Capítulo 50
_ O que está acontecendo aqui?
Andréia ficou surpreendida ao ver Adrian abraçando Víctor, que chorava desesperado.
_ Mãe, foi o Ivan que me atacou. Ele que tentou me matar.
O menino correu para os braços da mãe chorando.
_ Como assim, meu amor? O que você está dizendo?
_ É uma longa história, irmãzinha.
Como Víctor ainda estava em choque, Adrian relatou o que havia acontecido. Andréia ouvia furiosa.
_ Desgraçado! Eu sabia que tinha alguma coisa errada com aquele maldito! A minha intuição de mãe nunca se engana.
_ A culpa foi minha por não ter te escutado. Primeiro com o Gael e agora com o Ivan. Eu sou um péssimo filho e sou um burro por ter acreditado nele.
Andréia se aproximou do filho e segurou a sua face, erguendo a cabeça do menino.
_ Meu amor, você não tem culpa de nada. A culpa é toda daquele cretino. Ele que te atacou e depois te seduziu fingindo ser um príncipe encantado que não era. Ele mentiu pra todo mundo.
'Não se torture com uma culpa que não é sua. Você é a vítima dele. Entendeu? Você é a vítima. Mamãe vai cuidar de você, meu amorzinho. '
Victor voltou a abraçar a mãe e soluçava de tanto chorar.
Depois de uma hora, o loiro adormeceu na cama do tio, abraçando uma almofada.
Andréia ficou ao seu lado acariciando os seus lindos cabelos loiros. O seu coração de mãe doía diante do sofrimento do filho.
Adrian entrou no quarto trazendo uma caneca com café e entregou a irmã adotiva.
_ É injusto uma mãe ver o filho sofrer deste jeito e não poder fazer nada para acabar com esse sofrimento. Eu queria pegar pra mim. Sentir a dor por ele.
Adrian sentou numa poltrona ao lado da cama e olhava com tristeza para o sobrinho adormecido.
_ Ele estava tão feliz. Vivia sorrindo. Eu acreditava que o Ivan era a sorte grande que o meu sobrinho tirou. Como fui idiota.
_ Foi mesmo. Eu te falei que tinha algo estranho e você me disse que era amor.
_ Eu acreditei que fosse. E agora?
_ Amanhã, eu vou levar o Victor na delegacia. Quero aquele bandido preso.
_ Vai ser difícil. Ele é rico. Sabe como é a justiça neste país com pessoas como ele.
_ Não me interessa. Eu faço barulho na internet, procuro a imprensa. Mas, aquele cretino vai pagar pelo que fez ao meu filho.
_ Estou aqui pensando na reação da mamãe e do Paulo quando souberem.
_ Vão ficar tão furiosos quanto eu estou. Adrian, eu tenho vontade de assinar aquele desgraçado! E o Renato? Que filho da puta!
_ Será que ele sabia, Andréia?
_ É lógico que sabia. Ele e o Ivan são unha e carne. Com certeza, sabia e acorbertou. Foi cúmplice. Ele me paga! Ah, se paga!
_ Já é tarde e eu tenho que trabalhar amanhã cedo. A agência está cheia de casamentos para celebrar. Vou trabalhar como um filho da puta. Você dorme aí com o Vitinho, que eu durmo na sala. Boa noite.
Adrian se despediu de Andréia com um beijo na testa.
Quando Victor despertou, ficou por alguns segundos olhando para o teto tentado acreditar que tudo não passara de um pesadelo. Queria acreditar que estava no quarto da mansão e que Ivan se banhava no banheiro ao lado. Que o beijaria, os dois fariam amor e tomariam o café da manhã juntos.
No entanto, ao perceber que estava deitado no quarto do tio, com uma decoração exageradamente brega, coberto por uma manta de estampa de onça, o quarto pintada de rosa e um pôster enorme da Madonna na parede, se viu diante da realidade.
Não foi um pesadelo. Victor teria que conviver com o fato de que o homem que ama foi o seu agressor. Sentiu a dor apertar no peito e respirou com dificuldades, devido ao nervosismo. As lágrimas voltaram a cair.
Olhou para o braço com a tatuagem com nome de Ivan e sentiu raiva. Tentou retirar a aliança, mas não conseguia, por causa da mão paralisada.
Pegou o celular e viu que havia várias ligações perdidas do marido.
No Whatsapp, algumas mensagens de Gael, Luíza e Virgínia o perguntando como estava. Ignorou-as, pois não tinha condições emocionais para respondê-las.
Procurou por alguma mensagem de Ivan para xingá-lo, mas para a sua surpresa, não havia nenhuma.
