Capítulo 1 - Novo na cidade
Gabriel olhou o celular mais uma vez enquanto o professor se apresentava e explicava a dinâmica das aulas. A barra de notificações mostrava as mensagens não lidas dos seus pais, preocupados com o filho que se mudara para mais de mil quilômetros de distância, e de grupos de amigos conversando sobre os acontecimentos corriqueiros de sua cidade de origem. Quando estava para abrir o Instagram, apareceu uma nova mensagem do Grindr.
O rapaz da noite anterior mandou um »oi«. Um pouco surpreso, Gabriel releu a mensagem, tão curta e simples. Não estava acostumado a receber mensagens no dia seguinte e se perguntou qual seria o significado daquele oi.
Ele foi o sétimo com quem Gabriel havia transado desde que se mudara de cidade para cursar mestrado em Comunicação, há pouco mais de uma semana. Chegou disposto a aproveitar essa nova fase da vida, se divertir bastante e, claro, desfrutar as oportunidades do Grindr em uma cidade grande. Releu parte da conversa que tiveram, ainda tentando entender. Havia muito o que gostaria de experimentar. Não se via já namorando, mesmo que o garoto em questão fosse bonito e inteligente. Comprometer-se tão rápido poderia estragar os planos que estava fazendo desde que recebera a notícia da aprovação. A menos que ele e o garoto da noite anterior pudessem ter uma relação aberta, então poderia pensar no caso. Por outro lado, o oi não precisava ser o início de um relacionamento...
Gabriel balançou a cabeça e encarou novamente a mensagem. Estava sendo um pouco apressado e, honestamente, doido. Provavelmente, era apenas um oi! No máximo, poderia representar mais algumas fodas com alguém até legal que morava perto e tinha local, o que não era uma má ideia.
Decidiu que enviaria um »oi, tudo bem?» logo mais, quando a aula acabasse. Continuou repassando os perfis próximos, já quase por vício. Ao final da manhã, estaria livre para aproveitar os privilégios de morar em uma cidade grande, longe de sua antiga vida ordinária. E isso significava, naquele momento, aproveitar as oportunidades para fazer sexo como sempre quis e nunca pôde na sua cidade natal, onde praticamente todas as pessoas se conheciam.
No entanto, após quase duas semanas, concluiu que o Grindr ainda era o Grindr em qualquer lugar do mundo. Perfis sem foto, perfis nitidamente falsos, perfis desinteressantes. Seguiu na busca, sem prestar muita atenção na aula ou mesmo nos perfis que passava. Rolou a tela de modo automático até que uma foto de um homem moreno e grande sem camisa o fez parar. No nome, “Dragão procura…” com idade de noventa e nove anos e raio de um quilômetro.
Abriu o perfil. Algumas fotos adicionais mostravam as tatuagens no corpo maciço e moreno. Os símbolos tribais negros que começavam nos ombros, desciam pelos braços e seguiam para o peitoral chamaram-lhe a atenção. Na segunda foto, nas costas, Gabriel admirou a imagem de um dragão de escamas vermelhas envolto em fogo. Em outra foto, tatuado no braço esquerdo, o garoto estremeceu ao ver um peculiar ying yang com três partes, ao invés de duas. Na descrição, além da altura (1,83m), do peso (98kg), da posição (ativo) e tribo (couro), estava escrito … príncipe para arrastar até sua masmorra.
Dragão procura … príncipe para arrastar até sua masmorra.
Gabriel achou engraçado e criativo. Pedante, mas diferente. Pelo que aparentava nas fotos e pela idade exagerada no perfil, o Dragão deveria ser um cara um pouco mais velho. Toda a estética indicava possíveis fetiches que combinavam com o tipo de pornografia que o garoto curtia assistir na internet. O Dragão também tinha um dos tipos físicos que Gabriel amava. Imaginou-se suado e cansado nos braços dele, deitado sobre o peito. Quem sabe, depois poderiam assistir a alguns episódios das séries favoritas juntos, mostrar um ao outro as fotos dos seus animais de estimação... E então nunca mais se veriam. Potencial para uma excelente foda, refletiu.
Riu de si mesmo e apertou o tap. Guardou o celular e voltou a atenção para o professor, a tempo de saber que teria que entregar dois artigos para avaliação, sobre um dos temas de discussão do período: o primeiro, em dois meses, e o segundo, até a última semana de aulas.
***
O rapaz da noite anterior mandou outra mensagem, »tudo bem?«, o que soou como um alerta de possível carência, desespero e necessidade de atenção. Talvez fosse melhor só não responder ou cortar logo. O Dragão, por sua vez, não respondeu ao tap.
