, peguei o celular com Carlos e liguei para dona Telma. E perguntei como estava a produção do bolo do aniversariante do mês.

- Meu filho, está tudo na mais perfeita ordem, os 2 bolos, refrigerantes e cachorro quentes, vão ser entregues no domingo 10:00.

-obrigado dona Telma.

Naquele momento dona Telma já sabia que eu era um preso, mas ela não ligava, pois ela passou a crescer muito, depois que fechamos essa parceria. Dona Telma por mês mandava para o presidio, 2 bolos de 2 metro cada, 30 malas de refrigerante, e 3 caldeirões de cachorro - quente. Isso custava uma nota, mas como estava no valor fixo do pavilhão, voltava mais cedo ou mais tarde para meu bolso.

Saldanha ainda era o atravessador, mas não para o aniversariante do mês. Então também economizava.

Depois de tudo confirmado relaxei um pouco... até os meninos, terminarem de comer e irmos para nossos corres.

Fui vistoriar a pintura dos blocos, os corredores e o lado de fora. Todas as celas por dentro já estavam pintadas. Aquilo me lembrava a minha casa e minha família, a gente sempre pintava a casa no fim do ano para receber as pessoas para as festas de fim de ano. Fazer esse tipo de coisa me deixava perto da família.

...

Zumzum

O telefone vibra de baixo do travesseiro, pego antes que Carlos acorde. É Saldanha avisando que Adriano, mandou ele pegar toda encomenda com dona Telma. Eu dei um pulo da cama e fui me direto para o banheiro. Sempre que tinha festa de aniversariante do mês. Um agente ia as 06:30h abrir a cela pra mim. Eu corri para o quartinho. Abri com minha chave e peguei 2 bolsas que ficavam as decorações de festa. Eram sempre as mesma só mudava o mês. Era o que podia está tendo.

Fui correndo para nosso pátio, perto de onde os meninos, jogavam bola. Forrei a mesa do bolo, coloquei um cachos de bola, voltei para o quartinho, peguei o som que só podia ser usado nesse evento liguei baixo em uma rádio local. Voltei para o bloco e acordei Carlos, Italo, Marcelo e Fernando. Enquanto eles tomavam banho, separei a roupa de Carlos e coloquei em cima da cama.

- meninos, avisem aos aniversariantes para que eles tomem banho.

- você, vai pra onde? - pergunta Carlos, ainda com cara de sono.

- vou receber as coisas que já estão chegando.

Os meninos ficaram de acordar todos. E passar o recado para todos os blocos e para todas as celas.

Recebi todos os comes e bebes e organizei. O sempre bolava esquema de estações com pessoas servindo.

Eu e Carlos – bolo

Fernando e Marcelo – cachorro quente

Italo – refrigerante

Trabalhar nas festas além, de ser uma forma de recompensar e prestigiar os aniversariantes, era minha forma de aparecer mais presente e mais humilde pra eles como um a chefe de cela do povo. Eu não tinha influência da facção diretamente, eu não conhecia as ruas, os morros. Eu só tinha Carlos e a prisão como referência. Era minha forma de me tornar relevante.

Sr Adriano passa pelo portão, come com a gente e bebe refrigerante, e me parabeniza pela organização do bloco e limpeza. O diretor sempre passava lá no aniversário do mês para comer e tirar uma foto, que ficava como uma “prova “da sua boa gestão; tudo isso sem gastar 1 real.

- realmente desde que passei a vir mais aqui; cada mês tem alguma novidade.

- obrigado, pintamos todos os blocos recentemente. Estamos nos preparando para as festas de fim de ano. Acho que isso renova as energias.

- realmente, assim que você passou a atuar nessa parte “humanitária” as coisas aqui mudaram de mais. Os rapazes estudam, falam, comem e se portam melhor. Espero que esteja orgulhoso.

- que nada não faço mais que minha obrigação.

- espero que quando saia, as coisas se mantenham.

- falta é tempo pra isso.

Adriano me olha com um sorriso de canto. E vamos da direção dos meninos aniversariantes do mês de novembro. Tiramos uma foto no celular do SR. Adriano, mesmo. Adriano se despede e vai embora. Vou render Carlos no bolo.