Depois de se acalmar, levantou e foi para a cozinha, onde encontrou o tio e a mãe sentados à mesa, conversando enquanto tomavam café e comiam bolo.
_ Bom dia, carinho. Está mais calminho?
_ Um pouco, tio. Bom dia._ respondeu Victor, sentando à mesa.
_ Toma filho, come um pedacinho de bolo. Tá uma delícia.
_ Caso não queira bolo, eu comprei pão fresquinho. E tem queijo e presunto.
_ Tem mortadela? Faz tempos que não como.
_ Tem sim. Eu vou pegar.
_ Obrigado.
Adrian correu para pegar os alimentos para o sobrinho. Serviu-o com todo carinho, em seguida beijou a sua testa.
_ Amor, nós vamos passar em casa que eu preciso tomar um banho e falar com os seus avós sobre o ocorrido. Eu já liguei para a Luíza e ela me passou o vídeo. Nós vamos à delegacia registrar uma queixa contra aquele demônio. O Gael, Luíza e Virgínia disseram que se precisar eles darão o testemunho.
'Na segunda-feira, vamos ao fórum abrir um processo criminal por lesão corporal grave. Não se preocupe que eu cuidarei de tudo. Eu não posso advogar ainda, mas o meu professor, o doutor Matias Pacheco, é um ótimo advogado. Ele me disse que cuidará do caso sem cobrar nada.'
Victor abaixou o olhar enquanto mastigava o sanduíche de mortadela.
_ Diga a todos eles que eu agradeço, mas não vou denunciar o Ivan.
_ O quê?! Como assim, filho? Já sei! Aquele desgraçado te ameaçou? Você não precisa ter medo. Há muita gente do nosso lado.
_ Ele não me ameaçou, mãe! Mas, eu não quero prestar queixa na polícia e nem abrir um processo. O Ivan é rico, tem a melhor equipe jurídica do país, conhece muitas pessoas importantes. Já eu sou um pobre veado sem eira nem beira. Você acha que vai dar em alguma coisa?
_ Victor, você não pode pensar assim! Podemos fazer muitas coisas! Um escândalo por exemplo. Essa gente rica odeia escândalos. Ele não pode sair impune.
_ Mãe, um escândalo me deixaria exposto. Na internet há vários tipos de comentários que podem ser cruéis. E se eu sofrer hate?
_ Por que você sofreria hate se é a vítima?
_ Não sei! Não quero fazer denúncias, nem processar e muito menos me expor.
_ Víctor, você está protegendo o Ivan? Pode matando esse amor que você tem por ele, porque eu não vou admitir que você faça a loucura de voltar para aquele desgraçado.
_ Não é isso, mãe. Só não quero sofrer mais do que já estou sofrendo. Vai ser horrível ir a uma delegacia e reviver todo aquele sofrimento. E também não quero exposição. Só quero ficar no meu cantinho quieto. É um direito que eu tenho.
Adrian abaixou o olhar e Andréia não se conformava com a decisão do filho. Socou a mesa.
_ Não é justo que ele saia impune depois de tudo que te fez! Não é justo!
_ No momento eu só quero ir pra casa, tomar um banho e ficar pertinho da vovó e do vovô.
_ Carinho, se você não quer denunciar o Ivan, tudo bem é um direito seu...
_ Não diga besteiras, Adrian! Ele não sabe o que está dizendo! Deve denunciar sim.
_ ...Como eu ia dizendo, mas é recomendável que você faça uma terapia. Você passou por tantas coisas ruins. A sua cabecinha deve está confusa. Você precisa de ajuda profissional.
_ Ele vai fazer terapia sim. Não tem essa de dizer que não. Hoje mesmo eu vou marcar uma consulta para ele.
_ Tudo bem. Eu faço terapia. Agora, eu só quero ir pra casa.
_ Eu vou ligar para papai vir te buscar.
__Você não vai comigo, mamãe?
_ Não. Eu tenho um probleminha para resolver. Até a hora do almoço eu estarei em casa.
_ Me ajude a tirar isto?
Victor esticou o dedo com a aliança.
_ Com todo prazer. _ Andréia restirou a aliança e pôs na sua bolsa.
Olhar para o lado da cama e vê-la vazia era doloroso demais para Ivan. A casa sem Victor era como se não houvesse vida no local.
A dor da culpa e remorso o castigava sem nenhuma piedade.
Abraçou o travesseiro do marido para sentir o
cheiro do menino. A tristeza o retirou todas as forças de vontade de viver.
As lembranças das palavras e lágrimas de Victor torturavam a sua mente e chorou não aguentado o fardo.