Gabriel respondeu ao primeiro com um »Oi, tudo bem sim, e vc?« e ficou se perguntando se havia alguma outra resposta mais sem graça. Permaneceu no perfil do Dragão por alguns momentos, olhando as fotos e relendo a descrição. Clicou no balão de mensagem e escreveu »não sou um príncipe, mas gostaria de visitar sua masmorra. Rsrs.«
Arrependeu-se no mesmo instante em que enviou. Dera o tap há quase duas horas. Essa diferença de tempo com certeza faria com que ele parecesse um pouco carente e desesperado.
»Sim, tudo bem. Curti muito ontem. A gente podia repetir, hehe» O rapaz da noite anterior respondia rápido. Já havia percebido isso quando se conheceram anteontem pelo aplicativo. Na hora, Gabriel considerou isso ótimo, pois foram bem práticos. Agora, já se sentia obrigado a responder na mesma velocidade.
Não fora uma noite ruim. Saiu satisfeito da casa dele, mas estava longe de dizer que curtiu muito. Tinham conversado um pouco depois, o que foi legal. Falaram de livros que leram, do curso de mestrado que estavam fazendo, e o rapaz sugeriu diversos lugares que Gabriel deveria visitar, já que era novo na cidade. Talvez pudesse ser bom ter um amigo com benefícios. Além disso, um ativo com local é algo raro... Melhor não desperdiçar a oportunidade. »Podemos sim, claro. Quando vc tá livre?«
Recebeu mais um tap de um outro perfil sem foto, »versátil agora«. Nenhuma descrição, sem indicação de distância. O tipo de perfil que Gabriel normalmente não responderia. Mas apertou o tap de volta, de qualquer forma.
»Então, hoje? hehe. As aulas acabaram de começar, não tenho muito o que fazer mesmo. Se quiser, pode vir aqui, a gente fode, vê alguma coisa…« outra resposta muito rápida e que, dessa vez, realmente pareceu desesperada e grudenta.
Encarou a mensagem por alguns segundos. Esse aparente desespero do rapaz não fazia muito sentido, pois ele era, na verdade, bastante dentro do padrão cultuado pelos gays. Alto, a malhação em dia, peito peludo, mas aparado, pele morena, provavelmente com alguma ascendência árabe, barba feita na régua e um óculos que lhe dava certo charme. Lembrou-se da surpresa quando ele abriu a porta, já sem camisa. As fotos que havia enviado não faziam justiça a ele, pois pessoalmente era muito mais bonito.
O »versátil agora« mandou um »oi, afim agora?«. Revirou os olhos ao ler a mensagem. Era involuntário, mas confundir “a fim” com “afim” era um desses erros de português que cortava seu tesão, especialmente quando a pessoa parecia ter alguma instrução. Sabia que isso era pedante e elitista, mas ainda era mais forte do que ele.
»Hoje não posso. Pode ser amanhã?« respondeu ao rapaz da noite anterior, pois achou melhor não ter dois encontros em dias seguidos com a mesma pessoa. Afinal, não queria apressar algo ou dar falsas esperanças.
»Fotos? Local?« respondeu ao versátil agora, pois não tinha nenhum compromisso até o meio da tarde. E, a despeito do erro de português e do perfil vazio, ele ganhou pontos por ser direto.
Vieram as fotos e o endereço, com a localização. Eram boas fotos. O local era perto, menos de dez minutos a pé. »Tô a caminho.«
»De boa, pode ser amanhã sim. Que horas?«
***
Pedro, um dos poucos amigos gays de Gabriel em sua cidade natal, tinha diversas teorias sobre relacionamento, sexo e a vida. Chamava uma delas de “10/2/erro”. Segundo ele, a cada dez fodas do Grindr (ou qualquer outro aplicativo do gênero), oito eram ruins e duas ficavam entre o mais ou menos e o aceitável. Ainda segundo o amigo, seria estatisticamente impossível ter algum sexo espetacular por qualquer aplicativo, situação que chamava de “erro do sistema”.
O versátil agora não foi uma exceção. Gabriel chegou à casa dele em pouco mais de cinco minutos. Era um prédio comum, sem porteiro. Tocou o interfone e, antes de dizer qualquer palavra, a portaria foi aberta. Subiu de elevador até o quinto andar, já com o pressentimento de que aquilo seria uma imensa perda de tempo.