Geralmente quando tem, aniversário do mês, Carlos sempre organiza um futebol, com uma disputa entre os 3 blocos; com 6 times. Era muito bom. Era uma baita distraçãoO dia e a bagunça do aniversariante termina com o bloco 2 vencedor. Os meninos me ajudando arrumar tudo, eu volto a ter aquela sensação de que somos uma família. Me separar deles era inviávelNão sei para vocês, mas para mim natal é a melhor época do ano. Pra mim realmente é uma época magica, cheia de carinho amor e afeto. Sem falar que sempre ficava com minha família nas férias de fim de ano. Por mais que esse ano não estivesse com eles, eu estava com minha nova família.

Eu planejei uma ceia pra o fim de ano para, acontecer no lugar do aniversariante do mês. Mas por algum motivo o Adriano não liberou. Falou que não tem como fazer 2 festividades no mesmo mês. Por mais que fosse coisas distintas.

Mas isso não iria me desanimar, por 2 motivos.

1- Eu amo o natal mais que qualquer outro feriado.

2- Dia 25 é aniversário de Carlos.

Então eu tenho motivos de sobra pra fazer algo pelo meu branquelo. Já que Adriano não deixou fazer a ceia, perguntei se pelo menos poderia ter uma quentinha especial pra todo mundo né. Mas ele me deu um fora falando que eu não estava em uma colônia de férias.

Tentei agir dentro da lei, mas não deu certo.

Liguei para dona Telma, encomendei com ela uma ceia, para minha cela com direito a bolo de aniversário. Dona Telma disse que estaria bem atarefada, mas que a gente tinha prioridade e que era pra ficar tranquilo. Passei o contato dela para os outros chefes de cela e eles iriam resolver o que fariam. Também não sou o papai Noel para dar as coisas pra todo mundo o tempo todo.

Falei com Carlos que já tinha resolvido a ceia e o aniversário dele.

- serio césar, mas amor liga para dona Telma e cancela os perus de natal

- o que? Porque?

- comprei com outra pessoa, então não precisa de mais!

- comprou com quem? quem vai atravessar?

- você não conhece. E Saldanha vai atravessar pra mim.

- ata – Carlos nunca fazia essa parte de comida, organização e eventos. O negócio de Carlos era trafico, fraude, e administrar o dinheiro do tráfico, mas ok.

Cancelei com dona Telma; mas perguntei se ela conseguia alguns itens de natal e que ela podia me cobrar por fora. Assim não quebrava o ganho delaOs dias de Dezembro iam passando e de “férias” passavam cada vez mais rápido. Mesmo eu não fazendo nada basicamente o dia todo.

E ficava muito tempo com Marcelo, como sempre e quem se aproximou muito da gente, nos 2 meses foi o Jorge, aquele rapaz novinho que entrou recentemente e que eu vi o Fernando dormindo na cama dele, no dia do seu aniversário.

Tudo aconteceu bem natural, Jorge passou a andar mais com a gente a medida que ele e Fernando ficavam mais íntimos. A gente não sabia o quão intimo era essa relação já que Fernando não falava e muito, o mesmo Jorge.

Mas eu e Marcelo, que erámos mais “românticos “notávamos de mais como eles se olhavam e como o Fernando era preocupado. Em novembro o Jorge teve uma dor de dente por causa de um dente quebrado, e Fernando ficou mega preocupado com o Jorge. Teve noites que o Jorge queimava de febre. Foi ai que trocamos ele de cama. Ítalo passou a ficar na mesma beliche que Marcelo e Fernando com Jorge; a beliche deles eram as do meio porque a gente ajudava a tomar conta dele.

Fernando gastou uma nota para atravessar remédios, antibióticos, remédios para dor e anti inflamatórios. Mas ele gastou mesmo foi para atravessar Jorge. O pobre do Jorge ficou quase, 2 semanas com muitas dores indo e voltando com as febres. Fernando levou ele para a enfermaria e lá não tinha dentista. Fernando subornou o médico da enfermaria para que Jorge fosse para um hospital fora da penitenciaria. Ele gastou quase R$:2.000,00 por um dente.

