Capítulo 4 – Sala de Aula
Conectando...
Dessa vez ela atende cedo.
- Oi amor, melhor?
- Sim. Depois da aula eu dormi cedo e acordei na hora. Só estou com um pouco de dor de cabeça, mas nada demais.
- Oi!! Mamãe!!
Meu pequeno se joga no meu colo no sofá e quase derruba e quebra o meu notebook.
- Oi, filho querido!! Está se comportando?
- Claro! Mãe, os índios estão sendo maus com você?
Ela faz uma careta como alguém que ia repreender o pai e não o filho.
E eu estava certo.
- Amor, você continua pintando esses preconceitos pro nosso filho? Ele vai acabar internalizando e repetindo isso na rua.
- Sarah, eu não faço isso. Ele só está preocupado.
- Tudo bem. – Ela bufa resignada – Então filho, me fala do seu dia...
Eu deixo o garoto falando com a mãe e vou pegar uma cerveja.
Os olhos da criança brilhavam, eu sabia que na mente do meu filho aquele momento duraria pra sempre.
Mas eu conhecia a minha mulher.
Esse bate papo teria uns 15 minutos e ela inventaria uma desculpa como toda vez.
- Amor, eu tenho que organizar as próximas aulas. Possa pro seu pai, beijos meu filho querido.
Com uma latinha na mão eu vejo meu moleque apertar os beiços e sair correndo pra chorar.
- Eu nem sei por que você teve filho. Mãe você não nasceu pra ser.
- Olha, não começa de novo. Se você quer uma discussão pra aumentar a minha dor da cabeça você não vai conseguir. Nós escolhemos essa vida e você aceitou cuidar dele nas minhas missões.
E como todo marido eu faço o que tinha que fazer pra manter meu casamento.
Não discutir e assumir estar errando mesmo não acreditando nisso.
- Tudo bem. Desculpa, ele saiu todo triste e me exaltei.
- Sem problemas, querido. Então, eu pedi a mesa pro Zabu e ele passou o meu pedido pro chefe da vila. E dei aula ontem no chão aqui da casa, sabendo que ele não poderia atender o meu pedido no mesmo dia. Só um estrado de palha para as crianças no chão.
- Mas não era só o líder que fala inglês?
- Sim. Eu não entendo nada que o Zabu ou os outros moradores falam. Essas aulas de inglês irão me ajudar até nessa troca cultural. Mas como não posso fazer isso por enquanto, eu escrevi em inglês e dei o recado pro Zabu levar ao chefe. E ele respondeu em outro papel me dizendo que iam trazer uma mesa e tocos de madeira como cadeiras hoje. Suponho que isso só fique pronto no final do dia ou leve até alguns dias. Mas não estou com pressa. Porém quando estiver pronto eu terei uma sala de aula entre o lago e a casa aqui no meio do campo. Vai ser maravilhoso!
Nessa hora eu levo um susto porque vultos enormes de homens negros musculosos passam pela janela dela carregando toras cortadas.
Aquilo me encheu de pavor.
Mas quando ela ouviu e virou pra ver o que era.
O rosto dela era só alegria absoluta.
- Uau! Não sabia que eles viriam tão cedo! A Amazon não entrega tão rápido assim em Londres nem com drones! Como eles são prestativos!
Só agora eu noto que a casa não tinha privacidade nenhuma. Em um primeiro momento eu imaginei que a casa daria mais segurança e a deixaria menos exposta. Mas era o inverso. A barraca de acampamento impediria qualquer um de entrar. Só que na casa os negões estavam passando e podiam pela janela ver a minha esposa de roupa de dormir e sem sutiã na cama com um notebook no colo.
- Essa buraco da janela não é grande demais? Até esse espaço entre as tábuas de madeira dá pra olhar pra dentro da casa. Sarah?
Eles já estavam falando alto (possivelmente perguntando onde botar os troncos) e ela estava gritando em inglês as localizações. Uma completa conversa de bêbado.
- Amor, tô sem tempo pra lidar com seu ciúme bobo. Eles não estão dentro da casa e estão cansados de levar essas toras mais de um quilômetro do vilarejo até chegar aqui. Vou lá fora pra ajudar eles.
- Amor, pelo menos troca de roupa antes! Amor?
E ela desliga.
- Ok. Vai lá dar instruções em campo de onde botar troncos como carteiras de aula pra um bando de negros de 2 metros vendo uma branca peituda de pijama na parte de cima e calcinha só na parte de baixo. Eu não aguento mais essa vida.
E eu vou cuidar do meu filho e deixo pra lá essa sala de aula da Sarah.
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