Encontrou a porta do apartamento número 501 entreaberta. Estava escuro lá dentro, com as luzes desligadas e as persianas fechadas. Apenas um facho de luz, vindo de alguma lâmpada de outro cômodo, escapava por uma fresta. Gabriel entrou com passos cautelosos e, logo atrás da porta, o versátil agora estava em pé, com a mão enfiada dentro de uma cueca marrom um pouco folgada, segurando o próprio pau, a boca semi aberta com a língua para fora, em uma tentativa frustrada de ser sensual.
A pouca luz da sala, entretanto, não disfarçava o inevitável. As fotos que ele havia mandado não eram dele mesmo, ou eram de, pelo menos, dez anos atrás. Nas fotografias, aparentava ser um homem com pouco mais de trinta anos que, ainda que não fosse malhado, não era gordo, com uma barba espessa e cabelo ondulado castanho. Ali, estava um homem de mais de quarenta anos, com uma barriga de cerveja e barba mal cuidada, no ínicio da calvície. E, embora o versátil agora de agora, na verdade, tinha seu apelo à Gabriel, por uma questão de princípios, ele pensou seriamente em ir embora.
O versátil agora, por sua vez, pareceu se empolgar. Fechou a porta pouco depois que o garoto entrou e, sem um beijo ou qualquer palavra, já se ajoelhou, esfregou o rosto no pau de Gabriel por cima da calça e começou a gemer e grunhir, passando a mão na perna do garoto enquanto se masturbava com força, agora só com o pau para fora da cueca marrom.
— Eu tava louco por pica! — gemia baixinho enquanto abria o zíper de Gabriel. Pelo visto, o versátil agora não havia mentido apenas nas fotos.
Segurando a rola meia bomba do rapaz com muita força e batendo uma punheta violenta enquanto mal chupava-lhe a cabeça, o »versátil-melhor-dizendo-passivo-agora« acabou gozando em menos de dois minutos, sem que Gabriel ao menos tirasse a mochila das costas ou chegasse a ir além do corredor de entrada do apartamento.
O dono da casa se levantou, suspirou satisfeito e sorriu. Gabriel, atônito e ainda de roupa, apenas com o pau semi-duro para fora, não soube como reagir. Balançou a cabeça em negativa, bufou nitidamente chateado, e fechou a calça jeans.
— Você não gozou, né. Pode gozar se quiser. Desculpa, é que você é muito gostoso e seu pau é uma delícia, aí eu não aguentei.
“Vai se foder!” Gabriel gritou de raiva em seus pensamentos.
— Não, deixa pra lá. Vou embora. — Virou-se sem esperar uma resposta, abriu a porta e saiu.
***
Mais uma experiência extremamente frustrante. Voltou para casa sob o sol quente, o estômago roncando de fome. Era pouco mais de uma hora da tarde e Gabriel não tinha almoçado ainda, por conta de mais uma foda ruim.
Pegou o celular para verificar as mensagens. Respondeu sua mãe, dizendo que estava tudo bem e que a aula tinha sido ótima. Mandou também uma mensagem para Pedro, um 8/ e vários emojis furiosos. Depois, abriu o Grindr e a primeira coisa que notou foi que a conversa com o tal versátil agora havia desaparecido. Além de tudo, ainda foi bloqueado. A primeira conversa no topo era agora a do rapaz da noite anterior, ao qual ainda não tinha respondido.
»Pode ser amanhã pelas 19h?«
O Dragão estava online.
»19h tá ótimo. Marcado então =)«
Sua barriga voltou a reclamar e Gabriel andou mais rápido para comer algo antes de ter que voltar para a universidade para a aula da tarde. Chegou em casa e a sala estava vazia e a cozinha silenciosa. Seus colegas de apartamento provavelmente não estavam em casa, ou talvez estivessem em seus próprios quartos.
Embora sempre tivesse sonhado em morar sozinho, a bolsa que conseguiu quando finalmente entrou no mestrado não era o suficiente para cobrir por si só o custo de um aluguel, e Gabriel teve que ser realista. Seus pais se dispuseram a ajudar, mas achou melhor não gastar o dinheiro deles. Por isso, ao procurar um lugar perto da faculdade, achou um bom apartamento de quatro quartos, sala grande, dois banheiros, já mobiliado. Na casa, eram ele e mais outros três rapazes, que já moravam ali há mais de um ano.
Seguiu direto para a cozinha, para comer algo. Tinha deixado o resto do jantar do dia anterior em uma vasilha na geladeira, portanto só precisou esquentar a comida no microondas. Olhou a escala de limpeza na parede lateral da pia e viu que sua vez seria dali a dois dias.