Então quando eles não precisavam falar muito da sua relação pra gente e nem se beijar quando estávamos nos 6; a gente sabia o que estava rolando entre eles.

Sem falar que Fernando passou a ser uma pessoa mais positiva e, falava muito da vida do lado de fora, que queria morar em casa, com quintal e um terraço no alto do morro vista para Copacabana pra ele ver os fogos no ano novo.

Fernando era todo machinho e Jorge também era bem estranho, engraçado e fofo ver eles falando de futuro. Sem nem terem esse parâmetro do que é namorar outro cara. Tipo Jorge já tinha vindo me perguntar o que eu achava dele dar um presente de natal “de boas “para o Fernando. Eles realmente estavam descobrindo algo novoO natal se aproximava, e era legal ver como os meninos se esforçavam para fazer as coisas. Carlos sempre muito discreto, eu não fazia ideia do que ele ia me dar no natal. Mas eu tinha que caprichar, porque além do natal era seu aniversário.

Já que minha mãe vivia conversando com Carlos pelo celular eu decidi falar com minha mãe durante as visitas. Minha mãe estava me visitando sempre por mais que eu não quisesse, era muito bom está com ela nesse momento principalmente no fim do ano.

Então eu combinei com minha mãe de compra e os presentes e trazer pra mim durante as visitas. Tipo a gente estava dentro de um prisão, gente, não dava para fazer muita coisa. A gente dava o que podia, como podia.

Falei com minha mãe tudo o que eu precisava para os presentes e fiz pra ela o que eu podia fazer, pedi para ela comprar uma viagem com meu pai de presente; para eles descansarem durante o mês de janeiro, curtirem. Eu não podia fazer como todos os anos com eles então, acho que pagar uma viagem é uma boaMinha mãe fez a última visita antes do natal e não teve nenhuma comidança, o que deixou Carlos bem triste. Também não tinha com; minha mãe carregava 2 bolsas grandes com os presentes que pedi para ela trazer.

Levamos aquela visita como sempre com muito carinho e saudade. Fiquei surpreso quando Carlos perguntou a minha mãe se ela tinha gostado das rosas e da guirlanda que ele mandou para ela; como presente de boas festas. Serio! A relação deles me deixava bem surpreso de como era profunda.

Minha mãe agradeceu

Minha mãe se levantou o abraçou. Era um a braço cheio de amor, carinho e quentinho... fez meu coração derreter e me deu até um pouco de inveja.

- tenho uma surpresinha pra você também – eu fiquei olhando passado.

- não precisava! Mas o que é?

Minha mãe senta no banco da mesa e abre uma caixinha de joia... tudo em câmera lenta como ela gostava de fazer para causar impacto.

- mas é só ele que ganha?

- calma afobado.

Quando ela abre a caixinha, tinha 2 escapulários de ouro bem fininhos brilhosos e muito bonitos.

- esse é pra você! – ela põe o escapulário no pescoço de Carlos- Essa é santa Barbara. Que ela te proteja de acidentes, que os relâmpagos não te ceguem, os trovões não te assustem e o troar dos canhões não te abalem; que você esteja sempre coberto de coragem e bravura.

Minha mãe sempre foi uma pessoa religiosa, e espiritualizada, sempre frequentamos todas as religiões que sentíssemos curiosidade, sempre com muito respeito. Então para minha mãe fazer aquilo era muito importante e significativo. Ela coloca os escapulário em Carlos, põe a mão em seu peito e em silêncio se abraçaram de novo.

Carlos sai do abraço com os olhos cheio de lagrimas. Ele ficou muito tocado com tudo isso. Ele não é de ficar emocionado. E isso me deixa feliz, ver que minha família pode ser família dele também. E minha mãe ter esse carinho por ele, me faz pensar como sou egoísta de sentir ciúmes de uma pessoa que não tem ninguém, receber esse carinho.

- esse é para você meu filho! – ela repete o gesto, que ela fez com Carlos. – esse é São Jerônimo. Que sua força venha do raio, que sua chama não se apague, na escuridão, e que seu senso de justiça não se perca.