Maria foi solicitada por Renato para que fosse trabalhar naquele sábado. Ele explicou a cozinheira que Ivan e Victor brigaram e que o empresário não tinha condições emocionais de ficar só.
Antes dela chegar, Renato preparou ovos mexidos e café para a dejejum.
Levou numa bandeja até o quarto, onde encontrou o amigo deitado, em silêncio abraçando o travesseiro do marido.
_ Bom dia. Eu trouxe o seu café da manhã.
_ Não tenho fome.
_ Você precisa comer. Tudo aconteceu antes do jantar e você não comeu nada. Como dizia o meu pai: "saco vazio não para em pé. "
_ Ele não me atendeu. Eu não vou suportar viver sem ele.
Renato abraçou Ivan, que chorou no seu ombro.
_ Quer desabafar?
_ Não. Eu só quero o meu Solzinho de volta. Eu daria tudo por isso. Pagaria o preço que fosse necessário.
_ Nem tudo na vida está à venda.
_ Eu sei. O Victor estava comigo por amor. Mas eu queria que estivesse por dinheiro. Assim, ele não me abandonaria.
_ Eu ainda acho que o Victor possa voltar pra você, mas você terá que mudar. Ele sempre quis que você se tornasse uma boa pessoa. Talvez uma mudança possa salvar o seu casamento.
_ Eu não tenho fé nisso. O que eu fiz foi grave demais. Nem eu consigo me perdoar. Piorou ele que é a vítima. Está tudo acabado. Eu perdi o meu amorzinho. Tá doendo tanto, Renato. Nunca na minha vida imaginei que sofreria desse jeito.
_ Eu vou ter que ir na empresa para resolver algumas pendências. Mas, eu volto para almoçar contigo e te fazer companhia. Depois de ontem, não é bom que você fique só. Ah, eu marquei uma consulta com um psicólogo para ti. Ele virá amanhã mesmo, às três da tarde.
_ Você não vai voltar.
_ Claro que vou.
_ Não vai não. Você fingir que não sabe de nada. E quando a Andréia te contar, você vai fingir que está com raiva de mim e vai fazer a minha caveira na empresa.
_ Você ficou maluco, Ivan?
_ Não. Eu estou muito lúcido. Renato, se a Andréia souber que você sabia de tudo ela vai te odiar. Não vai te perdoar e isso vai destruir o seu relacionamento.
_ Cara, eu não tinha parado para pensar nisso. Puta que pariu!
_ Você vai negar até o fim. Eu também vou negar. Chora se for necessário.
_ Mas eu não posso te abandonar neste momento.
_ Não só pode como deve. Eu já estraguei a minha vida, não vou estragar a sua com as minhas burradas.
_ Mas, Ivan...
_ Não tem mas Ivan e nem menos Ivan. Você vai se afastar de mim, fingir que me odeia e viver feliz com a mulher amada.
_ Eu não posso te abandonar.
_ Deixe de ser burro, Renato! Ou você vai ser feliz com a Andréia ou me afasto de você pra sempre. Agora vá que a essa altura ela já deve está sabendo. Provalmente, vá te procurar. Vá, Renato!
Depois da saída de Renato, Ivan permaneceu no quarto chorando. Desta vez, olhava as fotos do seu casamento e lua de mel.
Maria bateu na porta anunciando que Andréia desejava vê-lo. E ele desceu vestido com o pijama.
Ao olhar para o agressor do filho, Andréia sentiu uma raiva tão grande. Dentro de si gritava uma leoa feroz querendo proteger a cria.
Com as mãos posicionadas em forma de garra e o rosto retorcido partiu para cima de Ivan, arranhando o rosto do moreno.
_ Seu merda! Você tentou matar o meu filho!
As unhas grandes da mulher rasgavam a pele do rosto de Ivan, cravando na carne e provocando sangramentos.
Maria veio correndo da cozinha para tentar detê-la, a segurando pelas costas, mas recebeu uma bofetada no rosto com tanto força que caiu no chão.
_ Saia daqui, sua puxa saco!
Andréia retornou para cima de Ivan, disparando quatro bofetadas sonoras na cara de Ivan, que o fizeram cair no chão.
A mulher o enchia de tapas e socos.
_ Você é um desgraçado! Como pode fazer isso com o meu menino?! Ele nunca fez mal a ninguém e muito menos a você.
'Você seduziu o meu filho e acabou com a vida dele! '
Maria correu para chamar o segurança.
Andréia trocou os tapas por chutes.
Walace a segurou, mas levou um empurrão e ela voltou a agredir Ivan ainda mais furiosa.
Walace retornou a segurando pela cintura e a afastando do patrão.