Pegou a comida já quente e foi para o quarto. Deixou a mochila sobre a escrivaninha, próxima à janela. Ouviu o barulho de notificação do Grindr e abriu o aplicativo, sentado na cama. Era uma mensagem de Atv de bobeira. Três fotos de um pau moreno, seguido de 19cm grosso. Quer?. Pelas fotos, duvidou da medida.
Encarou-se no espelho da porta do guarda roupa embutido. Tirou a camisa branca, a calça jeans e ficou apenas de boxer azul. Gabriel era magro (colocou no seu perfil 59kg, seu peso real), não muito alto ou baixo (informou a altura de 1,73m, embora tivesse 1,75m), usava lentes (havia parado de usar óculos há quase três anos), tinha os cabelos cacheados (que passou a gostar há pouco tempo) e era branco (ficava vermelho com muita facilidade). Olhou sua galeria de fotos e concluiu que estava precisando de novos nudes, pois não queria ser o versátil agora de alguém.
Tirou algumas ainda de boxer, na frente do espelho, sem mostrar o rosto. Tentou algumas poses mais sensuais e sentiu-se ridículo. Tirou a cueca e bateu mais algumas de pau duro e outras da sua bunda no espelho. Gostou especialmente das duas últimas.
Abriu o Grindr. O Dragão ainda estava online. Fez upload das fotos novas e mandou para ele. Começou a se masturbar olhando o perfil. O balão amarelo de mensagem pulou na tela. Gabriel tremeu. Abriu a conversa.
»É virgem?«
A pergunta foi um balde de água fria no tesão de Gabriel. Definitivamente, não era mais virgem, há quase dez anos. Inclusive, jamais havia compreendido o tesão que ativos tinham em virgens. Na verdade, considerava isso como insegurança e medo da base de comparação. Em sua experiência, todos os caras que gostavam de virgens fodiam mal.
»Não, infelizmente não.« Respondeu de ímpeto, arrependendo-se por se desculpar. Uma fúria subiu por sua garganta. Entre esperar uma resposta, não ter resposta alguma ou levar um bloqueio, decidiu retrucar que gostava de homens que não se intimidavam ante a experiência do outro, e que se ele procurava alguém sem base de comparação, definitivamente não seria Gabriel.
Quando estava no meio da mensagem (que já estava bastante longa e que, de alguma forma, evoluíra para uma dissertação sobre o puritanismo e hipocrisia em querer rapazes virgens), recebeu »Ótimo. Incrível a quantidade de virgens, ou que se dizem virgens, que me mandam mensagem. Sei que a maioria dentre os meus têm essa predileção, mas eu sempre preferi comer experientes.«
Gabriel respirou aliviado por não ter mandado seu enorme discurso. Riu com o “maioria dentre os meus”. Pelo visto, o Dragão gostava de um pouco de roleplay e queria realmente encarnar o personagem. Não era um problema, estava disposto a entrar no jogo.
»E posso me oferecer em sacrifício então? Tem um altar para me comer?«
»De fato, até tenho, rs. Só que não posso usá-lo desde 1761 da Era Ocidental. Mas também tenho uma masmorra. E minha casa. Acho que podemos começar por você vindo em minha casa.«
»Adoraria, eu não tenho local.«
»Então amanhã, 19h. Envio a localização com uma hora de antecedência.«
»Combinado. Não vejo a hora de estar em seu covil para me oferecer a você.«
»Nos encontramos amanhã e vai poder fazer isso e muito mais, viadinho.«
»Jura? O que mais?»
»Amanhã. Te mando a localização com uma hora de antecedência e você vem descobrir.«
»Tudo bem, até amanhã então, gostoso.«
Gabriel largou o celular de lado. Estava pelado sobre a cama. Fechou os olhos e começou a imaginar-se ajoelhado na frente do Dragão, com ele segurando sua cabeça e pressionando o pau até o fundo de sua garganta, chamando-o novamente de viadinho, sentindo a mão dele no seu rosto... Bateu uma punheta freneticamente e gozou sobre si mesmo. Olhou para a escrivaninha e avistou sua comida esquecida - provavelmente, já fria, e sentiu o estômago roncar. Ouviu a notificação do Grindr, sorriu imaginando que poderia ser o Dragão de novo e abriu o aplicativo.
Era outra mensagem do rapaz da noite anterior. »Podemos trocar o whatsapp?«
Droga, pensou.
Mestre B.
***
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A história continua no capítulo 2 - Uma pessoa horrível!