Minha mãe me abraça e me aperta como uma ursa. Sinto a energia dela vindo de encontro a minha e sinto ela fluindo pelo meu corpo a ponto de me arrepiar.

- nossa mãe escolheu um casal forte hem, pra proteger a gente!

- vocês também são um casal forte.

A minha cara e a de Carlos ficou vermelha e em chamas. Ela já vinha jogando piadinha a semanas.

A visita passou e minha mãe foi embora e desejei a ela boas festas e boa viagem.

Carlos ficou realmente muito feliz com o presente. Tomara que os meus presentes cheguem aos pés dos da minha mãe pra eleEra noite de natal, e sério, eu estava insuportável de chato. Eu acordei sei, fiz lavarem todos os blocos e a equipe de faxina limpara tudo como se fosse um hospital. Nossa cela estava tão limpa que dava para comer no chão. Saldanha já estava de manhã cedo atravessando as paradas. E sim Dona Telma mandou enfeites de natal que eu pedi e sim; eu coloquei essa merda por toda a cela.

Os meninos foram botando refrigerante pra gelar, eu decorando, Italo arrumando agua de fogo. Com forme a comida foi chegando pelo menos de dona Telma, Carlos, ficava mais tenso; porque os perus que ele comprou ainda não tinham sido atravessados.

Fui arrumando a mesa e coloquei todo mundo para ir tomar banho; Todos da cela, era uma chuva de rola pela cela. Mesa arrumada corri para cama do Marcelo que era agora ao lado da minha e fomos separar nossas roupas e separar os presentes.

Carlos estava muito agoniado na porta da cela e nada do atravessador dele chegar. Fui tomar meu banho e perguntei se ele queria ir comigo e o Marcelo. Mas ele disse que ia esperar. Serio ele estava muito nervoso.

Quando já era por volta de 21:00h e já estavam praticamente fechando as celas. O atravessador de Carlos, chega com o carrinho com 4 perus imensos. Na hora que Carlos vê o cara só faltou o abraçar. Ele estava muito aliviado.

- tá tudo bem?

- agora está!

.....

Todo mundo arrumado foi hora da festa começar, obvio que teve som e bebidinha em pequenas porções pra ninguém ficar louco. Era obvio que aquilo não ia durar. Tinha saldados fritos e de forno. Pois fiz igual na minha casa, só ceia depois de 00:00h.

Carlos achava isso um absurdo, todo mundo esperar para comer, mas é porque na virada do dia 24 para 25 ia ser seu aniversário. Então decidi esperar.

Foi obvio que rolou um pagodinho, maravilhoso, vinho improvisado e aquele clima descontraído com muita diversão. Os outros chefes de cela fizeram algumas coisas em suas celas, e outras celas também se organizaram para fazer suas coisas. Então eu sabia que pelo menos no nosso pavilhão estávamos em festa.

Eu estava com uma bermuda de linho bege e uma camisa polo vinho. Carlos, por ser branquelo, ele sempre ficava bem com cores fortes e quentes. Ele estava de bermuda, chinelo e uma camisa vermelha. Marcelo como sempre parecia um advogado de porta de cadeia, com sua bermuda de linho bege e sua camisa de botões, com mangas dobradas. Ítalo estava de bermuda e camiseta preta. Fernando e Jorge com o mesmo estilo, bermuda jeans e blusas de marcas.

Vou pegar o presente de Carlos, perto do das camas, esse era o de aniversário. Carlos se aproxima de mim, e me abraça por trás. Sim! ele estava cheiroso e de pau duro mas minhas costas.

- Carlos, você tá maluco.

- Não! Estou com tesão, não vejo a hora de te comer mais tarde.

- Sim! Mas só mais tarde hem!

- Vem cá !

Carlos me pega com um beijo tão forte e tão gostoso que me derrete. Fico entre seus braços e quando nossa pele se toca, consigo sentir a temperatura de sua pele que mais parecia febre mas era desejo, tesão e um pouco de bebidaFeliz natal !!!!!

Todo mundo se abraçou e desejou um feliz natal para o próximo. Tínhamos dezenas de homens com rostos sorridentes, e que realmente pareciam esta felizes e gratos por tudo.

