Alana - Revelações - Parte 19
A casa parece vazia sem ele. Começo a arrumar tudo mecanicamente. Lavo a louça, arrumo a cozinha. Arrumo a cama mas mantenho os lençóis por mais um dia, pra sentir o cheiro dele. Arrumo meu quarto, guardo sapatos, roupas e lingeries limpas e separo as sujas pra lavar. Logo esta tudo arrumado. Me liberto do esparadrapo, sento na sala e fico mexendo no meu novo celular. Agora ele sabe sempre onde estou, gosto disso. Penso na noite que tive, no carinho dele, no sexo maravilhoso. Estou realmente feliz comigo mesma. Fiz amor, e várias vezes. Só de lembrar dele me dizendo que me ama transbordo de felicidade. Sinto saudades, mais sei que ele vai voltar.
Estou cansada. A maratona de sexo acabou comigo. Me sinto dolorida, meu homem é um gigante. Sorrio sozinha ao pensar nisso. Pego meu pênis de silicone, pra ter um termo de comparação e uma régua. Cálculo algo entre vinte e três centímetros. Nada mal para alguém tão sem experiência como eu, aguentar tudo aquilo, e por várias vezes. Preciso pedir um pênis de silicone maior, para treinar. Muitas experiências novas. Tive meu primeiro contato direto com o sêmen de um homem, e que contato. Sentir os jatos na minha boca e dentro de mim foi muito gostoso. Achei que teria nojo, mas gostei. Sexo sem camisinha também é bem mais gostoso. Gozei duas vezes com ele, sem culpa, sem vergonha, sem arrependimentos, sendo eu mesma, e a segunda vez foi muito especial, durou uma a eternidade. Preciso repetir. Fiz ele gozar cinco vezes, estou orgulhosa. A lingerie nupcial deu certo, ele gostou. Acho que fiquei marcada pra sempre na memória dele.
Agora tenho plano de saúde e odontológico. Ele disse que ia cuidar de mim e realmente está cumprindo. Vou marcar dentista, faz tempo que não vou. Estou loira, e adorei meu cabelo assim. Começo a perceber que não estou ligando muito para o que as pessoas vão pensar de mim na faculdade. Elas que lidem com o meu cabelo loiro maravilhoso. Olho para a minha aliança, ela é linda. Minhas unhas também estão lindas, mas já não me vejo chegando assim na faculdade, vou ter que tirar, infelizmente. Amanhã compro removedor e resolvo isso.
Passo o restante da tarde ansiosa pela notícia que ele chegou bem. Ele me liga, conversamos, digo que o amo e ele diz o mesmo. Difícil ficar sem ele. No começo da noite tomo meu bloqueador, passo meu creme. Não vejo a hora de ver mudanças. Quero muito ter meus seios. Tomo meu shake e vou dormir, acordo cedo amanha e já começo o dia com a Renata pra me fazer suar.
Dia seguinte acordo cedo, aproveito para vestir uma roupa nova, um conjunto de top e calça legging preta com detalhes rosa neon e transparências. Prendo o cabelo num rabo de cavalo no alto da cabeça. Meu amor me liga, conversamos um pouco para matar a saudade. Renata chega, elogia meu cabelo e minhas unhas, mas não dá trégua nenhuma. Quarenta e cinco minutos de treino pesado. Com ela é sempre assim, e gosto disso. Depois do treino tomo um banho, visto uma calcinha preta fio dental, meu shortinho jeans com lycra, uma regatinha branca. Não vou a faculdade hoje, está tendo uma semana de palestras e sei que o Renan vai por meu nome na lista.
Sempre fui tímido, e com a minha vida dupla não me enturmava muito, mas tenho dois amigos na faculdade, Renan meu amigo gay e Rosângela, mais velha, casada, evangélica, que é muito boa na hora de fazer trabalhos em grupo. Passei a mão no telefone e mandei mensagem pra ele.
- Renan, tá na faculdade?
- Estou. Cadê você?
- Hoje não vou, põe meu nome na lista, por favor.
- Tá, mas você vai ficar me devendo.
- Depois que sair daí vem aqui pra casa. Almoça aqui, preciso conversar.
- Tá. Aconteceu alguma coisa?
- Muitas, mas você só vai saber quando chegar aqui...
- Quando estiver saindo daqui eu te aviso.
Por que fiz isso? Por que eu precisava desabafar, contar tudo que estava acontecendo pra alguém, dividir minha felicidade, se não iria explodir. Nunca contei nada da minha vida intima para o Renan, mas eu precisava me abrir com alguém, e sabia que ele não ia me julgar e que guardaria segredo.