_ Me solta, seu capacho de patrão merdinha! Me solta!_ Andréia dizia se debatendo e socando os braços de Walace.
_ Solte ela. Anda, solte!_ Ordenou Ivan.
Walace acatou as ordens do patrão e soltou a mulher. No entanto, recebeu duas bolsadas no peito.
_ Nunca mais toque em mim!
Ivan se levantou do chão.
_ Andréia, eu sinto muito. Eu estou muito arrependido...
Antes de terminar a frase Ivan recebeu outra bofetada na cara.
_ Cala a boca que eu não vim aqui para te ouvir e sim para falar. Como você pode ter sido covarde de atacar um menino inocente de uma forma cruel e depois aparecer do hospital para pagar de bom samaritano? "Ah, não se preocupem que eu pago tudo. Eu vou ajudar no que for preciso." Fez todo mundo de palhaço! Nós acreditamos na sua boa vontade. Te recebemos nas nossas vidas de braços abertos. "Victor, eu te amo! Eu te amo! Casa comigo?" Era tudo mentira! Tudo fazia parte de um joguinho doentio. O que você prentendia? Trazer o meu filho para a sua mansão e matá-lo?
_ Não! Eu me casei com o seu filho porque o amo. Eu me arrependi do que fiz. Não há um dia em que eu não sofra com o remorso.
Andréia cospui no rosto de Ivan.
_ Mentiroso! Você é cruel! É ruim como a assassina da sua mãe! Eu só te digo uma coisa: Para defender o meu filho eu sou capaz de ir até o inferno e lutar contra o diabo. Não me importa se você tem dinheiro, capangas, a puta que pariu e o caralho a quatro. Se voltar a tocar no meu filho, eu te mato! Acabo com a sua raça!
Andréia retirou a aliança de Victor da bolsa e jogou em cima de Ivan. Apontou o dedo indicador para ele.
_ Não chegue perto do meu menino, seu filho da puta!
Andréia saiu da sala furiosa.
Ivan limpou o rosto com as costas da mão, pegou a aliança sentindo o coração angustiado.
_ Ele retirou a aliança. O meu casamento acabou.
Subiu as escadas correndo. Ao chegar no quarto, se jogou na cama, abraçando o travesseiro do marido e chorou muito.
Sônia tinha no rosto uma expressão serena. Aparentava a tranquilidade de uma inocente.
Sentou sorrindo e cumprimentou a detetive com um bom dia num tom de voz agradável.
A mulher devolveu o cumprimento de um jeito sério. Alguns minutos depois o advogado de Sônia chegou cumprimentando ambas e sentou ao lado da cliente.
O interrogatório foi iniciado. A detetive relatou que Sônia era suspeita da tentativa de assassinato contra Ivan e Victor.
_ De onde a senhora conhecia Felipe Barros Motta e Armando da Silva Mendes?
_ Eu tive um caso com o Felipe. Nada sério. Somente casual. Já o outro... quem mesmo? Eu não o conheço.
_ Com as mortes do seu filho e genro a senhora seria beneficiada, já que era a única parente viva. Herdaria a fortuna de Ivan Matarazzo. Era muito conveniente para a senhora as mortes do seu filho e do seu herdeiro, o Victor Matarazzo. O mais estranho é que um dos executores era justamente o seu amante. Por isso vou ser direta: Sônia Letícia Viera Matarazzo, a senhora mandou matar o seu filho e o seu genro?
_ Você não é obrigada a responder, Sônia. Isso não é uma pergunta. Soa uma acusação estapafúrdia da detetive.
_ Não se preocupe. Eu irei responder com toda sinceridade. Eu não matei o Felipe e muito menos mandei matar o meu filho e o meu genro. Deus conhece o meu coração. Sabe que sou mãe e uma mãe jamais faria uma crueldade dessas com o próprio filho.
_ Há mães que matam, senhora.
_ Há irmãs também.
_ Como assim?
_ Deus os livrem e os guardem, mas se o meu filho e o companheiro dele morressem, eu não seria a única beneficiada na herança. Ivan tem uma irmã bastarda, mas o meu falecido marido a registrou como filha dele. Raúl tinha um caso com a minha irmã Fernanda e desse caso extra conjugal teve como fruto uma filha.
'A minha sobrinha era muito mais próxima do Felipe do que eu. Eles dois eram grandes amigos. Há várias fotos dos dois nas redes sociais dela que provam o que digo. Se há alguém que poderia ter se aliado a Felipe para tramar as mortes do meu filho e do meu genro com a intenção de obter a fortuna do Ivan, esse alguém se chama Luíza Matarazzo.'
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