Em seguida puxamos um ”parabéns pra você” que deixou Carlos muito envergonhado. Acho que se tivesse um buraco ele entrava.

Depois de 00:00h e parabéns cantado. Eu ia liberar a ceia. Mas algo incomum aconteceu.

- calma antes de comerem, tenho algo a dizer- Carlos faz todo mundo parar.

- fala logo o que foi! – alguém expõe sua frustação

- gostaria de primeiro agradecer ao meu braço direito aqui, Cesar. Não só por proporcionar toda essa mudança de vida aqui dentro pra todos nós. Conheço vários de vocês a anos, uns até de outros presídios. Vivemos na miséria, sem dignidade, com sujeira, baratas, chuva caindo em nossas cabeças; mas hoje olhando tudo isso, vemos o quão importante você é em nossas vidas. – A cara de Carlos estava vermelha e sua voz embargada. Sim! ele estava bêbado! – gostaria de agradecer aos meus parceiros, Marcelinho, ítalo, Fernando e ao Jorginho que tá chegando agora, mas que já faz parte da nossa família.

Levantamos os nossos copos em direção ao Carlos, e nos abraçamos de ombro.

- e essa é minha forma de agradecer a vocês, por serem meus irmãos.

Mano, vocês não vão acreditar!

Carlos enfia a mão dentro do cu do peru, que estava cheio de farofa e puxa um saquinho de dentro. E ele faz isso com os 4 perus, mano do céu! Ninguém estava entendendo nada.

E ele entrega na mão aquele saco preto cheio de gordura um na minha mão, um na mão de ítalo, um na mão de Marcelo e um na mão de Fernando.

- vão! Abram!

Quando finalmente abri o saco, eu parecia um criança, pulando feliz. Carlos queria pegar as encomendas dos perus, porque ele ia atravessar celulares dentro deles. E ele travessou 4 celulares sem pagar nada por eles.

- espero que gostem. FELIZ NATAL !! A COMIDA TA LIBERADA !!!

Nossa eu estava muito feliz com meu presente. Agora sim eu teria muito mais autonomia. Poderia ligar para minha mãe, falar com a telma, ver coisas na internet. E até controlar meu dinheiro do lado de fora.

Todos abraçaram o Carlos e fomos na direção das camas, íamos trocar presentes.

Eu fui o primeiro dando o presente de Carlos, de aniversário. Entreguei uma caixa na mão dele, sabia que ele não poderia andar com aquilo pra baixo e para cima, mas acho que ele ia gostar. Era um relógio, de prata, muito elegante, que meu pai escolheu.

Carlos ficou radiante e me abraço e me beijou na frente de geral. Colocou no pulso e ficou com o relógio pra não tirar mais.

Além do presente de Carlos, ainda tinha os presentes de natal de todos.

Para Carlos, Marcelo, Fernando e Ítalo eu dei um conjunto de roupas, com um shorts, uma camiseta e um sandália da Adidas, modelo boots. E para Jorge e dei uma coisa ele não tinha muito bem, e achei que ia ser melhor que roupas. Durante o tempo que ele estava doente ele não tinha nenhum cobertor e nem roupas de cama, muito mal o lençol do presidio. Fernando tinha dado um colchão pra ele. Então eu dei roupas de cama, com lençol, fronha e cobertor pra ele. Ele também pareceu amar o presente

Ítalo deu uma camisa pra cada. Marcelo, ele sempre conseguia ser o mais peculiar possível. Ele só carregava uns envelopes de papel pardo; que só reforçava a imagem dele de advogado de cadeia.

- meu presente é esse! – ele passa um envelope pra cada um, com nossos nomes escritos do lado de fora. – espero que gostem

Quando eu abri o envelope, e começo a ler

”República Federativa do Brasil

Registro Civil de Pessoas Naturais

CERTIDÃO DE NASCIMENTO.”

- MARCELO, OQUE É ISSO? – minha cabeça tinha dado um nó

- ué, nossos novos nomes!

- Oque?