Quase meio dia Renan me escreve diz que está chegando. Ele já veio fazer trabalhos da faculdade aqui em casa algumas vezes, sabe bem onde eu moro. Digo a ele pra ir entrando que vou deixar a porta destrancada. Ouço a porta abrir e ele chamar pelo meu nome de menino.
- Tranca a porta, já vou.
Falo do quarto. Escuto ele trancar a porta e sentar no sofá da sala. Era agora. Apareço e ele arregala os olhos e deixa o queixo cair.
- Oi Renanzinho....
- Babado! O que aconteceu com você? O que.... – sua voz morre.
Eu só levanto a mão, com a palma virada pra mim, e mostro a aliança pra ele.
- Renanzinho, eu sou uma mulher trans e estou namorando sério.
Ele gargalha. Fico completamente sem jeito.
- Para de rir, estou falando sério...
- Desculpa, não quis te ofender. Só estou rindo por que achava que você era gay, mas não imaginava tudo isso. Arrasou, você está linda...
- Como assim achou que eu era gay?
- A única vez que eu te vi com uma menina não deu muito certo. Ela espalhou que você não quis levar ela pra cama. Nunca vi você se interessando por outras meninas, e você sempre foi delicada. Somando tudo isso...
- E por que você nunca me disse nada?
- Cada um tem o seu tempo. Sabia que você iria falar comigo quando se sentisse a vontade. E aconteceu, não é mesmo?
Fiquei sem palavras, era verdade.
- Mas me conta tudo. Quero saber de tudo desde o começo.
E eu contei. Falei tudo da minha infância e adolescência e que desde peque eu me sentia diferente. Contei da minha vida dupla de menina, das minhas experiências com César e Gustavo, de como conheci Alexandre, de tudo que havia se passado, começar os hormônios, treinar com minha personal trainer, do meu dia de princesa com Paula, do meu jantar e pedido de namoro, do meu fim de semana com meu namorado. Contei tudo com detalhes, sem esconder absolutamente nada. Achei que seria difícil, mas depois que comecei não parei até colocar tudo pra fora. Falei por quase uma hora. Renan se mostrou um excelente ouvinte, não me interrompeu, só acenava com a cabeça de vez em quando.
- E qual é o seu nome? Como devo chama-la?
- Alana.
- Alana. Gostei, combina com você. Levanta, deixa eu te ver.
Levantei, dei uma voltinha, e sentei de novo.
- Você está linda. Pela primeira vez vejo você falar de você. Parabéns, e obrigado por se abrir comigo. Fico feliz com isso.
- Desculpa jogar isso tudo em cima de você, mas eu precisava falar com alguém.
- Adorei seu cabelo, suas unhas... e quero saber, tem foto desse namorado?
Peguei o celular, mostrei pra ele.
- Tá podendo com esse celular...
- Presente do meu namorado.
- Bonito, tem dinheiro, te ama e ainda é bem dotado... casa com ele....
E riu, eu ri junto com ele. Pedi almoço para nós, não estava a fim de cozinhar. Mostrei também a minha aliança e as fotos que a Paula tirou de mim.
- Não é a toa que o boy sue apaixonou por você. Eu acho que o que está te incomodando, te deixando assim, e ter que sair do armário.
- Não sei como lidar com isso...
- Na boa, você não tem que pendurar uma placa no pescoço dizendo que é travesti.... vai aos poucos, seja você mesma. As pessoas que te conhecem e te amam de amam de verdade vão entender. Conselho meu, mantenha o cabelo e as unhas. Ninguém vai estranhar muito... você já tem fama de gay... apesar de eu saber agora que a senhora é hetero...
A comida chegou, comemos e conversamos. Depois mostrei a ela meus hormônios, minhas roupas e maquiagens, sapatos...
- Passada que a senhora escondeu isso tudo de mim até agora... mas feliz que me contou tudo. Não se preocupe, a vida segue, só seja você mesma. Estou feliz por você.
Desabafar com ele realmente me deixou mais leve. Ele já tinha a experiência de sair do armário, e percebi que não era um bicho de sete cabeças. Aos poucos seria mais eu mesma, iria pegando confiança. Senti que a minha amizade com Renan tinha ganhado mais profundidade.
Assumiria minhas unhas e meu cabelo na faculdade, as pessoas que lidassem com isso. No final da tarde Renan foi embora, aproveitei para tomar um banho, lavar o cabelo, me cuidar.