- não é perfeito? eu me dei a liberdade de para escolher o nome de vocês! Essa é a mais perfeita que eu já fiz, porque foi realmente feita em cartório. Da pra depois a gente fazer todos os outros documentos.

- Marcelo, como isso cara? pra que isso?

- Cesar, você ainda não entendeu, né? Cara a gente tá no sistema, e quando a gente entra não tem mais como sair. Por mais que você tente voltar a trabalhar, você nunca vai conseguir ser grandes coisas por que você já foi um ex presidiário. Se você não quiser não usa. Mas todos nós aqui sabemos o valor que isso tem.

Olhei para ou outros meninos e realmente aquilo podia ser um fio de esperança. Parei pensei e vi que não podia ser ingrato.

- entendi, mas se meu nome for escroto vou ficar puto.

- sim, vamos ver!

Ítalo – Ivan Barbosa

Carlos - Carlos Augusto Almeida

Fernando – Jonas silva

Jorge – Daniel santos

Marcelo – Marlon Ferreira

Eu – Paulo césar costa.

- vai gente podia ser pior né! – Marcelo fala rindo

- podia!

Depois dessa bomba que Marcelo jogou, Fernando veio também dando roupas para a gente. E por último veio o Jorge.

- Gente como vocês sabem eu ainda não tenho um corre fixo aqui, e eu ainda sobrevivo aqui com a ajuda da minha mãe, então não pude fazer muita coisa. Fernando me deu a roupa que eu estou vestindo, ele junto com a ajuda de vocês cuidaram de mim, me deu uma cama mais confortável; sem falar das outras coisas que todos sabem – Jorge estava visivelmente emocionado. – espero que goste, e esse presente consiga representar minha gratidão.

Jorge coloca no pulso de Fernando uma correntinha aparentemente de ouro. Eles se abraçam e pela primeira vez a gente vê eles se beijando.

- E pra todos vocês, que me aceitaram em sua família. Tenho isso aqui – Jorge puxa do bolso um baseado que mais parece um charuto. A boca de Ítalo cai, e ai sim ele pega aquele baseado igual uma criança. Ele ficou mais animado com o baseado do que com o celular. – foi o que eu consegui atravessar!

A regra era cara não usar as drogas que você vende, mas já que essa não era nossa decidimos fumar.

Fumamos o máximo que conseguimos no fundo da cela, depois aquele baseado passou em mão em mão dentro da cela até desaparecer.

Gente eu não fiquei louca; eu fiquei possuída! Eu dançava, cantava, tiramos várias fotos, dancei uma música do roberto Carlos agarrado com meu Carlos, pulava, e quando bateu a larica comi igual um louco. Eu comi rabanada com peru.

A festa acabou com o sol amanhecendo.

Eu e Carlos ficamos tão loucos, que nem conseguimos transar, só deitamos de conchinha e apagamos, até 11h do outro dia.

Mas antes de dormir lembro de andar pela cela e ver todos aqueles homens felizes, deitados em camas, alguns se beijando, mas todos com dignidade... aquilo me fazia feliz. Esse foi o meu maior presente de natal.


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Comentários

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Muito boa toda essa melhoria no presídio realizada através de Cesar e Carlos mas está tudo dando certo demais e, em se tratando de um presídio não sei até quando...

Pensei o mesmo que o iLexandre, será que o dinheiro está sendo direcionado corretamente para onde Carlos imagina? Muito dinheiro pode ser uma grande tentação para algumas pessoas...

Amei a festa de natal/aniversário de Carlos, foi bem divertida e emocionante. Esse grupo de amigos/família está muito afinado e unido.

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Eu só fico pensando se a negona tá mesmo depositando o dinheiro nas contas certas ou se não está sendo preparado um plot twist pelo autor, já preparando o enredo para a proxima temporada...

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Que coisa mais linda. Chorei, ri e fiquei feliz com o sucesso dos detentos e da revolução que Cesar/Carlos realizaram dando um pouco de dignidade aos detentos. Adorei também o comentário da mãe do Cesar praticamente abençoando o casal.

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muito feliz que estejam gostando. espero que tenha conseguido trazer o Fernando e o jorge mais pra história, sem parecer forçado.

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